Amados
irmãos e irmãs!
A
XXIV Jornada Mundial do Doente dá-me ocasião para me sentir particularmente
próximo de vós, queridas pessoas doentes, e de quantos cuidam de vós.
Dado
que a referida Jornada vai ser celebrada de maneira solene na Terra Santa,
proponho que, neste ano, se medite a narração evangélica das bodas de Caná (Jo 2, 1-11), onde Jesus realizou o
primeiro milagre a pedido de sua Mãe. O
tema escolhido – Confiar em Jesus misericordioso, como Maria: «Fazei o que Ele
vos disser» (Jo 2, 5)
A doença, sobretudo se grave, põe sempre
em crise a existência humana e suscita interrogativos que nos atingem em
profundidade. Por vezes, o primeiro momento pode ser de rebelião: Porque havia
de acontecer precisamente a mim? Podemos sentir-nos desesperados, pensar que
tudo está perdido, que já nada tem sentido...
Nestas
situações, a fé em Deus se, por um lado, é posta à prova, por outro, revela
toda a sua força positiva; e não porque
faça desaparecer a doença, a tribulação ou os interrogativos que daí derivam,
mas porque nos dá uma chave para podermos descobrir o sentido mais profundo
daquilo que estamos a viver; uma chave que nos ajuda a ver como a doença pode
ser o caminho para chegar a uma proximidade mais estreita com Jesus, que
caminha ao nosso lado, carregando a Cruz. E esta chave é-nos entregue pela
Mãe, Maria, perita deste caminho.
Nas
bodas de Caná, Maria é a mulher solícita que se apercebe de um problema muito
importante para os esposos: acabou o vinho, símbolo da alegria da festa. Maria dá-Se conta da dificuldade, de certa
maneira assume-a e, com discrição, age sem demora. Não fica a olhar e, muito
menos, se demora a fazer juízos, mas dirige-Se a Jesus e apresenta-Lhe o
problema como é: «Não têm vinho» (Jo 2,
3). E quando Jesus Lhe faz notar que ainda não chegou o momento de revelar-Se
(cf. v. 4), Maria diz aos serventes: «Fazei
o que Ele vos disser» (v. 5). Então Jesus realiza o milagre, transformando
uma grande quantidade de água em vinho, um vinho que logo se revela o melhor de
toda a festa. Que ensinamento podemos tirar,
para a Jornada Mundial do Doente, do mistério das bodas de Caná?
O
banquete das bodas de Caná é um ícone da Igreja: no centro, está Jesus
misericordioso que realiza o sinal; em redor d’Ele, os discípulos, as primícias
da nova comunidade; e, perto de Jesus e dos seus discípulos, está Maria, Mãe
providente e orante. Maria participa na
alegria do povo comum, e contribui para a aumentar; intercede junto de seu
Filho a bem dos esposos e de todos os convidados. E Jesus não rejeitou o pedido
de sua Mãe.
Quanta
esperança há neste acontecimento para todos nós! Temos uma Mãe de olhar vigilante e bom, como seu Filho; o coração
materno e repleto de misericórdia, como Ele; as mãos que desejam ajudar,
como as mãos de Jesus que dividiam o pão para quem tinha fome, que tocavam os
doentes e os curavam. Isto enche-nos de confiança, fazendo-nos abrir à graça e
à misericórdia de Cristo. Maria é a Mãe
«consolada», que consola os seus filhos.
Na solicitude de Maria, reflete-se a
ternura de Deus. E a mesma ternura
torna-se presente na vida de tantas pessoas que acompanham os doentes e sabem
individuar as suas necessidades, mesmo as mais subtis, porque veem com um olhar
cheio de amor. Quantas vezes uma mãe à
cabeceira do filho doente, ou um filho que cuida do seu progenitor idoso, ou um
neto que acompanha o avô ou a avó, depõe a sua súplica nas mãos de Nossa
Senhora!
No
episódio de Caná, além de Jesus e sua Mãe, temos aqueles que são chamados
«serventes» e que d’Ela recebem esta recomendação: «Fazei o que Ele vos disser»
(Jo 2, 5). Naturalmente, o milagre dá-se por obra de Cristo; contudo Ele quer
servir-Se da ajuda humana para realizar o prodígio. Poderia ter feito
aparecer o vinho diretamente nas vasilhas. Mas quer valer-Se da colaboração humana e pede aos serventes que as encham
de água. Como é precioso e agradável aos olhos de Deus ser serventes dos
outros! Mais do que qualquer outra coisa, é isto que nos faz semelhantes a
Jesus, que «não veio para ser servido, mas para servir» (Mc 10, 45). Aqueles personagens anônimos do Evangelho dão-nos uma grande lição. Não
só obedecem, mas fazem-no generosamente: enchem as vasilhas até cima (cf. Jo 2,
7). Confiam na Mãe, fazendo, imediatamente e bem, o que lhes é pedido, sem
lamentos nem cálculos.
Nesta
Jornada Mundial do Doente, podemos pedir a Jesus misericordioso, pela
intercessão de Maria, Mãe d’Ele e nossa, que nos conceda a todos a mesma
disponibilidade ao serviço dos necessitados e, concretamente, dos nossos irmãos
e irmãs doentes. Por vezes, este serviço
pode ser cansativo, pesado, mas tenhamos a certeza de que o Senhor não deixará
de transformar o nosso esforço humano em algo de divino. Também nós podemos ser
mãos, braços, corações que ajudam a Deus a realizar os seus prodígios, muitas
vezes escondidos. Também nós, sãos ou doentes, podemos oferecer as nossas
canseiras e sofrimentos como aquela água que encheu as vasilhas nas bodas de
Caná e foi transformada no vinho melhor. Tanto com a ajuda discreta de quem
sofre, como suportando a doença, carrega-se aos ombros a cruz de cada dia e
segue-se o Mestre (cf. Lc 9, 23); e, embora o encontro com o
sofrimento seja sempre um mistério, Jesus ajuda-nos a desvendar o seu sentido.
Se soubermos seguir a voz d’Aquela que
recomenda, a nós também, «fazei o que Ele vos disser», Jesus transformará
sempre a água da nossa vida em vinho apreciado.
A
todos aqueles que estão ao serviço dos doentes e atribulados, desejo que vivam
animados pelo espírito de Maria, Mãe da Misericórdia. «A doçura do seu olhar nos acompanhe neste Ano Santo, para podermos
todos nós redescobrir a alegria da ternura de Deus» e levá-la impressa nos
nossos corações e nos nossos gestos.
Confiamos à intercessão da Virgem as
ânsias e tribulações, juntamente com as alegrias e consolações, dirigindo-Lhe a
nossa oração para que Ela pouse sobre nós o seu olhar misericordioso,
especialmente nos momentos de sofrimento, e nos torne dignos de contemplar,
hoje e para sempre, o Rosto da misericórdia que é seu Filho Jesus.
Acompanho
esta súplica por todos vós com a minha Bênção Apostólica.
Papa
Francisco
Lei a Mensagem na íntegra clique aqui
Nossa Senhora de Lourdes clique aqui
Nenhum comentário:
Postar um comentário