Santa Joana Delanoue, a última de doze
filhos, foi em socorro das famílias, no contexto da sua cidade de Saumur, no
final do século XVII marcado por grandes dificuldades materiais e sociais,
agravadas pela carestia, as más colheitas e invernos rigorosos. Considerar-se-á
sobretudo a sua
ajuda eficaz aos mais pobres.
Ela que era conhecida sobretudo como uma
comerciante prudente e interessada, tornou-se muitas vezes "muitíssimo
pródiga na caridade", quando o Espírito Santo, apagando "o fogo da
sua avareza", lhe fez compreender que a sua fé ardente requeria também
"o fogo desta caridade", fazendo-lhe descobrir o prolongamento da
pobreza. O livro de Isaías dizia-nos há pouco: "reparte o teu pão com o esfomeado, dá abrigo aos infelizes sem
asilo, veste o nu, e não desprezes o teu irmão".
É o que realiza à letra Joana Delanoue:
visita os que vivem como animais nos estábulos escavados no outeiro, leva-lhes
alimento e vestuário, lava-lhes a roupa e dá ao necessitado a sua, preocupa-se em
aquecer estes abrigos precários, distribui prodigamente aos que passam, começa
a recebê-los na sua própria casa, toma emprestado sucessivamente três casas e
coloca as mobílias, denominando-as "Providências", para ali receber
crianças órfãs, jovens entregues a si mesmas, mulheres em dificuldade, anciãos,
pobres de toda a espécie, provados pela fome e o frio, em breve todos aqueles
que poderiam dizer-lhe no dia do juízo: tinha fome, sede, estava nu, doente,
sem casa. Não gosta de fazer distinção entre os pobres merecedores ou não.
Socorre-os a todos, mas quer também fazê-los participar nos trabalhos, ensinar
um ofício aos jovens e às jovens.
Ainda mais, Joana Delanoue faz a experiência
das humilhações dos pobres, às vezes correndo o risco de mendigar ela própria,
tendo uma alimentação muitas vezes pior do que a deles, sem contar os seus
jejuns contínuos, as suas noites curtas e desconfortáveis. Quer que as suas
Irmãs dividam a mesma casa com os pobres, comam como eles, sejam tratadas como
eles em caso de doença, e vistam um humilde hábito cinzento. Quanto aos seus
pobres, sabe rodeá-los de ternura, algumas vezes proporciona-lhes refeições de
festa, exige que as suas Irmãs os saúdem com respeito, e os sirvam antes delas.
Os burgueses da sua cidade, mesmo sacerdotes,
criticarão a sua austeridade "excessiva" e a sua caridade
"desordenada". Mas nada a deterá, nem mesmo a destruição do seu
primeiro local de acolhimento: "quero
viver e morrer com os meus caros irmãos os Pobres".
Papa João Paulo II –
Homilia de Canonização – 31 de outubro de 1982
Joana Delanoue nasceu em Saumur, cidade às
margens do Rio Loire, no dia 18 de junho de 1668, a última de uma família de
doze filhos. Seus pais possuíam uma loja de armarinho perto do santuário de
Nossa Senhora de Ardilliers. Ela perdeu o pai aos seis anos e apesar de sua
pouca idade ajudava a mãe a tocar a loja para sustentar toda a família.
Aos 26 anos, Joana herdou o
estabelecimento familiar e veio a mostrar-se nele comerciante habilidosa e
ávida de ganhos. As suas qualidades são notáveis: inteligente, ativa,
infatigável.
Num dia de inverno de 1693, notavelmente
áspero, vem ter com ela uma boa mulher que por devoção a Nossa
Senhora passara a vida em peregrinações, e diz: “Joana, dá-te à caridade; em São Florêncio esperam-nos seis crianças
pobres num curral”. Joana recolheu-as em sua casa. Era o ponto de partida
da sua vocação.
Apesar de suas responsabilidades acrescidas,
ela passou a cuidar de alguns pobres; ela cuidava deles todos os dias, além de
seus clientes.
Durante cinco anos levou a sério os seus
negócios, e se dedicou às obras de caridade cada vez mais numerosas. Passaram a
chamá-la “mãe dos pobres”.
Aos trinta anos deu o passo decisivo: passou
a loja a uma sobrinha e transformou a casa em asilo a que chama “a Providência”. Este asilo desaba, mas
ela em breve cria três novos. Recolheu assim mais de cem crianças: órfãos,
meninas abandonadas, velhos, indigentes.
Em 1703 uma companheira passou a
ajudá-la e em seguida outras duas, uma das quais é a sua sobrinha. São os
princípios da Congregação de Santa
Ana da Providência, cujas Constituições receberam a aprovação
da Igreja em 1709.
A Irmã Joana da Cruz, assim passou a chamar-se, quer que as suas
irmãs vivam numa casa semelhante à dos pobres, que se alimentem como eles e
como eles sejam tratadas em caso de doença.
A tenacidade de Irmã Joana, assistida por
belos devotamentos, resultou na fundação do primeiro hospital de Saumur em
1715; ele tinha sido pedido pelo Rei Luís XIV em 1672.
Seu amor transbordou rapidamente além dos
limites da sua cidade de Saumur e de sua diocese. Ela já tem quarenta
auxiliares, todas às suas ordens, e que haviam decidido seguir o seu exemplo de
oração, dedicação e mortificação.
Provações não lhe faltaram: conforme
mencionado, o desabamento da casa transformada em asilo; a falta de dinheiro,
as críticas de pessoas qualificadas que acham exagerada sua austeridade e
classificam de desordenada sua caridade. Quanto aos pobres, ela mostra-se para
com eles cheia de atenções. Pobre com os pobres, não hesita em pôr-se a
mendigar.
Quando de seu falecimento, em 17 de agosto de
1736, aos 68 anos, Joana Delanoue deixou uma dúzia de comunidades, asilos e
escolas. "A Santa morreu!",
dizem em Saumur.
Todos admiravam o seu zelo, a sua ação nas
muitas visitas feitas ou recebidas, mas apenas seus amigos mais próximos
conheciam sua mortificação, sua vida de oração e união com Deus. Uma palavra
sua resume-lhe a vida: “Quero viver e morrer com os meus queridos irmãos, os
pobres”.
As Irmãs de Joana Delanoue, como são chamadas
agora, atualmente são cerca de 400 religiosas na França, Madagáscar e Sumatra,
onde elas foram fundadas em 1979.
Em 5 de novembro de 1947 Pio XII colocou
Joana Delanoue entre os Beatos. Em 31 de outubro de 1982 o Papa
João Paulo II canonizou a “Mãe
dos Pobres.”
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