sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

São Pedro Fourier

Ainda pouco conhecido no Brasil, São Pedro Fourier foi um grande sacerdote, e pode ser comparado ao Cura d'Ars como pároco, a São João Bosco como fundador, a São Pedro de Alcântara como reformador e a Santo Afonso de Ligório como missionário.

São Pedro Fourier, cônego de Santo Agostinho, do Século XVI e quatro religiosas, sob a liderança da beata Alix Le Clerc, fundam as bases da Congregação de Nossa Senhora - Cônegas de Santo Agostinho. Sua missão é inovadora: numa época em que o direito à instrução era de exclusividade masculina, chamam para si a tarefa de educar e transmitir o saber para as meninas. Ele é o Patrono dos educadores e da educação feminina.

Muitas vezes os santos devem a famílias bem formadas e pais piedosos sua propensão para a santidade. São Pedro Fourier não fugiu a essa regra. Seus pais, Domingos Fourier e Ana Nacquart, legaram a seus cinco filhos, como seu maior tesouro, a integridade da fé.

Pedro Fourier nasceu a 30 de novembro de 1565 na região da Lorena (França), seus pais o consagraram especialmente a Deus e o destinaram — caso correspondesse aos seus anseios — para o sacerdócio. Deus aceitou esse oferecimento, cumulando o menino de graças especiais.

Mas, sobretudo, o que nele atraía e encantava era uma profunda bondade de coração. Todos se sentiam bem com ele, e sabia-se que, ele presente, não haveria críticas vãs, rivalidades, brigas, disputas nem outras coisas muito frequentes entre crianças quando entra o amor próprio.
Aos 15 anos de idade foi enviado à Universidade de Pont-à-Mousson, onde um tio paterno era reitor, a qual gozava na época de grande fama devido a seus excelentes mestres.

A proteção de Nossa Senhora foi para ele fundamental. Sobretudo recorria incessantemente à Rainha do Céu para que o tomasse sob sua proteção e não permitisse que jamais uma falta voluntária viesse tisnar-lhe a pureza virginal. Por devoção à Virgem, ingressou na Congregação Mariana da universidade.

Pedro aprendeu tão bem o latim, que lia correntemente o que os autores haviam escrito de mais difícil nessa língua. Aprendeu também o grego, de modo a ler obras de São João Crisóstomo e de outros Padres gregos da Igreja no original.

Ótimo aluno, com muita facilidade para compreender e bem explicar o que aprendera, algumas famílias pediram que fosse tutor de seus filhos, o que aceitou. Isso lhe seria de muito proveito no futuro para a congregação que fundaria, dedicada ao ensino.

Mas Pedro queria consagrar-se inteiramente a Deus. Não faltavam então na Lorena conventos e casas religiosas cheias de fervor, que pudessem atraí-lo. Entretanto, escolheu os Cônegos Regulares de Santo Agostinho, de Chaumousey, muito decadentes na época, nela ingressando aos 20 anos de idade.

Apesar da sua profunda humildade, quando noviço foi mal visto pelos outros religiosos, porque sua observância exímia do regulamento era para eles uma constante censura. Enfim, ele perseverou e recebeu a ordenação sacerdotal em 1589. Seu superior enviou-o novamente à universidade de Pont-à-Mousson para completar seus estudos de teologia sob a direção de seu parente, João Fourier, que também teve a glória de haver formado São Francisco de Sales.
Após ter-se aprofundado no estudo da teologia, Sagradas Escrituras e obras dos Padres da Igreja, voltou para seu convento, pelo desejo de seus superiores de que ali ele restabelecesse a antiga regularidade e fervor.
Sem criticar ou queixar-se, procurava conquistar seus confrades pelo exemplo. A tática não surtiu efeito, pois os maus odeiam os bons porque são bons. Três ou quatro membros dos mais irregulares da comunidade uniram-se contra ele, submetendo-o a toda sorte de confusões, chacotas e maus tratos; inclusive atentaram contra sua vida, procurando envenená-lo. Mas Pedro comia tão pouco, que não lhe fez mal o veneno que lhe ministraram. Sua mortificação salvou-lhe a vida.

Após dois anos de provações, talvez para livrá-lo dos maus tratos, em relação aos quais Pedro parecia muito fraco para combater, o superior nomeou-o vigário de Mattaincourt, situada num vale risonho regado pelo rio Madon. Essa cidadezinha, de grande indiferença religiosa, estava muito influenciada pelo calvinismo por causa de suas relações comerciais com Genebra, a capital dessa heresia na época.

São Pedro Fourrier logo constatou que a ignorância religiosa, a sede de prazeres, a heresia e o ateísmo haviam criado profundas raízes na cidade. Antecedendo ao Santo Cura d’Ars em quase 200 anos, começou a reconquistar seus paroquianos, um a um. Ia às casas, onde procurava reunir três ou quatro famílias, ensinando-lhes os preceitos do Evangelho. Inculcava-lhes de tal maneira os princípios de nossa salvação, que emocionava os assistentes.
Ele ia ao encontro dos libertinos e alcoólatras e lhes atirava em face sua impiedade e malícia. Tudo isso fruto de uma caridade, uma ternura e um tal interesse pela salvação de suas almas, que os tocava a fundo.

Mas havia também de conquistar os “espíritos fortes” da cidade. Depois de muito rezar e fazer penitência por eles, Pedro Fourier tomava uma atitude extremamente caridosa: ia à casa desses ímpios e, com voz tonitruante, autoridade e firmeza, os exortava, por sua impiedade. Depois, no tribunal da penitência, ele obtinha duradouros frutos.

Todos sabiam que o pároco era tudo para todos. Estava sempre pronto, a qualquer hora do dia ou da noite, para atender qualquer caso. Visitava os doentes e também as escolas, informando-se da conduta dos alunos, aperfeiçoando-lhes os métodos e ensinando ele mesmo o catecismo às crianças.

Os artesãos e comerciantes caídos em desgraça eram por ele socorridos. Criou para socorrê-los um fundo, chamado de Bolsa de São Evre. Os nobres empobrecidos e envergonhados encontravam nele um apoio seguro.

Para conjurar a cólera de Deus, manifestada nos flagelos naturais como enchentes ou secas, recorreu à Santíssima Virgem como advogada e instituiu três Sociedades apostólicas –– uma de São Sebastião para os homens, e duas para as mulheres: do Santo Rosário e da Imaculada Conceição, ou Filhas de Maria.

Fez cunhar uma medalha com os dizeres: “Maria foi concebida sem pecado”, que distribuiu por toda a Lorena. Assim, mais de 200 anos antes da proclamação desse dogma, ele divulgou essa devoção à Mãe de Deus.

São Pedro Fourier mudou a face de Mattaincourt, que se transformou num oásis, no qual floresciam as virtudes cristãs. O uso dos sacramentos passou a ser frequente, os casados viviam em boa harmonia, muitos jejuavam ou usavam instrumentos de mortificação, e mesmo levavam seu cilício e seu terço ao trabalho.
Isso fez com que os prelados da região lhe pedissem que fosse pregar missões em suas dioceses.

Nessa faina, teve contato profundo com os vícios e a corrupção de costumes da sociedade, o que lhe sangrava o coração. O que podia fazer para solucionar essa situação? Depois de muito rezar e meditar chegou à conclusão de que era necessário educar a mocidade, bem cedo, na infância, e submetê-la à direção de pessoas sábias e piedosas. Formando os jovens desde cedo, os preservaria dos males do século. Tentou então fundar uma obra para a educação dos meninos e outra para a das meninas. Entretanto só teve êxito com a obra para as meninas.

Um grupo de donzelas, por ele dirigidas, declarou que estavam dispostas a se consagrar a Deus na obra que ele meditava. Surgiu assim a Congregação de Nossa Senhora das Cônegas Regulares de Santo Agostinho, que logo se espalhou pela Lorena e pela França. Antes de sua morte, São Pedro Fourier pôde ver trinta e dois mosteiros solidamente estabelecidos. Foi ele, assim, o precursor das várias congregações dedicadas ao ensino, que surgiram depois na Igreja.

A caridade de São Pedro Fourier era, entretanto, muito mais ampla, e abraçava outras obras de apostolado. Por isso, em 1621 ele se pôs a trabalhar na reforma da decadente Ordem dos Cônegos Regulares, numa antiga abadia de São Remígio, de Luneville, com seis noviços. Deus abençoou de tal modo essa empresa que, quatro anos depois, já oito casas das mais consideráveis abraçavam sua reforma. Em 1629 formaram a Congregação de Nosso Salvador.

Em 1625 São Pedro foi enviado para tentar a conversão dos habitantes do Principado de Salm, próximo de Nancy, que tinham apostatado e abraçado o calvinismo. Em seis meses todos os protestantes, a quem ele chamava de “pobres estrangeiros”, retornaram à fé.

Uma das suas mais profundas dores nesse tempo foi a de saber que, em sua cara cidade de Mattaincourt, 40 pessoas haviam ficado possessas do demônio e constituíam fontes de desordens na igreja e na paróquia. Acorreu logo em socorro de suas antigas ovelhas, e por meio de exorcismos, jejuns, preces e penitências conseguiu livrar seus antigos paroquianos da possessão diabólica.

Em 1636, o rei da França exigiu que Pedro fizesse um juramento que ia contra sua consciência e contra o papa. Em vez disso, preferiu o exílio. Teve, então, de mudar-se para a diocese de Gray, na Borgonha.
Embora tivesse o cargo de superior da Ordem, os últimos quatro anos ele passou exercitando o que mais gostava e que fizera em toda sua vida: ensinando as crianças e os jovens numa escola gratuita que ele mesmo ali fundara.

O grande educador, fundador e pregador Pedro Fourier morreu no dia 9 de dezembro de 1640, em Gray. Foi canonizado, em 1897, pelo papa Leão XIII.


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