A Madre
Piedade da Cruz Ortíz Rea, fundadora das
Salesianas do Sagrado Coração em Alcantarilla (Múrcia), é um maravilhoso
exemplo da reconciliação que nos propõe São Paulo: "Foi Deus quem
reconciliou o mundo consigo, em Cristo" (2Co 5,19). Mas Deus pede a colaboração dos homens para
levar a cabo a sua obra de reconciliação. A Madre Piedade reuniu as diversas
jovens desejosas de mostrar aos humildes e aos pobres o amor do Pai providente
manifestado no Coração de Jesus, dando assim vida a uma nova família religiosa.
Modelo de virtudes cristãs e religiosas, enamorada por Cristo, pela Virgem
Maria e pelos pobres, deixa-nos o exemplo de austeridade, oração e caridade
para com todos os necessitados. Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação
Tomasa
Ortiz Real nasceu em Bocairente, Valência (Espanha), no dia 12 de novembro de
1842, tendo sido batizada no dia seguinte. Recebeu a Primeira Comunhão aos dez
anos, sacramento que despertou nela o desejo de pertencer inteiramente a Nosso
Senhor e viver para Ele.
Completou
a sua formação humana e espiritual no Colégio de Loreto, que as religiosas da
Sagrada Família de Burdeos tinham em Valência. Pediu várias vezes para ingressar no noviciado desse Instituto, mas seu
pai, considerando a situação política da época e a pouca idade da menina,
obrigou-a a voltar para casa.
Esta
etapa da sua vida em Bocairente foi caracterizada por três aspectos: o espírito de piedade e de oração, a sua
dedicação em fazer o bem às crianças pobres, aos idosos e aos doentes, e o
empenho em dar uma resposta àquilo que sentira no seu íntimo no dia da Primeira
Comunhão.
Tomasa
fez sem sucesso algumas tentativas para ingressar em um convento de clausura.
Ela intuiu depois que Deus não queria que ela seguisse aquele caminho. Ela
então pediu a Ele que lhe indicasse claramente a Sua vontade e, retirando-se em
oração, recitava assim: "Tua, meu
Jesus, desejo ser tua, porém, diz-me onde".
Tendo
a certeza de sentir-se chamada para uma vida de especial consagração, mas com a
dúvida de onde Deus a queria, Tomasa dirigiu-se para Barcelona. Depois de
muitas dificuldades, ali o Senhor respondeu à sua busca vocacional, fazendo-a
viver uma profunda experiência mística na qual o Coração de Jesus,
mostrando-lhe o seu lado esquerdo ensanguentado, lhe disse: "Olha como me deixaram os homens com a sua ingratidão. Queres
ajudar-me a levar esta cruz?". Tomasa respondeu: "Senhor, se tens
necessidade de uma vítima e me queres, estou aqui". Então, o Redentor
disse-lhe: "Funda, minha filha, que sobre ti e sobre a tua Congregação
concederei sempre misericórdia".
Esta
experiência foi determinante para Tomasa, dando-lhe uma certeza tão grande que
nunca a tirou de sua mente e do seu coração. Naquele momento ela compreendeu
que Deus lhe pedia para dar vida a um novo Instituto. A pergunta agora era:
“onde fundar?”. O Bispo D. Jaime Catalá indicou-lhe que abrisse seu coração com
seu confessor e fizesse o que ele mandasse.
No
mês de março, acompanhada de três postulantes, Tomasa saiu de Barcelona a
caminho de Puebla de Soto, a 1 km de Alcantarilla, para fundar ali, com a
autorização do Bispo de Cartagena-Murcia, a primeira Comunidade de Terciárias
da Virgem do Carmelo.
Após a tragédia das inundações de 1884, eclodiu a cólera. Tomasa, que então havia tomado o nome de Piedade da Cruz, e suas Filhas se desdobraram no cuidado dos doentes e a das meninas órfãs em um hospitalzinho que ela chamou de “A Providência”.
Foram
chegando mais jovens atraídas pelo modo de viver daquelas primeiras Terciárias
Carmelitas. A Casa tornou-se pequena e foi preciso comprar a de Alcantarilla.
Uma nova comunidade se estabeleceu em Caudete. Tudo fazia pensar que finalmente
ela havia encontrado o lugar onde levaria a cabo sua vocação.
Entretanto,
uma nova cruz: no mês de agosto as irmãs de Caudete foram para Alcantarilla e
levaram as noviças, deixando Madre Piedade da Cruz somente com a Irmã Alfonsa.
Foram dias de muita dor. A Fundadora, como sempre, se refugiou na oração;
prostrando-se diante de Nosso Senhor Jesus Cristo ali permanecia horas e horas
a seus pés.
Depois
de imensas dificuldades e tribulações, no dia 8 de setembro de 1890, chegou
para ela a hora de Deus. Nascia na
Igreja a Congregação das Irmãs Salesianas do Sagrado Coração de Jesus na qual
se devia amar, servir e reparar, ver o rosto do Senhor nas meninas órfãs, nas
jovens operárias, nos doentes, nos idosos abandonados e ajudá-los a levar a
cruz.
Embora
toda a vida de Madre Piedade tivesse sido uma renúncia do mundo, ela não deixou
o mundo, continuou nele fazendo o bem e lutando contra o mal. São testemunha
disto casamentos que ela impediu que se desfizessem, jovens que ela ia buscar
nas fábricas para formá-las na escola dominical, meninas sem lar que amou
entranhadamente, idosos solitários, doentes...
Viveu pobre e morreu pobre, sentada em
uma cadeira, porque “Aquele – dizia indicando o Crucifixo – morreu na
cruz e eu não devo morrer na cama, se não na terra”.
Madre
Piedade da Cruz expirou com o crucifixo nos lábios e na santa paz de Deus,
num sábado, dia 26 de fevereiro de 1916.
Depois
de um estudo exaustivo sobre as virtudes praticadas por Madre Piedade da Cruz,
em 1º de julho de 2000 elas foram reconhecidas como heroicas; e a 21 de março
de 2004, Madre Piedade foi beatificada em Roma
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