"Bendito seja
Deus... Ele não me negou a sua misericórdia"(Sl 65, 20). A Divina
Misericórdia é a chave para a leitura da espiritualidade simples e profunda de
Maria Raffaella Cimatti, uma religiosa das Irmãs Hospitaleiras da Misericórdia.
Da infinita
misericórdia de Deus, da qual fala o salmista, ela inspirou sua ação, especialmente
a serviço dos pobres e sofredores. Esta mulher, hoje elevada às honras dos
altares, consumiu-se na total consagração a Deus e no serviço silencioso e
cotidiano aos enfermos. Ela vivia com um espírito de sacrifício e com
disponibilidade sempre pronta tanto para as tarefas diárias humildes, quanto
para a escuta e recepção daqueles que recorriam a ela por conselho ou conforto,
e as tarefas de responsabilidade para as quais ela era repetidamente chamada.
Em nosso tempo,
marcado não apenas pela indiferença e pela tentação de fechar-se às
necessidades dos outros, essa humilde religiosa constitui um brilhante exemplo
de feminilidade plenamente realizada no dom de si. Ela proclama e testemunha a
esperança evangélica, manifestando aos que sofrem no corpo e no espírito a face
de "Deus, o Pai misericordioso e Deus de toda a consolação, que nos
consola em todas as nossas tribulações" (2 Cor 1, 4).
Santina Cimatti
nasceu em Faenza, no dia 6 de junho de 1861. Seu pai era agricultor e a mãe
tecelã. Tinha um rosto sorridente, sereno e de belas feições, iluminado por
olhos profundos.
Como a família logo
precisou do seu trabalho, pode dedicar pouco tempo aos estudos. Para ajudar na
economia familiar, ajudava a mãe como tecelã, ou se ocupava nos trabalhos da
casa.
Após a morte do pai
em 1882, Santina assumiu a educação dos irmãos e também era catequista na sua
paróquia. Tornou-se indispensável que Santina permanecesse junto à mãe até que
esta encontrasse um trabalho digno na casa de um sacerdote.
Quando seus dois
irmãos, Luis e Vicente, entraram na Congregação Salesiana, recém fundada
por Dom Bosco, Santina sentiu-se livre para realizar suas aspirações
religiosas.
Em novembro de
1889, ingressou no Instituto das Irmãs Hospitaleiras da Misericórdia, na
casa mãe de São João de Latrão, em Roma. Tomou o nome de Maria Rafaella, e em
1883 foi enviada ao Hospital de São Bento em Alatri, onde iniciou sua formação
de enfermeira. Em 1905, emitiu seus votos finais.
Em 1921, foi
enviada ao Hospital Humberto I de Frosinone, onde assumiu o cargo de priora da
comunidade. Retornou a Alatri e, de 1928 a 1940, sempre como priora.
O principal campo
de apostolado de Irmã Rafaella foi a farmácia. Entretanto, quando era
necessário, ela estava à disposição dos doentes e da comunidade para realizar
qualquer trabalho. Os trabalhos entre pílulas, xaropes e o moer no almofariz,
tudo era para Irmã Rafaella um dom de Deus. No empenho simples, mas contínuo do
dia a dia, ela alcançava uma dedicação exemplar de verdadeiro amor ao próximo.
Quando a doença
bateu à sua porta, recorreu ainda mais à oração como meio de superação.
Em 1944, durante
uma das etapas mais duras da II Guerra Mundial, muitos foram os feridos que
chegaram ao hospital e que precisavam de atenção. Embora a Beata já estivesse
com 83 anos de idade, não deixou de cuidar e de consolar os feridos, que a
chamavam de “mamãe”.
Apresentou
pessoalmente, com êxito, um protesto ao General Kesserling, do Quartel General
Alemão em Alatri, ao ouvir rumores de que, para defender as forças aliadas, iam
bombardear a cidade. O general mudou seus planos e Alatri se salvou.
“Milagre!”, gritavam em coro, “um anjo salvou a cidade”.
Uma sua paciente
conta:
Eu era jovem, mas
sofria de vários distúrbios. Depois de algum tempo, fui levada de novo ao
hospital para uma operação de apendicite. Estava preocupada e sentia falta de
minha mãe distante... Chorava como nunca por causa dessa situação. A serva de
Deus percebeu a minha profunda prostração moral e me pergunta:
“Por que choras?”
E eu: “Estou mal e
não tenho a mamãe...”
De um modo
profundamente compreensivo me respondeu: “E eu não sou a mamãe? Por que estou
aqui? Toda irmã hospitaleira deve ser a mãe de quem sofre!”
Para as coirmãs ela
sabia ser a superiora atenta e gentil. Não pretendia ser servida, mas que cada
uma servisse a comunidade. Uma sua coirmã recorda:
"Não se dava
ares por causa do ofício de superiora que exercia, mas se considerava a serva
das irmãs, ajudando-as nos trabalhos. Gostava também de remendar e confeccionas
as meias das coirmãs".
Em 1943, uma doença
começou a se manifestar e se revelou incurável. Faleceu em 23 de junho de 1945,
deixando na memória a santidade de sua vida e suas virtudes heroicas.
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