Queridos amigos, conservemos a fé que recebemos
e que constitui o nosso tesouro verdadeiro; renovemos a nossa fidelidade ao
Senhor, até no meio dos obstáculos e das incompreensões; Deus nunca nos fará
faltar força e serenidade. Enquanto veneramos os Mártires de Otranto, peçamos a
Deus que ajude os numerosos cristãos que, precisamente nesta época e em muitas
regiões do mundo, ainda hoje sofrem violências, e lhes dê a coragem da
fidelidade e de responder ao mal com o bem."
Trecho da homilia do Papa Francisco no dia 09
de maio de 2013 na Praça de São Pedro durante a Missa de canonização
do Beato Antonio Primaldo e seus 800 companheiros, martirizados pelos
muçulmanos do Império Turco durante sua incursão na pequena cidade italiana de
Otranto, na Apulia, em 29 de julho de 1480.
Antonio Primaldo é o único nome que se
transmitiu dos oitocentos desconhecidos pescadores, artesãos, pastores e
agricultores de Otranto, cujo sangue foi derramado pelo exército muçulmano só
porque eram cristãos.
Nesse dia, às primeiras horas da manhã, desde
as muralhas de Otranto se fez visível no horizonte uma frota de 90 galeras, 15 navios
e 48 galeotas, com 18 mil soldados a bordo. A armada era guiada pelo paxá
Agometh, que estava às ordens de Maomé II, chamado Fatih, o Conquistador, quem
em 1453 tinha conquistado Bizâncio e agora queria Roma.
Em junho de 1480 Maomé II tirou o cerco a Rodi,
defendida com coragem pelos seus cavalheiros, e dirigiu sua frota na direção do
mar Adriático. Otranto era –e é– a cidade mais oriental da Itália. A
importância do seu porto fez com que assumisse o papel de ponte entre o oriente
e o ocidente.
Cercado, o castelo se converteu no refúgio dos
habitantes e era defendido somente por 400 soldados que não demoraram em
abandonar a cidade deixando os refugiados sozinhos.
Depois de quinze dias de cerco, ao amanhecer de
12 de agosto, os turcos concentraram o fogo contra um dos pontos mais fracos
das muralhas, abriram uma brecha, irromperam nas ruas, massacraram todos os que
viram pela frente e chegaram à catedral onde se refugiou boa parte dos
habitantes.
Derrubaram a porta e cercaram o Arcebispo
Stefano, que estava com os trajes pontificais e com o crucifixo na mão. Ao ser
intimado a não falar mais o nome de Cristo, já que desde aquele momento quem
mandava era Maomé, o Prelado respondeu exortando os assaltantes à conversão, e
por isso foi decapitado.
Entre aqueles heróis houve um de nome Antonio
Primaldo, alfaiate de profissão, de idade avançada, quem, em nome de todos,
afirmou: "Todos acreditam em Jesus Cristo, Filho de Deus, e estamos
dispostos a morrer mil vezes por Ele". Agometh decreta a condenação à
morte de todos os 800 prisioneiros.
Na manhã seguinte estes foram conduzidos com
cordas no pescoço e com as mãos amarradas para trás até colina da Minerva,
poucas centenas de metros fora da cidade. Repetiram todos a profissão de fé e a
generosa resposta dada antes; por isso o tirano ordenou que começasse a
decapitação e, que primeiro cortassem a cabeça do velho Primaldo.
Ele era motivo de ódio para os muçulmanos
porque não deixava de se fazer de apóstolo entre os seus, mais ainda, antes de
inclinar a cabeça sobre a rocha, afirmava a seus companheiros que via o céu
aberto e os anjos animando; que se mantivessem fortes na fé e que olhassem o
céu já aberto para recebê-los.
Ele se inclinou, sua cabeça foi cortada, mas o
corpo ficou de pé: e apesar dos esforços dos assassinos, permaneceu erguido
imóvel, até que todos fossem decapitados.
Este fato teria sido uma lição para a salvação
dos muçulmanos. Um só verdugo de nome Berlabei, valorosamente acreditou no
milagre e, declarando-se em alta voz cristão, foi também martirizado.
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