A pergunta é esta:
É lícito repudiar uma mulher? Jesus, não fica só no caso particular, vai além:
vai à plenitude do matrimônio. Jesus recorda a plenitude da harmonia da
criação: “Desde o início da criação, Deus os fez varão e mulher”.
É claro, que ele
não erra, não procura fazer uma linda figura diante deles: “Varão e mulher os
criou Deus”. E acrescentou imediatamente: Por isso o homem deixará o seu pai e
a sua mãe para se unir à sua esposa e a mulher deixará o seu pai e a sua mãe
para se unir ao seu marido — está subentendido — e os dois tornar-se-ão uma só
carne. Isto é forte: Uma simbiose, uma só carne: já não são dois, mas uma só
carne. Por conseguinte não divida o homem o que Deus uniu.
Jesus responde
acerca da verdade esmagadora, da verdade contundente — eis a verdade! — da
plenitude, sempre. De resto, Jesus nunca negocia a verdade. Ao contrário, este
pequeno grupo de teólogos iluminados negociava sempre a verdade, reduzindo-a à
casuística. Ao contrário de Jesus, o qual não negocia a verdade: eis a verdade
acerca do matrimônio, não há outra.
Contudo Jesus é tão
misericordioso, é tão grande que nunca fecha a porta aos pecadores.
Compreende-se isto quando lhes pergunta: «O que vos comandou Moisés? O que vos
ordenou Moisés? A resposta é que Moisés permitiu que fosse escrito um ato de
repúdio. E é verdade. Mas Jesus responde assim: devido à dureza do vosso
coração ele escreveu para vós esta norma.
Aqui, há a
plenitude da verdade, aquela verdade forte, contundente, mas também a debilidade
humana, a dureza do coração. E Moisés, o legislador, fez isto, mas as coisas
permaneçam claras: uma coisa é a verdade e outra a dureza do coração que é a
condição pecadora de todos nós. Por isso Jesus deixa aqui a porta aberta ao
perdão de Deus mas em casa, aos discípulos, repete a verdade: “Quem repudia a
própria esposa para desposar outra comete adultério”. Jesus diz isto
claramente, sem rodeios: “E se ela, repudia o marido e desposa outro, comete
adultério”.
O trecho evangélico
revela-nos as verdades que Jesus nos dá, que são verdades plenas, recebidas de
Deus, do Pai, que são sempre assim. E mostra-nos também a maneira, ou seja, como
se comporta Jesus diante dos pecadores: com o perdão, deixando a porta aberta.
E nesta referência a Moisés, deixa algo para o perdão do povo que não conseguiu
levar por diante este compromisso. De resto, também hoje, neste mundo no qual
vivemos, com esta cultura do provisório, esta realidade de pecado é tão forte.
Jesus, recordando
Moisés, diz-nos que há a dureza do coração, o pecado. Mas pode-se fazer algo: o
perdão, a compreensão, o acompanhamento, a integração, o discernimento destes
casos. Cientes de que a verdade nunca se vende. Jesus é capaz de dizer esta
verdade tão grande e, ao mesmo tempo, ser tão compreensivo com os pecadores,
com os débeis. Ao contrário, este grupinho de teólogos iluminados, que caem na
casuística, são incapazes quer de horizontes vastos quer de amor e compreensão
em relação à debilidade humana.
Nós devemos
caminhar com estas duas coisas que Jesus nos ensina: a verdade e a compreensão.
E isto não se resolve como uma equação matemática, mas com a própria carne:
isto é, eu, cristão, ajudo aquela pessoa, aqueles matrimônios que estão em dificuldade,
que estão feridos, no caminho de aproximação a Deus. Permanece o fato de que a
verdade é aquela, mas esta é outra verdade: somos todos pecadores, a caminho. E
é preciso fazer sempre este trabalho: como ajudar, como acompanhar, mas também
como ensinar àqueles que desejam casar qual é a verdade acerca do matrimônio.
É curioso observar
que Jesus falando da verdade diz palavras claras: mas com quanta delicadeza
trata os adúlteros. E assim àquela mulher, que levaram diante dele para ser lapidada,
com quanta delicadeza diz: Mulher, ninguém te condenou, também eu não te
condeno, vai em paz e não voltes a pecar! E com quanta delicadeza Jesus trata a
samaritana, que tinha uma grande história de adultérios, dizendo-lhe: chama o
teu marido e deixando que ela diga: eu não tenho marido.
Que Jesus nos
ensine a ter com o coração uma grande adesão à verdade e também com o coração
uma profundo compreensão e acompanhamento de todos os nossos irmãos que se
encontram em dificuldade. E isto é um dom: o Espírito Santo é que o ensina e
não estes doutores iluminados que para nos ensinar precisam de reduzir a
plenitude de Deus a uma equação da casuística.
Papa Francisco – 20 de maio de 2016
Hoje celebramos:
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