A narração
evangélica de hoje leva-nos mais uma vez à sinagoga de Nazaré, o povoado da
Galileia onde Jesus cresceu em família e é conhecido por todos. Ele, que tinha
partido há pouco tempo para dar início à sua vida pública, agora retorna pela
primeira vez e apresenta-se à comunidade congregada na sinagoga no dia de
sábado.
Os concidadãos de
Jesus, primeiro surpreendidos e admirados, depois começam a fazer caretas, a
murmurar entre si e a dizer: por que motivo Ele, que tenciona ser o Consagrado
do Senhor, não repete aqui na sua aldeia os prodígios que se afirma ter
realizado em Cafarnaum e nos povoados dos arredores? Então, Jesus diz: Nenhum
profeta é bem aceite na sua pátria, apelando-se aos grandes profetas do
passado, Elias e Eliseu, que realizam milagres em benefício dos pagãos, para
denunciar a incredulidade do seu povo.
Este trecho não é
simplesmente a narração de um desacordo entre concidadãos, como às vezes
acontece inclusive nos nossos bairros, suscitado por invejas e por ciúmes, mas
põe em evidência uma tentação à qual o homem religioso está sempre exposto —
todos nós estamos expostos — e da qual é necessário distanciar-se com decisão.
E qual é esta tentação? É a tentação de considerar a religião como um
investimento humano e, por conseguinte, pôr-se a negociar com Deus, procurando
o próprio interesse. Ao contrário, na religião autêntica, trata-se de aceitar a
revelação de um Deus que é Pai e que cuida de todas as suas criaturas, até da
mais pequenina e insignificante aos olhos dos homens. Precisamente nisto
consiste o ministério profético de Jesus: no anúncio de que nenhuma condição
humana pode ser motivo de exclusão — nenhuma condição humana pode ser motivo de
exclusão! do Coração do Pai, e que o único privilégio aos olhos de Deus
consiste em não ter privilégios. O único privilégio aos olhos de Deus consiste
em não ter privilégios, em não ter padrinhos, em abandonar-se nas suas mãos.
Voltemos à
sinagoga. Certamente naquele dia, na sinagoga de Nazaré estava presente também
Maria, a Mãe. Podemos imaginar as ressonâncias do seu Coração, uma pequena
antecipação daquilo que Ele viria a padecer aos pés da Cruz, vendo Jesus ali na
sinagoga, primeiro admirado e depois desafiado, insultado e ameaçado de morte.
No seu Coração, cheio de fé, Ela conservava tudo isto. Que Ela nos ajude a
converter-nos de um deus dos milagres para o milagre de Deus, que é Jesus
Cristo.
Papa
Francisco – 31 de janeiro de 2016
Hoje celebramos:
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