Nºs 71 a 80
A juventude não é
algo que se possa analisar de forma abstrata. Na realidade, a juventude não existe; o que há são jovens com as suas vidas
concretas. No mundo atual, cheio de progresso, muitas destas vidas estão
sujeitas ao sofrimento e à manipulação.
Percebemos, com
tristeza, que muitos jovens vivem em contextos de guerra e padecem a violência
numa variedade incontável de formas: raptos, extorsões, crime organizado,
tráfico de seres humanos, escravidão e exploração sexual, estupros de guerra,
etc. Outros jovens, por causa da sua fé, têm dificuldade em encontrar um lugar
nas suas sociedades e sofrem vários tipos de perseguição, que vai até à morte.
Numerosos são os jovens que, por constrangimento ou falta de alternativas,
vivem perpetrando crimes e violências: crianças-soldado, gangues armadas e
criminosos, tráfico de droga, terrorismo, etc. Abusos e dependências, bem como
violência e extravio contam-se entre as razões que levam os jovens à prisão,
com incidência particular nalguns grupos étnicos e sociais.
Muitos jovens são
mentalizados, instrumentalizados e utilizados como bucha de canhão ou como
força de choque para destruir, intimidar ou ridicularizar outros.
Ainda mais numerosos
no mundo são os jovens que padecem formas de marginalização e exclusão social,
por razões religiosas, étnicas ou econômicas. Lembramos a difícil situação de
adolescentes e jovens que ficam grávidas e a praga do aborto, bem como a
propagação do HIV/AIDS, as várias formas de dependência (drogas, jogos,
pornografia, etc.) e a situação dos meninos e adolescentes de rua, que carecem
de casa, família e recursos econômicos. E quando se trata de mulheres, estas
situações de marginalização tornam-se duplamente dolorosas e difíceis.
Não podemos ser uma
Igreja que não chora à vista destes dramas dos seus filhos jovens. Não devemos
jamais habituar-nos a isto, porque, quem não sabe chorar, não é mãe. Queremos
chorar para que a própria sociedade seja mais mãe, a fim de que, em vez de
matar, aprenda a dar à luz, de modo que seja promessa de vida. Choramos ao recordar os jovens que morreram
por causa da miséria e da violência e pedimos à sociedade que aprenda a ser uma
mãe solidária. Esta dor não passa, acompanha-nos, porque não se pode
esconder a realidade. A pior coisa que podemos fazer é aplicar a receita do
espírito mundano, que consiste em anestesiar os jovens com outras notícias, com
outras distrações, com banalidades.
Talvez aqueles de nós
que levamos uma vida sem grandes necessidades não saibamos chorar. Certas realidades da vida só se veem com os
olhos limpos pelas lágrimas. Convido cada um de vós a perguntar-se: Aprendi eu
a chorar, quando vejo uma criança faminta, uma criança drogada pela estrada,
uma criança sem casa, uma criança abandonada, uma criança abusada, uma criança
usada como escravo pela sociedade? Ou o meu não passa do pranto caprichoso
de quem chora porque quereria ter mais alguma coisa? Procura aprender a chorar
pelos jovens que estão em pior situação do que tu. A misericórdia e a compaixão
também se manifestam chorando. Se o pranto não te vem, pede ao Senhor que te
conceda derramar lágrimas pelo sofrimento dos outros. Quando souberes chorar, então serás capaz de fazer algo, do fundo do
coração, pelos outros.
Às vezes o sofrimento
de alguns jovens é lacerante, um sofrimento que não se pode expressar com
palavras, um sofrimento que nos fere como um soco. Estes jovens só podem dizer
a Deus que sofrem muito, o quanto lhes custa seguir em frente, que já não
acreditam em ninguém. Mas, neste grito desolador, fazem-se ouvir as palavras de
Jesus: Felizes os que choram, porque serão consolados. Há jovens que
conseguiram abrir caminho na vida, porque lhes chegou esta promessa divina. Junto a um jovem atribulado, possa haver
sempre uma comunidade cristã para fazer ressoar aquelas palavras com gestos,
abraços e ajuda concreta!
É verdade que os
poderosos prestam alguma ajuda, mas muitas vezes por um alto preço. Em muitos países pobres, a ajuda econômica
de alguns países mais ricos ou de alguns organismos internacionais costuma
estar vinculada à aceitação de propostas ocidentais relativas à sexualidade, ao
matrimônio, à vida ou à justiça social. Esta colonização ideológica
prejudica de forma especial os jovens. Ao mesmo tempo, vemos como certa
publicidade ensina as pessoas a estar sempre insatisfeitas, contribuindo assim
para a cultura do descarte, onde os próprios jovens acabam transformados em
material descartável.
A cultura atual
promove um modelo de pessoa estreitamente associado à imagem do jovem. Sente-se
belo quem se apresenta jovem, quem realiza tratamentos para esconder as marcas
do tempo. Os corpos jovens são constantemente usados na publicidade comercial. O modelo de beleza é um modelo juvenil, mas
estejamos atentos porque isto não é um elogio para os jovens. Significa apenas
que os adultos querem roubar a juventude para si mesmos, e não que respeitam,
amam e cuidam dos jovens.
Alguns jovens sentem
as tradições familiares como opressivas e abandonam-nas sob a pressão de uma
cultura globalizada que às vezes os deixa sem pontos de referência. Entretanto,
em outras partes do mundo, entre jovens e adultos não há um verdadeiro e
próprio conflito geracional, mas um alheamento recíproco. Por vezes, os adultos
não procuram ou não conseguem transmitir os valores basilares da existência ou
então assumem estilos próprios dos jovens, transtornando o relacionamento entre
as gerações. Quanto dano faz isto aos jovens, embora alguns não se deem conta!
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