Cosme e Damião eram filhos
de uma nobre família de cristãos, acredita-se que eram gêmeos e foram os
últimos dos cinco filhos do casal. Do pai não temos relato, possivelmente
morreu antes deles nascerem, mas sua mãe se chamava Teodora e foi ela que
educou os filhos na fé cristã. Nasceram por volta do ano 260, na região da
Arábia e viveram na Ásia Menor, no Oriente. Desde muito jovens, ambos
manifestaram um enorme talento para a medicina, profissão a qual se dedicaram
após estudarem e diplomarem-se na Síria.
Tornaram-se profissionais muito competentes e dignos, e foram trabalhar como
médicos e missionários na Egéia.
Em um texto do século V
encontramos um relato sobre eles: “Eles foram tão bons na arte de curar os
enfermos, a ponto de se considerar sem sombra de dúvida que eles foram
encaminhados para os estudos médicos por mandamento do espírito Santo, que lhes
apareceu em sonho.”
Amavam a Cristo com todo o
fervor de suas almas, e decidiram atrair pessoas ao Senhor através de seu
serviço. Por isso, não cobravam pelas consultas e atendimentos que prestavam, e
por esse motivo eram chamados de " médicos anárgiros", ou
seja, “aqueles que são inimigos do dinheiro / que não são comprados por
dinheiro".
A riqueza que almejavam era
fazer de sua arte médica também o seu apostolado, para a conversão dos
perdidos, o que, a cada dia, conseguiam mais e mais. Seus corações ardiam por
ganhar vidas, e nisto se envolveram através da prática da medicina. Inspirados
pelo Espírito Santo, usavam a fé aliada aos conhecimentos científicos.
Confiando sempre no poder da oração, operaram verdadeiros milagres, pois em
Nome de Jesus curaram muitos doentes, vários destes à beira da morte.
Diante do leito do doente os
dois médicos recolhiam-se primeiro em oração, a seguir faziam um amplo sinal da
cruz, e só então se informavam a respeito das condições do paciente e a
natureza do mal, para prosseguir com a visita e depois estabelecer a cura.
Numerosos pacientes por eles
curados convertiam-se ao cristianismo. Diziam ao doente:
“Todo o bem nos vem do Senhor. Existe um único e
verdadeiro Deus, e somente Ele – e não nós – cura a tua chaga, devolve a luz
aos teus olhos, apaga a febre em tuas veias. Nós somos apenas os instrumentos.
Nele deves ter fé e curar-te.”
Porém, as atividades cristãs
dos médicos gêmeos chamaram a atenção das autoridades locais da época, quando o
Imperador romano Diocleciano autorizou a perseguição aos cristãos. Diocleciano
odiava os cristãos porque eles eram fiéis a Jesus Cristo e não adoravam ídolos
e esculturas consideradas sagradas pelo Império Romano.
Por ciúme e inveja dos outros médicos e curandeiros, foram denunciados às
autoridades por pregarem o cristianismo, assim foram presos, levados a tribunal
e acusados de se entregarem à prática de feitiçarias e de usar meios diabólicos
para disfarçar as curas que realizavam. Ao serem questionados quanto as suas
atividades, eles responderam: "Nós curamos as doenças em nome de Jesus
Cristo, pela força do Seu poder".
Eles conheceram os
princípios da fé cristã quando ainda eram crianças, e por isso recusaram-se a
adorar os deuses pagãos, apesar das ameaças de serem duramente castigados. Ante
o governador Lísias, juntamente com os outros três irmãos, ousaram declarar que
aqueles falsos deuses não tinham poder algum sobre eles, e que só adorariam o
Deus Único, Criador do Céu e da Terra. Mantiveram a Palavra do testemunho de
Cristo, impressionando a todos por seu Amor e sua entrega a Jesus.
Não renunciaram aos
princípios de Deus, e sofreram terríveis torturas por isso. Mas mesmo
torturados, não abalaram sua convicção e jamais negaram a fé. Por volta do ano
300, o Imperador decretou que fossem condenados à morte na Egéia. Os cinco
irmãos foram primeiro atirados ao fogo, mas não se queimaram, depois atirados
às águas, mas não se afogaram, foram então colocados no paredão para que quatro
soldados os atravessassem com setas, mas eles resistiram às pedradas e
flechadas. Os militares foram obrigados a recorrer à espada para a decapitação,
honra reservada só aos cidadãos romanos. E assim, Cosme e Damião e seus irmãos
foram martirizados.
Cem anos depois disso,
iniciou-se uma terrível idolatria ao seus restos mortais e às imagens que foram
esculpidas em sua homenagem. Dois séculos após sua morte, por volta do ano 530,
o Imperador Justiniano ficou gravemente doente e deu ordens para que se
construísse, em Constantinopla, uma grandiosa igreja em honra de Cosme e
Damião. A fama dos gêmeos também correu no Ocidente, a partir de Roma, por
causa da basílica dedicada a eles, construída a pedido do papa Félix IV, entre
526 e 530. A solenidade de consagração da basílica ocorreu num dia 26 de
setembro e assim, Cosme e Damião passaram a ser festejados, pela igreja
católica, nesta data.
Os
nomes de Cosme e Damião são pronunciados inúmeras vezes, todos os dias, no
mundo inteiro. Até hoje, os gêmeos são cultuados em toda a Europa,
especialmente na Itália, França, Espanha e Portugal. Além disso, são venerados
como padroeiros dos médicos e farmacêuticos.
Aqui no Brasil, a devoção trazida
pelos portugueses misturou-se com o culto aos orixás-meninos (Ibejis ou Erês)
da tradição africana yorubá. Cosme e Damião, os santos mabaças ou gêmeos, são
tão populares quanto Santo Antônio e São João. São amplamente festejados na
Bahia e no Rio de Janeiro, onde sua festa acontece no dia 27 de setembro,
quando crianças saem aos bandos, pedindo doces e esmolas em nome dos santos.
Os devotos e simpatizantes têm o
costume de fazer caruru (uma comida típica da tradição afro-brasileira),
chamado também de “Caruru dos Santos” e “Caruru dos sete meninos” que
representam os sete irmãos (Cosme, Damião, Dou, Alabá, Crispim, Crispiniano e
Talabi), e dar para as crianças.
Uma característica marcante na
Umbanda e no Candomblé, em relação às representações de Cosme e Damião, é que
junto aos dois santos católicos aparece uma criancinha vestida igual a eles.
Essa criança é chamada de Doúm ou Idowu, que personifica as crianças com idade
de até sete (7) anos de idade, sendo ele o protetor das crianças nessa faixa de
idade. Na festa da tradições afro, enquanto as crianças se deliciam com a
iguaria consagrada, os adultos ficam em volta entoando cânticos (oríns) aos
orixás.
Assim, o costume de dar balas às crianças no dia 27 de setembro
não é uma tradição católica.
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