Com efeito, além dos
interesses econômicos de empresários e políticos locais, existem também os
enormes interesses econômicos internacionais. Por isso, a solução não está numa
internacionalização da Amazônia, mas a responsabilidade dos governos nacionais
torna-se mais grave. Pela mesma razão, é louvável a tarefa de organismos
internacionais e organizações da sociedade civil que sensibilizam as populações
e colaboram de forma crítica, inclusive utilizando legítimos sistemas de
pressão, para que cada governo cumpra o dever próprio e não-delegável de
preservar o meio ambiente e os recursos naturais do seu país, sem se vender a
espúrios interesses locais ou internacionais.
Para cuidar da
Amazônia, é bom conjugar a sabedoria ancestral com os conhecimentos técnicos
contemporâneos, mas procurando sempre intervir no território de forma
sustentável, preservando ao mesmo tempo o estilo de vida e os sistemas de
valores dos habitantes. A estes, especialmente aos povos nativos, cabe receber,
para além da formação básica, a informação completa e transparente dos
projetos, com a sua amplitude, os seus efeitos e riscos, para poderem
confrontar esta informação com os seus interesses e com o próprio conhecimento
do local e, assim, dar ou negar o seu consentimento ou então propor
alternativas.
Os mais poderosos
nunca ficam satisfeitos com os lucros que obtêm, e os recursos do poder econômico
têm aumentado muito com o desenvolvimento científico e tecnológico. Por isso,
todos deveríamos insistir na urgência de criar um sistema normativo que inclua
limites invioláveis e assegure a proteção dos ecossistemas, antes que as novas
formas de poder derivadas do paradigma tecno-econômico acabem por arrasá-los
não só com a política, mas também com a liberdade e a justiça. Se o chamado por
Deus exige uma escuta atenta do grito dos pobres e ao mesmo tempo da terra,
para nós o grito da Amazônia ao Criador é semelhante ao grito do Povo de Deus
no Egito (cf. Ex 3, 7). É um grito desde a escravidão e o abandono,
que clama por liberdade.
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