sexta-feira, 31 de agosto de 2018

31 de agosto - Santo Aristides de Atenas


Aristides de Atenas, filósofo apologista grego e patrístico do período anterior ao Concílio de Niceia, faleceu por volta do ano 134 e é autor do mais antigo escrito apologético cujo texto se conserva.

A literatura apologética visa defender a religião cristã dos escritos do paganismo e das heresias.
Os dados sobre sua vida e obra são escassos. Segundo Eusébio de Cesaréia o filósofo ateniense teria entregue ao Imperador Romano Adriano (76-138) livros compostos em defesa da religião cristã, aproveitando-se da admiração do imperador pela escola de Alexandria e os filosofia ateniense.

A primeira apologia do cristianismo, teria sido escrita na época do reinado (117-138) de Adriano, e só conhecida dos contemporâneos após sua descoberta no século XIX e publicada pelos Mequitaristas de S. Lázaro, de Veneza (1878) com o título Ao imperador Adriano César de parte do filósofo ateniense Aristides. Poucos anos depois (1891) R. Harris descobriu no monastério de Santa Catarina do Monte Sinai, uma tradução síria dessa apologia.

A apologia de Aristides visa a mostrar que os cristãos são os únicos detentores da verdadeira noção de Deus, demonstrando as inconsistências das concepções dos deuses Caldeus, Gregos e Egípcios.

Demonstra, ainda, o carácter elevado da vida moral cristã em profundo contraste com as corruptas práticas pagãs. O tom é nobre e calmo e procura testemunhar a razoabilidade do cristianismo mais por um apelo aos factos do que por subtis argumentações.

Na Apologia, composta de 17 capítulos, sendo o capítulo 1 uma introdução, os capítulos 2 ao 16 exames de diversas religiões e uma conclusão (cap. 17), afirmava corajosamente que os cristãos vagando e buscando, acharam a verdade e estavam mais próximos que os outros povos da verdade e do conhecimento certo, pois acreditavam no Deus criador do céu e da terra, e do qual eles mesmos receberam os preceitos que guardavam no coração, com a esperança e expectativa do futuro.

Trecho de sua Apologia:

Os que creem que a terra é Deus se enganam, pois a vemos incomodada e dominada pelos homens, cavada e emporcalhada, tornando-se inútil, porque se não a aduba, converte-se em infértil como uma telha, onde nada nasce. Só que, se for regada em demasia, corrompe-se ela mesma bem como os seus frutos. Ela também é pisada pelos homens e pelos animais; se mancha com os sangues dos assassinatos; é cavada para receber os cadáveres e, assim, se converte em depósito de mortos. Sendo assim, não é possível que a terra seja deusa, mas obra de Deus, para utilidade dos homens.

Os que pensam que a água é Deus erram, pois também ela foi feita para a utilidade dos homens e por eles é dominada; fica suja e se corrompe; se altera quando é servida, muda de cor e congela com o frio; é levada para lavar todas as imundícies... Por isso, é impossível que a água seja Deus, mas é obra de Deus.

Os que creem que o fogo é Deus estão equivocados, pois o fogo foi feito para a utilidade dos homens e por eles é dominado; é levado de um lugar para outros para cozer e assar toda espécie de carnes e até mesmo para cremar cadáveres. Além disso, se corrompe de várias maneiras ao ser apagado pelos homens. Por isso, não é possível que o fogo seja Deus, mas obra de Deus.

Os que creem que o sopro dos ventos é Deus se equivocam, pois é óbvio que está a serviço de outro e que foi preparado por Deus, em graça aos homens, para mover os navios, transportando os alimentos, e atender às suas demais necessidades; fora isso, aumenta ou cessa pela ordem de Deus. Portanto, não é possível pensar que o vento seja Deus, mas obra de Deus.

Os que creem que o sol é Deus se equivocam, pois vemos que ele se move por necessidade, muda e altera de signo, pondo-se e nascendo para desenvolver as plantas e ervas em utilidade aos homens; vemos também que possui divisões com os demais astros, que é muito menor que o céu, que sofre eclipses em sua luz e não goza de qualquer autonomia. Por isso, não é possível pensar que o sol seja Deus, mas obra de Deus.

Os que pensam que a lua é Deus se equivocam, pois vemos que ela se move por necessidade e muda de fase, pondo-se e nascendo para a utilidade dos homens; ela é menor que o sol, cresce, reduz e sofre eclipses. Por isso, não é possível pensar que a lua seja deusa, mas obra de Deus.

Os que creem que o homem é Deus erram, pois vemos que ele é concebido por necessidade, se alimenta e envelhece ainda contra a sua vontade; às vezes está alegre, outras vezes está triste, e precisa de comida, bebida e roupas; vemos, ainda, que ele guarda raiva, inveja e ambição, muda seus propósitos e tem mil defeitos; corrompe-se também de muitos modos em razão dos elementos, dos animais e da morte que lhe é imposta. Não é, portanto, admissível que o homem seja Deus, mas obra de Deus.



31 de agosto - No meio da noite, ouviu-se um grito: O noivo está chegando. Ide ao seu encontro! Mt 25,6


Existe o tempo imediato entre a primeira vinda de Cristo e a última, que é precisamente o tempo que agora vivemos. É no contexto deste tempo imediato que se insere a parábola das dez virgens.

Trata-se de dez donzelas que esperam a chegada do Esposo, mas ele atrasa e elas adormecem. Ao anúncio repentino que o Esposo está a chegar, todas se preparam para o receber, mas enquanto cinco delas, sábias, dispõem de óleo para alimentar as suas lâmpadas, as demais, imprudentes, permanecem com as lâmpadas apagadas porque não têm óleo; e enquanto o procuram, o Esposo chega e as virgens imprudentes encontram fechada a porta que introduz na festa nupcial. Batem à porta com insistência, mas já é tarde, e o Esposo responde: não vos conheço.

O Esposo é o Senhor, e o tempo de espera da sua chegada é o tempo que Ele nos concede, a todos nós, com misericórdia e paciência, antes da sua vinda derradeira; é um tempo de vigilância; tempo em que devemos manter acesas as lâmpadas da fé, da esperança e da caridade, nas quais conservar aberto o coração para o bem, a beleza e a verdade; tempo para viver segundo Deus, pois não conhecemos nem o dia nem a hora da vinda de Cristo.

É-nos pedido que estejamos preparados para o encontro — preparados para um encontro, um encontro bonito, o encontro com Jesus — que significa saber ver os sinais da sua presença, manter viva a nossa fé com a oração e com os Sacramentos, ser vigilantes para não adormecer, para não nos esquecermos de Deus. A vida dos cristãos adormecidos é triste, não é uma vida feliz. O cristão deve ser feliz, a alegria de Jesus. Não adormeçamos!

Sem dúvida, devemos ter sempre bem presente que somos justificados e salvos pela graça, por um gesto de amor gratuito de Deus, que sempre nos precede; sozinhos, nada podemos fazer. A fé é antes de tudo um dom que recebemos. Mas para que dê fruto, a graça de Deus exige sempre a nossa abertura a Ele, a nossa resposta livre e concreta. Cristo vem trazer-nos a misericórdia de Deus que salva. É-nos pedido que confiemos n’Ele, correspondendo ao dom do seu amor com uma vida boa, feita de gestos animados pela fé e pelo amor.

Estimados irmãos e irmãs, nunca tenhamos medo de olhar para o Juízo final; ao contrário, que ele nos leve a viver melhor o presente. Deus oferece-nos este tempo com misericórdia e paciência, a fim de aprendermos todos os dias a reconhecê-lo nos pobres e nos pequeninos, de trabalharmos para o bem e de sermos vigilantes na oração e no amor. Que no final da nossa existência e da história o Senhor possa reconhecer-nos como servos bons e fiéis.

Papa Francisco - 24 de abril de 2013

Hoje celebramos:

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

30 de agosto - Beata Teresa Bracco


Em Teresa Bracco brilha a castidade, defendida e testemunhada até ao martírio. Tinha vinte anos quando, durante a segunda guerra mundial, optou por morrer para não ceder à violência de um militar que atentava contra a sua virgindade. Aquela atitude corajosa era a consequência lógica de uma firme vontade de se manter fiel a Cristo, segundo o propósito várias vezes manifestado. Quando tomou conhecimento do que tinha acontecido a outras jovens naquele período de desordens e violências, exclamou sem hesitar: “Prefiro morrer do que ser profanada”. 

Foi o que aconteceu durante um controle militar. O martírio foi o coroamento de um caminho de maturação cristã, desenvolvido dia após dia, com a força tirada da Comunhão eucarística quotidiana e de uma profunda devoção à Virgem Mãe de Deus. 

Que significativo testemunho evangélico para as jovens gerações que se aproximam do Terceiro Milênio! Que mensagem de esperança para quem se esforça por ir contra a corrente em relação ao espírito do mundo! Indico sobretudo aos jovens esta moça que a Igreja hoje proclama Beata, a fim de que dela aprendam a fé límpida testemunhada no empenho quotidiano, a coerência moral sem compromissos, a coragem de sacrificar, se for necessário, até a vida, para não atraiçoar os valores que dão sentido à existência. 

Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação - 24 de maio de 1998

Tereza nasceu em 24 de fevereiro de 1924, penúltima de sete filhos, em Santa Giulia, no Piemonte, Itália. Seus pais foram para ela um exemplo de fé e fortaleza cristã: em 1927 sepultaram em apenas três dias dois filhos de nove e quinze anos. Uma fé submetida àprova. No fim do dia, o próprio pai dirigia a reza do Rosário em família. O nome de Teresa ela recebera em honra da “pequena santa” de Lisieux, beatificada em 1923.

Teresa só pôde frequentar até o quarto ano do primeiro grau, pois com o seu trabalho de pastorinha procurou contribuir para o sustento da família. Trazia o Terço sempre consigo e no campo nunca parava de rezar.

Era uma jovem extremamente reservada, modesta, delicada no relacionamento com as pessoas, sempre pronta a dar a sua ajuda. E bela: dois grandes olhos escuros e aveludados sobressaíam num rosto sereno e pensativo, emoldurado por grandes tranças castanhas. Bela, mas sem qualquer vaidade. Sabia atrair a admiração respeitosa dos conterrâneos: “Uma garota assim, eu nunca tinha visto antes e jamais vi depois”, afirmou um deles. “Havia nela algo de diferente das demais garotas”, recorda uma amiga. “Era a melhor de nós todas”, confia sua irmã Ana.

Ginin – como era chamada – sacrificava de boa vontade preciosas horas de sono desde que pudesse comungar. A igreja não ficava tão perto de sua casa, e a missa era ali celebrada ao alvorecer. Mesmo assim, Teresa jamais renunciava à Santa Missa, por nada no mundo. A Eucaristia, a devoção a Nossa Senhora e a espiritualidade das obrigações, eis o segredo da sua santidade.

Na casa da família Bracco chegava regularmente o Boletim Salesiano. Do número de agosto de 1933, Teresa cortou a terceira página que trazia a figura de Domingos Sávio, filho de camponeses como ela, que havia sido declarado venerável há pouco, e que tinha feito o seguinte propósito: “Antes morrer do que pecar”. A pequena – tinha apenas nove anos – ficou fascinada por ele, e colocou a página na cabeceira da cama. Desde então, o mote de Domingos foi também seu. Declarou guerra ao pecado: “Antes, eu me deixo matar”, escreveu. E manteve o propósito.

Em 28 de agosto de 1944, uma feroz investida alemã chega a Santa Giulia e Teresa, assim como outras mulheres e crianças da região, foi tomada como refém de guerra por soldados alemães. Entendendo as intenções não benevolentes dos oficiais, Teresa tentou fugir indo em direção à floresta, mas foi alcançada por um oficial que, tomado pela raiva, a estrangulou e disparou um tiro de pistola no coração. O soldado ainda chutou o corpo já sem vida de Teresa, provocando a quebra do crânio.

O corpo da jovem foi encontrado na floresta dois dias depois. Teresa tentara inicialmente fugir às atitudes brutais do soldado; depois, vendo a inutilidade de seus esforços, preferiu renunciar à vida a perder a virtude tão ciosamente conservada. 

Alguém balançou a cabeça sobre seu final heroico. Uma morte inútil, ele disse a si mesmo. Ela poderia sobreviver à violência, como as outras duas garotas, e retornar à sua família. Por que se opor tanto a isso? Mas apenas alguns meses depois de sua morte, ele foi informado de alguém que havia recebido uma graça através da intercessão de Teresa. A fama do seu martírio espalhou-se pelas paróquias vizinhas, enquanto a voz do povo a aclama como a nova Santa Maria Goretti do Langhe.

O seu sacrifício não foi senão o último de uma vida inteiramente vivida pelo Evangelho. Toda a dinâmica do assassinato foi esclarecida pelo exame dos restos feitos em 10 de maio de 1989, sob a ordem do tribunal eclesiástico.

João Paulo II beatificou-a em Turim no dia 24 de maio de 1998, memória de Maria Auxiliadora, durante sua peregrinação ao Santo Sudário.




30 de agosto - Frases do Beato Alfredo Ildefonso Schuster


"Há... uma oração especial que é por excelência a oração da Igreja, e tem, por conseguinte, também um nome particular: ela chama-se Liturgia..." 

"Não tenho outra recordação para vos deixar a não ser um convite à santidade. Parece que as pessoas já não se deixam convencer pela nossa pregação; mas perante a santidade, ainda creem, ainda se ajoelham e rezam... Não vos esqueçais de que o diabo não tem medo dos nossos campos desportivos e das nossas salas de cinema: ao contrário, tem medo da nossa santidade".

"Para que a tempestade não arraste a barca, não servem nem a diplomacia, nem as riquezas, nem o poder secular, mas unicamente a santidade apostólica, tácita como o fermento, humilde, pobre".

"Antes de qualquer outra coisa, aliás, acima de qualquer outra coisa, ó Veneráveis Irmãos, nós somos essencialmente adoradores... em seguida, devemos ser de igual modo ministros do povo, o sal da terra, os pescadores de homens, etc.; mas a primeira necessidade é que sejamos verdadeiros servos de Deus”.

30 de agosto - Ficai atentos! porque não sabeis em que dia virá o Senhor. Mt 24,42

Jesus nos exorta a prestar atenção e a vigiar, a fim de estarmos prontos para o acolher no momento do regresso.

A pessoa atenta é a que, em meio ao barulho do mundo, não se deixa tomar pela distração ou pela superficialidade, mas vive de maneira plena e consciente, com uma preocupação voltada antes de tudo aos outros. Com esta atitude percebemos as lágrimas e as necessidades do próximo e podemos dar-nos conta também das suas capacidades e qualidades humanas e espirituais. A pessoa atenta também se preocupa com o mundo, procurando contrastar a indiferença e a crueldade presentes nele, e alegrando-se pelos tesouros de beleza que contudo existem e devem ser preservados. Trata-se de ter um olhar de compreensão para reconhecer quer as misérias e as pobrezas dos indivíduos e da sociedade, quer a riqueza escondida nas pequenas coisas de cada dia, precisamente ali onde nos colocou o Senhor.

A pessoa vigilante é a que aceita o convite a vigiar, ou seja, a não se deixar dominar pelo sono do desencorajamento, da falta de esperança, da desilusão; e ao mesmo tempo, rejeita a solicitação de tantas vaidades de que o mundo está cheio e atrás das quais, por vezes, se sacrificam tempo e serenidade pessoal e familiar. É a experiência dolorosa do povo de Israel, narrada pelo profeta Isaías: Deus parecia ter deixado desviar para longe dos seus caminhos o seu povo, mas estes era um efeito da infidelidade do próprio povo. Também nós encontramo-nos frequentemente nesta situação de infidelidade à chamada do Senhor: Ele indica-nos o caminho bom, o caminho da fé, o caminho do amor, mas nós procuramos a nossa felicidade noutro lugar.

Estar atentos e vigilantes são os pressupostos para não continuar a “desviar para longe dos caminhos do Senhor”, perdidos nos nossos pecados e nas nossa infidelidades; estar atentos e ser vigilantes são as condições para permitir que Deus irrompa na nossa existência, para lhe restituir significado e valor com a sua presença cheia de bondade e ternura.
 Papa Francisco – 03 de dezembro de 2017

Hoje celebramos:

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

29 de agosto - Quero que me dês agora, num prato, a cabeça de João Batista. Mc 6,25


São João Batista tem em si a profunda humildade de mostrar Jesus como o verdadeiro Mensageiro de Deus, colocando-se à parte para que Cristo possa crescer, ser escutado e seguido. Como último ato, João Batista testemunha com o sangue sua fidelidade aos mandamentos de Deus, sem hesitar ou retroceder, cumprindo até o final sua missão. São Beda, monge do século IX, diz de João Batista em sua homilia: Para [Cristo] deu a sua vida, ainda que não tenha sido obrigado a negar Jesus Cristo, foi condenado apenas para calar a verdade. Mas calou a verdade, morreu por Cristo, que é a Verdade. Exatamente por amor à verdade, não cedeu a seus valores e não teve medo de dirigir palavras fortes àqueles que tinham se perdido no caminho de Deus.

Nós vemos esta grande figura, esta força na morte, na resistência contra os poderosos. Nos perguntamos: de onde nasce esta vida, esta interioridade tão forte, tão reta, coerente, gasta tão completamente por Deus a preparar o caminho para Jesus? A resposta é simples: da relação com Deus, da oração, que é o fio condutor de toda sua existência. 

Mas João Batista não é apenas um homem de oração, de contato constante com Deus, mas também um guia para este relacionamento. O evangelista Lucas, recordando a oração que Jesus ensinou aos seus discípulos, o “Pai Nosso”, observa que o pedido é feito pelos discípulos com estas palavras: “Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou os seus discípulos”.

Celebrar o martírio de São João Batista lembra também a nós, cristãos do nosso tempo, que não podemos nos esquivar do compromisso com o amor de Cristo, sua Palavra, a Verdade. Verdade é verdade, não pode ser negociada. A vida cristã exige, por assim dizer, o “martírio” da fidelidade diária ao Evangelho, que é a coragem de deixar que Cristo cresça em nós, direcione o nosso pensamento e nossas ações. Mas isso só pode acontecer em nossas vidas se for sólido o nosso relacionamento com Deus. 

Oração não é tempo perdido, não é tirar o tempo das nossas atividades, incluindo as apostólicas, é exatamente o contrário: só se formos capazes de ter uma fiel vida de oração, constante, confiante, será o próprio Deus a nos dar força e capacidade para viver de modo feliz e sereno, superar as dificuldades e testemunhá-Lo com coragem. São João Batista interceda por nós, para que possamos manter sempre a primazia de Deus em nossa vida.

Papa Bento XVI – 29 de agosto de 2012

Hoje celebramos:

29 de agosto - Santa Joana Maria da Cruz (Jeanne Jugan)

Pela sua obra admirável ao serviço das pessoas idosas mais necessitadas, Santa Joana Maria da Cruz é também um farol para guiar as nossas sociedades que devem redescobrir sempre o lugar e a contribuição única desta fase da vida. Nascida em 1792 em Cancale, na Bretanha, Jeanne Jugan preocupava-se com a dignidade dos seus irmãos e irmãs em humanidade, que a idade tornou vulneráveis, reconhecendo neles a pessoa de Cristo. "Olhai para o pobre com compaixão, dizia ela, e Jesus olhará para vós com bondade, no vosso último dia".
Este olhar de compaixão sobre as pessoas idosas, baseado na sua profunda comunhão com Deus, Jeanne Jugan levou-a através do seu serviço jubiloso e abnegado, exercido com doçura e humildade de coração, querendo ser ela mesma pobre entre os pobres. Jeanne viveu o mistério de amor aceitando, em paz, a obscuridade e o despojamento até à morte.

 O seu carisma é sempre atual, quando tantas pessoas idosas sofrem múltiplas pobrezas e solidões, sendo por vezes até abandonadas pelas suas famílias. O espírito de hospitalidade e de amor fraterno, fundado numa confiança ilimitada na Providencia, no qual Jeanne Jugan encontrava a fonte nas Bem-Aventuranças, iluminou toda a sua existência. Este impulso evangélico prossegue hoje através do mundo na Congregação das Irmãzinhas dos Pobres, que ela fundou e que testemunha no seu seguimento da misericórdia de Deus e do amor compassivo do Coração de Jesus pelos mais pequeninos.

Que Santa Jeanne Jugan seja para todas as pessoas idosas uma fonte viva de esperança, e para as pessoas que se põem generosamente ao seu serviço, um estímulo poderoso a fim de prosseguir e desenvolver a sua obra!

 Papa Bento XVI – Homilia de Canonização – 11 de outubro de 2009

A doação como apostolado de caridade para com quem sofre por causa da idade, da pobreza, da solidão e outras dificuldades, era a espiritualidade de Joana Maria da Cruz, nascida na aldeia de Cancale na Bretanha francesa no dia 25 de outubro de 1792 e batizada com o nome de Joana Jugan.

Filha do casal José Jugan e Marie Horel, foi a sexta de oito filhos. Joana perdeu o pai aos quatro anos de idade e sua mãe ficou responsável por toda a família. Aos dezesseis anos começou a trabalhar como empregada doméstica na casa dos Viscondes de la Choue em Saint-Coulomb. Ao mesmo tempo que ajudava a família, amparava também os pobres, abandonados e idosos.

Ao completar dezoito anos foi pedida em casamento por um jovem marinheiro, ao qual respondeu afirmando: “Deus me quer para Ele, para um trabalho ainda não conhecido e uma obra que ainda não está fundada.”

Em 1817 atuou como enfermeira no hospital Santo Estevão em Saint-Servan e conheceu e participou da Ordem Terceira da Mãe Admirável, fundada por João Eudes.
No ano de 1823 deixou suas atividades no hospital para dedicar-se aos cuidados de Marie Lecoq com quem ficou por doze anos. Com a morte de Marie em 1835 Joana herdou os bens de sua senhora e juntamente com sua amiga Francisca Aubert, alugaram um apartamento em Saint-Servan para dar continuidade aos trabalhos de acolhimento e cuidado aos pobres.

Em 1839 Joana acolheu uma senhora cega chamada Ana Chauvin a qual fez surgir a inspiração de uma congregação que inicialmente se chamou “Servas dos Pobres”. A Joana uniram-se outras mulheres e no ano de 1842 deixaram o apartamento e alugaram uma casa para acolher os idosos. Seu trabalho sensibilizou uma rica comerciante que viabilizou a compra de um convento abandonado. Ali foi consolidada a Congregação das Irmãzinhas dos Pobres, sob a assistência da Ordem Hospedeira de São João de Deus. Joana recebeu o hábito e adotou o nome de Joana Maria da Cruz.

Joana Maria da Cruz faleceu na França no dia 29 de agosto de 1879 e sua congregação já contava com cento e setenta e sete casas em mais de dez países e em torno de duas mil e quinhentas irmãs. Foi beatificada em 3 de outubro de 1982 pelo Papa João Paulo II e canonizada em 11 de outubro de 2009 pelo Papa Bento XVI.


terça-feira, 28 de agosto de 2018

28 de agosto - Santo Agostinho de Hipona


28 de agosto - Fariseu cego! Limpa primeiro o copo por dentro, para que também por fora fique limpo. Mt 23,26


Jesus, no Evangelho, nos mostra um falso modo de procurar a justificação: a justificação da aparência – mostra aqueles que se creem justos pela aparência: mostram-se justos, apraz-lhes fazer isso e sabem fazer precisamente “a cara de santinho”, como se fossem santos. Mas são hipócritas: Acautelai-vos primeiramente do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Dentro, ele mesmo disse que está todo sujo, mas fora —mostram-se justos, bons: gostam de passear e mostrar-se muito elegantes, ostentar-se quando rezam e quando jejuam, quando dão esmola. Mas tudo isto é aparecer, dentro do coração não há nada, não há substância naquela vida, é uma vida hipócrita: ou seja, como diz a palavra, por baixo está a verdade e a verdade é nula.

Eis por que é sábio o conselho de Jesus diante destas pessoas: fazei o que dizem porque dizem a verdade, mas não o que fazem porque fazem o contrário. Com efeito, estes pintam a alma, vivem pintados: a santidade para eles é uma pintura. Ao contrário, Jesus pede que sejamos sempre verdadeiros, mas verdadeiros dentro, no coração: e se algo sobressai, que sobressaia esta verdade, o que há no coração.

Precisamente por esta razão Jesus dá aquele conselho: quando tu rezares, vai fazê-lo escondido; quando jejuares, ali, pinta-te um pouco, para que ninguém veja o pouco valor do jejum; e quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita, fá-lo escondido. Em síntese, Jesus aconselha exatamente o contrário daquilo que estas pessoas fazem: mostrar-se. Nelas há a justificação da aparência: são bolhas de sabão que hoje existem e amanhã já não. Ao contrário, Jesus pede-nos a coerência de vida, coerência entre o que fazemos e o que vivemos.

Papa Francisco – 20 de outubro de 2017

Hoje celebramos:

28 de agosto - Frases de Santo Agostinho


“Você diz que os tempos são turbulentos, insuportáveis e miseráveis. Viva corretamente e você mudará os tempos.”

“Sua vida, seu corpo, sua alma, estas sim são todas obras divinas.”

“Na escola da vida, Deus é o único professor à procura de bons alunos.”

“Amar: ir, perder-se de si e encontrar a Deus!”

“Deus prometeu o perdão se você voltar para ele. Mas o que ele não prometeu é se você terá o amanhã para realizar a sua conversão.”

“Deus procura mais por você do que pelo seu presente. Ele procura por aquele que ele redimiu com seu sangue, ao invés daquele que você depositar para ele.”

“Ame todas as pessoas, mesmo seus inimigos, não porque sejam seus irmãos, mas porque assim eles se tornarão.”

“Esta é a lei de Cristo: que cada um de nós ajude a carregar a carga do próximo. Quando amamos Cristo é fácil tolerar a fraqueza alheia, até mesmo quando não amamos o próximo por suas qualidades.”

“Mesmo na guerra, seja um pacificador.”

“Observe as árvores. Elas inicialmente buscam as profundezas da terra para crescerem altas. Dirigem suas raízes às profundezas para subirem em direção ao céu. Você quer alcançar as alturas sem ser caridoso? Procura os céus sem possuir raízes na terra?”

“Cristo amou-nos em nossa falta de beleza para fazer-nos belos como Ele.”

28 de agosto - Santa Joaquina de Vedruna


Uma santa que passou por todos os estados de vida:  casada até os 33 anos, teve nove filhos e vários netos, após ficar viúva, aos 47 anos fundou a Comunidade das Irmãs Carmelitas da Caridade, e ao morrer, aos 61 anos, havia fundado mosteiros, escolas e hospitais em várias partes da Espanha.

Joaquina de Vedruna nasceu em Barcelona, na Espanha, no dia 16 de abril de 1783, quinta de oito irmãos. Seu pai era rico e alto funcionário do governo. Sua família era muito católica.
A menina desde muito pequena tinha grande devoção ao Menino Jesus e as benditas almas do Purgatório.
Algo que a caracterizou desde seus primeiros anos foi um grande amor pela limpeza. Não tolerava qualquer mancha de sujeira em sua roupa. E isso fez com que não tolerasse tampouco, as manchas do pecado em sua alma.

Aos doze anos sentiu um grande desejo de ser freira carmelita. Mas as freiras não a aceitaram porque lhes parecia muito jovem ainda para decidir-se pela vocação religiosa.
Aos 26 anos casa-se com um rico advogado, Don Teodoro de Mas, um amigo de seu pai e um funcionário público como ele. Teodoro estimava muito as três filhas de Don Lorenzo e para decidir-se por uma delas lhes levou um pacotinho de guloseimas como presente. As duas primeiras o rejeitaram como um presente demasiado infantil, mas Joaquina o aceitou com alegria exclamando: "Eu amo amêndoas". Este gesto de humildade fez com que o jovem decidisse escolhê-la como esposa.

No começo do casamento, por vezes, sentia graves escrúpulos por não ter seguido a vocação religiosa que de criança tanto lhe chamava a atenção, mas seu esposo a confortava dizendo que na vida doméstica se pode chegar a tão alta santidade como em um convento e com suas boas obras de piedade iria substituindo aquelas que teria feito na vida religiosa. Isso a tranquilizou. Viveu 16 anos com seu esposo, e Deus a presenteou com nove filhos. E como recompensa por seus sacrifícios quatro de suas filhas se tornaram freiras, e várias de suas netas também.

Quando Napoleão invadiu a Espanha, o esposo de Joaquina partiu para o exército para defender a pátria e participou bravamente de cinco batalhas contra os invasores. Joaquina e seus filhos tiveram que deixar a cidade de Barcelona e fugir para a pequena cidade de Vich.
Quando Joaquina e seus filhos fugiam pela planície, de repente apareceu uma misteriosa Senhora e a trouxe até Vich para casa de uma família muito boa, que os recebeu com grande carinho. Em seguida, a Senhora desapareceu e ninguém pôde dar razão para isso. Joaquina sempre acreditou que havia sido a Santíssima Virgem que veio para ajudá-la.

Um dia, enquanto estava rodeada por sua família, ela pensou ter ouvido uma voz dizendo: "Logo você vai ser viúva". Ela se preparou para aceitar a vontade de Deus, e dois meses depois, em 03 de março de 1816, seu esposo, embora estivesse bem de saúde e tivesse apenas 42 anos, morreu inesperadamente. Joaquina ficou viúva aos 33 anos e encarregada das seis crianças que havia sobrevivido.

A partir daquele dia deixou todas as suas roupas de senhora rica. E se dedicou completamente a ajudar os pobres e assistir os doentes nos hospitais. No começo, as pessoas pensaram que ela havia enlouquecido por causa da tristeza pela morte de seu esposo, mas logo perceberam que ela estava se tornando uma grande santa. E admiravam a sua generosidade para com os necessitados. Ela vivia como as pessoas mais pobres, mas todas as suas energias eram para ajudar aqueles que sofriam miséria ou doença.

Por 10 anos dedicou-se a penitências, muitas orações e contínuas obras de caridade, pedindo a Deus para iluminá-la sobre o que mais lhe convinha fazer para o futuro. Quatro de suas filhas se tornaram freiras e os outros filhos se casaram, e finalmente ela estava livre de toda responsabilidade doméstica. Agora iria realizar seu grande desejo de quando era uma criança: ser religiosa.

Providencialmente se encontrou com um padre muito santo, o Padre Esteban Olot, capuchinho, que lhe disse que Deus a tinha destinado a fundar uma comunidade religiosa dedicada à vida ativa de apostolado. O sábio Padre Esteban escreve as constituições da nova comunidade e, aos 26 de fevereiro de 1826, diante do Bispo de Vich, que a apoia plenamente, começa, com oito jovenzinhas, sua nova comunidade, à qual coloca o nome de "Hermanas Carmelitas de la Caridad de Vedruna", em sua casa.

Logo, as irmãs se tornam treze e mais tarde cem. Sua comunidade, como a sementinha de mostarda, começa sendo muito pequena e se torna uma grande árvore cheia de bons frutos. Ela vai fundando casas de religiosas por toda província.

Santa Joaquina teve a sorte de se encontrar também com o grande missionário, bispo e fundador Santo Antônio Maria Claret, cujos conselhos lhe foram de grande proveito para o progresso de sua nova congregação.

Depois veio a guerra civil e nossa santa, perseguida pelos esquerdistas, fugiu para a França, onde esteve desterrada por três anos. Lá recebeu a assistência bem oportuna de um jovem misterioso, que ela sempre acreditou se tratasse de São Miguel Arcanjo, e Deus a encaminhou nesta terra para uma família espanhola que a tratava com amor verdadeiro.

Voltando à Espanha, talvez como fruto dos sofrimentos padecidos e das tantas orações, começou a crescer admiravelmente sua comunidade e as casas se foram multiplicando como verdadeira bênção de Deus.

Em 1850, começou a sentir os primeiros sintomas da paralisia que a imobilizaria completamente. Aconselhada pelo Vigário Episcopal renunciou a todos os seus encargos e se dedicou a viver humildemente como uma religiosa sem posto algum. Apesar de conservar totalmente suas qualidades mentais, deixou que outras pessoas dirigissem a congregação. Deus lhe suscitou um novo e santo diretor para sua comunidade, o Padre Bernardo Sala, beneditino, que se propôs a dirigir às religiosas no espírito da santa fundadora.

Durante quatro anos, a paralisia foi se espalhando e a foi imobilizando por completo, até lhe tirar também a fala. Então veio uma epidemia de cólera, que lhe tirou a vida e, no dia 28 agosto de 1854, passou santamente à eternidade.

Antes havia tido a graça de ver aprovada sua comunidade religiosa pela Santa Igreja, em 1850. E desde então foi ajudando de maneira prodigiosa a suas religiosas que se espalharam por muitos países.

A Comunidade de Carmelitas da Caridade tem agora 290 casas em 25 países de 4 continentes.

Beatificada pelo Papa Pio XII, em 19 de maio de 1940, foi declarada santa pelo Papa João XXIII em 12 de abril de 1959, que disse dela: "Mãe de nove filhos, converteu-se na mãe de numerosos pobres".

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

27 de agosto - Aí de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Mt 23,15


O coração malvado — todos o temos um pouco — não nos deixa compreender o amor de Deus. Queremos ser livres, mas com uma liberdade que no final nos torna escravos, e não com a liberdade do amor que o Senhor nos oferece. E isto acontece também nas instituições: por exemplo, quando o coração dos doutores da lei, dos sacerdotes, do sistema legal era tão duro que procuravam sempre desculpas. Eram legalistas, pois acreditavam que a vida de fé só fosse regulada pelas suas próprias leis. Por isso Jesus chama-lhes hipócritas, sepulturas caiadas, bonitas fora mas cheias de podridão e hipocrisia dentro.

Infelizmente, o mesmo aconteceu na história da Igreja. Pensemos na coitada da Joana d'Arc: hoje é santa! Os doutores queimaram-na viva, dizendo que ela era herege. Pensemos também em Rosmini: todos os seus livros eram proibidos. Considerava-se um pecado lê-los. Hoje é beato! Na história de Deus o Senhor pregava o seu amor pelo povo através dos profetas. E na Igreja o Senhor manda os santos, que fazem a Igreja progredir, aqueles que não permitiram que o seu coração endurecesse, mas permanecesse sempre aberto à palavra de amor do Senhor, aqueles que não têm medo de se deixar acariciar pela misericórdia de Deus. Por isso, os santos entendem as misérias humanas e acompanham o povo sem o desprezar.

Com o povo que perdeu a fidelidade o Senhor é claro: Quem não está comigo está contra mim. Contudo, não haverá uma forma de compromisso, um pouco aqui e um pouco lá? Não. Ou estás no caminho do amor, ou da hipocrisia. Ou te deixas amar pela misericórdia de Deus, ou fazes o que queres, não há uma terceira via de compromisso: ou és santo ou vais por outro caminho. E quem não recolhe com o Senhor, é corrupto.

Papa Francisco - 12 de março de 2015

Hoje celebramos:



27 de junho - Beata Madre Maria Pilar Izquierdo

"Eu vos exalto, meu Deus e Rei" (Sl 144, 1). Esta exclamação do Salmista reflete toda a existência da Madre Maria Pilar Izquierdo, fundadora da Obra Missionária de Jesus e Maria: Louvar a Deus e cumprir em tudo a sua vontade. A sua breve vida, apenas 39 anos, pode resumir-se afirmando que desejou louvar a Deus, oferecendo-lhe o seu amor e sacrifício. A sua vida foi marcada por um continuo sofrimento, não só físico, fazendo tudo por amor d'Aquele que nos amou primeiro e sofreu pela salvação de todos. O amor a Deus, à cruz de Jesus, ao próximo necessitado de ajuda material, foram as grandes preocupações da nova Beata. Tinha a consciência da necessidade de catequizar com o Evangelho nos subúrbios e dar de comer ao faminto, a fim de se configurar a Cristo mediante as obras de misericórdia. A sua inspiração fundamental continua a estar viva hoje onde se encontra a Obra Missionária de Jesus e Maria, desenvolvendo o seu labor em conformidade com o seu espírito. Oxalá o seu exemplo de vida abnegada e generosa ajude a empenhar-se cada vez mais no serviço aos necessitados, para que o mundo atual seja testemunha da força renovadora do Evangelho de Cristo. 

Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação – 04 de novembro de 2001

Maria Pilar Izquierdo Albero, terceira de cinco irmãos, nasceu em Zaragoza, Espanha, no dia 27 de julho de 1906. Na festa de Santa Maria das Neves, dia 5 de agosto, ela foi batizada. Mais tarde ela diria que esse fora o maior dia da sua vida, porque começara a ser filha da Igreja.

Seus pais, pobres de bens materiais, mas ricos em virtudes, inculcaram na criança o espírito de piedade, o amor aos pobres e uma terna devoção à Virgem do Pilar. Desde muito criança brilhou nela um grande amor a Deus e aos pobres. Privava-se às vezes do seu lanche e das suas coisas para ajudar a quem considerava mais necessitado do que ela. Como nunca foi à escola, não sabia escrever nem quase ler, por isso considerava-se “uma tolinha” que não sabia senão “sofrer e amar, amar e sofrer”.

Cedo Maria Pilar experimentou a dor e compreendeu o valor redentor do sofrimento. Aos 12 anos foi vítima de uma doença misteriosa que nenhum médico soube diagnosticar. Depois de quatro anos vividos, por motivos de saúde, em Alfamén, regressou a Zaragoza, onde começou a trabalhar numa fábrica de calçado.

Era muito querida por todos por sua simplicidade, sua natural simpatia, sua bondade e sua laboriosidade. Mas o Senhor queria levá-la por outros caminhos e assim a foi adentrando no mistério da Cruz. De tal maneira Maria Pilar amou o sofrimento, que costumava dizer: “Encontro neste sofrer um amor tão grande a nosso Jesus, que morro e não morro... porque esse amor é o que me faz viver”.

Em 1926, enquanto voltava do trabalho, fraturou a pélvis e em 1929 ficou paraplégica e cega por causa dos inúmeros quistos. Por mais de doze anos peregrinou pelos hospitais de Zaragoza, vivendo na água-furtada da Rua Cerdán, 24. Esta se converteu numa escola de espiritualidade e num lugar de luz, de paz e de alegria para quantos a visitavam, especialmente durante os três anos da guerra civil espanhola.

As orações e a caridade mútua que imperavam ali faziam com que as almas discernissem a vocação a que Deus as chamava. Maria Pilar começou a falar da “Obra de Jesus” em 1936; ela dizia que esta obra haveria de aparecer na Igreja, que teria como finalidade “reproduzir a vida ativa do Senhor na terra através das obras de misericórdia”.

No dia 8 de dezembro de 1939, festa da Imaculada Conceição, de quem era devotíssima, Maria Pilar ficou milagrosamente curada da paralisia que a havia prostrado por mais de dez anos no leito. Os quistos também desapareceram e ela recobrou instantaneamente a visão. Uma vez curada, pôs em marcha sua obra, deslocando-se, junto com várias jovens, a Madrid, onde já tinha sido aprovada a Fundação com o nome de “Missionárias de Jesus e Maria”.

Logo apareceram os que procuram burlar os planos de Deus: ela foi proibida de exercer qualquer apostolado. Em 1942, porém, o Bispo de Madrid erigiu canonicamente a Obra como “Pia União de Missionárias de Jesus, Maria e José”.

Após dois anos de fecundo apostolado entre pobres, crianças e doentes, Deus a fez caminhar novamente pelas vias da Cruz: reapareceram quistos no ventre. A este sofrimento físico se somaram os sofrimentos morais que Deus permite para purificar as almas: calúnias, intrigas, incompreensões, desacreditaram sua obra e afastaram várias jovens que haviam sido fieis.

 Aconselhada pelo seu confessor, Maria Pilar se retirou de sua própria obra em novembro de 1944, sendo seguida por nove das suas filhas. Em 9 de dezembro viajou até São Sebastião. Durante a viagem, numa noite gélida e por caminhos cobertos de neve, fraturou uma perna num acidente. Um tumor maligno se manifestou e a feriu de morte, mas não conseguiu apagar a luz da sua fé nem a sua firme convicção de que a obra voltaria a ressurgir.

Abandonada das criaturas, prostrada no leito, alentava suas filhas: “Sinto deixá-las, porque as amo muito, mas lá do céu serei mais útil. Voltarei a terra para estar com os que sofrem, com os pobres, os doentes. Quanto mais sozinhas estiverem, mais perto de vocês estarei”.

Morreu em São Sebastião, aos 39 anos, no dia 27 de agosto de 1945, oferecendo a sua vida pelas Filhas que se tinham separado, e que recordava com dor e com carinho: “Amo-as tanto, que não as posso esquecer; embora me batessem, me arrastassem, quisera tê-las aqui. Não quero lembrar-me do mal que me fazem, mas do bem que me fizeram. Bem sabe nosso amado Jesus que mais, muito mais do que me fazem sofrer quero que lhes dê o céu”.

Confiantes nas palavras da Madre, suas filhas permaneceram unidas sob a direção do Pe. Daniel Diez Garcia, que a tinha ajudado e assistido nos últimos anos de sua vida. Em maio de 1948, o bispo Dom Fidel Garcia Martines aprovou a obra canonicamente com o nome de “Obra Missionária de Jesus e Maria”.

Em 1961 foram aprovadas como Congregação de Direito Diocesano e 1981 de Direito Pontifício. A Congregação conta na atualidade com 230 religiosas em diversos pontos da Espanha, Colômbia, Equador, Venezuela, Itália, México e Moçambique.

No dia 4 de novembro de 2001, Madre Maria Pilar foi beatificada por João Paulo II em solene cerimônia.

No mundo atual, onde às vezes prevalece a busca desmedida do prazer e da utilidade imediata, a figura de Madre Maria Pilar Izquierdo, proclama com sublime eloquência o valor redentor do sacrifício, livremente aceite e oferecido, juntamente com o de Cristo, para a salvação da raça humana. A Beata Madre Maria Pilar Izquierdo foi uma verdadeira apóstola da difusão do Evangelho. Com um grupo de seguidoras, consagrou-se ao seu anúncio nos bairros pobres e marginalizados, sedentos de pão e sobretudo de Deus, num período da sua vida em que não lhe faltaram incompreensões de todos os tipos. Ela nunca perdeu o amor pelo sacrifício, e assim é um exemplo luminoso para quantos, mesmo no meio de numerosas dificuldades, consagram a sua vida à causa do Reino dos Céus.

Papa João Paulo II– 05 de novembro de 2001

domingo, 26 de agosto de 2018

26 de agosto - Santa Miriam Baouardy - Maria de Jesus Crucificado


Miriam Baouardy nasceu a 5 de Janeiro de 1846, em Ibillin, numa pequena aldeia da Galileia, entre Nazaré e Haifa, numa família de rito greco-católico. O seus pais perdem, um após outro, os doze filhos em tenra idade. Com profunda dor mas com uma grande confiança em Deus, decidiram fazer uma peregrinação a Belém para rezar na Gruta da Natividade e pedir a graça de uma filha. É assim que Miriam veio ao mundo. No ano seguinte nasce o seu irmão Boulos.

Mas, Miriam não tinha ainda 3 anos quando o seu pai morre confiando-a à fiel custódia de São José. Alguns dias mais tarde morre também a sua mãe. É assim que Boulos é adotado por uma tia e Miriam por um tio de boa condição social.

Dos seus anos de infância na Galileia, guarda na memória, o maravilhar-se diante da beleza da Criação, da luz, das paisagens de onde tudo lhe fala de Deus e do sentimento, muito forte, de que “tudo passa”. 

A experiência de criança é decisiva para sua vida futura: brinca com dois pequenos passarinhos e quer dar-lhes um banho… mas eles não resistem e morrem entre suas mãos. Triste, ouve então interiormente estas palavras: "Vês? É assim que tudo passa, mas se queres dar-me teu coração, Eu ficarei para sempre contigo”.


Aos 8 anos faz sua primeira comunhão. Pouco depois, o seu tio parte para Alexandria com toda a família. 

Miriam tem 12 anos quando sabe que o seu tio a quer casar. Decidida a dar-se totalmente a Deus, recusa a proposta. Tentam persuadi-la e ameaçam-na. Nem as humilhações, nem os maus tratos puderam fazer mudar a sua decisão. Após três meses, ela visita um velho criado da casa do seu tio, para enviar uma carta a seu irmão que vive na Galileia para que a venha ajudar. Ouvindo a narração dos seus sofrimentos, o criado que era muçulmano, exorta-a a converter-se ao Islã. Miriam recusa. Encolerizado, o homem pega uma espada e corta-lhe a garganta, abandonando-a logo em seguida numa rua escura. Era dia 8 de Setembro. 

Mas a sua hora não havia chegado, e ela acorda numa gruta, ao lado de uma jovem que parecia ser uma religiosa. Durante quatro semanas, ela cuida, alimenta e instrui Miriam. Depois de estar curada, aquela que mais tarde ela revelará ser a Virgem Maria, leva-a a uma igreja.

Desde esse dia, Miriam irá de cidade em cidade (Alexandria, Jerusalém, Beirute, Marselha…), como doméstica, elegendo preferencialmente as famílias pobres, ajudando-as, mas deixando-as quando elas a honram demasiado.
Mas ela irá ser também de maneira particular testemunho desse “universo invisível”. Esse universo que nós acreditamos sem ver e que ela experimentou duma maneira muito forte.


Em 1865 Miriam encontra-se em Marselha. Entra em contato com as Irmãs de São José da Aparição. Tem 19 anos, mas só parece ter 12 ou 13. Fala mal o francês e possui uma saúde frágil, mesmo assim é admitida ao noviciado e sua alegria é enorme em se entregar assim a Deus. Sempre disposta aos trabalhos mais pesados, passa a maior parte do seu tempo lavando ou cozinhando. Mas, dois dias por semana revive a Paixão de Jesus, recebe os estigmas (que na sua simplicidade pensa ser uma doença) e começam a manifestar-se todo o tipo de graças extraordinárias. Algumas irmãs ficam desconcertadas com o que se passa com ela, e ao fim de 2 anos de noviciado, não é admitida na Congregação. Um conjunto de circunstâncias vão conduzi-la até ao Carmelo de Pau. 

É recebida em Junho de 1867. Ali, no meio de todas as provas que terá de atravessar, encontrará sempre o amor e a compreensão. Ingressa de novo no noviciado, onde recebe o nome de Irmã Maria de Jesus Crucificado. Insiste em ser admitida como ‘irmã conversa’, pois gosta mais do serviço aos outros, tendo, por outro lado, dificuldades na leitura, nomeadamente na recitação do Oficio Divino. A sua simplicidade e generosidade conquistam o coração de todos. As suas palavras proferidas depois de um êxtase são o fruto da sua vida: "Onde está a caridade ali está Deus. Se pensais em fazer o bem ao vosso irmão, Deus pensará em vós. Se cavais um poço para vosso irmão, caíreis nele; o poço será para vós. Mas, se fazeis um céu para o vosso irmão, esse céu será para vós…”. 

Dom da profecia, ataques do demônio ou êxtases… entre todas as graças divinas das quais está cheia, ela sabe, de maneira muito profunda, ser ‘nada’ diante de Deus, e quando fala dela mesma intitula-se "o pequeno nada", é realmente a expressão profunda de seu ser. É o que a faz penetrar na insondável profundidade da misericórdia divina onde ela encontra a sua alegria, as suas delicias e a sua vida… “A humildade é ser por não ser nada, ela não se apega a nada, ela não se cansa nunca de nada. Está contente, é feliz, onde quer que esteja é feliz, está satisfeita com tudo… Felizes os pequenos!”. Ali está a fonte de seu abandono entre graças mais estranhas e os acontecimentos humanos mais desconcertantes. 

Após 3 anos, em 1870, parte com um pequeno grupo de Irmãs para fundar o primeiro convento de Carmelitas Descalças na Índia, em Mangalore. A viagem de barco foi uma aventura e três religiosas morrem antes de chegarem ao destino. De todos modos, são enviados reforços e, em finais de 1870, pode-se iniciar a vida claustral. As suas experiências extraordinárias continuam sem a impedir de realizar os seus trabalhos mais pesados e de dar atenção aos problemas inerentes a uma nova fundação. Durante os seus êxtases, as Irmãs podiam ver o seu rosto resplandecente na cozinha ou noutro local. Participa em espírito nos acontecimentos da igreja, por exemplo, nas perseguições na China e também parece ser possuída exteriormente pelo demônio, fazendo-lhe viver terríveis tormentos e combates. Foi o começo de muitas incompreensões na sua comunidade, onde duvidaram da autenticidade do que ela vivia. Não obstante, pôde emitir os seus votos no final do noviciado, a 21 de Novembro de 1871; mas as tensões criadas em seu redor acabaram por provocar o seu regresso ao Carmelo de Pau em 1872. 

Naquele lugar leva de novo a sua vida simples de ‘irmã conversa’ no meio do carinho de suas irmãs, e a sua alma dilata-se. Durante alguns êxtases, ela que é quase analfabeta, profere repentinamente em exultação de gratidão até Deus, poesias duma grande beleza, cheias de encanto e candor oriental, onde a criação inteira canta ao seu Criador. Pelo ímpeto da sua alma até Deus, ela elevar-se-á até ao cima de um árvore sobre uma rama que não suportaria nem sequer uma pequenina ave. “Todo o mundo dorme. E Deus, tão repleto de bondade, tão grande, tão digno de louvores, é esquecido!… Ninguém pensa Nele!
Vede, toda a natureza O louva, o céu, as estrelas, as árvores, as ervas, tudo O louva; o homem, que conhece os seus benefícios, que deveria louvá-Lo, dorme!… Vamos, vamos despertar o universo!”


São numerosos os que procuram Miriam para consolo, conselhos, para que reze pelas suas intenções, partem iluminados e fortificados com este encontro. 

Pouco depois de seu regresso de Mangalore, ela começa a falar da fundação de um Carmelo em Belém. Os obstáculos são numerosos, mas dissipam-se progressivamente, inclusive de maneira inesperada. Por fim a autorização é dada por Roma e a 20 de Agosto de 1875 um pequeno grupo de carmelitas embarca para nessa aventura. O Senhor conduz Miriam na escolha do local e na forma de construção do novo Carmelo. Como ela é a única que fala árabe, encarrega-se particularmente de seguir os trabalhos, “imersa na areia e no cimento”. A comunidade instalar-se-á no dia 21 de Novembro de 1876, enquanto que certos trabalhos continuam. 

Prepara também a fundação de um Carmelo em Nazaré, viajando até lá para comprar o terreno, em Agosto de 1878. Durante essa viagem é lhe revelado por Deus o lugar de Emaús. Ela pede a ajuda de Berthe Dartigaux para comprá-lo para o Carmelo.

De volta a Belém, retoma a vigilância dos trabalhos debaixo de um calor sufocante. Quando leva algo para beber aos trabalhadores, Miriam cai de uma escada e parte um braço. A gangrena vai avançar muito rapidamente e morre poucos dias depois, a 26 de agosto de 1878, aos 32 anos.
É beatificada a 13 de Novembro de 1983, pelo Papa João Paulo II e canonizada pelo Papa Francisco em 17 de maio de 2015.