sábado, 31 de março de 2018

31 de março - Vigília Pascal


Esta é uma noite de vigília.
Não dorme o Senhor, vigia o Guardião do seu povo (cf. Sl 121/120, 4) para fazê-lo sair da escravidão e abrir-lhe a estrada da liberdade.

O Senhor vigia e, com a força do seu amor, faz passar o povo através do Mar Vermelho; e faz passar Jesus através do abismo da morte e da mansão dos mortos.

Foi uma noite de vigília para os discípulos e as discípulas de Jesus. Noite de desolação e de medo. Os homens permaneceram fechados no Cenáculo. As mulheres, ao contrário, ao alvorecer do dia depois do sábado foram ao sepulcro para ungir o corpo de Jesus. Tinham o coração cheio de angústia e perguntavam-se: “Como faremos para entrar? Quem nos fará rolar a pedra do sepulcro?” Mas eis o primeiro sinal do Evento: a grande pedra  fora removida e o túmulo estava aberto!

“Entrando no sepulcro, viram um jovem sentado à direita, vestido com uma túnica branca” (Mc 16, 5). As mulheres foram as primeiras a ver este grande sinal: o túmulo vazio; e foram as primeiras a entrar nele.

“Entrando no sepulcro”. Faz-nos bem, nesta noite de vigília, deter-nos a refletir sobre a experiência das discípulas de Jesus, que nos interpela a nós também. Realmente é para isto que estamos aqui: para entrarentrar no Mistério que Deus realizou com a sua vigília de amor.

Não se pode viver a Páscoa, sem entrar no mistério. Não é um fato intelectual, não é só conhecer, ler... É mais, é muito mais!

“Entrar no mistério” significa capacidade de estupefacção, de contemplação; capacidade de escutar o silêncio e ouvir o sussurro de um fio de silêncio sonoro em que Deus nos fala (cf. 1 Re 19, 12).

Entrar no mistério requer de nós que não tenhamos medo da realidade: não nos fechemos em nós mesmos, não fujamos perante aquilo que não entendemos, não fechemos os olhos diante dos problemas, não os neguemos, não eliminemos as questões...

Entrar no mistério significa ir além da comodidade das próprias seguranças, além da preguiça e da indiferença que nos paralisam, e pôr-se à procura da verdade, da beleza e do amor, buscar um sentido não óbvio, uma resposta não banal para as questões que põem em crise a nossa fé, a nossa lealdade e nossa razão.

Para entrar no mistério, é preciso humildade, a humildade de rebaixar-se, de descer do pedestal do meu eu tão orgulhoso, da nossa presunção; a humildade de se reajustar, reconhecendo o que realmente somos: criaturas, com valores e defeitos, pecadores necessitados de perdão. Para entrar no mistério, é preciso este abaixamento que é impotência, esvaziamento das próprias idolatrias, adoração. Sem adorar, não se pode entrar no mistério.

Tudo isto nos ensinam as mulheres discípulas de Jesus. Elas estiveram de vigia naquela noite, juntamente com a Mãe. E Ela, a Virgem Mãe, ajudou-as a não perderem a fé nem a esperança. Deste modo, não ficaram prisioneiras do medo e da angústia, mas às primeiras luzes da aurora saíram, levando na mão os seus perfumes e com o coração perfumado de amor. Saíram e encontraram o sepulcro aberto. E entraram. Vigiaram, saíram e entraram no Mistério. Aprendamos com elas a vigiar com Deus e com Maria, nossa Mãe, para entrar no Mistério que nos faz passar da morte à vida.

Papa Francisco - 04 de abril de 2015

Hoje celebramos:
São Guido de Pomposa
Beata Natalia Tulasiewicz

31 de março - Beata Joana de Toulouse


A Beata Joana de Toulouse, de família nobre, nasceu no Reino de Navarra, e decidiu viver reclusa, no convento carmelita de Toulouse (França), onde se distinguiu por sua austeridade.

Joana amava falar das coisas celestes com os jovens religiosos e rezava muito por eles, o que por sua vez lhe trazia grande proveito espiritual. Isto não nos causa estranheza, pois a Beata viveu antes mesmo da clausura assumir a estrutura que nos séculos posteriores adquiriu.

Embora o seu culto seja oficial, as informações sobre ela são muito escassas a ponto de não se saber as datas exatas de nascimento e de morte.

A sua vida pode ser colocada entre os séculos XIV e XV, pois o seu nome não aparece nos catálogos dos santos carmelitas da segunda metade do século XIV, nem na lista dos santos da Ordem redigida por João Grossi, falecido em 1437, da província carmelitana de Toulouse.

Joana é citada ao mesmo tempo como terciária e como monja; não é de se excluir que tenha professado a regra carmelitana, como fizeram outras mulheres "conversas" suas contemporâneas.  Após sua morte, os fiéis atribuíram a sua intercessão numerosos milagres.

Na França se diz que Joana teria nascido em 1220 e falecido em 25 de agosto de 1271. Era filha e herdeira de Raimundo VII, Conde de Toulouse, e de Joana da Inglaterra. Ela mesma era Condessa de Toulouse desde 1249 até a sua morte. Joana recebeu o hábito de terciária das mãos de São Simão Stock, merecendo assim ser considerada fundadora da Ordem Terceira do Carmelo.

Ela não apenas empregou inteiramente o seu tempo, como também o seu dinheiro, para a formação dos religiosos carmelitas.

Entre 1452 e 1474, o Arcebispo de Toulouse, Bernardo du Rosier, exumou o corpo de Joana colocando-o em uma urna que foi colocada em uma capela da igreja carmelitana da cidade. Na ocasião, concedeu uma indulgência de quarenta dias aqueles que visitassem as suas relíquias.

Posteriormente foram feitos reconhecimento de suas relíquias nos anos de 1616, 1656 e 1688: em 1656 foi notado que o braço e a mão direita estavam faltando, transferidos para a Espanha pelo Prior Geral, Henrique Silvio, durante uma visita ao convento; e em 1688 faltavam também a mão esquerda e alguns dentes.

Depois da Revolução Francesa, durante a demolição da igreja carmelitana de Toulouse, em 1805, os restos de Joana foram encontrados em uma parede, junto com o documento de reconhecimento de 1688 e algumas orações que a Beata recitava habitualmente.

Levados para a igreja metropolitana de Santo Estevão, os seus despojos foram sepultados na capela de São Vicente de Paulo, até que em 1893, por ocasião da beatificação, foi novamente exumado e colocado em um relicário de forma ogival.

A Beata Joana de Toulouse foi oficialmente beatificada por Leão XIII em 1895.


sexta-feira, 30 de março de 2018

30 de março - Sexta-feira Santa

Hoje escutamos a narrativa da Paixão de Cristo. Trata-se, essencialmente, do relato de uma morte violenta. Notícias de mortes, e mortes violentas, quase nunca faltam nos noticiários vespertinos. Também nestes últimos dias, temos escutado tais notícias. Estas notícias se sucedem com tal rapidez, que nos fazem esquecer, a cada noite, as do dia anterior. Por que, então, após 2000 anos, o mundo ainda recorda, como se tivesse acontecido ontem, a morte de Cristo? É que esta morte mudou para sempre o rosto da morte; ela deu um novo sentido à morte de cada ser humano. 

Chegando, porém, a Jesus, como o vissem já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água" (Jo 19, 33-34). 

Penetremos no epicentro da fonte deste “rio de água viva” no coração trespassado de Cristo. Existe agora, dentro da Trindade e dentro do mundo, um coração humano que bate, não só metaforicamente, mas realmente. É um coração trespassado, mas vivente; eternamente trespassado, precisamente porque eternamente vivente.

Há uma expressão que foi criada justamente para descrever a profundidade da maldade que pode aglutinar-se no seio da humanidade: “coração de trevas”. Depois do sacrifício de Cristo, mais profundo do que o coração de trevas, palpita no mundo um coração de luz. Cristo, de fato, subindo ao céu, não abandonou a terra, assim como, encarnando-se, não tinha abandonado a Trindade.

A cruz não "está", portanto, contra o mundo, mas pelo mundo: para dar um sentido a todo o sofrimento que houve, que há e que haverá na história humana. "Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo – diz Jesus a Nicodemos –, mas para que o mundo seja salvo por Ele" (Jo 3, 17). A cruz é a proclamação viva de que a vitória final não é de quem triunfa sobre os outros, mas de quem triunfa sobre si mesmo; não daqueles que causam sofrimento, mas daqueles que sofrem.

Tornaríamos vã, no entanto, esta liturgia da Paixão, se ficássemos, como os sociólogos, na análise da sociedade em que vivemos. Cristo não veio para explicar as coisas, mas para mudar as pessoas. O coração de trevas não é apenas aquele de algum malvado escondido no fundo da selva, e nem mesmo aquele da nação e da sociedade que o produziu. Em diferente medida está dentro de cada um de nós.

A Bíblia o chama de coração de pedra, "Tirarei do vosso peito o coração de pedra – diz Deus ao profeta Ezequiel – vos darei um coração de carne". Coração de Pedra é o coração fechado à vontade de Deus e ao sofrimento dos irmãos, o coração de quem acumula quantidades ilimitadas de dinheiro e permanece indiferente ao desespero de quem não tem um copo de água para dar ao próprio filho; é também o coração de quem se deixa completamente dominar pela paixão impura, pronto para matar ou a levar uma vida dupla. Para não ficarmos com o olhar sempre dirigido para o exterior, para os demais, digamos mais concretamente: é o nosso coração de ministros de Deus e de cristãos praticantes se vivemos ainda, basicamente, “para nós mesmos” e não “para o Senhor”.

O coração de carne, prometido por Deus nos profetas, já está presente no mundo: é o Coração de Cristo trespassado na cruz, aquele que veneramos como “o Sagrado Coração”. Ao receber a Eucaristia, acreditamos firmemente que aquele coração vem bater também dentro de nós. Olhando para a cruz digamos do profundo do coração, como o publicano no templo: "Meu Deus, tem piedade de mim, pecador!”, e também nós, como ele, voltaremos para casa “justificados”.

Padre Raniero Cantalamessa – 14 de abril de 2017

Hoje celebramos:
São João Clímaco
São Leonardo de Murialdo
Beata Restituta Kafka


30 de março - São Júlio Álvarez Mendoza

A Igreja no México regozija-se ao contar com estes intercessores no céu, modelos de caridade suprema, no seguimento das pegadas de Jesus Cristo. Todos eles entregaram a própria vida a Deus e aos irmãos, através do martírio ou pelo caminho da oferenda generosa ao serviço dos necessitados. A firmeza da sua fé e esperança sustentou-os nas várias provações a que foram submetidos. É uma herança preciosa, fruto da fé arraigada em terras mexicanas que, nos alvores do terceiro milénio do Cristianismo, deve ser conservada e revitalizada para continuardes a ser fiéis a Cristo e à sua Igreja, como fostes no passado.

Papa João Paulo II – Homilia de Canonização - 21 de maio de 2000

São Júlio Álvarez Mendoza, nasceu em Guadalajara – México - em 20 de dezembro de 1866. Empreendedor e caridoso, era capaz de entregar a camisa que usava para aqueles que precisavam disso.  Sua família, encabeçada por Atanasio Álvarez e Dolores Mendoza, carecia de recursos econômicos, no entanto, a generosidade de alguns benfeitores e a aplicação de Julio nos estudos, permitiu-lhe estudar em uma faculdade de estudos superiores, antes de entrar, em 1880, ao Seminário Conciliar de Guadalajara, ajudado pelos mesmos benfeitores, tendo sido ordenado sacerdote em 1894.

Depois de ordenado serviu como capelão de Mechoacanejo e se distinguiu por seu zelo pastoral, atenção à catequese e ao fervor com o qual participava e celebrava o culto divino. Ele era um homem amável, amável com todos, muito comunicativo e simples. Quando os bispos do México decretaram em agosto de 1926 a suspensão do culto público, o padre Júlio decidiu permanecer na sua paróquia e, a partir daí, administrava os sacramentos em segredo, escondido nas fazendas. Quando a perseguição intensificou-se, ele teve oportunidade de deixar sua paróquia e se esconder, mas optou por continuar cuidando de seus fiéis. 

Ele não achava que fosse ser um dos sacerdotes agraciados com a morte, e dizia: "Deus não escolhe o lixo para o martírio".

Em 26 de março de 1927, no caminho de uma fazenda para celebrar uma missa, foi surpreendido por um grupo de soldados. Eles o prenderam e levaram, amarrado à sela de um cavalo, por várias cidades.

Em León, o general Amaro deu a sentença para que fosse fuzilado. No amanhecer do dia 30 de março, ele foi levado para o local de execução. Ao ser levado para o local do martírio perguntou:
- Vocês vão me matar? 

- Essa é a ordem que eu tenho. 

"Bem", disse o mártir, "eu já sabia que vocês tinham que me matar porque sou sacerdote; obedeçam a ordem, eu só imploro que vocês me permitam falar três palavras:

“Eu vou morrer inocente porque não fiz nenhum mal. Meu crime é ser ministro de Deus. Eu os perdoo.  Eu só imploro que vocês não mates os meninos que prenderam comigo porque eles são inocentes, eles não fizeram nada.”

Ele cruzou os braços e os soldados deram o golpe fatal.

Seu corpo foi deixado jogado em um lixo perto da igreja paroquial. No lugar de seu martírio, um monumento foi erguido em sua homenagem.

Padre Júlio foi beatificado em 22 de novembro de 1992 e canonizado pelo papa João Paulo II em 21 de maio de 2000. 

quinta-feira, 29 de março de 2018

29 de março - São Marcos de Aretusa


Bispo de Aretusa no tempo do Imperador Constantino, o Grande, São Marcos salvou a vida do príncipe Juliano, depois apelidado o apóstata, mal sabendo que, tempos mais tarde, repudiando a fé cristã, o novo governante procuraria, acirradamente, restabelecer o paganismo.

Durante o reinado do imperador Constantino, Marco de Aretusa demoliu um templo pagão e construiu sem eu lugar uma igreja, convertendo muitos à fé cristã. Isto fez com que a população pagã ficasse ressentida, e queriam vingar-se dele. No entanto, como o imperador era cristão, não puderam fazê-lo tão depressa quanto pretendiam.

A oportunidade chegou quando Juliano, o apóstata, ocupou o trono e proclamou que todos os que haviam destruído templos pagãos deveriam reconstruí-los ou pagar uma pesada multa. Marco, que não podia e nem queria obedecer, fugiu da fúria de seus inimigos.

Contudo, quando soube que alguns cristãos foram presos, regressou e se entregou. Marco foi arrastado pelos cabelos pelas ruas, açoitado e preso e, posteriormente, perfurado com estiletes. Amarraram suas pernas com correntes tão apertadas que chegaram a cortar sua carne até os ossos; também teve suas orelhas decepadas. Por fim, untaram-no de mel e o suspenderam no alto, em pleno sol do verão do meio dia, para que vespas e moscas viessem picar seu corpo. Mesmo em meio aos sofrimentos, não desejava mal aos seus carrascos já que estes o elevaram ainda mais perto dos céus, enquanto eles próprios se arrastavam sobre a terra.

Aos poucos, a fúria do povo transformou-se em admiração, e deixaram Marco partir em liberdade. São Marcos, então, aproveitando-se daquela oportunidade, lançou-se de corpo e alma na conquista dos pagãos, dedicando-se todo inteiro ao árduo trabalho da conversão. 

Marco viveu em paz até o fim de sua vida, e morreu durante o reinado de Joviano, o Valente, no ano de 364.

São Gregório Nazianzeno definiu São Marco de Aretusa como: "um velho notável e muito santo",

29 de março - Quinta-feira Santa


Jesus estava presente na ceia, estava com eles na última ceia e, reza o Evangelho, Ele “sabia que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai”. Sabia que fora traído e que seria entregue por Judas naquela mesma noite. “Tendo amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até ao fim”.
Deus ama assim: até ao fim. Entrega a vida por cada um de nós, orgulha-se disto e deseja isto porque Ele tem amor: “Amar até ao fim”. Não é fácil, porque todos nós somos pecadores, todos nós temos limites, defeitos, muitas coisas. Todos sabemos amar, mas não somos como Deus, que ama sem considerar as consequências, até ao fim. E dá o exemplo: e para o demonstrar, Ele que era “o chefe”, que era Deus, lava os pés aos seus discípulos.
O hábito de lavar os pés era o costume que se seguia naquela época, antes dos almoços e dos jantares, porque não havia o asfalto e as pessoas caminhavam na poeira. Portanto, um dos gestos para receber uma pessoa em casa, e também para comer, era o lava-pés. Eram os escravos que o faziam, aqueles que tinham sido escravizados, mas Jesus inverte a situação e lava Ele mesmo os pés. Simão não queria que o fizesse, mas Jesus explicou-lhe que era assim, que Ele veio ao mundo para servir, para nos servir, para se tornar nosso servo, para dar a vida por nós, para nos amar até ao fim.

Hoje ao longo da estrada, ao chegar, vi muitas pessoas que me saudavam: “Vem o Papa, o chefe. O chefe da Igreja...”. O chefe da Igreja é Jesus; não brinquemos! O Papa é a figura de Jesus e eu gostaria de fazer aquilo que Ele fez. Nesta cerimônia, o pároco lava os pés aos fiéis. Há uma inversão: aquele que parece o maior deve desempenhar a tarefa do escravo, mas para semear amor. Para semear amor entre nós, hoje não vos digo para irdes e lavardes os pés uns aos outros: seria uma brincadeira. Mas o símbolo, a figura, sim: digo-vos que, se puderdes oferecer uma ajuda, desempenhar um serviço aqui no cárcere, a favor do companheiro, da companheira, fazei-o.

Porque isto é amor, isto é como lavar os pés. É ser servo dos outros. Certa vez, os discípulos discutiam entre si, para saber quem era o maior, o mais importante. E Jesus disse: “Quem quiser ser importante, deve tornar-se o mais pequenino e servir todos”. E foi aquilo que Ele fez, é o que Deus faz com cada um de nós. Ele serve-nos, é o servo. Todos nós que somos pobres, todos! Mas Ele é grande, Ele é bom. E Ele ama-nos como somos. Por isso, durante esta celebração pensemos em Deus, em Jesus. Não se trata de uma cerimônia folclórica: é um gesto para recordar aquilo que Jesus nos deu. Em seguida, Ele pegou no pão e ofereceu-nos o seu Corpo; pegou no vinho e ofereceu-nos o seu Sangue. O amor de Deus é assim. Hoje, pensemos unicamente no amor de Deus.

Papa Francisco - Quinta-feira Santa 2017

Hoje celebramos:
Beato Bertoldo

quarta-feira, 28 de março de 2018

28 de março - O que me dareis se vos entregar Jesus? Mt 26,15

Hoje, no meio da Semana Santa, a liturgia nos apresenta um episódio triste: a história da traição de Judas, que vai até os líderes do Sinédrio para mercantilizar e entregar a eles o seu Mestre. “Que me dareis se vos entregar Jesus?”. Cristo, nesse momento, tem um preço. Este ato dramático marca o início da Paixão de Cristo, um caminho doloroso que Ele escolhe com liberdade absoluta.


Ele mesmo diz claramente: “Eu dou a minha vida… Ninguém a tira de mim; eu a dou por mim mesmo. Eu tenho poder para entregá-la e autoridade para tomá-la novamente” (Jo 10,17-18). E assim, com essa traição, começa o caminho da humilhação, da espoliação de Jesus. Como se ele estivesse no mercado: isso custa trinta moedas de prata… Uma vez no caminho da humilhação e da desapropriação, Jesus o percorre até o fim.

Jesus chega à humilhação completa com a “morte de cruz”. Trata-se da pior morte, pois era reservada para escravos e criminosos. Jesus era considerado um profeta, mas morre como um criminoso. Olhando para Ele em Sua Paixão, como podemos ver em um espelho os sofrimentos da humanidade, encontramos a resposta divina para o mistério do mal, da dor, da morte. Tantas vezes, sentimos horror pelo mal e a dor que nos rodeia, e perguntamos: “Por que Deus permite isso?”. Nesta semana, será bom olhar para o crucifixo, beijar as feridas de Jesus, beijá-Lo no crucifixo. Ele tomou sobre si todo o sofrimento humano e se revestiu desse sofrimento.

Nesta semana, pensamos tanto na dor de Jesus e dizemos para nós mesmos: isto é por mim. Mesmo que eu fosse a única pessoa no mundo, Ele o teria feito. Ele fez isso por mim. Beijamos o crucifixo e dizemos: ‘Por mim, obrigado Jesus, por mim’.

Papa Francisco - 16 de abril de 2014

Hoje celebramos:


28 de março - São Józef Sebastian Pelczar


Józef Sebastian Pelczar nasceu em 17 de janeiro de 1842, na vila de Korcyzna em Podkarpackie, um dos quatro filhos de ricos fazendeiros. Seu pai, Wojciech, lidava principalmente com a fazenda. A mãe de Józef, Marianna, tinha uma alma de artista: gostava de música e poesia e era também era muito devota: quando seus filhos nasceram, ela confiou cada um deles à Bem-Aventurada Virgem Maria, peregrinando ao Santuário em Leżajsk. Józef Pelczar cresceu em um lar, onde o amor mútuo e o respeito eram valores fundamentais, assim como o trabalho duro e a oração.

Józef estudou em uma escola paroquial e, em seguida, em uma escola de ensino médio. Ele amava aprender história e já então sonhava com uma carreira acadêmica. Apesar disso, na escola de ensino médio, ele tomou uma decisão: tornar-se um sacerdote. Após as provas do colégio, em 1860, ele ingressou no Seminário Przemyśl e foi ordenado em 1864, aos 22 anos de idade (ele recebeu uma dispensa papal, porque era um ano e meio mais jovem do que a idade mínima determinada por “regulamento” para a ordenação como sacerdote). Um mês depois da ordenação, ele mesmo fundou uma paróquia em Sambor. Apesar de ter trabalhado lá somente por um ano, ganhou a simpatia dos paroquianos, especialmente dos jovens, devido ao seu trabalho árduo e gentileza. Ele era dedicado e amável. Apesar de sua pouca idade, já era reconhecido como um bom pregador, confessor e diretor espiritual.

Em 1866, ele foi estudar em Roma. Lá, ele morou em um recém-inaugurado colégio polonês e estudou Teologia com os jesuítas no Collegium Romanum e Direito no Instituto Papal São Apolinário. Em ambas áreas de estudo ele obteve o título de doutor. O tempo passado em Roma influenciou significativamente o resto da vida de São Józef Pelczar. Ele conheceu o Papa Pio IX e encontrou-se com excelentes diretores espirituais. Ele lia muito e começou a escrever seu primeiro livro “Vida Espiritual ou Perfeição Cristã”. Fascinado pelas figuras de Santo Inácio e Santo Estanislau Kostka decidiu entrar para a Ordem dos Jesuítas, tornar-se um missionário, um apóstolo de Cristo. Durante os retiros discerniu que a sua missão apostólica teria uma dimensão local e após receber o seu doutorado, ele regressou para Przemyśl.

Inspirado pelas palavras do Papa Pio IX: “Você tem que reavivar o espírito católico e ser como uma chama que brilha na escuridão”, ele viu que a “escuridão” era sua terra natal e uma situação política tensa, que estava acontecendo naquele tempo. Após uma revolta fracassada, em 1863, na luta pela independência e as repressões relacionadas a isso, o povo polonês realmente precisava de apoio e segurança em seu coração. Podemos dizer, portanto, que o Pe. Józef também uniu-se à luta pela independência do povo polonês, pela sua liberdade espiritual.

Após retornar de Roma, ele começou a trabalhar como vigário na paróquia mais pobre da diocese, em Wojutycze. Mesmo cumprindo todas as responsabilidades pastorais, ele tinha algum tempo livre, que usava para oração e leitura espiritual. No decorrer do seu trabalho pastoral, ele percebeu que havia uma forte necessidade de ajudar os mais pobres. Então, ele fundou uma sociedade feminina de São Vicente de Paula, que cuidava dos mais pobres da cidade e das áreas vizinhas.

Logo depois, o Pe. Józef assumiu o papel de chefe de estudos no Seminário Przemyśl. As pessoas prontamente e com grande confiança vinham até ele em busca de conselho e incentivo, era um homem muito responsável e sábio, e as pessoas confiavam plenamente nele. É por isso que mais e mais responsabilidades e funções foram dadas a ele. Aceitou todas com humildade e dedicação. O trabalho constante refletiu em sua saúde. Ele queria descansar um pouco, e parecia que encontraria a paz atrás dos muros de um mosteiro. Decidiu ir em peregrinação à Terra Santa, lá, ele ganhou força espiritual e paz interior, que tanto precisava. Mudou seu modo de ver a sua missão sacerdotal, aceitou suas imperfeições e fraquezas, e ofereceu todas as suas dificuldades a Deus. Reconciliado com seu deteriorado estado de saúde, ele procurou por um trabalho menos agravante. Nesta época, a Universidade Jaguelônica em Cracóvia havia aberto um concurso para eleger um catedrático para a Faculdade de Teologia.

O Pe. Józef Pelczar tornou-se professor de História da Igreja e Direito Canônico na Universidade Jaguelônica. Em Cracóvia,  ele viveu alguns anos no mosteiro franciscano, onde todos os dias celebrava a missa na Capela da Mãe de Deus, Protetora dos Aflitos de Cracóvia, e se consagrou a Ela.

Também tornou-se um religioso da Ordem Terceira de São Francisco. Durante apenas alguns anos ele “reanimou” a Faculdade de Teologia da universidade, onde tinha uma enorme influência no corpo de catedráticos e professores que, seguindo seu exemplo, mudaram sua forma de ensinar, dando maior ênfase ao pensamento independente dos estudantes. Em 1882 e 1883 ele tornou-se reitor da Universidade Jaguelônica e organizou a construção de uma nova sede para a universidade, que até os dias de hoje é o principal edifício da universidade: o Collegium Novum.

Foi presidente da Sociedade de Educação Popular, que organizou cerca de 600 salas de leitura e lugares para empréstimo de livros. Sensível à miséria humana, trouxe ajuda àqueles que eram mais pobres e cada mês doava uma parte de seu salário como professor para a cozinha dos estudantes. O lema do Pe. Józef eram as palavras: “Tudo para o Sagrado Coração de Jesus, através das mãos imaculadas da Bem-Aventurada Virgem Maria”. É daí que vem o nome da ordem religiosa estabelecida por Pelczar. Em 1894, a Congregação das Servas do Sagrado Coração de Jesus iniciou o seu trabalho. A Congregação imediatamente assumiu o centro para as mulheres pobres. A primeira madre superiora da nova ordem foi a Beata Madre Ludwika Szczęsna. A missão da Congregação, servindo o próximo e espalhando a adoração ao Sagrado Coração de Jesus, tomou impulso e em pouco tempo sua atividade alcançou além das fronteiras da Galícia. Atualmente, as Servas do Sagrado Coração trabalham em lugares como França, Itália, Estados Unidos, Ucrânia,  Líbia e Bolívia.

Em 1899, o Padre Józef voltou para Przemyśl, tendo sido foi nomeado bispo auxiliar. Um ano depois, o bispo local faleceu, e em 1901, o Bispo Józef Sebastian Pelczar iniciou seu pastoreio da diocese, que durou 24 anos, até a sua morte.
Tinha 57 anos quando tornou-se bispo. Apesar de problemas de saúde, trabalhou incansavelmente em todo o território da diocese pela qual ele era responsável. Entre suas numerosas iniciativas carismáticas e patrióticas, ele encontrava tempo para visitar as paróquias. Conta-se que todas as responsabilidades que o Bispo Józef Sebastian cumpriu efetivamente poderiam ter sido distribuídas entre quatro bispos.

O Bispo Józef Pelczar faleceu em 28 de março de 1924. A sua beatificação ocorreu em 2 de junho de 1991 e foi canonizado 12 anos depois, em 18 de maio de 2003 em Roma. Ambas celebrações foram presididas pelo Papa João Paulo II.


terça-feira, 27 de março de 2018

27 de março - Depois que Judas saiu, disse Jesus: Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. Jo 13,31


É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado. Chegou a hora da Cruz! Chegou a hora da derrota de Satanás, príncipe do mal, e do triunfo definitivo do amor misericordioso de Deus. Cristo declara que será levantado da terra, uma expressão que tem um duplo significado: levantado porque crucificado, e levantado porque exaltado pelo Pai na Ressurreição, para atrair todos a si e reconciliar os homens com Deus e entre eles. A hora da cruz, a mais obscura da história, é também a fonte da salvação para quantos acreditam Nele.

A cruz de Cristo é fecunda. Com efeito, a morte de Jesus é uma fonte inesgotável de vida nova, porque traz em si a força regeneradora do amor de Deus. Imergidos neste amor pelo Batismo, os cristãos podem tornar-se grãos de trigo e dar muito fruto se, como Jesus, perderem a própria vida por amor de Deus e dos irmão.

Por esta razão, a quantos hoje querem ver Jesus, a quantos estão à procura do rosto de Deus; a quem recebeu uma catequese quando era pequeno e depois não a aprofundou e talvez perdeu a fé; aos numerosos que ainda não encontraram Jesus pessoalmente...; a todas estas pessoas podemos oferecer três coisas: 

O Evangelho; o Crucifixo e o Testemunho da nossa fé, pobre, mas sincera.

O Evangelho: ali podemos encontrar Jesus, ouvi-lo, conhecê-lo.
O crucifixo: sinal do amor de Jesus que se entregou a si mesmo por nós.
E também uma fé que se traduz em gestos simples de caridade fraterna. Mas principalmente na coerência de vida entre o que dizemos e o que vivemos, coerência entre a nossa fé e a nossa vida, entre as nossas palavras e as nossas ações.

Evangelho, crucifixo, testemunho. Que Nossa Senhora nos ajude a carregar estas três coisas.

Papa Francisco - 22 de março de 2015

Hoje Celebramos:



27 de março - Beata Panaceia de Muzzi

Panaceia foi uma jovenzinha que viveu na segunda metade do século 13, cuja existência histórica e cujo martírio são bem documentados a partir de registros antiquíssimos, e que ao longo dos séculos tem estimulado a imaginação de artistas e escritores.

Panaceia nasceu em Quarona (cidadezinha entre Borgosesia e Varallo), em 1368, e logo perdeu a mãe. O pai se casou novamente com uma certa Margarida, também ela viúva com uma filha, e para a pequena começaram os problemas. A madrasta e a meia-irmã se coligaram contra ela, reservando-lhe os trabalhos mais duros e humildes, zombando dela por sua piedade, contestando seus atos de caridade.

As biografias de fato concordam em descrever Panaceia como uma jovem que rezava muito, cuidava dos doentes e socorria os pobres: uma autêntica cristã, portanto, que além disso suportava com paciência heroica os maus tratos que recebia todos os dias ao voltar para casa. Panaceia é vítima de um ciúme familiar ou de

Contra essa jovenzinha que vive com simplicidade, mas também com intensidade, a sua fé, se desencadeia uma verdadeira perseguição "doméstica" que atingiu o seu clímax em uma noite de primavera de 1383. Panaceia, que tinha 15 anos, naquela noite não voltou do local de pastagem do rebanho com a pontualidade que a madrasta reivindicava. Com raiva no coração e o ressentimento de sempre, esta última foi procurá-la e encontrou-a nas pastagens que circundam Quarona e a sua ira se desencadeou ao observar que Panaceia estava rezando.

A raiva é sempre má conselheira. A mulher passou facilmente das palavras aos atos, batendo repetidamente na jovem com um objeto pontiagudo, possivelmente um fuso ou um pedaço de pau encontrado no local, até matá-la. Talvez não tenha sido realmente um homicídio intencional, isso é demonstrado pelo fato de que a madrasta, levada pelo desespero, após o ocorrido foi imediatamente cometer suicídio pulando de um barranco nas proximidades.

Para Panaceia iniciou-se uma devoção popular, porque as pessoas viam na sua morte um verdadeiro martírio. O seu corpo foi trazido para Ghemme e ela foi sepultada ao lado de sua mãe, que a tinha deixado órfã muito cedo. Nesse túmulo porém pouco restou, porque as suas relíquias foram logo levadas para a igreja, cercadas de veneração e meta de peregrinações.

A devoção por Panaceia atravessou os séculos e se transformou em culto popular que recebeu a confirmação papal em 1867. Em todo o Vale do Sesia ela é indicada simplesmente como "a Beata", sendo comemorada com cerimônias religiosas e festas seculares, enquanto os bispos indicam Panaceia como um modelo de santidade de uma leiga, enfatizando sua fé vivida no dia a dia, capaz de superar adversidades e incompreensões, fé que é alimentada pela oração e testemunhada pela caridade.



segunda-feira, 26 de março de 2018

26 de março - Por que não se vendeu este perfume por trezentas moedas de prata, para dá-las aos pobres? Jo 12,5


Este trecho do Evangelho mostra a paciência que Jesus tem com Judas. Nessa passagem, o apóstolo critica a escolha de Maria, irmã de Lázaro, de ungir os pés de Jesus com meio litro de precioso perfume, defendendo que o melhor seria vendê-lo e dar o dinheiro aos pobres. Porém, o evangelista ressalta que a Judas não interessavam os pobres, mas o dinheiro que roubava.

Jesus não lhe disse ‘Você é um ladrão’. Com amor, foi paciente, procurando atraí-lo a Si com a Sua paciência, com o Seu amor. Fará bem a nós pensar, nesta Semana Santa, na paciência que Deus tem conosco, com as nossas fraquezas, com os nossos pecados.

Pensemos em um relacionamento pessoal nesta Semana Santa: como tem sido, na minha vida, a paciência de Jesus comigo? Somente isso. Depois, sairá, do nosso coração, uma só palavra: ‘Obrigado, Senhor! Obrigado pela Sua paciência’.


Papa Francisco - 25 de março de 2013 




26 de março - São Bercario


Nascido em Aquitânia por volta de 620, afilhado de San Nivardo, Bercario (Bercherio), teve uma primeira formação na escola de São Remaclo, e depois, abraçou a vida monástica sob as regras de São Columbano, na abadia de Luxeuil, no tempo do santo abade Valberto. 
Nivardo, que se tornou bispo de Reims, confiou-lhe a fundação do Mosteiro de Hautvillers (Marna), do qual Bercario foi o primeiro abade e onde elaborou uma regra que foi uma síntese das regras de São Columbano e de São Bento. 

Ele ergueu alguns edifícios para clausura e duas igrejas, dedicadas, respectivamente, ao apóstolo Pedro e à Virgem Maria. Pouco depois de 673, ele fundou na região do Der um mosteiro de virgens, povoado por escravas resgatadas (Puellemontier, Upper Marne), e depois, não muito longe, erigiu uma abadia de homens (Montier-en-Der), para onde se transferiu, abandonando a direção de Hautvillers, e que rapidamente se tornou famosa e próspera. 

É possível que Bercario tenha doado para a abadia a propriedade familiar que ele possuía no sul do Loire. A igreja abacial foi dedicada aos santos apóstolos Pedro e Paulo. Depois ele fez peregrinações a Roma e à Terra Santa, de onde trouxe relíquias preciosas. De Roma, entre outras coisas, ele trouxe o famoso díptico de marfim, um dos quais atualmente é mantido em Paris e o outro em Londres. 

Um monge, Daguino, que era seu afilhado, e foi expulso por Bercario como punição por uma falta grave, esfaqueou o abade em uma quinta-feira santa de 685 ou, mais provável, o 696. O abade magnanimamente perdoou seu atacante e morreu três dias depois, na manhã da Páscoa. 

Ele foi considerado mártir e homenageado com este título, não só na sua abadia, mas também nas dioceses de Troyes, Reims, Châlons-sur-Marne e Langres. 

Diante da ameaça das invasões normandas do século IX, os monges levaram as relíquias do Bercario para a Borgonha, mas depois as trouxeram de volta em 924. Enquanto isso, uma grande parte da cabeça do Bercario foi preservada na antiga igreja colegiada de Châteauvillain, dedicada ao abade mártir: esta relíquia, infelizmente, desapareceu, como a própria igreja, durante a Revolução Francesa. 




domingo, 25 de março de 2018

Semana Santa



Com o Domingo de Ramos iniciamos a Semana Santa – centro de todo o Ano Litúrgico – na qual acompanhamos Jesus em sua Paixão, Morte e Ressurreição.

Mas o que pode querer dizer viver a Semana Santa para nós?
O que significa seguir Jesus em seu caminho no Calvário para a Cruz e a ressurreição?

Em sua missão terrena, Jesus percorreu os caminhos da Terra Santa; chamou 12 pessoas simples para que permanecessem com Ele, compartilhando o seu caminho e para que continuassem a sua missão; escolheu-as entre o povo cheio de fé nas promessas de Deus. Falou a todos, sem distinção, aos grandes e aos humildes, ao jovem rico e à pobre viúva, aos poderosos e aos indefesos; levou a misericórdia e o perdão de Deus; curou, consolou, compreendeu; doou esperança; levou a todos a presença de Deus que se interessa por cada homem e cada mulher, como faz um bom pai e uma boa mãe para cada um de seus filhos. Deus não esperou que fôssemos a Ele, mas foi Ele que se moveu para nós, sem cálculos, sem medidas. Deus é assim: Ele dá sempre o primeiro passo, Ele se move para nós.

Jesus viveu a realidade cotidiana do povo mais comum: comoveu-se diante da multidão que parecia um rebanho sem pastor; chorou diante do sofrimento de Marta e Maria pela morte do irmão Lázaro; chamou um cobrador de impostos como seu discípulo; sofreu também a traição de um amigo. Nele Deus nos doou a certeza de que está conosco, em meio a nós. “As raposas – disse Ele, Jesus – as raposas têm suas tocas e as aves do céu os seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça” (Mt 8, 20). Jesus não tem casa porque a sua casa é o povo, somos nós, a sua missão é abrir a todos as portas de Deus, ser a presença do amor de Deus.

Na Semana Santa nós vivemos o ápice deste momento, deste plano de amor que percorre toda a história da relação entre Deus e a humanidade. Jesus entra em Jerusalem para cumprir o último passo, no qual reassume toda a sua existência: doa-se totalmente, não tem nada para si, nem mesmo a vida.

Na Última Ceia, com os seus amigos, compartilha o pão e distribui o cálice “por nós”. O Filho de Deus se oferece a nós, entrega em nossas mãos o seu Corpo e o seu Sangue para estar sempre conosco, para morar em meio a nós. E no Monte das Oliveiras, como no processo diante de Pilatos, não oferece resistência, doa-se; é o Servo sofredor profetizado por Isaías que se despojou até a morte (Is 53,12).

Jesus não vive este amor que conduz ao sacrifício de modo passivo ou como um destino fatal; certamente não esconde a sua profunda inquietação humana diante da morte violenta, mas se confia com plena confiança ao Pai. Jesus entregou-se voluntariamente à morte para corresponder ao amor de Deus Pai, em perfeita união com a sua vontade, para demonstrar o seu amor por nós. Na cruz Jesus “me amou e entregou a si mesmo” (Gal 2,20).

Cada um de nós pode dizer: amou-me e entregou a si mesmo por mim. Cada um pode dizer este “por mim”.

O que significa tudo isto para nós?

Significa que este é também o meu, o teu, o nosso caminho. Viver a Semana Santa seguindo Jesus não somente com a emoção do coração; viver a Semana Santa seguindo Jesus quer dizer aprender a sair de nós mesmos para ir ao encontro dos outros, para ir para as periferias da existência, mover-nos primeiro para os nossos irmãos e as nossas irmãs, sobretudo aqueles mais distantes, aqueles que são esquecidos, aqueles que tema mais necessidade de compreensão, de consolação, de ajuda. Há tanta necessidade de levar a presença viva de Jesus misericordioso e rico de amor!

Viver a Semana Santa é entrar sempre mais na lógica de Deus, na lógica da Cruz, que não é antes de tudo aquela da dor e da morte, mas aquela do amor e da doação de si que traz vida. É entrar na lógica do Evangelho.

Seguir, acompanhar Cristo, permanecer com Ele exige um “sair”, sair. Sair de si mesmo, de um modo cansado e rotineiro de viver a fé, da tentação de fechar-se nos próprios padrões que terminam por fechar o horizonte da ação criativa de Deus. Deus saiu de si mesmo para vir em meio a nós, colocou a sua tenda entre nós para trazer-nos a sua misericórdia que salva e doa esperança. Também nós, se desejamos segui-Lo e permanecer com Ele, não devemos nos contentar em permanecer no recinto das 99 ovelhas, devemos “sair”, procurar com Ele a ovelha perdida, aquela mais distante. Lembrem-se bem: sair de nós mesmo, como Jesus, como Deus saiu de si mesmo em Jesus e Jesus saiu de si mesmo por todos nós.

Alguém poderia dizer-me: “Mas, padre, não tenho tempo”, “tenho tantas coisas a fazer”, “é difícil”, “o que posso fazer com as minhas poucas forças, também com o meu pecado, com tantas coisas?”

Sempre nos contentamos com alguma oração, com uma Missa dominical distraída e não constante, com qualquer gesto de caridade, mas não temos esta coragem de “sair” para levar Cristo. Somos um pouco como São Pedro. Assim que Jesus fala de paixão, morte e ressurreição, de doação de si, de amor para todos, o Apóstolo o leva para o lado e o repreende. Aquilo que diz Jesus perturba os seus planos, parece inaceitável, coloca em dificuldade as seguranças que se havia construído, a sua ideia de Messias. E Jesus olha para os discípulos e dirige a Pedro talvez uma das palavras mais duras dos Evangelhos: “Afasta-te de mim, Satanás, porque teus sentimentos não são os de Deus, mas os dos homens” (Mc 8, 33). 

Deus pensa sempre com misericórdia: não se esqueçam disso. Deus pensa sempre com misericórdia: é o Pai misericordioso! Deus pensa como o pai que espera o retorno do filho e vai ao seu encontro, vê-lo vir quando ainda é distante…

O que isto significa? 

Que todos os dias ia ver se o filho retornava a casa: este é o nosso Pai misericordioso. É o sinal que o esperava de coração no terraço de sua casa. Deus pensa como o samaritano que não passa próximo à vítima olhando por outro lado, mas socorrendo-a sem pedir nada em troca; sem perguntar se era judeu, se era pagão, se era samaritano, se era rico, se era pobre: não pergunta nada. Não pergunta essas coisas, não pergunta nada. Vai em seu auxílio: assim é Deus. Deus pensa como o pastor que doa a sua vida para defender e salvar as ovelhas.

A Semana Santa é um tempo de graça que o Senhor nos doa para abrir as portas do nosso coração, da nossa vida, das nossas paróquias – que pena tantas paróquias fechadas! – dos movimentos, das associações, e “sair” de encontro aos outros, fazer-nos próximos para levar a luz e a alegria da nossa fé. 

Sair sempre! E isto com amor e com a ternura de Deus, no respeito e na paciência, sabendo que nós colocamos as nossas mãos, os nossos pés, o nosso coração, mas em seguida é Deus que os orienta e torna fecunda cada ação nossa.

Desejo a todos viver bem estes dias seguindo o Senhor com coragem, levando em nós mesmos um raio do seu amor a quantos encontrarmos.

Papa Francisco – 27 de março de 2013