sábado, 3 de setembro de 2016

Papa São Gregório Magno


«Não se pode servir a dois senhores»

Querer pôr a esperança e a confiança em bens passageiros é querer fazer fundações em água corrente. Tudo passa; Deus permanece. Agarrarmo-nos ao que é transitório é desligarmo-nos do que é permanente. Quem, portanto, levado no turbilhão agitado de um rápido, consegue manter-se firme em seu lugar, nessa torrente fragorosa? Se quisermos recusar-nos a ser levados pela corrente, temos de nos afastar de tudo o que corre; senão o objeto do nosso amor constranger-nos-á a chegar ao que precisamente queremos evitar. Aquele que se agarra aos bens transitórios será certamente arrastado até onde vão ter, à deriva, essas coisas a que se apega.
A primeira coisa a fazer é pois abstermo-nos de amar os bens materiais;
A segunda, não pormos total confiança naqueles bens que nos são confiados para ser usados e não para ser desfrutados.
A alma que se prende a bens perecíveis, apenas, depressa perde a sua própria estabilidade. O turbilhão da vida atual arrasta quem nele se deixa ir, e é uma tonta ilusão, para aquele que é levado nesta corrente, nela querer manter-se de pé.
Escritos morais sobre Jó, 34


«Recebestes de graça, dai de graça»

Vós podeis, também, se o quiserdes, merecer este belo nome de mensageiros de Deus. Com efeito, se cada um de vós, segundo as suas possibilidades, na medida em que tiver recebido a inspiração do céu, desviar o seu próximo do mal, se tomar a seu cuidado trazê-lo para o bem, se recordar ao transviado do Reino o castigo que o espera na eternidade, é evidentemente um mensageiro das santas palavras de Jesus.
E que ninguém venha dizer: Eu sou incapaz de instruir os outros, de os exortar. Façam ao menos o que vos é possível, para que um dia não vos peçam contas do talento recebido e mal conservado. Porque aquele que preferiu esconder o seu talento em vez de o fazer render não tinha recebido mais do que um talento (Mt 25, 14s)...
Arrastai os outros convosco; que eles sejam os vossos companheiros na estrada que leva a Deus. Quando, indo à praça ou aos banhos públicos, encontrardes alguém desocupado, convidai-o a acompanhar-vos. Porque as vossas ações quotidianas servem, elas próprias, para vos unir aos outros. Ides a Deus? Tentai não chegardes lá sozinhos. Que aquele que, no seu coração, já escutou o apelo do amor divino tenha para com o seu próximo uma palavra de encorajamento.
Homilias sobre os evangelhos, 6


São Gregório Magno, nasceu em Roma em 540. Era filho de um senador romano, Gordiano, e de Santa Silvia. Os pais eram muito ricos. Conta-se que duas de suas tias também foram santas, Santa Tarcila e Santa Emiliana.

Dedicou-se desde muito jovem aos estudos, alcançando uma grande erudição e, ao mesmo tempo, uma grande piedade e virtude. Aos 30 anos ele foi nomeado Pretor de Roma, cargo que naqueles tempos de convulsão pelas invasões bárbaras, era equivalente a governador da cidade.

Atraído pela vida religiosa dos monges da Ordem de São Bento, Gregório resolveu entregar-se à vida religiosa. Quando morreu seu pai, Gregório recebeu como herança a fortuna de sua família, e com esses bens fundou e dotou seis mosteiros na Sicília e um sétimo em Roma, dedicado a Santo André.
Ele distribuiu grande parte de seus bens aos pobres.

Em 575, São Gregório entrou para o mosteiro. Uma doença estomacal o impedia de jejuar como os demais monges. Por isso, rogou a Deus que o curasse, para poder jejuar. Deus o atendeu, e, curado, passou a jejuar como os demais.

Em 576 ele se tornou Abade de Santo André, e dois anos depois, o Papa o enviou a Constantinopla como embaixador em missão especial. Lá, S. Gregório viveu como monge, apesar de sua missão.

Foi no período em que estava em Constantinopla que Gregório escreveu seus Comentários ao Livro de Jó, os Moralia. Esse é um dos livros mais extraordinários escritos sobre um livro da Sagrada Escritura. O próprio São Tomás de Aquino só fez do livro de Jó um comentário "ad litteram", ou seja, palavra por palavra, porque julgava que tudo o que podia ser dito desse livro do ponto de vista analógico, moral e místico, já fora dito por São Gregório Magno.

Em 590, S. Gregório foi eleito papa em votação unânime. Escreveu ao Imperador de Constantinopla que interviesse, não confirmando sua eleição. O Imperador, que bem o conhecia, deixou de atendê-lo. Ele então fugiu para não ser coroado Papa, mas uma luz milagrosa apontava seu esconderijo.

Ele irá governar a Igreja como Papa por 14 anos.
Foi São Gregório que enviou um grupo de 40 monges de seu antigo mosteiro à Inglaterra, sob a liderança de Santo Agostinho (o de Cantuária, que não deve ser confundido com Santo Agostinho de Hipona).

São Gregório, como Papa, foi um exemplo de humildade. Quando recebia louvores pelo que fazia, respondia com palavras que indicavam como era grande sua humildade.
Escreveu uma obra - A Regra Pastoral, ou simplesmente Pastoral - tratando dos deveres de um Bispo. O livro se tornou um clássico, sendo requerido que todos os Bispos do mundo nele pautassem sua conduta.
Em certo ponto desse livro, dizia São Gregório:
"Os bispos são os olhos do povo. Se os que governam o povo não têm luz, os que lhes estão submetidos só podem cair em confusão e erro".

“O verdadeiro pastor das almas é puro em seu pensamento. Sabe aproximar-se de todos, com verdadeira caridade. Eleva-se acima de todos pela contemplação de Deus.”

Não perdia de vista a santificação de sua alma. – “Eu estou pronto – assim se exprimia numa carta – para ouvir todos aqueles, que me quiserem fazer a caridade de uma repreensão salutar; considero como amigos só aqueles que possuírem a generosidade de indicar-me os meios de purificar minha alma das manchas que tem”.

Teve sempre muita preocupação com os pobres, numerosos em Roma naqueles tempos de decadência, mandando que se lhes distribuísse comida diariamente.
Ele mesmo convidava todos os dias 12 peregrinos à sua mesa, e ele mesmo fazia questão de servi-los.
Conta-se que, um dia, o próprio Cristo foi um dos peregrinos a quem ele atendeu.

Certa vez, um abade lhe pediu ajuda monetária para seu convento. Mais tarde, porém, se arrependeu por julgar que pedira muito ao Papa. Por isso, diminuiu duas vezes a quantia pedida. São Gregório, constatando a virtude do abade, o atendeu dando tudo o que ele inicialmente pedira e ainda mais, por generosidade pessoal.

Promoveu uma reforma de canto litúrgico que lhe tomará o nome - Gregoriano - cujas notas, compassadas e solenes, enchem as catedrais até nossos dias.

Ele foi declarado santo logo que morreu por "aclamação popular" no ano de 604.
Em seus documentos oficiais, Gregório foi o primeiro a fazer uso frequente do termo "Servo dos Servos de Deus"(Servus Servorum Dei) como título papal, iniciando um costume que seria seguido por todos os seus sucessores.

O diácono Pedro, que possuía  toda confiança de São Gregório, afirma ter visto muitas vezes o divino Espírito Santo, em forma de uma pomba branca, descer sobre o Santo Papa. É por este motivo que a arte cristã apresenta São Gregório Magno com uma pomba branca, pairando-lhe a cabeça.







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