sexta-feira, 17 de agosto de 2018

17 de agosto - Santa Joana da Cruz (Joana Delanoue)


Santa Joana Delanoue, a última de doze filhos, foi em socorro das famílias, no contexto da sua cidade de Saumur, no final do século XVII marcado por grandes dificuldades materiais e sociais, agravadas pela carestia, as más colheitas e invernos rigorosos. Considerar-se-á sobretudo a sua ajuda eficaz aos mais pobres.
Ela que era conhecida sobretudo como uma comerciante prudente e interessada, tornou-se muitas vezes "muitíssimo pródiga na caridade", quando o Espírito Santo, apagando "o fogo da sua avareza", lhe fez compreender que a sua fé ardente requeria também "o fogo desta caridade", fazendo-lhe descobrir o prolongamento da pobreza. O livro de Isaías dizia-nos há pouco: "reparte o teu pão com o esfomeado, dá abrigo aos infelizes sem asilo, veste o nu, e não desprezes o teu irmão".

É o que realiza à letra Joana Delanoue: visita os que vivem como animais nos estábulos escavados no outeiro, leva-lhes alimento e vestuário, lava-lhes a roupa e dá ao necessitado a sua, preocupa-se em aquecer estes abrigos precários, distribui prodigamente aos que passam, começa a recebê-los na sua própria casa, toma emprestado sucessivamente três casas e coloca as mobílias, denominando-as "Providências", para ali receber crianças órfãs, jovens entregues a si mesmas, mulheres em dificuldade, anciãos, pobres de toda a espécie, provados pela fome e o frio, em breve todos aqueles que poderiam dizer-lhe no dia do juízo: tinha fome, sede, estava nu, doente, sem casa. Não gosta de fazer distinção entre os pobres merecedores ou não. Socorre-os a todos, mas quer também fazê-los participar nos trabalhos, ensinar um ofício aos jovens e às jovens.

Ainda mais, Joana Delanoue faz a experiência das humilhações dos pobres, às vezes correndo o risco de mendigar ela própria, tendo uma alimentação muitas vezes pior do que a deles, sem contar os seus jejuns contínuos, as suas noites curtas e desconfortáveis. Quer que as suas Irmãs dividam a mesma casa com os pobres, comam como eles, sejam tratadas como eles em caso de doença, e vistam um humilde hábito cinzento. Quanto aos seus pobres, sabe rodeá-los de ternura, algumas vezes proporciona-lhes refeições de festa, exige que as suas Irmãs os saúdem com respeito, e os sirvam antes delas.

Os burgueses da sua cidade, mesmo sacerdotes, criticarão a sua austeridade "excessiva" e a sua caridade "desordenada". Mas nada a deterá, nem mesmo a destruição do seu primeiro local de acolhimento: "quero viver e morrer com os meus caros irmãos os Pobres".

Papa João Paulo II – Homilia de Canonização – 31 de outubro de 1982

Joana Delanoue nasceu em Saumur, cidade às margens do Rio Loire, no dia 18 de junho de 1668, a última de uma família de doze filhos. Seus pais possuíam uma loja de armarinho perto do santuário de Nossa Senhora de Ardilliers. Ela perdeu o pai aos seis anos e apesar de sua pouca idade ajudava a mãe a tocar a loja para sustentar toda a família.
     
Aos 26 anos, Joana herdou o estabelecimento familiar e veio a mostrar-se nele comerciante habilidosa e ávida de ganhos. As suas qualidades são notáveis: inteligente, ativa, infatigável.
     
Num dia de inverno de 1693, notavelmente áspero, vem ter com ela uma boa mulher que por devoção a Nossa Senhora passara a vida em peregrinações, e diz: “Joana, dá-te à caridade; em São Florêncio esperam-nos seis crianças pobres num curral”. Joana recolheu-as em sua casa. Era o ponto de partida da sua vocação.
     
Apesar de suas responsabilidades acrescidas, ela passou a cuidar de alguns pobres; ela cuidava deles todos os dias, além de seus clientes.
      
Durante cinco anos levou a sério os seus negócios, e se dedicou às obras de caridade cada vez mais numerosas. Passaram a chamá-la “mãe dos pobres”.
     
Aos trinta anos deu o passo decisivo: passou a loja a uma sobrinha e transformou a casa em asilo a que chama “a Providência”. Este asilo desaba, mas ela em breve cria três novos. Recolheu assim mais de cem crianças: órfãos, meninas abandonadas, velhos, indigentes.
     
Em 1703 uma companheira passou a ajudá-la e em seguida outras duas, uma das quais é a sua sobrinha. São os princípios da Congregação de Santa Ana da Providência, cujas Constituições receberam a aprovação da Igreja em 1709.
     
A Irmã Joana da Cruz, assim passou a chamar-se, quer que as suas irmãs vivam numa casa semelhante à dos pobres, que se alimentem como eles e como eles sejam tratadas em caso de doença.
     
A tenacidade de Irmã Joana, assistida por belos devotamentos, resultou na fundação do primeiro hospital de Saumur em 1715; ele tinha sido pedido pelo Rei Luís XIV em 1672.
     
Seu amor transbordou rapidamente além dos limites da sua cidade de Saumur e de sua diocese. Ela já tem quarenta auxiliares, todas às suas ordens, e que haviam decidido seguir o seu exemplo de oração, dedicação e mortificação.

Provações não lhe faltaram: conforme mencionado, o desabamento da casa transformada em asilo; a falta de dinheiro, as críticas de pessoas qualificadas que acham exagerada sua austeridade e classificam de desordenada sua caridade. Quanto aos pobres, ela mostra-se para com eles cheia de atenções. Pobre com os pobres, não hesita em pôr-se a mendigar.

Quando de seu falecimento, em 17 de agosto de 1736, aos 68 anos, Joana Delanoue deixou uma dúzia de comunidades, asilos e escolas. "A Santa morreu!", dizem em Saumur.

Todos admiravam o seu zelo, a sua ação nas muitas visitas feitas ou recebidas, mas apenas seus amigos mais próximos conheciam sua mortificação, sua vida de oração e união com Deus. Uma palavra sua resume-lhe a vida: “Quero viver e morrer com os meus queridos irmãos, os pobres”.

As Irmãs de Joana Delanoue, como são chamadas agora, atualmente são cerca de 400 religiosas na França, Madagáscar e Sumatra, onde elas foram fundadas em 1979.
    
Em 5 de novembro de 1947 Pio XII colocou Joana Delanoue entre os Beatos. Em 31 de outubro de 1982 o Papa João Paulo II canonizou a “Mãe dos Pobres.”

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