sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Beata Maria de los Angeles Ginard Martì

Poucos dias depois do martírio de Josep Tápies Sirvant e seis companheiros, também a Irmã Maria de los Ángeles Ginard Martí rematou a sua consagração a Jesus Cristo oferecendo a sua vida, ceifada pelas balas, em Dehesa de la Villa, perto de Madrid. A beata Maria de los Ángeles foi uma religiosa exemplar, destacando-se entre as suas numerosas virtudes o amor à Santíssima Eucaristia e ao Rosário, assim como a sua particular devoção aos primeiros cristãos, cujo martírio venerava.
O século XX foi definido como o século do martírio, como a história pode demonstrar. Não obstante a sua barbárie e virulência, a perseguição violenta que se desencadeou na Espanha, com a finalidade de destruir a Igreja, foi apenas um episódio, certamente feroz, do que o livro bíblico do Apocalipse chama a grande tribulação (Ap 7, 14). Na verdade, a grande tribulação da Igreja no século XX, que causou um número incalculável de vítimas a maior parte desaparecidos, sem deixar vestígios também nos deixou tantos nomes que a Igreja, com solicitude materna, eleva aos altares.
Devemos ter presente que não se trata só de manter viva na Igreja a memória dos mártires; trata-se sobretudo de compreender e dar o justo realce ao sentido do martírio cristão, que é, acima de qualquer outra consideração, o sinal mais autentico de que a Igreja é a Igreja de Jesus Cristo, é a Igreja que Ele quis e fundou e na qual está presente.
A grande multidão de mártires testemunha com o seu sangue a fidelidade da Igreja a Jesus Cristo porque, mesmo que nela haja pecadores, é ao mesmo tempo uma Igreja de mártires, ou seja, de cristãos autênticos, que praticaram a sua fé em Cristo e a sua caridade para com os irmãos, incluindo os inimigos, até ao sacrifício, não só da sua vida, mas também com frequência da sua honra, tendo suportado grandes humilhações, entre outras as de terem sido chamados traidores e impostores. 
O martírio cristão proclama com evidencia que Deus, a pessoa de Jesus Cristo, a fé n'Ele e a fidelidade ao Evangelho são os valores mais nobres da vida humana, a ponto de sacrificar por eles a própria vida.
Os mártires não hesitaram em dar a sua vida pela fé em momentos de perseguição sanguinolenta. Que mensagem transmitem aos cristãos de hoje, na nossa existência quotidiana? Recordam-nos que devemos viver profundamente a nossa fé, não só a nível pessoal e privado, mas também no nosso agir responsável na sociedade, na qual nos compete o dever de promover e tutelar eficazmente aqueles valores que estão na origem de uma convivência baseada na justiça, como a vida, a família e o direito irrenunciável dos pais à educação dos filhos.
Cardeal José Saraiva Martins – Homilia de Beatificação 29/10/2005

A Irmã Maria de los Ángeles Ginard Martí, religiosa da Congregação das Irmãs Zeladoras do Culto Eucarístico, nasceu no dia 3 de Abril de 1894. Era a terceira de nove filhos e passou a sua infância nas Canárias, para onde o seu pai tinha sido transferido. Após o regresso da sua família a Maiorca embora já tivesse o desejo de tornar-se religiosa teve que esperar. Por necessidade aprendeu a confeccionar chapéus e a bordar a fim de, com o seu esforço pessoal, contribuir e suprir as carências de uma família tão numerosa. Não obstante isso, todas as manhãs levantava-se de madrugada para participar na Eucaristia e o seu trabalho não a impedia de recitar o Rosário, visitar o Santíssimo e transcorrer longos períodos em adoração na igreja das Irmãs Zeladoras do Culto Eucarístico.

Entrou nessa Congregação em 1921. Terminado o noviciado e emitida a primeira profissão religiosa, viveu e trabalhou na casa das Irmãs em Madrid de 1926 a 1929. Colocou-se imediatamente em contacto com a comunidade orante e soube estar disponível aos muitos fiéis que vinham à capela da casa para adorar o Santíssimo Sacramento. Em seguida, transferiu-se para Barcelona, regressando à casa de Madrid no ano de 1932, após ter renunciado ser conselheira-geral. Nesta casa viveu os quatro anos precedentes à sua morte, experimentando a perseguição religiosa típica daquela época. Atualmente os seus despojos repousam na igreja desta casa em Madrid.

Ela sabia aproveitar todos os momentos livres para adorar silenciosamente a Eucaristia, além do tempo habitual do seu horário religioso. Orava incessantemente diante de Jesus Cristo Ressuscitado, presente na Eucaristia, pelos muitos problemas da Espanha, agitada naquele período por tantos conflitos sociais. Desejava levar Cristo a toda a humanidade, através do fascínio eucarístico. No mês de Março de 1936, uma explosão de violência anti-religiosa provocou o incêndio de diversas igrejas, cobrindo toda Madrid de fumaça. Não obstante tudo, as Zeladoras do Culto Eucarístico não interromperam o seu ritmo de adoração. Contudo, os incêndios continuavam a aumentar e também os assassinatos de sacerdotes, pessoas consagradas e leigos cristãos.

No dia 20 de Julho de 1936, juntamente com as religiosas da sua comunidade, teve que se refugiar na casa de alguns vizinhos seus amigos. Na tarde de 25 de Agosto de 1936, após a denúncia de um porteiro do prédio onde estava hospedada, foi detida e, dado que estavam para capturar também uma irmã da dona da casa, a Irmã Maria de los Ángeles disse:
"Esta senhora não é uma religiosa, deixai-a, a única religiosa sou eu". Desse modo, salvou-lhe a vida mas, ao mesmo tempo, identificou-se como religiosa, fato que a levou ao martírio.
Conduzida à prisão das Belas Artes, na noite de 26 de Agosto, foi fuzilada na localidade de Dehesa de la Villa, em Madrid. Não foi submetida a qualquer processo; era religiosa, e este fato era suficiente. Após o reconhecimento e a remoção do seu cadáver, foi sepultada no cemitério de Almudena no dia seguinte. Em 1941, o seu corpo foi depositado no túmulo da comunidade. Maria de los Ángeles morreu sorrindo, como demonstram as fotografias. Finalmente era mártir de Jesus Cristo, como tinha desejado.

A Irmã Maria de los Ángeles viveu um duplo carisma a virgem que vive a transcendência e a dimensão escatológica todos os dias, alcança o grande mistério da perfeição cristã, doando de modo cruento a sua vida que era totalmente consagrada a Cristo e pode-se afirmar que foi a sua virgindade que a levou ao martírio. De fato, ela revelou ser uma religiosa e precisamente por isso foi assassinada logo em seguida, quase pronunciando a confissão do seu ser consagrada a Deus.


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