Eustáquio nasceu a
15 de Janeiro de 1867, sendo o sexto filho da família Kugler, nascido
em Neuhaus, uma longínqua aldeia bávara com 200 habitantes, no seio de uma
família de camponeses. Foi batizado no mesmo dia em que nasceu com o nome de José, na igreja
paroquial de Nittenau, distante uma hora de caminho da sua terra natal, um
caminho que ele percorreria diariamente para frequentar a escola. Foi nesta
cidade que entrou na Ordem Hospitaleira a 15 de Janeiro de 1893, dia em que
completava 26 anos.
O Irmão Estáquio
Kugler teve muita dificuldade em entrar na Ordem por sofrer de uma ferida
numa das pernas por acidente na queda de um andaime. A ferida teimava em não
fechar e só cicatrizou quando trabalhava como ferreiro no Centro de
deficientes mentais de Reichenbach dos Irmãos de São João de Deus. Ao
ver-se curado fez o voto de se fazer Irmão de São João de Deus apesar de
continuar a coxear um pouco.
Reichenbach marcou
uma parte significativa e dolorosa de sua vida. Depois do
noviciado e profissão voltou a ela e ali professou solene em 30 de outubro de 1898, com o nome de Irmão Eustáquio.
Foi prior em diversas casas a partir de 1905 até a primeira eleição para
provincial em 1925.
Logo no início do
seu governo consagrou a Província a Nossa Senhora, a Mãe de Deus, de
quem era muito devoto e a quem rezava o rosário desde a sua vida em família.
Construiu o grande
hospital geral da Ordem em Regensbourg, mais tarde sede da província, e o
melhor da Baviera, inaugurado em 1929, onde é venerado e invocado na
capela dos seus restos mortais repousam. Um relato de sua intercessão: Um
operário estava ao volante de um veículo que transportava traves de ferro.
Procedia em alta velocidade, quando percebeu que os travões do veículo já não
funcionavam. Numa curva, o veículo virou com a sua carga e caiu num precipício.
Naquele instante, o homem invocou o servo de Deus Eustáquio Kugler, depois
beatificado em Regensburg. As traves perfuraram a cabina e destruíram o
veículo, mas o homem ficou ileso.
O seu calvário na
defesa dos valores da hospitalidade e dos doentes assistidos começou com a
ascensão de Hitler ao poder em 1933 e exigiu dele muita oração e fidelidade ao
Senhor, patentes nos diários dos seus retiros. A euforia com o nazismo nos
Centros e Hospitais da Ordem arrastou muitos, e até Irmãos, a abandonar os seus
compromissos pela causa hitleriana. Sofreu durante anos, sendo alvo de
perseguições da Gestapo, polícia política do Hitler, extensivos a todas as
ordens religiosas, à Igreja Católica e às suas posições antirracistas
incompatíveis com os ideais nazistas de purificação da raça pela
esterilização dos deficientes e condenação à morte em campos de concentração.
Todos os pretextos serviam, desde obter denúncia de alegados desmandos
morais de irmãos, homossexualidade e à busca de documentos incriminatórios
em arquivos.
A partir de 1937
suportou mais de 30 interrogatórios sob pressão desumana da Gestapo
que pretendia pressionar o “santo” Eustáquio a denunciar, de qualquer
maneira, os irmãos e dá-los por culpados para os prender e
incriminar, e assim perseguir a Igreja. De uma das vezes, após interrogatório
prolongado, e já na Igreja onde recorria à oração diante do Santíssimo
Sacramento, o Irmão Eustáquio perdeu os sentidos por estresse e teve que ser
socorrido pelos médicos. Nem mesmo assim a Gestapo desistiu de investir
contra a sua humilde fortaleza.
Um outro dos
maiores sofrimentos foi saber, sem o poder impedir, do transporte
forçado de centenas de internos, deficientes e judeus, dos centros da Ordem
para “outras” instituições que não eram mais que campos de morte. Ao todo a
Ordem declarou, após a guerra, que das suas casas tinham sido arrebatados pela
polícia cerca de 1.760 internados, deficientes psíquicos, ou físicos e que
agora, acabada a guerra, não apareciam em parte nenhuma.
Na Casa de
Reichenbach diziam os Irmãos que dali tinham sido carregados vários caminhões
deles e que os Irmãos ainda tinham salvado bastante, disfarçando-os com roupas
de trabalho e distribuindo-os por várias tarefas.
No “seu”
hospital sequestrado pelas tropas americanas, morreu, vítima de um tumor
no estômago, rodeado de Irmãos e amigos no dia 11 de Junho de 1946, segunda
feira de Pentecostes.
Onde hauria ele
essa força, confiança e misericordiosa hospitalidade nas provações? Na oração e
adoração a Jesus Eucaristia e a entrega a Nossa Senhora a quem se
devotou toda a sua vida.
A Congregação para as Causas dos Santos reconheceu um milagre que ocorreu na Baviera em 20 de março de 2001. O caso em questão diz respeito à perfeita segurança do Sr. Karl Größl, que, enquanto dirigia uma van em alta velocidade e com uma carga considerável e perigosa, saiu da estrada e, após uma série de capotamentos, caiu em uma escarpa. Apesar dos danos muito graves sofridos pelo carro, completamente destruído, e do vazamento total do material transportado, o motorista, que durante todas as fases do acidente permaneceu perfeitamente consciente, não mostrou dor ou relatou qualquer lesão, exceto por um pequeno arranhão, a ponto do enfermeiro, que chegou em pouco tempo de ambulância e helicóptero, declarou que ele não precisava de assistência. Esse fato, inexplicável em relação à gravidade do acidente, foi atribuído pelo Sr. Karl à intercessão do servo de Deus Eustachio Kugler, de quem era particularmente devoto: ele se dirigia diariamente a ele em oração, reconhecendo seu papel como intercessor de Deus e considerando-o como um "parceiro de vida".
Irmão Eustachio Kugler foi beatificado no dia 04 de outubro de 2009.
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