O Evangelho apresenta-nos
um novo encontro entre Jesus e os seus opositores. O tema enfrentado é o do
tributo a César: uma questão espinhosa, a respeito da legalidade ou não de
pagar o imposto ao imperador de Roma, a quem estava submetida a Palestina na
época de Jesus. As posições eram diversas. Portanto, a pergunta que lhe foi
dirigida pelos fariseus: É permitido ou não pagar o imposto a César? constitui
uma cilada para o Mestre. Com efeito, de acordo com a resposta que tivesse
dado, seria acusado de ser a favor ou contra Roma.
Mas também neste
caso, Jesus responde com calma e aproveita a pergunta maliciosa para dar um
ensinamento importante, elevando-se acima da polêmica e das posições opostas.
Diz aos fariseus: Mostrai-me a moeda do tributo. Eles mostram-lhe um denário e
Jesus, observando a moeda, pergunta: De quem é esta imagem e esta inscrição? Os
fariseus respondem: De César. Então Jesus conclui: Dai, pois, a César o que é
de César e a Deus o que é de Deus. Por um lado, intimando que se restitua ao
imperador aquilo que lhe pertence, Jesus declara que pagar o imposto não é um
gesto de idolatria, mas um ato devido à autoridade terrena; por outro, e é aqui
que Jesus dá o “golpe de asa”, evocando o primado de Deus, pede que se lhe dê
aquilo que lhe pertence como Senhor da vida do homem e da história.
A referência à
imagem de César, gravada na moeda, diz que é justo sentir-se a pleno título,
com direitos e deveres, cidadãos do Estado; mas simbolicamente faz pensar na
outra imagem que está gravada em cada homem: a imagem de Deus. Ele é o Senhor
de tudo, e nós, que fomos criados “à sua imagem”, pertencemos sobretudo a Ele.
Da pergunta que lhe fazem os fariseus, Jesus extrai uma interrogação mais
radical e vital para cada um de nós, uma pergunta que podemos fazer a nós
mesmos: a quem pertenço? À família, à cidade, aos amigos, à escola, ao
trabalho, à política, ao Estado? Sim, sem dúvida. Mas antes de tudo,
recorda-nos Jesus, tu pertences a Deus. Esta é a pertença fundamental. Foi Ele
que te deu tudo aquilo que és e que tens. Por conseguinte, podemos e devemos
levar a nossa vida, dia após dia, no reconhecimento desta nossa pertença
fundamental e na gratidão do coração ao nosso Pai, que cria cada um de nós
singularmente, irrepetível, mas sempre segundo a imagem do seu amado Filho
Jesus. É um mistério maravilhoso!
O cristão é chamado
a comprometer-se concretamente nas realidades humanas e sociais, sem opor
“Deus” a “César”; contrapor Deus a César seria uma atitude fundamentalista. O
cristão é chamado a empenhar-se concretamente nas realidades terrenas, mas
iluminando-as com a luz que deriva de Deus. A confiança prioritária a Deus e a
esperança nele não requerem uma fuga da realidade mas, ao contrário, um dar
industriosamente a Deus aquilo que lhe pertence. É por isso que o crente olha
para a realidade futura, a de Deus, a fim de levar a vida terrena em plenitude
e enfrentar com coragem os seus desafios.
A Virgem Maria nos
ajude a viver sempre em conformidade com a imagem de Deus que trazemos dentro
de nós, oferecendo também a nossa contribuição para a construção da cidade
terrena.
Papa Francisco – 22
de outubro de 2017
Hoje celebramos:
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