sábado, 28 de fevereiro de 2015

São Romano

Nascido no ano 390, o monge Romano era discípulo de um dos primeiros mosteiros do Ocidente, o de Ainay, próximo a Lion, na França. No século IV, quando nascia a vida monástica no Ocidente, com o intuito de propiciar elementos para a perfeição espiritual assim como para a evolução do progresso, ele se tornou um dos primeiro monges franceses. 

Romano achava as regras do mosteiro muito brandas. Então, com apenas uma Bíblia, o que para ele era o indispensável para viver, sumiu por entre os montes desertos dos arredores da cidade. Ele só foi localizado por seu irmão Lupicino, depois de alguns anos. Romano tinha se tornado um monge completamente solitário e vivia naquelas montanhas que fazem a fronteira da França com a Suíça. Aceitou o irmão como seu aluno e seguidor, apesar de possuírem temperamentos opostos.

A eles se juntaram muitos outros que desejavam ser eremitas. Por isso teve de fundar dois mosteiros masculinos, um em Condat e outro em Lancome. Depois construiu um de clausura, feminino, em Beaume, no qual Romano colocou como abadessa sua irmã. Os três ficaram sob as mesmas e severas regras disciplinares, como Romano achava que seria correto para a vida das comunidades monásticas.


Os dois irmãos dividiam em perfeita harmonia o governo das novas comunidades. Tinham temperamentos completamente opostos: Romano é tolerante e compreensivo e seu irmão, austero e intransigente na observância. Assim, depois de uma colheita excepcional, os monges começaram a relaxar as abstinências. Então Lupicino fez jogar no rio as provisões. Doze monges abandonaram o mosteiro. Romano foi atrás deles e implorou-lhes com lágrimas que voltassem. Também aqui triunfou a sua bondade.  

Consta nos registros da Igreja que, durante uma viagem de Romano ao túmulo de São Maurício, em Genebra, ele e um discípulo que o acompanhava, depois também venerado pela Igreja, chamado Pelade, tiveram de ficar hospedados numa choupana onde havia dois leprosos. Romano os abraçou, solidarizou-se com eles e, na manhã seguinte, os dois estavam curados. 

A tradição, que a Igreja mantém, nos narra que este foi apenas o começo de uma viagem cheia de prodígios e milagres. Depois, voltando dessa peregrinação, Romano viveu recluso, na cela de seu mosteiro e se reencontrou na ansiada solidão. Assim ele morreu, antes de seu irmão e irmã, aos 73 anos de idade, no dia 28 de fevereiro de 463.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Poema de São Gregório de Narek


Numerosas são as minhas ofensas e ultrapassam toda a conta, 
mas nem por isso tão espantosas como a tua misericórdia. 

Múltiplos os meus pecados, mas sempre diminutos, comparados com 
o teu perdão. 

Quem poderá lançar a treva sobre a tua luz divina? 
Poderá uma reduzida obscuridade rivalizar com os teus raios, grande 
como és? 

Poderá a concupiscência do meu frágil corpo ser comparada com a 
Paixão da tua Cruz? 

O que serão aos olhos da tua bondade, Deus Onipotente, os pecados 
de todo o universo? 

São como uma bolha de água que, à queda da tua chuva abundante, 
logo desaparece. 

Tu fazes brilhar o sol sobre os justos e os pecadores e chover sobre 
todos indistintamente. 

Uns vivem em grande paz, na expectativa da recompensa; Mas, 
àqueles que preferiram a terra, perdoas-lhes por misericórdia, e dá-
lhes, como aos primeiros, um remédio de vida, esperando sempre 
que a Ti regressem. 

São Gregório de Narek

São Gregório de Narek, Monge, nasceu em Andzevatsik por volta do ano 950 e faleceu em Narek por volta de 1005. O seu túmulo foi durante muito tempo meta de peregrinações. Os lugares do seu nascimento e morte, hoje pertencentes à Turquia, faziam então parte da Arménia.
Ele foi um grande teólogo e um dos mais importantes poetas da literatura armena. De entre as suas obras destacam-se um Comentário ao Cântico dos Cânticos, numerosos panegíricos e uma recolha de 95 orações em forma de poesia, chamadas “orações de Narek”, do nome do Mosteiro onde viveu em humildade e caridade, empenhado no trabalho e na oração.

Entrou ainda jovem no mosteiro de Narek, governado por Ananias, o Filósofo, seu tio materno. Aí devia passar a vida inteira. Logo que foi ordenado sacerdote, encarregaram-no de formar os noviços e ao mesmo tempo de reformar os conventos vizinhos. Tais encargos, vindo somar-se aos talentos que tinha, valeram-lhe grandes inimizades e perseguições. Acusaram-no de heresia, para o lançar definitivamente na sombra. Na sua biografia é narrado como Deus veio em auxílio do seu poeta:

Entre os teólogos que tinham, os bispos armênios encontraram dois homens inteligentes que mandaram examinar qual era a heresia de Gregório. Estes, nada desejosos de se medir com tão alto espírito, combinaram chegar a Narek numa sexta-feira e oferecem-lhe uns pombos assados.
"Se ele os comer, pensavam, é sinal de que é herege".
Mas, quando lhos apresentaram, Gregório abriu a janela, bateu as mãos e disse aos pombos:
"Ide brincar, meus amiguinhos, o que se come hoje é peixe".
Os animaizinhos ressuscitados voaram logo para as árvores. E os dois teólogos perderam o apetite; prostrando-se de joelhos, pediram a bênção ao santo e despediram-se para ir certificar os seus bispos de que, teologicamente falando, tal prodígio estava acima das leis da natureza, e que um herege não o poderia ter feito.

Fiel à tradição da sua Igreja, Gregório foi um grande devoto de Nossa Senhora que, segundo a lenda, lhe terá aparecido. Fez muitos cânticos à Virgem, entre os quais o “Discurso Panegírico à Beata Virgem Maria” e a Oração 80, intitulada “Do fundo do coração, colóquio com a Mãe de Deus”. Nela, Gregório aprofundou a doutrina da Incarnação, exaltando a excepcional dignidade e a magnifica beleza de Nossa Senhora.
Ele é considerado Doutor pela Igreja Armena. Na Igreja latina é recordado no Martirológio a 27 de Fevereiro, como santo e considerado “insigne pela doutrina, pelos escritos e pela ciência mística”. 

Para São Gregório de Narek, o principal objetivo da vida era a proximidade com Deus, pois só assim a humanidade poderia viver uma vida verdadeiramente plena.
Uma aproximação que era possível não pelo conhecimento mas sim através das emoções, defendia o místico.

Anunciado um novo Doutor da Igreja: São Gregório de Narek

Doutor e Doutora da Igreja (em latim: Doctores Ecclesiæ) são homens e mulheres cujos pensamentos, pregações, escritos e forma de vida enalteceram o cristianismo.

As condições para a declaração de um Doutor da Igreja são três:
Eminens doctrina ("Importância da doutrina")
Insignis vitae sanctitas ("Alto grau de santidade")
Ecclesiae declaratio ("Proclamação da Igreja")

Todos eles foram considerados modelos de santidade e que contribuíram de alguma forma original para a doutrina e espiritualidade católica, tendo sido o título reconhecido quer por um Papa, quer por um concílio (embora nenhum concílio tenha jamais exercido essa prerrogativa); trata-se de uma honra rara (a Igreja conta apenas 35 Doctores Ecclesiæ entre os seus múltiplos santos), atribuída apenas a título póstumo e após a canonização.

O título de Doutor da Igreja não é idêntico ao de Padre da Igreja, que é reservado aos mestres doutrinários dos primeiros séculos, e cuja lista não está ainda oficialmente encerrada; porém, há vários Padres da Igreja (designadamente os orientais) que são também doutores da Igreja.

Originalmente, a lista incluía apenas os grandes teólogos do Ocidente: Ambrósio de Milão, Agostinho de Hipona, Jerônimo  e Gregório Magno, que foram feitos Doutores da Igreja em 1298. Os Padres do Oriente, Atanásio de Alexandria, Basílio Magno, João Crisóstomo e Gregório de Nazianzeno foram declarados Doutores em 1568, simultaneamente com Tomás de Aquino. Desde então a lista tem vindo a engrossar; sendo declaradas doutoras algumas mulheres: Teresa de Ávila, Catarina de Sena e Teresa de Lisieux (também conhecida como Teresa do Menino Jesus). Entre os atuais Doutores da Igreja apenas Catarina de Sena era leiga, sendo os demais todos presbíteros, papas, bispos, diáconos ou religiosos.



Em 2012 o Papa Bento XVI proclamou mais dois doutores da Igreja: São João D’Ávila e Santa Hildegarda.

No dia 23 de fevereiro de 2015  o Papa Francisco anunciou que São Gregório de Narek será declarado Doutor da Igreja Universal. 


Relação dos 35 Doutores e Doutoras da Igreja até esta data:

  1. Santo Atanásio (297-373), Bispo de Alexandria
  2. Santo Hilário de Poitiers (315-368), Bispo de Poitiers
  3. Santo Efrém (306-373) diácono de Edessa
  4. São Basílio, o Grande (329-379) Capadócia
  5. São Cirilo de Jerusalém (315-386), Bispo de Jerusalém
  6. São Gregório Nazianzeno (329-389) Capadócia
  7. Santo Ambrósio (cerca de 340-397), Bispo de Milão
  8. São João Crisóstomo (347-407) Patriarca de Constantinopla
  9. São Jerônimo (342-420) Monge
  10. Santo Agostinho (354-430) Bispo de Hipona
  11. São Cirilo de Alexandria (376-444) Patriarca de Alexandria
  12. São Pedro Crisólogo (c. 406-450), Bispo de Ravena
  13. São Leão Magno (400-461), o Papa
  14. São Gregório Magno (540-604) Papa
  15. Santo Isidoro de Sevilha (560-636), Bispo de Sevilha
  16. São Beda, o Venerável (672-735) monge
  17. São João Damaceno (675-749) monge
  18. São Gregório de Narek (950-1005) monge armênio
  19. São Pedro Damião (1001-1072) beneditino
  20. Santo Anselmo (1033-1109) Arcebispo de Cantuária
  21. São Bernardo de Claraval (1090-1153) cisterciense
  22. Santa Hildegarda de Bingen (1098-1179) monja beneditina 
  23. São Tomás de Aquino (1125-1174) Dominicana
  24. Santo Antônio de Pádua (1195-1231) Franciscano
  25. São Boaventura (1221-1274) Franciscano
  26. Santo Alberto Magno (1206-1280) Dominicano
  27. Santa Catarina de Sena (1347-1380) Dominicano
  28. São João D’Ávila (1499-1569) sacerdote diocesano espanhol
  29. Santa Teresa de Ávila (1515-1582) Carmelita Descalça
  30. São João da Cruz (1542-1591) Carmelita Descalço
  31. São Pedro Canisio (1521-1597) jesuíta
  32. São Lourenço de Brindisi (1559-1619) capuchinho
  33. São Roberto Belarmino (1542-1621) jesuíta
  34. São Francisco de Sales (1567-1622) Bispo de Genebra
  35. Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787) Redentorista
  36. Santa Teresa de Lisieux (1873-1897) Carmelita Descalça

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

São Porfírio de Gaza

São Porfírio nasceu em Tessalônica, na Macedônia. Instruído nas ciências, tendo a idade de 25 anos, retirou-se para a solidão de Scete, onde passou cinco anos numa gruta, nas proximidades do Jordão. A insalubridade do lugar causou-lhe grande mal à saúde, e doente chegou a Jerusalém, onde teve a notícia da morte dos pais. Em sua companhia achava-se um jovem de nome Marco a quem incumbiu de receber a herança, uma grande quantidade de bens e dinheiro, e distribuir tudo entre os pobres. Porfírio, não tendo reservado nada para si, viveu sempre pobre.
                                            
Na visita diária aos Lugares Santos teve uma vez um desmaio que se transformou em visão. Apareceu-lhe Nosso Senhor na Cruz e com ele o Bom Ladrão. Jesus Cristo deu a este um sinal de ajudar Porfírio a levantar-se do chão. O Bom Ladrão estendeu-lhe a mão e disse: “Agradece a teu Salvador tua cura”. No mesmo momento Jesus Cristo desceu da Cruz e entregou-lhe a mesma, com a recomendação de guardá-la bem. Quando o Santo voltou a si, notou que estava perfeitamente curado. O sentido das palavras de Cristo, porém ficou-lhe enigmático, até que o Bispo de Jerusalém o ordenou e o nomeou guarda do santo Lenho.
                                            
Os sacerdotes da diocese de Gaza, tendo perdido o Bispo, insistiram com Porfírio para que aceitasse a direção da sua diocese. Embora sua modéstia quisesse fugir dessa dignidade, à obediência teve de sujeitar-se.
Existiam em Gaza muitos pagãos e um templo magnífico para o culto das divindades. Os idólatras, conhecendo já de antemão o zelo do novo Bispo, principalmente seu ódio ao culto pagão, combinaram matá-lo antes que tomasse posse do rebanho. Este plano ímpio, por qualquer circunstância imprevista, não pôde ser efetuado. Bem se arrependeram da iniqüidade, pois Porfírio, apesar de inimigo do paganismo, pela modéstia, paciência e caridade, soube ganhar os corações dos próprios pagãos.

Um fato extraordinário, que se deu logo no princípio do seu governo, aumentou ainda a confiança e veneração para com o novo Pastor. Uma seca atroz de muitos meses aniquilara as esperanças dos lavradores e o espectro da fome começava a apavorar os ânimos. Nesta expectativa desoladora os sacerdotes de Marnas, a quem era devotado o templo, se dirigiram à sua divindade com preces e sacrifícios, para obter o benefício de uma chuva. Marnas, porém, chuva nenhuma mandou e a seca continuou a assolar a região.
Porfírio, condoído com a miséria pública, ordenou um dia de jejum, organizou uma procissão de penitência a uma capela situada fora da cidade. Apenas recolhida à procissão, caiu uma chuva abundantíssima, refrigerando a terra ressecada. Muitos, diante deste espetáculo e vendo nisto o grande poder do Deus dos cristãos, converteram-se. Outros, porém, encheram-se de inveja e forjaram novos planos malignos contra a vida do santo Bispo e de alguns cristãos.
                                            
Entretanto, veio um édito do imperador Arcádio, ordenando o fechamento dos templos pagãos. Esta ordem foi por muitos funcionários obedecida, por outros não. Assim ficou aberto o templo de Marnas. Porfírio, desejando ardentemente a execução da ordem imperial, conseguiu em Constantinopla a autorização para derrubar o templo em Gaza.
                                            
A influência, porém, de ministros subornados pelos sacerdotes pagãos, fez com que o imperador revogasse a autorização exarada. Não obstante, algum tempo depois, foi publicada nova ordem no mesmo sentido de fechar os templos pagãos, sob pena de os refratários perderem a colocação; mas mesmo assim, o templo não se fechou. A imperatriz Eudóxia prometeu a Porfírio empregar toda a influência junto ao imperador, para conseguir o fechamento e a destruição do templo.  Porfírio, inspirado por Deus, predisse à imperatriz o advento de um filho. Logo que esta profecia se cumpriu, dirigiu-se o Bispo a Constantinopla, para administrar o sacramento do Batismo ao príncipe herdeiro. Aconselhado pela imperatriz, Porfírio redigiu novamente o requerimento ao imperador.
                                            
A petição foi entregue ao monarca logo depois do ato religioso, por assim dizer, pela criança recém – batizada. Arcádio achou-a depositada sobre o peito do filhinho. No momento em que a abria, a pessoa que segurava nos braços a criancinha disse-lhe:
                                            
“Digne-se Vossa Majestade de deferir o requerimento apresentado por seu filho”. O imperador respondeu com sorriso nos lábios: “Como poderia eu negar o primeiro pedido de meu filhinho?” – Imediatamente foi mandado para Gaza um oficial do exército, com ordem estrita de demolir o templo de Marnas. Poucos dias depois, quando Porfírio se aproximou da cidade, os cristãos, seus diocesanos, receberam-no com muita solenidade. O cortejo havia de passar por um lugar onde se achava uma imagem de Vênus, ponto predileto para reuniões de mulheres, que costumavam encontrar-se lá, para tratar projetos de casamentos. Mal o Bispo se achava defronte daquela estátua, quando esta, sem que pessoa alguma lhe tivesse tocado, ruiu por terra, fazendo-se em pedaços. Este fato causou grande sensação e foi o início de muitas conversões. O templo de Marnas desapareceu e em seu lugar se ergueu uma belíssima Igreja, dedicada a Deus vivo e verdadeiro.
                                          
O triunfo de Porfírio sobre a idolatria foi completo. Quando, em 421, Deus o chamou para o descanso eterno, o santo Bispo teve a grande satisfação de ver muito reduzido o número de pagãos em sua diocese.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Santa Valburga

Santa Valburga foi uma das mais populares da Idade Média. Ela nasceu na Inglaterra. Seu pai, Ricardo, possuía um castelo em Dorsetshire; sua mãe, Viana, era piedosa e mãe extremosa. Ambos são venerados como santos pela Igreja. O casal teve três filhos: Vilibaldo, Vinibaldo e Valburga.
     
Vilibaldo foi educado na Abadia de Waltham, perto de Winchester. Vinibaldo, de temperamento menos ativo e mais contemplativo, foi educado em casa. Quando tinha seis anos de idade, nasceu-lhe uma irmã que foi batizada com o nome de Valburga, equivalente no grego a Eucheria, que significa “graciosa”. Muito cedo perderam a mãe e uma amizade muito profunda ligou os dois irmãos.
     
Em 721, Vilibaldo, então com cerca de vinte anos, manifestou o desejo de visitar a Terra Santa. Deixou a abadia com a licença de seu superior e voltou para Dorsetshire para persuadir o irmão a acompanhá-lo na viagem. Ricardo estava enfermo e Vinibaldo não queria deixá-lo só. Sequer mencionou ao pai os planos do irmão mais velho. Mas, este revelou seu plano e tão eloqüente foi, que o pai resolveu acompanhar os filhos na peregrinação.
     
Valburga tinha então 11 anos. Ela sabia, contudo, que as peregrinações exigiam muito dos viajantes que enfrentavam dificuldades e perigos; muitos meses antes que fosse possível receber noticias dos peregrinos; o seu pai era velho, talvez não resistisse aos rigores da penosa e longa peregrinação... Todavia, nada fez para dissuadir seu pai de sua decisão.
     
A Rainha Cuthberga fundara recentemente em Dorsetshire a Abadia de Wimbourne. Esposa do Rei Alfredo, a rainha sentira um chamado para uma dedicação total a Deus e obtivera licença do esposo para se tornar monja. O magnífico mosteiro duplo de Wimbourne tornou-se logo célebre pela santidade de seus habitantes e austeridade da sua disciplina.
     
Ricardo resolveu levar a pequena Valburga para esta abadia, para que dela cuidassem as monjas enquanto ele se ausentava. Ao se despedir de seu pai, Valburga não imaginava que não o tornaria a ver: ele faleceu na Itália, sendo sepultado pelos dois filhos em Lucca.
     
Enquanto seus irmãos abraçavam a vida monástica em Roma, Valburga adotou também o estado religioso, passando vinte e seis anos em Wimbourne.
     
Destes vinte e seis anos pouco se sabe, mas, tendo em vista que o nível intelectual das monjas daquele mosteiro era muito elevado, pois escreviam com fluência o latim e o grego, e com facilidade citavam os clássicos, sendo notáveis suas iluminuras e transcrições de Missas, Sagradas Escrituras, etc., além de bordados em fio de ouro e prata, presume-se que Valburga recebeu sólida instrução e aperfeiçoou-se em todos estes trabalhos.
     
Aconteceu então que São Bonifácio, tio de Valburga, o grande apóstolo da Alemanha, foi a Roma pedir ajuda para o seu trabalho missionário naquela região. O Papa instou Vilibaldo e Vinibaldo a acompanharem o tio.
     
Mais tarde, por meio de uma carta dirigida a Lioba, sua prima, e a Valburga, sua sobrinha, São Bonifácio convidou-as a fundar um mosteiro em sua diocese, para mostrar às mulheres daquela região o exemplo das virgens cristãs. Após breves preparativos Santa Lioba e Santa Valburga, com algumas companheiras, deixaram sua terra natal para devotar suas vidas à conversão da Alemanha.
     
Durante a viagem da Inglaterra para a Alemanha as monjas enfrentaram uma tempestade que obrigou os marinheiros a se desfazerem da carga. Valburga implorou a Deus e, sobrevindo repentina calma, os viajantes desembarcaram sãos e salvos em Antuérpia. Na mais antiga igreja desta cidade há uma gruta onde Santa Valburga costumava rezar enquanto esperava para reiniciarem a viagem. Ela é muito venerada naquela cidade desde sua permanência ali.
     
Vilibaldo fundou o Mosteiro de “Eihstat”, que se tornaria mais tarde a Diocese de Eichstätt. Valburga tornou-se abadessa de um mosteiro beneditino feminino em Heidenheim - morada dos pagãos, em alemão - local onde já se instalara seu irmão Vinibaldo com seus monges. Em breve o significado desse nome perderia o sentido, pois os dois mosteiros converteram gradualmente a aridez espiritual e material da região, e os campos deram abundantes colheitas.
     
À morte de seu irmão, Valburga assumiu a direção do mosteiro masculino que ele dirigira. Ela era muito respeitada e amada ainda em vida. Ela se entregou a Deus de tal forma que os prodígios aconteciam com freqüência. Os mais citados são: o de uma luz sobrenatural que envolveu sua cela enquanto rezava, presenciada por todas as outras religiosas e o da cura da filha de um barão, depois de uma noite de orações ao seu lado. 
     
Santa Valburga foi assistida por seu irmão São Vilibaldo em seus últimos momentos, tendo ele lhe administrado os Sacramentos. Ela faleceu em 25 de fevereiro de 779 e foi sepultada ao lado do irmão Vinibaldo. Cem anos depois, o Bispo Otkar de Eichstätt, resolveu restaurar a igreja e o mosteiro de Heidenheim, e exumou o corpo de Santa Valburga que foi encontrado incorrupto e coberto por um fluido precioso, qual puríssimo óleo. O corpo foi transladado para a Catedral de Eichstätt, e milagrosas curas se operaram durante o trajeto da preciosa relíquia.
     
Há mais de mil anos esta misteriosa umidade oleosa, que é coletada das relíquias de Santa Valburga pelas monjas, vem operando milagrosas curas. Os documentos mais antigos que relatam os milagres atribuídos ao óleo foram escritos entre 893 e 900.
     
Este óleo tornou-se conhecido como "óleo de Santa Valburga" e vem sendo um sinal de sua contínua intercessão. O óleo é colocado pelas religiosas em pequenas ampolas de vidro que são dadas aos peregrinos. Curas atribuídas à intercessão de Santa Valburga acontecem até os nossos dias. 

É considerada protetora contra a raiva e tempestades pelos fiéis.


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Beata Josefa Naval Girbès

Josefa Naval Girbés nasceu em Algemesi, na Ribera del Júcar, a 32 km de Valência, Espanha, no dia 11 de dezembro de 1820, tendo sido batizada no mesmo dia na Igreja de São Tiago Apóstolo, recebendo o nome de Maria Josefa.
     
Seus pais Francisco Naval Carrasco e Josefa Girbés tiveram cinco filhos sendo Josefa a primogênita. Josefa Naval herdou de seus pais grande espírito de fé, ardente caridade, amor ao trabalho e sincero desejo de viver sempre na graça de Deus.
     
Algemesi era um povoado eminentemente agrícola, com quase 8.000 habitantes, uma única paróquia, um convento de Dominicanos, um hospital, escassos centros de instrução e poucas indústrias elementares. Josefa adquiriu uma cultura suficiente para desenvolver-se no meio em que vivia. Aprendeu a bordar, atividade que com tanto acerto ensinou às suas numerosas alunas. Em sua formação religiosa colaborou eficazmente sua mãe.
     
Desde pequena aprendeu a amar à Santíssima Virgem, venerada perto de sua casa no convento dos Padres Dominicanos, e já manifestava um caráter reto, um tanto enérgico, que ela depois administraria em sua atividade apostólica. Fez sua Primeira Comunhão quando apenas contava com nove anos, fato incomum na época.
     
Sua mãe morreu quando ela tinha treze anos. A Virgem inspirou-lhe que nunca a abandonaria. Com seu pai e três de seus irmãos (os outros faleceram em tenra idade) Josefa foi viver com sua avó materna.
     
Em 1847, quando sua avó faleceu, Josefa tornou-se a perfeita “dona” da casa na qual viviam o pai, o tio, mantenedores econômicos, e os irmãos Vicente de 20 anos e Maria Joaquina de 22. Josefa cuidou com dedicação do tio e do pai nos seus últimos anos de vida. O pai faleceu quando Josefa tinha 42 anos,
     
Mas sua vida não era dedicada somente à família: frequentava com assiduidade a paróquia vizinha, comungava todos os dias, colocou-se sob a direção espiritual do pároco Pe. Gaspare Silvestre. Aos 18 anos, no dia 4 de dezembro de 1838, escolheu Jesus como seu esposo e a Ele consagrou para sempre sua virgindade; praticou os três princípios:obediência, laboriosidade, perseverança, fazendo deles uma norma de vida.
     
Josefa ensinava os pobres, aconselhava os que a ela se dirigiam, restaurava a paz nas famílias desunidas, organizava reuniões em sua casa com o fim de ajudar as mães em sua formação cristã, encaminhava as mulheres que haviam se afastado do reto caminho e com prudência admoestava os pecadores. Além disso, cuidava da confecção, conservação e limpeza dos ornamentos litúrgicos e do adorno dos altares.
     
Seus trabalhos eram intercalados de leituras piedosas, orações, jaculatórias, meditação, recitação do Rosário. Viveu sempre unida às dores de Cristo: ao sofrimento redentor de Nosso Senhor uniu os seus, as dores de cabeça que sofreu desde os trinta anos até sua morte e as penitências, inclusive materiais, como jejuns e cilícios, que se impunha e eram autorizadas por seus diretores espirituais.
     
A obra na qual concentrou todos os seus cuidados e energias foi a da educação religiosa e humana das jovens, para as quais abriu em sua casa uma escola gratuita de bordado, atividade manual em que era muito habilidosa. Aquela atividade, à qual acudiam muitas jovens de todas as esferas sociais, se converteu em um centro de convivência fraterna, oração, louvor a Deus, explicação e aprofundamento da Sagrada Escritura e das verdades eternas.
     
A jornada diária de Josefa era muito apertada: levantava muito cedo para assistir a primeira Missa da paróquia, comungava e fazia oração mental; a seguir dedicava algum tempo à limpeza; o horário da escola-oficina era das 9 as 12 e das 14 às 18 horas.
     
Consciente das dificuldades que se opõem à perfeição, dizia a suas alunas: “Filhas minhas, não temos que temer demasiadamente as dificuldades do caminho que temos empreendido; é verdade que esse caminho é pedregoso e está cheio de trabalhos e privações, porém também é certo que nosso Divino Capitão o trilhou durante sua vida, paixão e morte”.
     
Josefa primava pela confiança em Deus e a infundia às suas alunas: “Que nenhuma de vocês desconfie à vista de seus muitos pecados; nossa confiança não se apóia no que nós somos, senão no que Deus é e no amor misericordioso que Ele nos tem”.
     
Terminada a jornada de trabalho, para dar prosseguimento à sua formação espiritual, as alunas mais seletas permaneciam de ordinário no jardim da casa. Deste grupo escolhido saíram tantas jovens religiosas, que o Cardeal Guisasola, Arcebispo de Valência, em visita pastoral a Algemesi perguntou cheio de admiração: “Que povo é este que tem tantas religiosas em todos os conventos de nossa arquidiocese?”.
     
Amante da pureza, que ela mesma vivia plenamente, recomendava às jovens: “Sede limpas, asseadas no modo de vestir, sede muito honestas como a Virgem. Todas as virtudes embelezam a alma, porém, a pureza a embeleza de um modo especial, fazendo-a semelhante aos anjos”.
     
Josefa entretanto não descuidou das jovens inclinadas ao matrimônio; a elas dedicou tempo e esforço. De sua escola saíram excelentes esposas e mães de família. Dizia: “Haveis de levar vossa cruz e cumprir o próprio dever como Deus manda: as solteiras, como solteiras; as casadas, como casadas”.
     
A caridade de Josefa brilhou na epidemia de cólera de 1885, quando contava 65 anos. Ela e algumas de suas alunas se dedicaram a atender aos empestados que estavam sozinhos e, portanto, os mais necessitados de ajuda.
     
Josefa amou profundamente a Igreja e infundia esse amor àqueles que se acercavam dela: “Amemos a Igreja a que pertencemos e aproveitemo-nos de seus meios de santificação”.
Ela viveu e morreu em um século difícil para a Igreja. Dois Papas sofreram exílio da cidade de Roma; perderam-se os Estados Pontifícios, o movimento trabalhista se instalou com virulência implacável contra o Catolicismo. Consciente do que ocorria, Josefa sofreu com a Igreja e compartilhou suas alegrias: exultou com a declaração do dogma da Imaculada Conceição.
     
Por tudo isso, ganhou grande estima e fama de santidade entre o clero e o povo, inclusive depois de sua morte.
     
Uma doença crônica a manteve no leito por 15 dias em fevereiro de 1893. Rodeada de suas filhas espirituais, piedosamente faleceu em 24 de fevereiro de 1893.   
     
Vestida com o hábito da Ordem Terceira do Carmo, seu venerável corpo foi depositado em um humilde ataúde. Josefa foi depositada em um nicho adquirido por Josefa Esteve Trull, sua discípula predileta. Ali permaneceu incorrupto até 20 de outubro de 1946, quando foi transladado para a paróquia Basílica de São Tiago de Algemesi.
     
A causa para sua beatificação foi introduzida em Roma a 27 de janeiro de 1952, e a cerimônia de beatificação foi celebrada em Roma no dia 25 de setembro de 1988.

     
Sua celebração litúrgica é 24 de fevereiro; os Carmelitas Descalços celebram sua memória em 6 de novembro.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

A Igreja de Cristo ergue-se na firmeza da fé do apóstolo Pedro

"Dentre todos os homens do mundo, Pedro foi o único escolhido para estar à frente de todos os povos chamados à fé, de todos os apóstolos e de todos os padres da Igreja. Embora no povo de Deus haja muitos sacerdotes e pastores, na verdade, Pedro é o verdadeiro guia de todos aqueles que têm Cristo como chefe supremo. Deus dignou-se conceder a este homem, caríssimos filhos, uma grande e admirável participação no seu poder. E se ele quis que os outros chefes da Igreja tivessem com Pedro algo em comum, foi por intermédio do mesmo Pedro que isso lhes foi concedido.

A todos os apóstolos o Senhor pergunta qual a opinião que os homens têm a seu respeito; e a resposta de todos revela de modo unânime as hesitações da ignorância humana.
 Mas, quando procura saber o pensamento dos discípulos, o primeiro a reconhecer o Senhor é o primeiro na dignidade apostólica. Tendo ele dito: Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo, Jesus lhe respondeu: Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu (Mt 16,16-17). Quer dizer, és feliz, porque o meu Pai te ensinou, e a opinião humana não te iludiu, mas a inspiração do céu te instruiu; não foi um ser humano que me revelou a ti, mas sim aquele de quem sou o Filho unigênito.

Por isso eu te digo, acrescentou, como o Pai te manifestou a minha divindade, também eu te revelo a tua dignidade: Tu és Pedro (Mt 16,18). Isto significa que eu sou a pedra
 inquebrantável, a pedra principal que de dois povos faço um só (cf. Ef 2,20.14), o fundamento sobre o qual ninguém pode colocar outro. Todavia, tu também és pedra, porque és solidário com a minha força. Desse modo, o poder, que me é próprio por prerrogativa pessoal, te será dado pela participação comigo.

E sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la (Mt 16,18). Sobre esta fortaleza, construirei um templo eterno. A minha Igreja destinada a elevar-se até ao céu deverá apoiar-se sobre a solidez da fé de Pedro.

O poder do inferno não impedirá esse testemunho, os grilhões da morte não o prenderão;
porque essa palavra é palavra de vida. E assim como conduz aos céus os que a proclamam, também precipita no inferno os que a negam.

Por isso, foi dito a São Pedro: Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra, será desligado nos céus  (Mt16,19).

Na verdade, o direito de exercer esse poder passou também para os outros apóstolos, e o
dispositivo desse decreto atingiu todos os príncipes da Igreja. Mas não é sem razão que é
confiado a um só o que é comunicado a todos. O poder é dado a Pedro de modo singular,
porque a sua dignidade é superior à de todos os que governam a Igreja."

São Leão Magno - Papa


sábado, 21 de fevereiro de 2015

Milagre Eucarístico narrado por São Pedro Damião

Pedro Damião, Doutor da Igreja, foi ordenado sacerdote no Êrmo de Fonte Avellana. O Milagre Eucarístico que relatamos é narrado num dos seus escritos (Opuscul. XXXVI; patrol. lat. tom CXLV, col. 573):

“Este acontecimento Eucarístico é de grande importância. Aconteceu no ano de 1050. Uma mulher, cedendo a idéias abomináveis, roubou o Pão Eucarístico para fazer um malefício. Mas um sacerdote percebeu o que tinha acontecido,
encurralou a mulher e recuperou a Hóstia evitando o furto sacrílego. Ele, então, abrindo o linho branco que envolvia a Hóstia Santa, viu que a metade da Hóstia tinha se transformado no Corpo do Senhor e a outra metade permaneceu com a sua forma natural de Partícula. Deus quer, com um testemunho tão evidente, vencer a incredulidade e a heresia dos que não querem aceitar a Presença Real de Cristo no Mistério Eucarístico: numa metade do pão consagrado era visível o Corpo do Senhor, na outra a sua forma natural para evidenciar assim, a realidade da transubstanciação sacramental que acontece na consagração”

São Pedro Damião

São Pedro Damião, Cardeal e Doutor da Igreja nasceu pelos fins do ano 1006, ou em começo de 1007, em Ravena. Pedro perdeu os pais muito cedo e ficou debaixo das ordens de um irmão mais velho, que o tratava com muita dureza e sem a menor caridade, foi colocado para cuidar dos porcos.

Tendo 10 anos, a sorte de Pedro melhorou. Um outro irmão, também de nome Damião, que morava em Ravena, recebeu-o em casa, introduzindo-o no estudo das ciências e foi para ele um pai carinhoso. Para mostrar-lhe a gratidão, Pedro adotou o cognome de Damião. Durante alguns anos, teve por professores esse irmão e um outro sacerdote. Mais tarde continuou os estudos em Faenza e Parma.

Nesta última cidade e depois em Ravena exerceu o cargo de professor. Tendo 28 anos, fez-se monge do eremitério de Fonte Avelana, na diocese de Faenza. Com dedicação a mais extremada trabalhou na sua santificação, lançando os alicerces de uma vida ascética, que não mais largou até à morte. Diversos outros mosteiros convidaram a Pedro para pregações e para reformá-los em seu espírito.

Morto o prior de Fonte Avelana, foi Pedro eleito seu sucessor. Como Superior, dirigiu toda a atenção à formação de um bom espírito ascético nas comunidades.

Pedro não podia ficar indiferente diante da situação triste em que se achava a Igreja Católica. A Sé apostólica tinha se tornado objeto de aspirações ambiciosas e achava-se em certa pendência da casa imperial da Alemanha. Em condições análogas estavam as dignidades eclesiásticas na Itália, França e Alemanha. Os prepotentes da política vendiam-nas a troco de dinheiro, ou davam-na às suas criaturas. Grande parte do clero tinha-se esquecido de sua alta missão e estava entregue ao vício da simonia ou nicolaitismo. O povo cristão estava sem guias e o espírito da impiedade alastrava-se cada vez mais.
                                             
Pedro Damião se opôs com toda a força a este estado de coisas. Pôs-se em comunicação direta com os Papas Gregório VI, Clemente II, Leão IX, Estevão IX, e Nicolau II e conseguiu que se abrisse forte campanha contra os dois abusos, que tanto prejudicavam a obra de cristo na terra.
                                             
Ele mesmo escreveu duas monografias, em que tratou das duas chagas perniciosas no corpo da Igreja. A segunda publicação, contra o nicolaitismo, criou-lhe muitos adversários, por causa do assunto, e do modo franco e enérgico com que desvendou e atacou o mal.
                                             
O Papa Estevão IX, porém, nomeou o autor Cardeal-Bispo de Ostia, dignidade a que se achava ligada outra, de decano do Colégio cardinalício. Para que Pedro Damião se resolvesse a aceitar a púrpura foi preciso o Papa ameaçá-lo de excomunhão.
                                             
Grandiosa foi a atividade de Pedro Damião na reforma religiosa, em muitas dioceses. Comissões dificílimas e bem melindrosas foram-lhe confiadas pelos Papas e sua prudência,  energia e caridade conseguiram os mais brilhantes resultados. Foi este o motivo porque os Papas tão pouca disposição mostraram de aceitar-lhe o reiterado pedido de exoneração, para poder voltar ao querido eremitério. Muito bem fez a Santa Sé em não se ter privado da cooperação de tão hábil diplomata e santo reformador.
                                             
Em muitas questões difíceis e melindrosas, quer entre diocesanos e a autoridade diocesana, quer entre religiosos e Bispos, era-lhe decisivo o arbítrio.
                                             
Tendo 67 anos de idade, foi enviado ao “Reichstag” de Francfurt para, na qualidade de delegado pontifício, protestar contra o projeto do imperador Henrique IV, de divorciar-se da legítima mulher.
                                             
O Arcebispo de Ravena tinha incorrido na excomunhão e morrido sem absolvição. Reinava na cidade  forte animosidade contra Roma. Pedro Damião acalmou os espíritos e restabeleceu a paz. Foi esta a última obra do Santo na sua vida. Ansioso por procurar o merecido descanso em Fonte Avelana, morreu na viagem, em Faenza, no ano de 1089, tendo 83 anos de idade.
                                             
São Pedro Damião é enumerado entre as figuras clericais mais eminentes de todos os tempos. Foi grande como sábio, religioso, sacerdote e cardeal. Admiráveis e fora do comum eram-lhe os conhecimentos, principalmente da jurisprudência; admirável era a franqueza apostólica, com que profligava os vícios do tempo; admirável a austeridade e santidade de sua vida; admirável a piedade e zelo sacerdotal; admirável enfim, a dedicação incondicional à Santa Sé e o entusiasmo e atividade pela prosperidade da Igreja.

O corpo do grande Santo descansa na Igreja dos Cistercienses, em Faenza. Leão XII deu a S. Pedro o título honroso de Doutor da Igreja.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Santo Eleutério de Tournai

Eleutério – cujo nome significa Libertador – nasceu no ano de 456 na cidade de Tournai, França. São Gregório de Tours, que foi um dos primeiros historiadores da Igreja da França, narrou que na infância enquanto Eleutério brincava com os amiguinhos, um deles lhe disse que iria chegar a ser um bispo. Não foi um aviso profético. Certamente foi um gracejo maldoso, pois na sua época, as responsabilidades desta função geralmente incluíam ameaças de morte. 

Ele viveu num período conturbado da história da França, que ainda estava sendo evangelizada, e sentia o domínio dos povos do norte europeu. Foi alvo de sucessivas invasões, ora dos visigodos ora dos burgundis, ainda pagãos, que só obedeciam à força militar, identificada na pessoa do rei ou dos generais. Assim, tornou-se, em parte, um território dos Francos, cujo rei era Clodoveo, também pagão.

Eleutério seguiu a carreira eclesiástica, desenvolvendo sua ação pastoral neste campo.
Chegou de fato a ser eleito bispo, o primeiro da diocese de Tournai, da qual foi o desbravador, que com imenso sacrifício, mas vencendo as dificuldades, fixou as bases para a futura grandeza daquela diocese. Somou-se ao incessante esforço da Igreja da França pela conversão dos povos recém-migrados, começando com o rei Clodoveo e a rainha Clotilde, que ele conseguiu converter com ajuda do amigo, também santo, bispo Remígio, de Reims. 

Naquela época, era muito difícil organizar uma diocese com estruturas mínimas de clero, igrejas, centro de evangelização. O trabalho mais árduo era criar o espírito pacífico entre os habitantes da região, que viveram grande parte do tempo em confrontos por um pedaço de terra onde sobreviver.
Além disto, havia a complicada questão das conversões em massa, que se desencadeava a partir da conversão do rei. Confundindo nação com religião, a maioria da população queria se converter também. Deste modo, as conversões não eram bem feitas, a maioria era puramente exterior, ou apenas uma questão de política, não modificavam o interior das pessoas. 

Mas, o bispo Eleutério conseguiu com poucos padres e monges, fazer uma evangelização sólida e bem feita, durante os dez anos que dirigiu aquela Igreja. Foi um verdadeiro operário de Cristo, tenaz, zeloso, enérgico, vigilante contra as heresias e bondoso na tarefa de conversão dos pagãos. Mesmo assim, Eleutério foi vítima de uma conspiração, morrendo como mártir em 531, na sua querida Tournai.

Os restos mortais deste humilde bispo, foram guardados numa urna na Catedral de Tournai e o local se tornou meta de peregrinação. A cidade de Tournai esta situada hoje na Bélgica e se destaca como uma das maiores dioceses do mundo. A igreja canonizou Santo Eleutério designando o dia 20 de fevereiro para a sua festa, data em que a Catedral foi dedicada a ele.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Santa Lucia Yi Zhenmei

O Cristianismo foi anunciado na China do século V ao inicio do século VII, quando foi ereta a primeira igreja. Graças ao profundo espírito de religiosidade dos chineses, o Cristianismo floresceu naquele imenso país. No século XIII constituiu-se a primeira missão católica com sede episcopal em Belfin.
     
A partir do século XVI, quando a comunicação entre o Oriente e o Ocidente passara a ser mais freqüente, a Igreja Católica pretendeu intensificar a evangelização e enviou vários missionários escolhidos com cuidado, entre os quais o jesuíta Mateus Ricci, para instaurar relações religiosas e também sociais e científicas.

Em 1591, o excelente trabalho destes pioneiros levou o imperador “filho do céu” K'ang Hsi a assinar o primeiro decreto de liberdade religiosa, que permitia aos súditos aderirem ao Cristianismo. Os missionários podiam pregar por toda parte, alcançando milhares de conversões e chineses batizados.

Mas, a partir da primeira década do século XVII as coisas mudaram. A penosa questão dos “ritos chineses” irritou o imperador e a forte influência do vizinho Japão, hostil ao Cristianismo, deram margem às perseguições que aberta ou veladamente, em sucessivas ondas até a metade do século XIX, resultaram na morte de muitos missionários e de inúmeros fieis leigos chineses, e a destruição de várias igrejas.

São Francisco Fernandez de Capillas, da Ordem dos Pregadores, martirizado em 1648, é considerado como o Protomártir da China; foi o primeiro de uma longa lista de mártires missionários ocidentais, pertencentes a várias Ordens Religiosas, como os Dominicanos, os Franciscanos, os Agostinianos, e sacerdotes da Missão de Paris, os Lazaristas, as Franciscanas Missionárias de Maria. Pelo fim do longo período de perseguições também os Jesuítas, desde o início respeitados, sofreram o martírio em julho de 1900; os Salesianos de Dom Bosco tiveram dois mártires, Santos Luis Versiglia e Calisto Caravario, em 1930.

Os fieis leigos, dos quais muitos apostataram com medo das perseguições, souberam resistir e testemunharam com seu sangue a fidelidade a Cristo. Entre estes figuram catequistas leigos, tanto homens como mulheres, que davam aos catecúmenos exemplo de entusiasmo, de fidelidade a Igreja Católica, aos missionários, sofrendo até o martírio com eles.

Destes numerosíssimos mártires religiosos e leigos, 120 foram canonizados em 1º de outubro de 2000 por João Paulo II  e dentre os milhares de mártires chineses, destacou-se uma humilde leiga chinesa Lucia Yi Zhenmei, para representar aqueles que como ela souberam enfrentar os tormentos e a morte infringidos por seus compatriotas, especialmente os famigerados “boxers”, que por motivos políticos e econômicos, ou de intolerância e inveja dos bonzos, desencadearam as longas e sanguinolentas perseguições contra “a religião dos estrangeiros odientos”.

Lucia Yi Zhenmei nasceu no dia 17 de janeiro de 1815 em Mainyang, Sichuan, última de cinco irmãos. O pai era um católico convertido há pouco do budismo.
     
Com 12 anos adotou o nome de Lucia e se consagrou ao Senhor, mas os pais, segundo o uso, a haviam prometido em casamento. Não sabendo como livrar-se da situação, Yi Lucia se finge se boba, conseguindo assim desfazer acordos matrimoniais futuros.
     
Retomou os estudos para tornar-se professora e ao mesmo tempo pode dedicar-se ao progresso de sua vida espiritual.
     
Os missionários católicos lhe deram o encargo de ensinar catecismo. Seus dias transcorriam serenos entre os afazeres domésticos, o atendimento dos enfermos e o ensino do catecismo.
     
Quando adulta, decidiu se separar da família e passou a viver com as irmãs missionárias. Uma grave enfermidade a obrigou a retornar para sua casa. Naquela ocasião pessoas malévolas lançaram dúvidas sobre sua moral, levando até a superiora a acreditar nelas. Os seus familiares quiseram vingar-se, mas ela se opôs suportando tudo com paciência.
     
Posteriormente foi chamada pelo bispo de Kweichow que lhe deu o cargo de catequista da aldeia do Vicariato. Superando as dificuldades postas pela família, que temiam novos perigos para ela, Lucia Yi Zhenmei logo se entrega ao trabalho, coadjuvando a obra missionária do Padre João Pedro Néel, da Missão de Paris, ele também mártir e proclamado santo em outubro de 2000.
     
Durante a perseguição desencadeada pela seita “Ninfa Branca”, foi presa pelos soldados. Durante o interrogatório lhe fizeram propostas vantajosas se renunciasse a religião católica – a proposta era apoiada também pelo ex noivo, que havia conservado afeto e estima por ela.
     
Lucia com firmeza recusou e por isso foi condenada a decapitação. Aceitou com dignidade a condenação, rebelando-se somente quando quiseram despojá-la das vestes antes da sentença, conseguindo evitar tal humilhação.
     
Foi decapitada no dia 19 de fevereiro de 1861 em Kaiyang, Guizhou, tinha 47 anos. Nos dias 18 e 19 foram mortos também o Padre Néel, três homens catequistas.
     
Seu chapéu, banhado de sangue, foi levado para casa e ao ser colocado sobre o corpo de sua sobrinha Paula, gravemente enferma, esta se restabeleceu imediatamente.
     
Foi declarada venerável com o grupo de mártires de Guizhou em 2 de agosto de 1908 e beatificada em 2 de maio de 1909 por São Pio X. A sua festa com o grupo de Guizhou é no dia 19 de fevereiro e, no dia 9 de julho, com todos os 120 mártires canonizados no dia 1º de outubro de 2000.


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Campanha da Fraternidade: "Eu vim para servir"


A Igreja recebeu de Jesus o mandato missionário: “Ide, pois, fazei discípulos de todos os
povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado.” (Mt 28,19-20)

Esta é a sua vocação e a sua missão!

A Campanha da Fraternidade “Fraternidade: Igreja e Sociedade” deseja no tempo da Quaresma recordar a vocação e a missão de todo o cristão, das nossas comunidades de fé e aprofundar o diálogo e colaboração entre Igreja e Sociedade.

Igreja, presente na realidade da humanidade; Igreja, os que crêem vivendo “no meio das casas dos seus filhos e das suas filhas”. Uma Igreja ativa na sociedade.
Os batizados são parte da Sociedade – vivem a sua fé na sociedade. Testemunham os valores e deixam-se guiar pelos critérios do Evangelho.

Somos uma Igreja em saída, que vai ao encontro dos afastados e excluídos, como Jesus, que lavou os pés aos seus discípulos, queremos nos colocar de joelhos diante dos outros para lhes lavar os pés, indo ao encontro das pessoas acolhendo-as nas dores e sofrimentos.

A Igreja Católica tem como missão o serviço à Sociedade em favor do bem integral da pessoa humana.

A história da sociedade brasileira traz as marcas do serviço da Igreja aos mais necessitados. Quando inexistia a política social do estado, a evangelização suscitou iniciativas e associações para educar as crianças, suprir a fome, atender dos doentes, promover lar para os abandonados, cuidar dos idosos, criando colégios, hospitais, orfanatos e inúmeras obras sociais.

O Papa Francisco chama todos os batizados a uma conversão missionária: uma Igreja em saída para testemunhar a alegria do Evangelho, da vida em Jesus Cristo.

É uma relação que existe entre a missão própria da Igreja e a responsabilidade que ela tem de colaborar com a Sociedade. Por meio de cada um de seus membros a Igreja pode ajudar a tornar mais humana a família humana.

Existe uma profunda ligação entre evangelização e promoção humana, colocando à disposição dos homens as forças salvadoras que recebe de Cristo, propõe salvar a pessoa humana integralmente a partir do bem comum.

Não obstante a finalidade da Igreja ser de ordem religiosa, a dimensão social lhe é inerente.

“O serviço da caridade é uma dimensão constitutiva da missão da Igreja e expressão irrenunciável da sua própria essência.” Papa Bento XVI

Beato João de Fiesole - Fra Angélico

Guido de Pietro, nasceu em 1387, na cidade de Mugelo, na Toscana, Itália. Até ao final da juventude foi pintor de quadros na cidade de Florença, quando se ouviu o chamado de Deus para a vida religiosa.

Em 1417, ingressou na congregação de São Nicolau, onde permaneceu por três anos.
Depois, junto com seu irmão Bento, foi para o convento dominicano de Fiesole, no qual se ordenou sacerdote adotando o nome de João.
A ação dos seus dons de santo e de artista, desenvolveu-se de forma harmoniosa no clima de alta perfeição espiritual e intelectual, encontrado no convento.

Assim pode fazer da pintura a sua principal obra evangelizadora, ao se tornar um Frade Predicador desta Ordem.
Os frades diziam que suas obras refletiam tanta serenidade que pareciam pintadas por anjos. Recebeu o apelido de Angélico também pelo valor teológico de suas pinturas. Ele dizia que, para pintar suas obras, inspirava-se na doutrina teológica de São Tomás de Aquino (1225-1274), chamado também de Doutor Angélico. 

“Poderia ter sido rico, mas não se importava. Dizia que a verdadeira riqueza não era outra que contentar-se com pouco”, este frade-pintor foi um dom magnífico feito por Deus para a Ordem, pois deu também um imenso auxílio financeiro aos co-irmãos, porque, obedecendo ao voto de pobreza, destinou à Ordem todos os seus ganhos como artista, que eram tão expressivos quanto a sua genialidade. 

A santa austeridade, os estudos profundos, a perene elevação da alma a Deus, mediante as orações contemplativas, apuraram o seu espírito e lhe abriram horizontes ocultos. 
Com este preparo e com seus mágicos pincéis, pode proporcionar a todos o fruto da própria contemplação, representando o mais sagrado dos poemas, a divina redenção humana pela Paixão de Jesus Cristo. 

As suas pinturas são uma oração que ressoa através dos séculos. Esta alma de uma simplicidade evangélica, soube viver com o coração no céu, consagrando-se num incessante trabalho. 

Entre 1425 e1438, viveu retirado, onde retomou o trabalho pintando os frescos de quase todos os altares da igreja do convento de Fiesole. 
Depois foi a vez do convento de São Marcos, em Florença, onde deixou suas obras impressas nos corredores, celas, bibliotecas, claustros, ao longo de seis anos.

A partir de 1445 foi para Roma, onde trabalhou para dois papas: Eugênio IV e Nicolau V. Este último, tentou consagrá-lo bispo de Florença, mas Fra Angélico recusou com firmeza, indicando outro irmão dominicano. 

Regressou  ao convento de Fiesole, cinco anos depois, no qual foi eleito o diretor geral. Ali trabalhou com seu irmão Bento, que o nomeou inicialmente como seu secretário e depois conseguiu que fosse eleito seu sucessor, em 1452. 

Frei João de Fiesole, voltou para Roma, onde morreu no dia 18 de fevereiro de 1455. 

Fra Angélico, que nunca executou uma obra, sem antes rezar uma oração. Quando pintava os crucifixos ou o rosto sofredor de Jesus durante a Paixão, chorava de emoção devido a sua grande bondade e sensibilidade espiritual.

Foi beatificado pelo papa João Paulo II em 1982, que indicou sua festa litúrgica para o dia de sua morte.

Até porque, muito antes, a sua sepultura no convento de Santa Maria sobre Minerva se tornara o local escolhido pelos peregrinos que desejavam prestar-lhe homenagem, não tanto devido à sua genialidade artística, que podia ser apreciada nos museus do mundo, como por seu caráter sincero carregado de profunda santidade.

Dois anos depois, o mesmo pontífice o declarou "Padroeiro Universal dos Artistas", uma honra pela sua obra evangelizadora que promoveu a arte sacra através dos séculos.

Sua obra mais conhecida é a Anunciação, que se encontra no Museu do Prado, em Madri.