Numa realidade
cultural como a Amazônia, onde existe uma relação tão estreita do ser humano
com a natureza, a vida diária é sempre cósmica. Libertar os outros das suas
escravidões implica certamente cuidar do seu meio ambiente e defendê-lo e
– mais importante ainda – ajudar o coração do homem a abrir-se confiadamente
àquele Deus que não só criou tudo o que existe, mas também Se nos deu a Si
mesmo em Jesus Cristo. O Senhor, que primeiro cuida de nós, ensina-nos a cuidar
dos nossos irmãos e irmãs e do ambiente que Ele nos dá de prenda cada dia. Esta
é a primeira ecologia que precisamos. Na Amazônia, compreendem-se melhor as
palavras de Bento XVI, quando dizia que, ao lado da ecologia da natureza,
existe uma ecologia que podemos designar “humana”, a qual, por sua vez, requer
uma “ecologia social”. E isto requer que a humanidade (…) tome consciência cada
vez mais das ligações existentes entre a ecologia natural, ou seja, o respeito
pela natureza, e a ecologia humana. Esta insistência em que tudo está
interligado vale especialmente para um território como a Amazônia.
Se o cuidado das
pessoas e o cuidado dos ecossistemas são inseparáveis, isto torna-se
particularmente significativo lá onde a floresta não é um recurso para
explorar, é um ser ou vários seres com os quais se relacionar. A sabedoria dos
povos nativos da Amazônia inspira o cuidado e o respeito pela criação, com
clara consciência dos seus limites, proibindo o seu abuso. Abusar da natureza
significa abusar dos antepassados, dos irmãos e irmãs, da criação e do Criador,
hipotecando o futuro. Os indígenas, quando permanecem nos seus territórios, são
quem melhor os cuidam, desde que não se deixem enredar pelos cantos das
sereias e pelas ofertas interesseiras de grupos de poder. Os danos à natureza
preocupam-nos, de maneira muito direta e palpável, porque – dizem eles – somos
água, ar, terra e vida do meio ambiente criado por Deus. Por conseguinte,
pedimos que cessem os maus-tratos e o extermínio da “Mãe Terra”. A terra tem
sangue e está sangrando, as multinacionais cortaram as veias da nossa “Mãe
Terra”.
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