sexta-feira, 27 de março de 2020

Querida Amazônia: Ampliar horizontes para além dos conflitos – nºs 104 e 105


Frequentemente sucede que, num determinado lugar, os agentes pastorais vislumbram soluções muito diferentes para os problemas que enfrentam e, por isso, propõem formas aparentemente opostas de organização eclesial. Quando isto acontece, é provável que a verdadeira resposta aos desafios da evangelização esteja na superação de tais propostas, procurando outros caminhos melhores, talvez ainda não imaginados. O conflito supera-se num nível superior, onde cada uma das partes, sem deixar de ser fiel a si mesma, se integra com a outra numa nova realidade. Tudo se resolve num plano superior que conserva em si as preciosas potencialidades das polaridades em contraste. Caso contrário, o conflito fecha-nos, perdemos a perspectiva, os horizontes reduzem-se e a própria realidade fica fragmentada.

Isto não significa de maneira alguma relativizar os problemas, fugir deles ou deixar as coisas como estão. As verdadeiras soluções nunca se alcançam amortecendo a audácia, subtraindo-se às exigências concretas ou buscando culpas externas. Pelo contrário, a via de saída encontra-se por transbordamento, transcendendo a dialética que limita a visão para poder assim reconhecer um dom maior que Deus está a oferecer. Deste novo dom recebido com coragem e generosidade, deste dom inesperado que desperta uma nova e maior criatividade, brotarão, como que duma fonte generosa, as respostas que a dialética não nos deixava ver. Nos seus primórdios, a fé cristã difundiu-se admiravelmente seguindo esta lógica que lhe permitiu, a partir duma matriz judaica, encarnar-se nas culturas grega e romana e adquirir na sua passagem fisionomias diferentes. De forma análoga, neste momento histórico, a Amazônia desafia-nos a superar perspectivas limitadas, soluções pragmáticas que permanecem enclausuradas em aspetos parciais das grandes questões, para buscar caminhos mais amplos e ousados de inculturação.

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