Em
1610 começava a Congregação das Visitadinas. A senhora de Chantal abandonou sua casa no dia de São José.
A despedida aconteceu em meio a uma cena emocionante. Todos choravam, e
ela mesma, apesar da violência no ambiente, estava acabada em lágrimas.
O maior dos seus filhos, Celso Benigno, o que será
um dia padre, se pendurou no seu pescoço
esforçando-se para detê-la com seus carinhos.
Ela lhe cobria de beijos e
respondia a todas as suas razões com um valor admirável. Por fim se
retirou violentamente dos braços de seu filho e começou a caminhar.
Então, Celso Benigno, desesperado por não poder deter sua mãe, se
estirou no piso, e disse estas palavras: “Mãe, passa se queres, se te atreves a passar sobre o corpo do teu próprio filho.”
Ela duvidou por um momento e parou com o coração oprimido; mais,
retomando as suas forças, sorrindo através das lágrimas, começou a
caminhar, chegou a rua com um salto e subiu na sua carroça. Durante um
momento caminhou em silêncio e com os olhos arrasados em lágrimas;
depois se tranquilizou subitamente e entoou o canto da liberação. Sua
agonia chegou ao fim.
Santa Joana Francisca
Fremiot nasceu a 23 de janeiro de 1572, na cidade de Dijon, França, seus dois
renomados diretores espirituais, São Francisco de Sales e São Vicente de Paulo.
Ela própria se apresenta:
"Sou Joana Francisca Frémyot, natural de Dijon, capital da Borgonha, filha
do senhor Frémyot, presidente do Parlamento de Dijon, e da senhora Margarida de
Barbisey”.
Com apenas um ano e meio de
idade perdeu a mãe, e seu pai se dedicou inteiramente à educação dos seus três
filhos, inculcando-lhes antes de tudo o amor de Deus e a doutrina da fé
católica.
Joana Francisca era a
admiração de todos os que com ela conviviam, por sua inteligência viva, seu
reto e sólido juízo, seu caráter firme e varonil, sua prudência e discrição,
que unidos ao seu coração inclinado ao bem e à virtude foram a base sobre a
qual se elevou o edifício de sua perfeição.
Contraiu matrimônio com o
jovem Christophe de Rabutin-Chantal, Barão de Chantal. Desde sua chegada ao
castelo do esposo demonstrou sua habilidade na administração das propriedades,
fazendo-as mais produtivas que antes. Deus abençoou seu lar com seis filhos. Os
dois primeiros morreram ao nascer. Enfim, após três ou quatro anos de
casamento, ela deu à luz o seu primogênito Celso Benigno, nascendo a seguir
Maria Amada, Francisca e Carlota.
Assumiu em todo o momento o
seu papel de mulher “perfeita”, dedicada à educação de seus filhos e às obras
de caridade. Depois de algumas semanas do nascimento de Carlota, o barão sofreu
um acidente de caça e morreu. Viúva aos 28 anos, apesar da sua profunda
tristeza, abraçou a vontade de Deus e perdoou de coração o responsável
involuntário pela morte de seu esposo. Experimentou o quão efêmera é a
felicidade nesta vida.
Desabrochou nela um vivo
desejo de ser toda de Deus. Anos antes fizera, juntamente com seu esposo, uma
promessa: aquele que sobrevivesse ao outro se consagraria a Deus. Repartiu suas joias e vestidos de gala entre os pobres e a Igreja. A partir de então, se
constitui “mãe de todos os pobres”. Acompanhada pelos filhos, visitava os
enfermos em suas próprias casas, levava-lhes alimentos, remédios, e ela mesma
limpava e curava suas chagas e as beijava, vendo a Nosso Senhor em cada um
deles. Fazia estas obras de caridade com tanto esmero e carinho que todos
diziam: “Que
bom é estar doente, para receber a visita da santa baronesa!”
No outono de 1602, o sogro
de Joana forçou-a a viver em seu castelo de Monthelon, ameaçando-a deserdar
seus filhos se se recusasse. Ela passou uns sete anos sob sua errática e
dominante custódia, aguentando maus tratos e humilhações.
Joana Francisca sentia uma
sede ardente do infinito e pedia insistentemente ao Céu um guia espiritual que
lhe mostrasse a vontade de Deus. Ouvia em seu íntimo a voz que lhe diz: “Eu
te darei esse guia”.
Na quaresma de 1604, Joana
estava na casa de seu pai em Dijon. O Bispo Francisco de Sales foi àquela
cidade para fazer a pregação da Quaresma. Ambos se reconhecem sem nunca se
haverem visto e desde o primeiro momento se compreendem. Ela se colocou sob sua
direção espiritual. Começou uma rica correspondência entre os dois: são alguns
dos mais belos escritos que existem e refletem a profunda amizade vivida entre
os santos.
No dia 4 de junho de 1607,
Francisco de Sales lhe revelou o desígnio que Deus lhe havia inspirado de
fundar uma nova Congregação, e ela acolheu o projeto muito feliz e com perfeita
obediência.
Em 1609, sua filha mais
velha, Maria Amada, se casava, e no ano seguinte sua filha caçula falecia.
Francisca continuou sua educação por algum tempo sob a direção da mãe e Celso
Benigno foi entregue aos cuidados do avô materno.
Chegou o momento da partida
para iniciar a vida religiosa e Joana Francisca de Chantal, acompanhada por
Joana Carlota de Brechard, Jaquelina Favre e Ana Jaquelina Costa, entrou na
pequena Casa da Galeria, onde receberam a bênção do Bispo Francisco de Sales,
juntamente com as Constituições religiosas que ele mesmo redigira. Nesta Casa
residiriam durante alguns anos até se transferirem definitivamente em 1613 para
o primeiro Mosteiro da Visitação nesta mesma cidade.
Joana Francisca sofreu
sucessivamente a perda dos parentes que lhe eram mais queridos. A estas
dolorosas partidas se unem enfermidades, críticas e perseguições de todo o
tipo. Tudo ela recebia e abraçava com espírito de fé, vendo em tudo a vontade
de Deus. É admirável em seu ardente amor a Deus. Amor forte, generoso e
provado, que a faz dizer: “Saborear a suavidade de Deus, não
é amor sólido; mas humilhar-se, sofrer e morrer a si mesmo, este é verdadeiro
amor”.
Em 1632, profundamente
tocada pelo amor divino, partilhou com as Irmãs sua experiência acerca de um
martírio que chamou de Martírio de Amor, explicando-lhes
textualmente:
“...
Deus, sustentando a vida de seus servidores e servidoras para fazê-los
trabalhar para a sua glória, os torna mártires e confessores ao mesmo tempo
(...). É que o Divino amor faz passar sua espada pelas partes mais secretas e
íntimas de nossas almas, e nos separa de nós mesmas. Eu conheço uma alma a quem
o amor separou das coisas que lhe eram mais caras, de tal modo, como se tiranos
houvessem separado seu corpo de sua alma, esquartejando-o com suas espadas”. As
Irmãs entenderam que Joana Francisca falava de si mesma.
Diferentemente de Santa
Teresa d’ Ávila e de outros santos, Joana não escreveu suas exortações,
conferências e instruções, elas foram anotadas e entregues à posteridade graças
a muitas monjas fieis e admiradoras de sua Ordem.
Tendo vivido em profunda
humildade, gozou de paz e serenidade constantes. Ao falecer, em 13 de dezembro
de 1641, às vésperas de seus 70 anos de idade, deixou fundados 87 Mosteiros.
Em 1751 foi beatificada pelo
Papa Bento XIV e em 16 de julho de 1767, canonizada por Clemente XIII.
Seu coração permanece
incorrupto no Mosteiro da Visitação, na cidade de Nevers, França.
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