Os discípulos tinham
visto que um homem, que não fazia parte do grupo dos seguidores de Jesus,
expulsava demônios em nome de Jesus, e por isso queriam impedi-lo. João, com o
entusiasmo zeloso típico dos jovens, refere o acontecimento ao Mestre,
procurando o seu apoio; mas Jesus, ao contrário, responde: Não lhe proibais,
porque não há ninguém que faça um prodígio em meu nome e em seguida possa falar
mal de mim. Pois quem não é contra nós, é por nós.
João e os outros
discípulos manifestam uma atitude de fechamento, diante de um acontecimento que
não faz parte dos seus esquemas, neste caso a ação até boa de uma pessoa
“externa” ao círculo dos seguidores. Ao contrário, Jesus parece muito livre,
plenamente aberto à liberdade do Espírito de Deus, que na sua ação não é
limitado por confim nem espaço algum. Jesus quer educar os seus discípulos, e
hoje também nós, para esta liberdade interior.
É bom refletir sobre
este episódio, e fazer um pouco de exame de consciência. A atitude dos
discípulos de Jesus é muito humana, deveras comum, e podemos encontrá-la nas
comunidades cristãs de todos os tempos, provavelmente até em nós mesmos. Em
boa-fé, aliás com zelo, gostaríamos de proteger a autenticidade de uma certa
experiência, tutelando o fundador ou o líder contra os falsos imitadores. Mas,
ao mesmo tempo, há como que o medo da “concorrência” — e é feio ter medo da concorrência
— que alguém possa subtrair novos seguidores, e então não conseguimos apreciar
o bem que os outros praticam: não está bem, porque “não é dos nossos”. Aliás,
aqui está a raiz do proselitismo. E a Igreja — dizia o Papa Bento — não cresce
por proselitismo, mas por atração, isto é, cresce pelo testemunho dado aos
outros, mediante a força do Espírito Santo.
A grande liberdade de
Deus ao doar-se a nós constitui um desafio e uma exortação a modificar as nossas
atitudes e os nossos relacionamentos. É o convite que nos dirige Jesus hoje.
Ele exorta-nos a não pensar segundo as categorias de “amigo/inimigo”,
“nós/eles”, “quem está dentro/quem está fora”, “meu/teu”, mas a ir além, a
abrir o coração para poder reconhecer a sua presença e a ação de Deus inclusive
em âmbitos incomuns e imprevisíveis, e em pessoas que não fazem parte do nosso
círculo.
Papa
Francisco – 30 de setembro de 2018
Hoje celebramos:
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