Ainda pouco conhecido no
Brasil, São Pedro Fourier foi um grande sacerdote, e pode ser comparado ao Cura
d'Ars como pároco, a São João Bosco como fundador, a São Pedro de Alcântara
como reformador e a Santo Afonso de Ligório como missionário.
São Pedro Fourier, cônego de
Santo Agostinho, do Século XVI e quatro religiosas, sob a liderança da beata
Alix Le Clerc, fundam as bases da Congregação de Nossa Senhora - Cônegas de
Santo Agostinho. Sua missão é inovadora: numa época em que o direito à
instrução era de exclusividade masculina, chamam para si a tarefa de educar e
transmitir o saber para as meninas. Ele é o Patrono dos educadores e da
educação feminina.
Muitas vezes os santos devem
a famílias bem formadas e pais piedosos sua propensão para a santidade. São
Pedro Fourier não fugiu a essa regra. Seus pais, Domingos Fourier e Ana
Nacquart, legaram a seus cinco filhos, como seu maior tesouro, a integridade da
fé.
Pedro Fourier nasceu a 30 de
novembro de 1565 na região da Lorena (França), seus pais o consagraram
especialmente a Deus e o destinaram — caso correspondesse aos seus anseios —
para o sacerdócio. Deus aceitou esse oferecimento, cumulando o menino de graças
especiais.
Mas, sobretudo, o que nele
atraía e encantava era uma profunda bondade de coração. Todos se sentiam bem
com ele, e sabia-se que, ele presente, não haveria críticas vãs, rivalidades,
brigas, disputas nem outras coisas muito frequentes entre crianças quando entra
o amor próprio.
Aos 15 anos de idade foi
enviado à Universidade de Pont-à-Mousson, onde um tio paterno era reitor, a
qual gozava na época de grande fama devido a seus excelentes mestres.
A proteção de Nossa Senhora
foi para ele fundamental. Sobretudo recorria incessantemente à Rainha do Céu
para que o tomasse sob sua proteção e não permitisse que jamais uma falta
voluntária viesse tisnar-lhe a pureza virginal. Por devoção à Virgem, ingressou
na Congregação Mariana da universidade.
Pedro aprendeu tão bem o
latim, que lia correntemente o que os autores haviam escrito de mais difícil
nessa língua. Aprendeu também o grego, de modo a ler obras de São João
Crisóstomo e de outros Padres gregos da Igreja no original.
Ótimo aluno, com muita
facilidade para compreender e bem explicar o que aprendera, algumas famílias
pediram que fosse tutor de seus filhos, o que aceitou. Isso lhe seria de muito
proveito no futuro para a congregação que fundaria, dedicada ao ensino.
Mas Pedro queria
consagrar-se inteiramente a Deus. Não faltavam então na Lorena conventos e
casas religiosas cheias de fervor, que pudessem atraí-lo. Entretanto, escolheu
os Cônegos Regulares de Santo Agostinho, de Chaumousey, muito decadentes na
época, nela ingressando aos 20 anos de idade.
Apesar da sua profunda
humildade, quando noviço foi mal visto pelos outros religiosos, porque sua
observância exímia do regulamento era para eles uma constante censura. Enfim,
ele perseverou e recebeu a ordenação sacerdotal em 1589. Seu superior enviou-o
novamente à universidade de Pont-à-Mousson para completar seus estudos de
teologia sob a direção de seu parente, João Fourier, que também teve a glória
de haver formado São Francisco de Sales.
Após ter-se aprofundado no
estudo da teologia, Sagradas Escrituras e obras dos Padres da Igreja, voltou
para seu convento, pelo desejo de seus superiores de que ali ele restabelecesse
a antiga regularidade e fervor.
Sem criticar ou queixar-se,
procurava conquistar seus confrades pelo exemplo. A tática não surtiu efeito,
pois os maus odeiam os bons porque são bons. Três ou quatro membros dos mais
irregulares da comunidade uniram-se contra ele, submetendo-o a toda sorte de
confusões, chacotas e maus tratos; inclusive atentaram contra sua vida,
procurando envenená-lo. Mas Pedro comia tão pouco, que não lhe fez mal o veneno
que lhe ministraram. Sua mortificação salvou-lhe a vida.
Após dois anos de provações,
talvez para livrá-lo dos maus tratos, em relação aos quais Pedro parecia muito
fraco para combater, o superior nomeou-o vigário de Mattaincourt, situada num
vale risonho regado pelo rio Madon. Essa cidadezinha, de grande indiferença
religiosa, estava muito influenciada pelo calvinismo por causa de suas relações
comerciais com Genebra, a capital dessa heresia na época.
São Pedro Fourrier logo
constatou que a ignorância religiosa, a sede de prazeres, a heresia e o ateísmo
haviam criado profundas raízes na cidade. Antecedendo ao Santo Cura d’Ars em
quase 200 anos, começou a reconquistar seus paroquianos, um a um. Ia às casas,
onde procurava reunir três ou quatro famílias, ensinando-lhes os preceitos do
Evangelho. Inculcava-lhes de tal maneira os princípios de nossa salvação, que
emocionava os assistentes.
Ele ia ao encontro dos
libertinos e alcoólatras e lhes atirava em face sua impiedade e malícia. Tudo
isso fruto de uma caridade, uma ternura e um tal interesse pela salvação de
suas almas, que os tocava a fundo.
Mas havia também de
conquistar os “espíritos fortes” da cidade. Depois de muito rezar e fazer
penitência por eles, Pedro Fourier tomava uma atitude extremamente caridosa: ia
à casa desses ímpios e, com voz tonitruante, autoridade e firmeza, os exortava,
por sua impiedade. Depois, no tribunal da penitência, ele obtinha duradouros
frutos.
Todos sabiam que o pároco
era tudo para todos. Estava sempre pronto, a qualquer hora do dia ou da noite,
para atender qualquer caso. Visitava os doentes e também as escolas,
informando-se da conduta dos alunos, aperfeiçoando-lhes os métodos e ensinando
ele mesmo o catecismo às crianças.
Os artesãos e comerciantes
caídos em desgraça eram por ele socorridos. Criou para socorrê-los um fundo,
chamado de Bolsa de São Evre. Os nobres empobrecidos e envergonhados
encontravam nele um apoio seguro.
Para conjurar a cólera de
Deus, manifestada nos flagelos naturais como enchentes ou secas, recorreu à
Santíssima Virgem como advogada e instituiu três Sociedades apostólicas –– uma
de São Sebastião para os homens, e duas para as mulheres: do Santo Rosário e da
Imaculada Conceição, ou Filhas de Maria.
Fez cunhar uma medalha com
os dizeres: “Maria foi concebida sem pecado”, que distribuiu por toda
a Lorena. Assim, mais de 200 anos antes da proclamação desse dogma, ele
divulgou essa devoção à Mãe de Deus.
São Pedro Fourier mudou a
face de Mattaincourt, que se transformou num oásis, no qual floresciam as
virtudes cristãs. O uso dos sacramentos passou a ser frequente, os casados
viviam em boa harmonia, muitos jejuavam ou usavam instrumentos de mortificação,
e mesmo levavam seu cilício e seu terço ao trabalho.
Isso fez com que os prelados
da região lhe pedissem que fosse pregar missões em suas dioceses.
Nessa faina, teve contato
profundo com os vícios e a corrupção de costumes da sociedade, o que lhe
sangrava o coração. O que podia fazer para solucionar essa situação? Depois de
muito rezar e meditar chegou à conclusão de que era necessário educar a
mocidade, bem cedo, na infância, e submetê-la à direção de pessoas sábias e
piedosas. Formando os jovens desde cedo, os preservaria dos males do século.
Tentou então fundar uma obra para a educação dos meninos e outra para a das
meninas. Entretanto só teve êxito com a obra para as meninas.
Um grupo de donzelas, por
ele dirigidas, declarou que estavam dispostas a se consagrar a Deus na obra que
ele meditava. Surgiu assim a Congregação de Nossa Senhora das Cônegas
Regulares de Santo Agostinho, que logo se espalhou pela Lorena e pela França.
Antes de sua morte, São Pedro Fourier pôde ver trinta e dois mosteiros
solidamente estabelecidos. Foi ele, assim, o precursor das várias
congregações dedicadas ao ensino, que surgiram depois na Igreja.
A caridade de São Pedro
Fourier era, entretanto, muito mais ampla, e abraçava outras obras de
apostolado. Por isso, em 1621 ele se pôs a trabalhar na reforma da decadente
Ordem dos Cônegos Regulares, numa antiga abadia de São Remígio, de Luneville,
com seis noviços. Deus abençoou de tal modo essa empresa que, quatro anos
depois, já oito casas das mais consideráveis abraçavam sua reforma. Em 1629
formaram a Congregação de Nosso Salvador.
Em 1625 São Pedro foi
enviado para tentar a conversão dos habitantes do Principado de Salm, próximo
de Nancy, que tinham apostatado e abraçado o calvinismo. Em seis meses todos os
protestantes, a quem ele chamava de “pobres estrangeiros”, retornaram à fé.
Uma das suas mais profundas
dores nesse tempo foi a de saber que, em sua cara cidade de Mattaincourt, 40
pessoas haviam ficado possessas do demônio e constituíam fontes de desordens na
igreja e na paróquia. Acorreu logo em socorro de suas antigas ovelhas, e por
meio de exorcismos, jejuns, preces e penitências conseguiu livrar seus antigos
paroquianos da possessão diabólica.
Em 1636, o rei da França
exigiu que Pedro fizesse um juramento que ia contra sua consciência e contra o
papa. Em vez disso, preferiu o exílio. Teve, então, de mudar-se para a diocese
de Gray, na Borgonha.
Embora tivesse o cargo de
superior da Ordem, os últimos quatro anos ele passou exercitando o que mais
gostava e que fizera em toda sua vida: ensinando as crianças e os jovens numa
escola gratuita que ele mesmo ali fundara.
O grande educador, fundador
e pregador Pedro Fourier morreu no dia 9 de dezembro de 1640, em
Gray. Foi canonizado, em 1897, pelo papa Leão XIII.
Nenhum comentário:
Postar um comentário