domingo, 10 de junho de 2018

10 de junho - Beato Eustaquio Kugler

Eustáquio nasceu a 15 de Janeiro de 1867, sendo o sexto filho da família Kugler, nascido em Neuhaus, uma longínqua aldeia bávara com 200 habitantes, no seio de uma família de camponeses. Foi batizado no mesmo dia em que nasceu com o nome de José, na igreja paroquial de Nittenau, distante uma hora de caminho da sua terra natal, um caminho que ele percorreria diariamente para frequentar a escola. Foi nesta cidade que entrou na Ordem Hospitaleira a 15 de Janeiro de 1893, dia em que completava 26 anos.

O Irmão Estáquio Kugler teve muita dificuldade em entrar na Ordem por sofrer de uma ferida numa das pernas por acidente na queda de um andaime. A ferida teimava em não fechar e só cicatrizou quando trabalhava como ferreiro no Centro de deficientes mentais de Reichenbach dos Irmãos de São João de Deus. Ao ver-se curado fez o voto de se fazer Irmão de São João de Deus apesar de continuar a coxear um pouco.

Reichenbach marcou uma parte significativa e dolorosa de sua vida. Depois do noviciado e profissão voltou a ela e ali professou solene em 30 de outubro de 1898, com o nome de Irmão Eustáquio. Foi prior em diversas casas a partir de 1905 até a primeira eleição para provincial em 1925.

Logo no início do seu governo consagrou a Província a Nossa Senhora, a Mãe de Deus, de quem era muito devoto e a quem rezava o rosário desde a sua vida em família.

Construiu o grande hospital geral da Ordem em Regensbourg, mais tarde sede da província, e o melhor da Baviera, inaugurado em 1929, onde é venerado e invocado na capela dos seus restos mortais repousam. Um relato de sua intercessão: Um operário estava ao volante de um veículo que transportava traves de ferro. Procedia em alta velocidade, quando percebeu que os travões do veículo já não funcionavam. Numa curva, o veículo virou com a sua carga e caiu num precipício. Naquele instante, o homem invocou o servo de Deus Eustáquio Kugler, depois beatificado em Regensburg. As traves perfuraram a cabina e destruíram o veículo, mas o homem ficou ileso. 

O seu calvário na defesa dos valores da hospitalidade e dos doentes assistidos começou com a ascensão de Hitler ao poder em 1933 e exigiu dele muita oração e fidelidade ao Senhor, patentes nos diários dos seus retiros. A euforia com o nazismo nos Centros e Hospitais da Ordem arrastou muitos, e até Irmãos, a abandonar os seus compromissos pela causa hitleriana. Sofreu durante anos, sendo alvo de perseguições da Gestapo, polícia política do Hitler, extensivos a todas as ordens religiosas, à Igreja Católica e às suas posições antirracistas incompatíveis com os ideais nazistas de purificação da raça pela esterilização dos deficientes e condenação à morte em campos de concentração. Todos os pretextos serviam, desde obter denúncia de alegados desmandos morais de irmãos, homossexualidade e à busca de documentos incriminatórios em arquivos.

A partir de 1937 suportou mais de 30 interrogatórios sob pressão desumana da Gestapo que pretendia pressionar o “santo” Eustáquio a denunciar, de qualquer maneira, os irmãos e dá-los por culpados para os prender  e incriminar, e assim perseguir a Igreja. De uma das vezes, após interrogatório prolongado, e já na Igreja onde recorria à oração diante do Santíssimo Sacramento, o Irmão Eustáquio perdeu os sentidos por estresse e teve que ser socorrido pelos médicos. Nem mesmo assim a Gestapo desistiu de investir contra a sua humilde fortaleza.

Um outro dos maiores sofrimentos foi saber, sem o poder impedir, do transporte forçado de centenas de internos, deficientes e judeus, dos centros da Ordem para “outras” instituições que não eram mais que campos de morte. Ao todo a Ordem declarou, após a guerra, que das suas casas tinham sido arrebatados pela polícia cerca de 1.760 internados, deficientes psíquicos, ou físicos e que agora, acabada a guerra, não apareciam em parte nenhuma.

Na Casa de Reichenbach diziam os Irmãos que dali tinham sido carregados vários caminhões deles e que os Irmãos ainda tinham salvado bastante, disfarçando-os com roupas de trabalho e distribuindo-os por várias tarefas.

No “seu” hospital sequestrado pelas tropas americanas, morreu, vítima de um tumor no estômago, rodeado de Irmãos e amigos no dia 11 de Junho de 1946, segunda feira de Pentecostes.

Onde hauria ele essa força, confiança e misericordiosa hospitalidade nas provações? Na oração e adoração a Jesus Eucaristia e a entrega a Nossa Senhora a quem se devotou toda a sua vida.

A Congregação para as Causas dos Santos reconheceu um milagre que ocorreu na Baviera em 20 de março de 2001. O caso em questão diz respeito à perfeita segurança do Sr. Karl Größl, que, enquanto dirigia uma van em alta velocidade e com uma carga considerável e perigosa, saiu da estrada e, após uma série de capotamentos, caiu em uma escarpa. Apesar dos danos muito graves sofridos pelo carro, completamente destruído, e do vazamento total do material transportado, o motorista, que durante todas as fases do acidente permaneceu perfeitamente consciente, não mostrou dor ou relatou qualquer lesão, exceto por um pequeno arranhão, a ponto do enfermeiro, que chegou em pouco tempo de ambulância e helicóptero, declarou que ele não precisava de assistência. Esse fato, inexplicável em relação à gravidade do acidente, foi atribuído pelo Sr. Karl à intercessão do servo de Deus Eustachio Kugler, de quem era particularmente devoto: ele se dirigia diariamente a ele em oração, reconhecendo seu papel como intercessor de Deus e considerando-o como um "parceiro de vida". 


Irmão Eustachio Kugler foi beatificado no dia 04 de outubro de 2009.


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