São Rafael de São
José, Kalinowski, nasceu em Vilna, na Polônia, no dia 1º de setembro de 1835.
Por
necessidade, matriculou-se na Escola Militar de Engenharia, e foi admitido à
Academia Militar Superior. Seus dotes morais e sua inteligência atraíram a
atenção dos professores. Assim, Kalinowski foi progredindo na carreira militar.
A
vida militar não o agradava, mas a Providência Divina o conduzia por este
caminho. No futuro, a arte militar lhe seria útil para ajudar a pátria. Mas não
queria permanecer muito tempo naquele ambiente no qual, segundo escreve em uma
de suas cartas, "ao buscar o
espírito, encontrava a matéria".
Em
1859 deixou a Academia e foi transferido para o Comando de Engenheiros de
Petersburgo e depois foi designado, a seu próprio pedido, para a fortaleza de
Brest Litowski, com a função de engenheiro superintendente da manutenção e
fortificação.
Além dos trabalhos
na fortaleza, dos deslocamentos ao Estado Maior de Petersburgo, Kalinowski
abriu em 1861, na cidade de Brest, uma casa para abrigar jovens abandonados e
fundou uma escola gratuita para eles. Em abril de 1862 foi promovido a Capitão
do Estado Maior do exército russo. Eram tempos difíceis, dado que a juventude
polaca de Varsóvia estava preparando a insurreição armada contra a Rússia.
Kalinowski,
que conhecia perfeitamente o poder militar russo, desaconselhava a insurreição;
mas, ao ver que os jovens compatriotas não queriam aceitar raciocínios
prudentes, pediu baixa do exército russo para não se ver obrigado a lutar
contra seu próprio povo. Em janeiro de 1863 explodiu a revolta. Kalinowski,
tendo recebido a aceitação de sua renúncia, deixou Brest Litowski e retornou a
sua casa em Vilna. Encontrou-se casualmente com o coronel José Galezowski, que
lhe pediu para assumir o cargo de Ministro da Guerra na Lituânia. Kalinowski
aconselhou-se com seu diretor espiritual e com pessoas de sua confiança e
aceitou o posto que lhe fora oferecido.
Assim ele justifica
os motivos de sua decisão: "O que
ouvira não me entusiasmava a participar na insurreição: mas deveria fechar os
olhos aos que haviam provocado o incêndio, e voltá-los, antes de mais nada,
para os que se atiravam a esse fogo trepidante, e isto foi decisivo".
Kalinowski retornou
às práticas da vida sacramental, graças à uma de suas irmãs, Maria, que, ao lhe
oferecer uma cruzinha de ouro destinada a um primo, Jaime Gieysztor, condenado
à deportação na Sibéria, suplicou a José que se confessasse. José não pôde
resistir a um convite tão amável e se confessou. Era o dia 15 de agosto de
1863. A partir deste dia começou a viver uma vida de intensa espiritualidade.
Enquanto
isso, os chefes da insurreição na Polônia e Lituânia caíam nas mãos dos russos
e eram condenados à morte ou deportados para a Sibéria. Em Vilna, durante os
meses de fevereiro e março, Kalinowski ficou só. Mas também foi levado na
madrugada de 24 para 25 de março de 1864. Foi processado e condenado ao
fuzilamento. A intervenção da família e outros motivos, entre os quais se
encontrava a grande estima moral de que ainda gozava entre os russos, induziram
o governador de Vilna, Murawiew, a comutar-lhe a pena de morte. Foi mandado
para o exílio e trabalhos forçados na Sibéria por dez anos.
Ao
final de nove meses de caminhada num percurso de 8.000 km, os sobreviventes,
entre os quais se encontrava Kalinowski, chegaram a Usolé, uma aldeia
construída às margens do rio Angara; os sobreviventes foram amontoados num
único salão do quartel local. É impossível se ter uma mínima ideia dos
sofrimentos enfrentados pelos deportados, expostos durante o inverno ao frio
siberiano, que oscilava entre 30 e 45 graus abaixo de zero, às tempestades de
neve e às enfermidades. Kalinowski a tudo suportou resignadamente, fortalecido
pela oração e uma profunda vida interior. Também pôde consolar, ajudar e animar
a seus desventurados companheiros. Por isso era muito querido. Tinham-no por
santo. O padre Nowakowski, capuchinho e companheiro de exílio, testemunha que
os prisioneiros chegavam a acrescentar às suas orações a seguinte invocação: "Pelas orações de José Kalinowski,
liberta-nos, Senhor!"
Em
agosto de 1868, o governo russo trocou a pena de trabalhos forçados para um
simples desterro em Irkutsk, onde permaneceu até 1872, ano em que recebeu
licença para estabelecer-se em Perm, próximo aos Montes Urais, de onde podia ir
abraçar seus familiares durante as férias.
A
repatriação definitiva ocorreu em 1874. Mas o decreto de anistia lhe proibia
estabelecer-se na Lituânia. Foi então para a casa de seu irmão Gabriel, em
Varsóvia, próxima à igreja dos Carmelitas Descalços.
Na
Sibéria, Kalinowski adquirira fama de excelente educador e ofereceram-lhe o
cargo de preceptor e educador do príncipe Augusto Czartoryski, que residia em
Paris, no "Hotel Lambert". Na residência parisiense do Hotel Lambert,
Kalinowski logo descobriu a riqueza interior de Augusto, sua vocação
sacerdotal. Durante três anos se dedicou a ele integralmente, com um carinho
sempre crescente. Nas contínuas viagens que Augusto precisava fazer, à procura
de locais de clima mais suave, devido à sua frágil saúde, Kalinowski sempre o
acompanhava. Transformou-se assim em verdadeiro pai, amigo, mestre,
companheiro, diretor espiritual e enfermeiro.
Kalinowski
entendeu que Augusto precisava de um educador sacerdote, enquanto ia, ele
mesmo, descobrindo sua vocação ao Carmelo. Augusto, efetivamente, tornou-se
sacerdote salesiano e morreu em odor de santidade. No dia 5 de julho de 1877,
Kalinowski deixou a família Czartoryski e se mudou para a Áustria.
Neste
mesmo ano a Madre Xaviera de Jesus Czartoryska fundou em Cracóvia o segundo
mosteiro, à rua Lobzowska, e com suas religiosas, tudo fez para restaurar o
ramo masculino da Província. No entanto, o problema mais agudo de seu projeto
era a falta de homens candidatos a tal empresa.
Eis
que aparece no horizonte a figura de José Kalinowski. Madre Czartoryska viu
nele o homem providencial e apto para uma obra grandiosa. Kalinowski não se
sentia apto para empreender a restauração do Carmelo na Polônia, mas decidiu
ingressar na Ordem para fazer penitência e orar por sua pátria e pela Igreja. A
Providência Divina, sem dúvida, atuou de tal forma em sua vida religiosa e
sacerdotal, que Kalinowski se tornou o verdadeiro restaurador da província
polaca.
No
dia 26 de novembro de 1877, Kalinowski ingressou no noviciado da Ordem dos
Carmelitas Descalços, em Graz, na Áustria, recebendo o hábito carmelitano e
adotando o nome de Frei Rafael de São José. O Mestre de noviços foi muito
exigente, mas Kalinowski, acostumado à vida dura da Sibéria, suportou todo o
rigor da vida religiosa.
Concluído
um noviciado exemplar, emitiu seus votos temporários e foi enviado a Raab
(Gyor), na Hungria, para iniciar seus estudos de filosofia e teologia. Aí
emitiu seus votos solenes no dia 27 de novembro de 1881. Foi mandado para
Czerna, onde foi ordenado sacerdote em 1882, pelo bispo Dom Albino Dunajewski.
Após sua ordenação, foi nomeado Vice Mestre dos noviços, e já em 1883, era
Prior.
Em
Wadowice, Frei Rafael "viveu os
anos mais belos de sua vida, dedicado à direção dos trabalhos, sobretudo à
educação dos jovens candidatos à vida religiosa, à direção espiritual de
numerosíssimas almas que procuravam sua direção espiritual (seu confessionário
em Wadowice, como em Czerna, era assediado até as primeiras horas da
madrugada". Organizou a Ordem Terceira Secular e a Irmandade do
Escapulário. Em meio a esta intensa atividade apostólica encontrou tempo para
investigações históricas e teológicas com as quais pudesse reforçar as bases
históricas e teológicas da restauração da Ordem e a renovação espiritual do
Povo de Deus.
Morreu
em Wadowice, no dia 15 de novembro de 1907, exatamente no dia da comemoração de
todos os fiéis falecidos do Carmelo. Todos estavam convencidos de que morrera
um santo.
Foi sobretudo um
homem de Deus, solícito em estar em contínua comunhão com Ele. Seus
contemporâneos são unânimes em defini-lo como "oração vivente".
Continuamente recordava a seus religiosos: "Nosso
principal afazer no Carmelo é o conversar com Deus em todas as nossas
ações". A oração, alimentada e sustentada pela austeridade, pelo
silêncio e pelo recolhimento, foram o cimento de toda sua vida espiritual.
Procurava viver em profunda intimidade com a Virgem Maria e isto recomendava a
seus frades e monjas. Venerava-a e a amava como "Mãe e Fundadora" da Ordem,
empenhando-se em tê-la sempre presente no espírito e se esforçava para trabalhar
por sua glória. Dizia: "Para os
religiosos e monjas carmelitas, o ato de honrar a Virgem Santíssima é de
capital importância. Nós a amamos verdadeiramente quando nos esforçamos em
imitar suas virtudes, especialmente sua humildade e seu recolhimento na
oração... Nosso olhar deve estar constantemente fixado nela, e a ela devem se
orientar todos os nossos afetos, conservando sempre a lembrança de seus
benefícios e esforçando-nos em lhe ser sempre fiéis".
O papa João Paulo
II o beatificou na Polônia, em 1983. Foi canonizado no dia 17 de novembro de
1991 pelo mesmo papa.
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