Jesus não quer
cancelar os mandamentos que o Senhor deu por meio de Moisés, mas deseja
levá-los à sua plenitude. E logo a seguir acrescenta que este cumprimento da
Lei exige uma justiça superior, uma observância mais autêntica. Com efeito, diz
aos seus discípulos: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos
escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus”. Mas o que
significa este pleno cumprimento da Lei? E em que consiste esta justiça
superior?
O próprio Jesus nos
responde com alguns exemplos. Jesus era prático, falava sempre com exemplos
para se fazer compreender, pondo em confronto a Lei antiga e o que Ele nos diz.
Começa pelo quinto mandamento do decálogo: Ouvistes que foi dito aos antigos:
“Não matarás”... Eu, porém, vos digo que qualquer um que, sem motivo, se
encolerizar contra o seu irmão, será réu de juízo.
Com isto, Jesus
recorda-nos que também as palavras podem matar! Quando se diz que uma pessoa
tem língua de serpente, o que significa? Que as suas palavras matam! Portanto,
não só não se deve atentar contra a vida do próximo, mas nem sequer fazer cair
sobre ele o veneno da ira e da calúnia. Nem sequer falar mal dele. Chegamos s
indiscrições: também os mexericos podem matar, porque matam a reputação das
pessoas! É tão feio falar mal! No início pode parecer uma coisa agradável, até
divertida, como comer um rebuçado. Mas no final, enche-nos o coração de
amargura, e envenena também a nós. Digo-vos a verdade, estou certo de que se
cada um de nós fizesse o propósito de evitar os mexericos, tornar-se-ia santo!
A quem o segue,
Jesus propõe a perfeição do amor: um amor cuja única medida é não ter medida,
ir além de qualquer cálculo. O amor ao próximo é uma atitude tão fundamental
que Jesus chega a afirmar que a nossa relação com Deus não pode ser sincera se
não quisermos fazer as pazes com o próximo. E diz assim: “Portanto, se
trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que o teu irmão tem
alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai
reconciliar-te primeiro com o teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta”.
Por isso somos chamados a reconciliar-nos com os nossos irmãos antes de
manifestar a nossa devoção ao Senhor na oração.
De tudo isto
compreende-se que Jesus não dá importância simplesmente à observância
disciplinar e à conduta exterior. Ele vai à raiz da Lei, apostando sobretudo na
intenção e por conseguinte no coração humano, onde têm origem as nossas ações
boas e más. A fim de obter comportamentos bons e honestos não são suficientes
as normas jurídicas, mas são necessárias motivações profundas, expressão de uma
sabedoria escondida, a Sabedoria de Deus, que pode ser acolhida graças ao
Espírito Santo.
E nós, através da
fé em Cristo, podemos abrir-nos à ação do Espírito, que nos torna capazes de
viver o amor divino. À luz deste ensinamento de Cristo, cada preceito revela o
seu pleno significado como exigência de amor, e todos se reconhecem no maior
mandamento: ama a Deus com todo o coração e ama o próximo como a ti mesmo.
Papa Francisco - 09 de fevereiro de 2014
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