“É
a primeira vez que se faz uma beatificação em uma grande cidade, mas sobre um
povo pequeno, porém grandíssimo por esta multidão de amigos de Zeferino, significa
recordar e valorizar profundamente as antigas tradições do povo mapuche, audaz
e indômito.
Ao
mesmo tempo, ele nos ajuda a descobrir a fecundidade do Evangelho, que nunca
destrói os valores autênticos que existem em uma cultura, mas os assume,
purifica e aperfeiçoa.
A
própria vida do novo beato é como uma parábola desta profunda dívida; Zeferino
jamais esqueceu que eram mapuche, com efeito, seu ideal supremo era ser útil a
seu povo.”
Cardeal Tarcisio Bertone – Homilia de Beatificação –
11 de novembro de 2007O santo não é nunca como um meteorito que corta de repente o céu da humanidade; é antes o fruto de uma longa e silenciosa gestação de uma família e de um povo que exprimem no filho as suas melhores qualidades.
Zeferino
Namuncurá era um jovem de quase 19 anos, um mapuche "homem da terra", como sugere a etimologia dos
pampas: uma terra dura, estéril, flagelada pelo vento ou queimada pelo sol,
imobilizada pela neve ou encharcada pela chuva. Portanto, Zeferino era um cidadão dos pampas, filho de um povo acostumado a
combater desde o amanhecer até ao anoitecer e, frequentemente, também do
anoitecer até ao amanhecer contra os elementos naturais.
Zeferino foi forjado por esta terra, obrigado a crescer depressa, como todos os seus coetâneos; uma infância curta, uma adolescência mais ou menos inexistente a vida nos pampas exige de quem tem 9 ou 10 anos a agilidade de um adulto: cavalgar, caçar, pescar, usar as bolas com extrema precisão, conhecer, enfim, todos os truques para a sobrevivência.
Zeferino foi forjado por esta terra, obrigado a crescer depressa, como todos os seus coetâneos; uma infância curta, uma adolescência mais ou menos inexistente a vida nos pampas exige de quem tem 9 ou 10 anos a agilidade de um adulto: cavalgar, caçar, pescar, usar as bolas com extrema precisão, conhecer, enfim, todos os truques para a sobrevivência.
Filho
do cacique dos mapuches, Zeferino nasceu a 26 de Agosto de 1886, na Argentina.
Foi batizado a 24 de Dezembro de 1888, pelo missionário Dom Milanesio que
permaneceu sempre um dos seus pontos de referência. Quando o pai foi proclamado
coronel do exército argentino, aceitou que o filho fosse estudar na capital.
Após uma breve experiência numa escola estatal, Zeferino foi acolhido para o
colégio salesiano de Buenos Aires a 20 de Setembro de 1897. A vida no colégio
não foi muito fácil para esse filho do deserto, mas ele aceitou tudo em silêncio
e, em contato com os sacerdotes salesianos de grande talento apostólico e
cultural, iniciou uma rápida transformação que se tornou um propósito
permanente na base da sua parábola de santidade: "Vim
estudar para ser útil ao meu povo".
Encantou-se com Dom Bosco e decidiu tornar-se sacerdote para evangelizar seu povo. A antiga sabedoria herdada dos seus antepassados encontrou-se e integrou-se admiravelmente com a sabedoria cristã, por ele percebida como o ápice, o complemento daquela do seu povo.
Encantou-se com Dom Bosco e decidiu tornar-se sacerdote para evangelizar seu povo. A antiga sabedoria herdada dos seus antepassados encontrou-se e integrou-se admiravelmente com a sabedoria cristã, por ele percebida como o ápice, o complemento daquela do seu povo.
Na Argentina, Zeferino é o
"santo" mais conhecido e amado. Feito santo pelo seu povo antes que a Igreja o
declarasse tal. Por conseguinte, é
um santo inusitado, portador de uma santidade dos pampas, regada pelas fadigas,
valores, obediência, suportação; sem impulsos místicos, orações martirizantes,
proclamas ou propósitos clamorosos, sem escritos exaltantes: um santo da terra, um santo ao alcance de
todos, um santo, enfim, segundo o coração de Dom Bosco, que incentivava os
seus alunos a ter duas características que pela sua simplicidade teria
provocado alguma perplexidade nos grandes santos do passado, mas que para o sacerdote
dos jovens eram o sinal inequívoco de
uma santidade ao alcance dos jovens:"honesto cidadão e bom
cristão". É
o quanto basta para se tornar santo. Dom Bosco estava convencido disso e a história
deu-lhe razão: Domingos Savio, Laura Vicuña e, agora, Zeferino Namuncurá.
Dois
fatos o impulsionaram para os cimos mais altos: a leitura da vida de Domingos
Sávio, de que se tornou ardoroso imitador, e a primeira Eucaristia, na qual
vinculou um pacto de absoluta fidelidade com o seu grande amigo Jesus. Desde
então, aquele rapaz, que sentia dificuldades em “entrar na fila” e “obedecer ao
sinal do sino”, tornou-se um modelo.
Um
dia – Zeferino era já aspirante salesiano, em Viedma – Francisco de Salvo,
vendo-o chegar a cavalo como um raio, gritou-lhe: “Zeferino, do que é que você mais gosta?”. Esperava uma resposta
que se referisse à equitação, arte na qual os Araucanos eram exímios. O rapaz,
freando o cavalo: “Ser sacerdote”! –
responde –. E retoma a corrida desabalada.
Em
1903, foi aceito no grupo dos aspirantes, em Viedma, para estudar latim. Em
seguida foi para a Itália, onde prosseguiu os estudos. Lá teve a oportunidade
de conhecer o Papa Pio X, por quem foi abençoado.
Na
Itália, frequentou o Colégio Salesiano de Villa Sora, em Frascati, onde foi um
dos melhores alunos de sua classe.
Em
1905, acometido por uma tuberculose, que há muito tempo afetava sua saúde,
faleceu aos 18 anos, em Roma. Foi beatificado pelo Papa Bento XVI, em 2007.
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