domingo, 13 de março de 2016

São Leandro de Sevilha

Leandro, nome que vem do grego e significa homem calmo e sereno, era amigo e correspondente de São Gregório Magno, e exerceu papel primordial na conversão dos visigodos arianos que dominavam a Espanha no século VI
Os dados sobre ele são tomados dos escritos de Santo Isidoro, seu irmão, de São Gregório Magno e de São Martinho de Tours.
Seu irmão Santo Isidoro deixa este testemunho sobre ele: “Esse homem de suave eloquência e eminente talento, brilha de um modo especial por suas virtudes e por sua doutrina. Por sua fé e zelo, o povo visigodo foi convertido do arianismo à fé católica”.

Foi num país dominado em boa parte pelos visigodos arianos heréticos que por volta do ano de 520 nasceu em Cartagena São Leandro. Ele era o primogênito de quatro irmãos, todos santos: São Fulgêncio, Bispo de Ecija, Santo Isidoro, que sucedeu a Leandro na Sé de Sevilha, e Santa Florentina, abadessa, que dirigia quarenta mosteiros e mil monjas.
São Leandro era filho de Severiano, grande senhor que deu tão esmerada educação à sua prole, que todos os filhos se tornaram grandes luminares da Espanha da época.
Embora seus muitos êxitos nos estudos pudessem destiná-lo a uma carreira brilhante, São Leandro decidiu fazer-se monge, como quase todos os grandes santos daquele século. Entrou então em um mosteiro de Sevilha.
Mas não pôde gozar por muito tempo a paz do claustro, pois a fama de sua santidade e erudição já o haviam tornado conhecido dos  sevilhanos, que pelo ano de 578 foram buscá-lo para ocupar a Arquidiocese de Sevilha, então vacante.

Para consolidar seu poder, Leovigildo, o rei ariano, mandou seu filho e herdeiro Hermenegildo representá-lo na antiga capital, Sevilha. Embora fosse ariano como o pai, o príncipe casara-se com Ingunda, filha do rei da Austrásia, que era firmemente católica.
Sob a influência da piedosa esposa e de São Leandro, Hermenegildo acabou convertendo-se à fé católica. E com tal radicalidade, que se tornou campeão da ortodoxia.
Leovigildo, cuja ambição era tornar toda a Espanha ariana, não pôde suportar a defecção do filho. E como este se negasse a ir explicar-se em Toledo, declarou-lhe guerra. Derrotando o filho em combate, mandou prendê-lo. Depois, como Hermenegildo se recusasse a receber a comunhão das mãos de um bispo ariano na cerimônia da Páscoa, mandou decapitá-lo no dia 13 de abril de 585.

Leovigildo continuou a perseguir os católicos, exilando muitos deles. Por isso baniu também de seu reino vários bispos, entre eles São Leandro, que foi para Constantinopla, e seu irmão São Fulgêncio.
Mas não pararam aí as perseguições: Leovigildo apoderou-se das rendas das igrejas, anulou os privilégios dos eclesiásticos e mandou matar muitos católicos eminentes, para apoderar-se de seus patrimônios.
Do seu exílio em Constantinopla, São Leandro não cessava de lutar contra os hereges. Escreveu dois tratados sobre os erros dos arianos e os fez difundir por toda a Espanha.

Em Constantinopla, São Leandro ligou-se por estreita amizade ao futuro São Gregório Magno, glória da Igreja e do papado, que era então embaixador do Papa Pelágio II na corte bizantina.
Quando os dois amigos voltaram a seus respectivos países, continuaram a comunicar-se através muita correspondência. Assim, quando já era Papa, São Gregório escreve a São Leandro: “Ausente de corpo, estais sempre presente a meus olhos. [...] Minha carta é muito curta. Ela vos fará ver a que ponto eu estou esmagado pelos processos e tempestades de minha Igreja, pois que escrevo tão pouco a quem mais admiro neste mundo”.

Entretanto, no ano de 588, Leovigildo foi atingido por uma enfermidade mortal. Arrependido de tudo o que fizera, mandou chamar os bispos do exílio, entre eles São Leandro, a quem fez guia de seu filho e sucessor, Recaredo.
O sangue de Santo Hermenegildo não fora derramado em vão, pois seu irmão Recaredo e todos os seus vassalos abjuraram a heresia ariana, abraçando a fé católica. “produz-se em toda a Espanha uma floração de fé, uma epifania de vida católica, que estalou delirante no terceiro concílio de Toledo. Era o 4 de maio do ano 589, uma das datas mais gloriosas da História da Espanha”.

A tal concílio compareceram todos os bispos submetidos à autoridade de Recaredo, ou seja, da Espanha e da Gália, num total de 78.

No discurso de encerramento da assembleia conciliar, São Leandro – que como legado do Papa – exclamou: “Novos povos nasceram de repente para a Igreja. Regozija-te, santa Igreja de Deus! Sabendo quão doce é a caridade e quão agradável a unidade, tu não pregas senão a aliança das nações, não suspiras senão pela unidade dos povos. O orgulho dividiu as raças com a diversidade das línguas; é preciso que a caridade as volte a unir. [...] Alegra-te e regozija-te Igreja de Deus, que formas um só corpo com Cristo; veste-te de fortaleza, enche-te de júbilo, porque cessaram tuas lágrimas, lograste teus desejos, depuseste tuas vestes de luto; entre gemidos e orações, concebeste, e, depois dos gelos, as chuvas e as neves, contemplas a doce primavera dos campos, cheios de flores e pendentes dos ramos da videira. [...] Gemíamos quando nos oprimiam, mas aqueles gemidos são agora nossa coroa”.


São Leandro morreu octogenário no dia 27 de fevereiro de 603. Depois de inúmeras trasladações, seu corpo foi finalmente repousa na Catedral de Sevilha.


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