Na segunda Leitura ouvimos
um trecho da Primeira Carta aos Tessalonicenses, um
texto que recorre à metáfora do trabalho manual para descrever a labuta
evangelizadora e que, de certo modo, pode aplicar-se também às virtudes de
santa Bonifácia Rodríguez de Castro.
Quando são Paulo escreve esta carta, trabalha para ganhar o pão; parece
evidente, pelo tom e pelos exemplos utilizados, que é na oficina que ele prega e
encontra os seus primeiros discípulos.
Assim nascem as Servas de
São José, no meio da humildade e simplicidade evangélica, que no lar de Nazaré
se apresenta como uma escola de vida cristã. O apóstolo continua a dizer na sua
carta que o amor que sente pela comunidade é um esforço, um cansaço, dado que
supõe sempre imitar a entrega de Cristo pelos homens, sem esperar nada nem
procurar outra coisa, a não ser agradar a Deus. Madre Bonifácia, que se
consagra com ímpeto ao apostolado e começa a alcançar os primeiros frutos dos
seus afãs, vive também esta experiência de abandono, de rejeição, precisamente
da parte das suas discípulas, e nisto aprende uma nova dimensão do seguimento
de Cristo: a Cruz. Ela assume-a com a firmeza que vem da esperança, oferecendo
a sua vida pela unidade da obra nascida das suas mãos. A nova santa apresenta-apresenta-se
para nós como um modelo completo, no qual ressoa a obra de Deus, um eco que
interpela as suas filhas, as Servas de São José, e também todos nós, a acolher
o seu testemunho com a alegria do Espírito Santo, sem temer a contrariedade,
difundindo em toda a parte a Boa Nova do Reino dos Céus.
Confiemo-nos à sua intercessão e peçamos a Deus por todos os
trabalhadores, sobretudo por quantos desempenham as profissões mais modestas e
às vezes não suficientemente valorizadas, a fim de que, no meio dos afazeres
diários, descubram a mão amiga de Deus e deem testemunho do seu amor,
transformando o seu cansaço num cântico de louvor ao Criador.
Papa
Bento XVI – Homilia de Canonização – 23 de outubro de 2011
Bonifácia Rodríguez de Castro nasceu na
cidade espanhola de Salamanca, em 1837. Desde jovem, viu-se na necessidade de
trabalhar.
Depois
de 10 anos vivendo no limiar da pobreza como uma operária a mais, ela pôde
estabelecer, uma oficina por conta própria, com várias tarefas.
O
testemunho de vida de Bonifácia não passou despercebido a várias amigas suas
que não podiam seguir sua vocação religiosa e queriam afastar-se de diversões
perigosas.
Assim
começaram umas reuniões aos domingos e dias festivos em sua casa-oficina, que
foi se tornando um centro de prevenção da mulher trabalhadora e uma escola de
espiritualidade.
Juntas,
decidiram constituir a Associação da Imaculada e São José, chamada mais tarde
de Associação Josefina.
Junto ao jovem jesuíta catalão Francisco
Butinyà, fundou, em sua casa-oficina, uma nova congregação orientada à proteção
da mulher trabalhadora, a Congregação
das Servas de São José.
O
objetivo apostólico do Instituto era proporcionar trabalho às mulheres que
tinham de sair para trabalhar fora de casa, com o fim de livrá-las dos perigos
que sua dignidade corria.
As
casas da Congregação se chamavam “Oficinas de Nazaré”; suas religiosas se
vestiam sem hábito, como as demais trabalhadoras do país, e não entregavam
dote, pois a maioria procedia de famílias humildes. Religiosas e leigas tinham
uma caixa comum.
Esta forma de vida religiosa suscitou
oposição entre o clero da cidade. O Pe. Butinyà foi desterrado da Espanha e os
diretores que o substituíram semearam imprudentemente a desunião entre as
irmãs.
Algumas
irmãs começaram a opor-se à oficina como forma de vida e ao acolhimento da mulher
trabalhadora nela, mas Bonifácia não consentiu com mudanças nas Constituições.
O
diretor da congregação promoveu sua destituição como superiora e algumas irmãs
a forçaram a deixar a comunidade. Ela respondia com silêncio e perdão, e propôs
ao bispo a fundação de uma nova comunidade. Fundou outra casa, em Zamora, fiel
à finalidade da congregação.
A
casa mãe de Salamanca modificou as Constituições do Pe. Butinyà e orientou a
congregação ao ensino. Desentendeu-se da casa de Zamora e de Bonifácia, que faleceu
em 1905.
João
Paulo II a beatificou em 9 de novembro de 2003 e Bento XVI a canonizou em 23 de
outubro de 2011.
Santa
Bonifácia Rodríguez de Castro é “um
presente de Deus para a Igreja neste momento de tanta falta de fé, para que a
pessoa vá reconhecendo no trabalho um espaço para encontrar-se com Deus e
estabelecer relações fraternas”.
O
núcleo da espiritualidade das Servas de São José é precisamente conjugar a
oração com o trabalho.
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