Meditamos hoje a
passagem do pai e dos dois filhos, mais conhecido como a parábola do
"filho pródigo". Ela nunca cessa de nos comover, e todas as vezes que
a ouvimos ou lemos é capaz de nos sugerir sempre novos significados. Sobretudo,
este texto evangélico tem o poder de nos falar de Deus, de nos fazer conhecer o
seu rosto, melhor ainda, o seu coração.
Depois de Jesus nos
ter narrado acerca do Pai misericordioso, as coisas já não são como antes,
agora conhecemos Deus: Ele é nosso Pai, que por amor nos criou livres e dotados
de consciência, que sofre se nos perdemos e faz festa se voltamos. Por isso, a
relação com Ele constrói-se através de uma história, analogamente a quanto
acontece a cada filho com os próprios pais: no início depende deles; depois
reivindica a própria autonomia; e por fim – se há um desenvolvimento
positivo – chega a um relacionamento maduro, baseado no
reconhecimento e no amor autêntico.
Podemos ler nestas
etapas também momentos do caminho do homem na relação com Deus. Pode haver uma
fase que é como a infância: uma religião movida pela necessidade, pela
dependência. À medida que o homem cresce e se emancipa, quer libertar-se desta
submissão e tornar-se livre, adulto, capaz de se regular sozinho e de fazer as
próprias escolhas de modo autônomo, pensando até que pode viver sem Deus.
Precisamente esta fase é delicada, pode levar ao ateísmo, mas também isto, com
frequência, esconde a exigência de descobrir o verdadeiro rosto de Deus.
Felizmente, Deus
nunca falta à sua fidelidade e, mesmo se nós nos afastamos e nos perdemos,
continua a seguir-nos com o seu amor, perdoando os nossos erros e falando
interiormente à nossa consciência para nos chamar a si.
Na parábola, os dois
filhos comportam-se de modo oposto: o menor vai embora de casa e cai muito baixo,
enquanto o maior permanece em casa, mas também ele tem um relacionamento
imaturo com o Pai; de fato, quando o irmão volta, o maior não é feliz como o
pai, ao contrário irrita-se e não quer entrar em casa. Os dois filhos
representam dois modos imaturos de se relacionar com Deus: a rebelião e a
hipocrisia. Estas duas formas superam-se através da experiência da
misericórdia. Só experimentando o perdão, só reconhecendo-nos amados por um
amor gratuito, maior do que a nossa miséria, mas também maior do que a nossa
justiça, entramos finalmente num relacionamento deveras filial e livre com
Deus.
Queridos amigos,
meditemos esta parábola. Espelhemo-nos nos dois filhos, e sobretudo
contemplemos o coração do Pai. Lancemo-nos nos seus braços e deixemo-nos
regenerar pelo seu amor misericordioso.
Papa
Bento XVI – 14 de março de 2010
Hoje celebramos:
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