segunda-feira, 14 de agosto de 2017

14 de agosto - São Maximiliano Kolbe - Testemunho do seu martírio

Depoimento de Micherdzirski (Miguel) ex-prisioneiro número 1261, que esteve 04 anos no campo de concentração de Auschwitz. Foi transportado para o campo no dia 26/06/1940 com 19 anos:

Estávamos no bloco 14 que era dividido em duas partes, térreo e superior, éramos 400 prisioneiros. A situação higiênica era indescritível, um banheiro para 400 prisioneiros.

Padre Kolbe esteve no campo 77 dias, chegou dia 28 de maio 1941, era tranquilo, um homem de grande bondade, um verdadeiro amigo. Aqueles que o conheciam sempre o ajudavam devido a sua fragilidade. Eu nunca me aproximava dele, ele sempre falava com os outros padres, a respeito da Imaculada e da Santíssima Trindade, somente os mais velhos o escutavam.

No dia 29/07/1941, mais ou menos 13:00, momento pausa no trabalho, a sirene soou, deu medo, o som não era o mesmo, naquele momento entendemos que era algo de ruim, e todos deveriam deixar o trabalho e ir para o pátio, é o momento do apelo, ou seja, o controle de prisioneiros de cada bloco. Alguns não suportavam o trabalho e morriam, mas vivo ou morto tinha que estar no momento do apelo, não podia faltar nenhum prisioneiro. Deus me permitiu estar em tantos apelos que não sei como consegui. Naquele dia era apelo punitivo, somente para o nosso bloco, e nenhum outro bloco, podia nem mesmo ver pela janela se não também eram punidos.

No dia 30/07/1941 as 19:15, foi o momento que Padre Kolbe saiu da fila. Do dia 29/07 ao 30/07 ficamos no pátio em pé sem comer, sem dormir, a noite era muito fria, e durante o dia muito calor. Os soldados colocavam a comida na nossa frente, e jogavam no chão, muitos não aguentavam, não tendo mais força e acabavam morrendo. Eu, Padre Kolbe e Francisco estávamos na mesma fila, na 5º ou 6° fila. Fritz - o comandante alemão - andava entre as filas, e quando parava na frente de um prisioneiro significava que era seu fim, era condenado, quando Fritz se aproximou de mim, me sumiu a visão, tremia minhas pernas, meu único desejo era de viver, minha oração era “Deus não deixe ele tocar em mim”. Naquele momento não podíamos ter nenhum tipo de reação, não podia manifestar nem mesmo uma expressão, porque seria o suficiente para morrer. Quando tudo acabou foi um alivio, mas de repente se percebe que alguém sai do lugar, naquele momento o silêncio reinava, só se ouvia os passos daquele homem: Padre Kolbe. Ele calmamente se aproximou de Fritz e disse: 
“Quero morrer no lugar desse homem”. 
Em um lugar onde milhões morriam, morrer por um não significava nada.

Fritz perguntou: “Quem é o senhor?” Calmamente Padre Kolbe responde: 
“Sou um Polaco sacerdote católico”. 
Sete milhões de prisioneiros passaram por lá, essa foi a primeira vez que Fritz chamava um prisioneiro de senhor, éramos sempre chamados de porcos, besta e outros nomes terríveis. Padre Kolbe disse simplesmente: “Porque ele tem mulher e filhos” ele salvava o valor do sacramento matrimonial e a paternidade. 

O que mais impressionou, não foi o fato que ele morria por alguém, isso era normal em um lugar como aquele, mas naquele dia os alemães  perderam a guerra, era inacreditável Fritz falar com um prisioneiro, e ter aceitado a troca, ele podia simplesmente atirar em Padre Kolbe e nos outros, ou então soltar os cachorros neles. No campo de concentração era inaceitável o gesto de martírio, os alemães não admitiam, os prisioneiros só podiam morrer, por suas mãos. Padre Kolbe morreu para salvar um único prisioneiro, mas naquele dia ele trouxe a Auchwitz a esperança e o amor. 

Foram 386 horas de sofrimento, e de fome. Humanamente era difícil entender aquele ato. Aquele momento marcou a história de Auschwtiz, a história de cada prisioneiro, ele trouxe a cada um de nós a dignidade e a vontade de viver. 

Padre Kolbe e os outros nove prisioneiros foram levados para o bloco 11, no Bunker da fome. Passaram-se duas semanas e os prisioneiros morriam um após o outro, mas no fim da terceira semana, ainda sobreviviam quatro, entre eles Padre Kolbe. 

Para os carrascos, a morte deles estava sendo longa porque o bunker era necessária para outras vítimas. Por isso, no dia 14 de agosto de 1941 às 12h50, da Vigília da Assunção de Maria Virgem ao céu, foi conduzido ao bunker, o carrasco Boch, um alemão, diretor da sala dos enfermos. Ele aplica no braço esquerdo de cada um, a injeção venenosa de ácido fênico. Padre Kolbe com a oração entre os lábios estende o braço ao carrasco.

Não podendo resistir aquilo que meus olhos viam, com o pretexto de ter que ir trabalhar, fui para fora. Quando os guardas e o carrasco deixaram o bunker, eu retornei: encontrei Padre Maximiliano Kolbe, sentado e apoiado no muro, com os olhos abertos e a cabeça inclinada: era a sua posição habitual. A sua face era radiante e serena. 

Jesus disse: “tudo está cumprido”. Inclinando a cabeça, entrega o espírito. Talvez também Padre Kolbe tenha pronunciado essas palavras, antes de inclinar a cabeça e suspirar. No dia da Assunção da Virgem Maria ao céu, no dia 15 de agosto, o seu corpo foi queimado no forno crematório e suas cinzas foram jogadas ao vento. Em 28 de janeiro de 1942, o certificado de morte de Padre Kolbe foi levado pelo oficial central do campo de concentração ao convento de Niepokalanòw."

Nenhum comentário:

Postar um comentário