quarta-feira, 13 de junho de 2018

13 de junho - Beato Geraldo de Claraval


O beato Geraldo era o irmão favorito do famoso São Bernardo de Claraval. Mais velho que ele, ele não estava entre aqueles, parentes e amigos jovens, que em 1112 entraram em Citeaux com o grande reformador.

De uma natureza mais sincera, Gerardo preferia sua carreira militar, mas quando se viu gravemente ferido no cerco a Grancy e feito prisioneiro por um longo período, pôde refletir sobre qual era realmente sua vocação. Uma vez liberado, ele decidiu entrar no Citeaux para se tornar um monge sob a orientação de seu irmão Bernardo.
Os dois então se mudaram com Clairvaux, na Borgonha, onde Geraldo foi nomeado como adjunto e deu provas de grande eficiência no governo dos assuntos internos do convento. Dizem que ele era particularmente hábil no trabalho manual, de modo que pedreiros, ferreiros, sapateiros, tecelões e operários se voltavam para ele em busca de conselhos e instruções. Geraldo, no entanto, revelou-se um especialista em letras e tinha perspicácia e discernimento em coisas espirituais.

Em 1137 ele caiu perto de Viterbo, em uma peregrinação à Roma, e parecia estar perto da morte. Mas ele se recuperou o suficiente para retornar a Claraval, onde morreu no ano seguinte. Passou ao Pai enquanto cantava o salmo 148.

O abade de Claraval – seu irmão Bernardo - no Capítulo Geral, interrompeu o seu comentário ao Cântico dos Cânticos (Sermão 26) para chora-lo e fazer seu elogio:

... “Até quando terei de dissimular? Quanto tempo ainda poderei ocultar dentro do meu peito o fogo que consome meu coração estraçalhado? ... Que tenho a ver com o Cântico dos Cânticos, quando me acho submergido num oceano de dor? Até agora violentei meus sentimentos, lutei por ocultar minha dor, para não parecer que a fé sucumbira ante o carinho natural. Por isso, enquanto vós choráveis, eu era o único que não vertia uma lágrima. Com os olhos secos segui o féretro; com os olhos secos permaneci diante da tumba até que se cumprisse o rito sagrado. Com meus próprios lábios pronunciei sobre o cadáver as palavras do ritual. Com minhas próprias mãos atirei o primeiro punhado de terra sobre o corpo do meu amado Geraldo, que em breve não tardaria em converter-se em terra. Os que me observavam, choravam, perguntando porque eu não chorava...
Procurei resistir a minha tristeza com todas as forças que a fé me podia proporcionar. Mas, meus irmãos, devo confessar-me vencido e dar rédea solta à minha imensa dor...

Sabeis, meus filhos, como é razoável essa dor, e quão digna de lágrima a perda que sofri, pois todos sabeis o amigo fidelíssimo que foi arrebatado do meu lado... Era meu irmão pelo sangue, mas muito mais pela profissão religiosa.
Compadecei-vos de minha sorte, vós para quem esse transe é desconhecido! Eu era débil de corpo, e ele me sustinha. Eu era covarde, e ele me alentava. Eu era descuidado e negligente, e ele me estimulava. Eu era esquecido e pouco previdente, e ele me tomava e dirigia tudo...
Oh! Por que te afastastes de meu lado? Por que fostes arrebatado de meus braços? Se nos amávamos tanto em vida, por que nos separou a morte? Oh! Divórcio cruel, que só a morte tem poder de provocar...
Por que estivemos tão unidos pelo carinho fraternal? E se estávamos, por que teríamos de nos separar? Oh! Tristíssima sorte!
Mas digna de compaixão é a minha, e não a tua. Porque tu, meu irmão, se te separaste de alguns entes queridos estás agora unido com outros mais amados. Mas qual poderá ser o meu consolo se te perdi, tu que eras meu único apoio? (...)

Choro e lamento a perda de Geraldo. Minha alma estava soldada à sua. Mas uniam-nos menos os lações das inteligências que a harmonia das vontades. Quem poderá impedir-me de lamentar sua perda?
Senti desprenderem-se minhas entranhas, e por mais que se diga: “não lamente”, tenho de lamentar, porque minha fortaleza não é a fortaleza de pedra, e minha carne não é bronze. Confesso minha pena, e não me importa que me chameis de carnal.

Não nego que seja humano. Não sou insensível à dor, e o pensamento da morte, aproximando-se de mim ou dos meus, horroriza-me. E Geraldo era meu, totalmente meu...
Choro por ti, meu amado Geraldo, não porque tua sorte seja digna de lástima, choro porque te foste de meu lado...

Oh! Se Deus me concedesse a certeza de que não te perderei para sempre, mas que tu somente te adiantaste! Se Deus me quisera dar a certeza de que, embora tarde, um dia poderei unir-me a ti lá onde estás!

Que ninguém me venha dizer que não devo permitir que o pesar natural se apodere de mim! O bom Samuel entregou-se à sua dor pelo réprobo rei Saul, e o piedoso Davi, pelo traidor Absalão... E eu, em minha desgraça, choro por alguém maior que Absalão.

O próprio Jesus Cristo, contemplando Jerusalém e prevendo sua sorte futura, chorou sobre a cidade. Por que não tolerar que eu sinta a minha própria desolação que não é futura, senão presente?...

Por que teria eu de permanecer insensível ante minha ferida recém-aberta? É indubitável que posso chorar de dor, posto que Jesus chorou de compaixão. Na tumba de Lázaro, nosso Salvador não repreendeu quem chorava, mas pelo contrário, uniu suas lágrimas às deles. “E Jesus chorou”, escreve o evangelista.
Aquelas lágrimas divinas não significavam desconfiança, e sim davam testemunho da realidade de sua natureza humana.
Depois chamou prontamente o morto à vida.

Tampouco meu pranto é sintoma de debilidade de minha condição. Que chore por haver sido golpeado, não revela queixa contra quem me golpeou. Não! O que faço é apelar para sua compaixão, esforço-me para adoçar sua severidade.
Por isso, ainda que minhas palavras sejam imensamente tristes, não envolvem a menor queixa.
“Vós sois justo, Senhor, e retos vossos juízos.” Deste-nos Geraldo e o arrebatastes.
Ao lamentar sua ausência, não nos esquecemos de que foi somente um empréstimo... Mas agora minhas lágrimas me obrigam a terminar...


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