Em Jericó vivia
Zaqueu, o chefe dos publicanos, ou seja, dos cobradores de impostos. Zaqueu era
um rico colaborador dos odiados ocupantes romanos, um explorador do seu povo.
Também ele, por curiosidade, queria ver Jesus, mas a sua condição de público
pecador não lhe permitia aproximar-se do Mestre; além disso, era de baixa
estatura, e por isso resolveu subir numa árvore, um sicómoro, ao longo do
caminho onde Jesus ia passar.
Quando Jesus chegou
perto daquela árvore levantou os olhos e o chama. Podemos imaginar a
estupefação de Zaqueu! Mas porque Jesus disse devo ficar em sua casa? De qual
dever se trata? Sabemos que o seu dever supremo é atuar o desígnio do Pai sobre
toda a humanidade, que se cumpre em Jerusalém com a sua condenação à morte, a
crucificação e, no terceiro dia, a ressurreição. É o desígnio de salvação da
misericórdia do Pai. E neste desígnio há também a salvação de Zaqueu, um homem
desonesto e desprezado por todos, e que portanto necessitava de se converter.
Com efeito, o Evangelho narra que, quando Jesus o chamou, todos murmuravam:
“Ele hospedou-se na casa de um pecador”. O povo considerava-o um ladrão, que se
enriqueceu à custa dos outros. E se Jesus tivesse dito: “Desce tu, explorador,
traidor do povo! Vem falar comigo para ajustar as contas!”. Certamente o povo
teria aplaudido. Ao contrário, começaram a murmurar: “Jesus vai à casa dele, do
pecador, do explorador”.
Jesus, guiado pela
misericórdia, procurava precisamente por ele. E ao entrar na casa de Zaqueu
disse-lhe: Hoje houve salvação nesta casa, porque este também é filho de
Abraão. Pois o filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido. Isto é
importante! Devemos aprender. O olhar de Jesus vai além dos pecados e dos
preconceitos; ele vê a pessoa com os olhos de Deus, que não se detém no mal
passado, mas entrevê o bem futuro; Jesus não se resigna aos fechamentos, mas
sempre abre, sempre abre novos espaços de vida; não se detém nas aparências,
mas olha para o coração. E neste caso olhou para o coração ferido deste homem:
ferido pelo pecado da cupidez, pelas numerosas coisas más que este Zaqueu tinha
cometido. Olha para aquele coração ferido e vai ali.
Por vezes,
procuramos corrigir ou converter um pecador repreendendo-o, criticando os seus
erros e o seu comportamento injusto. A atitude de Jesus com Zaqueu indica-nos
outro caminho: o de mostrar a quem erra o seu valor, aquele valor que Deus
continua a ver não obstante tudo, apesar de todas as nossas faltas. Isto pode
provocar uma surpresa positiva, que enternece o coração e impele a pessoa a
tirar o bem que tem dentro de si. É dando confiança às pessoas que as fazemos
crescer e mudar. É assim que Deus se comporta com todos nós: não está bloqueado
pelo nosso pecado, mas supera-o com o amor e faz-nos sentir a nostalgia do bem.
Todos sentimos esta nostalgia do bem depois de um erro. E assim faz o nosso
Deus Pai, assim faz Jesus. Não existe uma pessoa que não tenha algo de bom. E
Deus olha para isto, para o tirar do mal.
Papa
Francisco – 30 de outubro de 2016
Hoje celebramos:
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