sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Santa Joana Francisca de Chantal

Em 1610 começava a Congregação das Visitadinas. A senhora de Chantal abandonou sua casa no dia de São José. A despedida aconteceu em meio a uma cena emocionante. Todos choravam, e ela mesma, apesar da violência no ambiente, estava acabada em lágrimas. O maior dos seus filhos, Celso Benigno, o que será um dia padre, se pendurou no seu pescoço esforçando-se para detê-la com seus carinhos. 
Ela lhe cobria de beijos e respondia a todas as suas razões com um valor admirável. Por fim se retirou violentamente dos braços de seu filho e começou a caminhar. Então, Celso Benigno, desesperado por não poder deter sua mãe, se estirou no piso, e disse estas palavras: “Mãe, passa se queres, se te atreves a passar sobre o corpo do teu próprio filho.” 
Ela duvidou por um momento e parou com o coração oprimido; mais, retomando as suas forças, sorrindo através das lágrimas, começou a caminhar, chegou a rua com um salto e subiu na sua carroça. Durante um momento caminhou em silêncio e com os olhos arrasados em lágrimas; depois se tranquilizou subitamente e entoou o canto da liberação. Sua agonia chegou ao fim.

Santa Joana Francisca Fremiot nasceu a 23 de janeiro de 1572, na cidade de Dijon, França,   seus dois renomados diretores espirituais, São Francisco de Sales e São Vicente de Paulo.

Ela própria se apresenta: "Sou Joana Francisca Frémyot, natural de Dijon, capital da Borgonha, filha do senhor Frémyot, presidente do Parlamento de Dijon, e da senhora Margarida de Barbisey”.
     
Com apenas um ano e meio de idade perdeu a mãe, e seu pai se dedicou inteiramente à educação dos seus três filhos, inculcando-lhes antes de tudo o amor de Deus e a doutrina da fé católica.
     
Joana Francisca era a admiração de todos os que com ela conviviam, por sua inteligência viva, seu reto e sólido juízo, seu caráter firme e varonil, sua prudência e discrição, que unidos ao seu coração inclinado ao bem e à virtude foram a base sobre a qual se elevou o edifício de sua perfeição.

Contraiu matrimônio com o jovem Christophe de Rabutin-Chantal, Barão de Chantal. Desde sua chegada ao castelo do esposo demonstrou sua habilidade na administração das propriedades, fazendo-as mais produtivas que antes. Deus abençoou seu lar com seis filhos. Os dois primeiros morreram ao nascer. Enfim, após três ou quatro anos de casamento, ela deu à luz o seu primogênito Celso Benigno, nascendo a seguir Maria Amada, Francisca e Carlota.
     
Assumiu em todo o momento o seu papel de mulher “perfeita”, dedicada à educação de seus filhos e às obras de caridade. Depois de algumas semanas do nascimento de Carlota, o barão sofreu um acidente de caça e morreu. Viúva aos 28 anos, apesar da sua profunda tristeza, abraçou a vontade de Deus e perdoou de coração o responsável involuntário pela morte de seu esposo. Experimentou o quão efêmera é a felicidade nesta vida.
     
Desabrochou nela um vivo desejo de ser toda de Deus. Anos antes fizera, juntamente com seu esposo, uma promessa: aquele que sobrevivesse ao outro se consagraria a Deus. Repartiu suas joias e vestidos de gala entre os pobres e a Igreja. A partir de então, se constitui “mãe de todos os pobres”. Acompanhada pelos filhos, visitava os enfermos em suas próprias casas, levava-lhes alimentos, remédios, e ela mesma limpava e curava suas chagas e as beijava, vendo a Nosso Senhor em cada um deles. Fazia estas obras de caridade com tanto esmero e carinho que todos diziam: “Que bom é estar doente, para receber a visita da santa baronesa!”
     
No outono de 1602, o sogro de Joana forçou-a a viver em seu castelo de Monthelon, ameaçando-a deserdar seus filhos se se recusasse. Ela passou uns sete anos sob sua errática e dominante custódia, aguentando maus tratos e humilhações.
     
Joana Francisca sentia uma sede ardente do infinito e pedia insistentemente ao Céu um guia espiritual que lhe mostrasse a vontade de Deus. Ouvia em seu íntimo a voz que lhe diz: “Eu te darei esse guia”.
     
Na quaresma de 1604, Joana estava na casa de seu pai em Dijon. O Bispo Francisco de Sales foi àquela cidade para fazer a pregação da Quaresma. Ambos se reconhecem sem nunca se haverem visto e desde o primeiro momento se compreendem. Ela se colocou sob sua direção espiritual. Começou uma rica correspondência entre os dois: são alguns dos mais belos escritos que existem e refletem a profunda amizade vivida entre os santos.
     
No dia 4 de junho de 1607, Francisco de Sales lhe revelou o desígnio que Deus lhe havia inspirado de fundar uma nova Congregação, e ela acolheu o projeto muito feliz e com perfeita obediência.
     
Em 1609, sua filha mais velha, Maria Amada, se casava, e no ano seguinte sua filha caçula falecia. Francisca continuou sua educação por algum tempo sob a direção da mãe e Celso Benigno foi entregue aos cuidados do avô materno.
     
Chegou o momento da partida para iniciar a vida religiosa e Joana Francisca de Chantal, acompanhada por Joana Carlota de Brechard, Jaquelina Favre e Ana Jaquelina Costa, entrou na pequena Casa da Galeria, onde receberam a bênção do Bispo Francisco de Sales, juntamente com as Constituições religiosas que ele mesmo redigira. Nesta Casa residiriam durante alguns anos até se transferirem definitivamente em 1613 para o primeiro Mosteiro da Visitação nesta mesma cidade.
     
Joana Francisca sofreu sucessivamente a perda dos parentes que lhe eram mais queridos. A estas dolorosas partidas se unem enfermidades, críticas e perseguições de todo o tipo. Tudo ela recebia e abraçava com espírito de fé, vendo em tudo a vontade de Deus. É admirável em seu ardente amor a Deus. Amor forte, generoso e provado, que a faz dizer: “Saborear a suavidade de Deus, não é amor sólido; mas humilhar-se, sofrer e morrer a si mesmo, este é verdadeiro amor”.
     
Em 1632, profundamente tocada pelo amor divino, partilhou com as Irmãs sua experiência acerca de um martírio que chamou de Martírio de Amor, explicando-lhes textualmente: 
“... Deus, sustentando a vida de seus servidores e servidoras para fazê-los trabalhar para a sua glória, os torna mártires e confessores ao mesmo tempo (...). É que o Divino amor faz passar sua espada pelas partes mais secretas e íntimas de nossas almas, e nos separa de nós mesmas. Eu conheço uma alma a quem o amor separou das coisas que lhe eram mais caras, de tal modo, como se tiranos houvessem separado seu corpo de sua alma, esquartejando-o com suas espadas”. As Irmãs entenderam que Joana Francisca falava de si mesma.
     
Diferentemente de Santa Teresa d’ Ávila e de outros santos, Joana não escreveu suas exortações, conferências e instruções, elas foram anotadas e entregues à posteridade graças a muitas monjas fieis e admiradoras de sua Ordem.
     
Tendo vivido em profunda humildade, gozou de paz e serenidade constantes. Ao falecer, em 13 de dezembro de 1641, às vésperas de seus 70 anos de idade, deixou fundados 87 Mosteiros.
     
Em 1751 foi beatificada pelo Papa Bento XIV e em 16 de julho de 1767, canonizada por Clemente XIII.
     
Seu coração permanece incorrupto no Mosteiro da Visitação, na cidade de Nevers, França.



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