Entre 1901 e 1913, emigraram para a América quase cinco
milhões de italianos, dos quais mais de três milhões vieram do sul. A
verdadeira doença social, um dreno, como diziam vários políticos e sociólogos.
Juntamente com os dramas que a emigração despertava, vale a pena recordar uma
santa italiana, que olhou para este fenômeno com olhos muito humanas, uma
cristã, merecendo, assim, o título de "mãe de emigrantes": Madre
Francisca Xavier Cabrini, que fundou o Instituto das Irmãs Missionárias do Sagrado Coração de Jesus.
Filha de família pobre,
cresceu em meio à miséria que pairava, em meados do século XIX, no norte da
Itália. Franzina, de saúde fraca, não conseguiu ser aceita nos conventos.
Apesar disso, era dona de uma alma grandiosa, digna de figurar entre os santos.
Assim pode ser definida santa Francisca Cabrini, com sua vida voltada somente
para a caridade e o bem do próximo.
Francisca Cabrini foi a
penúltima de quinze filhos de Antônio e Estela, camponeses muito pobres na
pequena Santo Ângelo Lodigiano, região da Lombardia. Nascida em 15 de julho de
1850, desde pequena se entusiasmava ao ler a vida dos santos. Seu preferido era
São Francisco Xavier, a quem venerou tanto que assumiu seu sobrenome, se
auto-intitulando Xavier. Sua infância e adolescência foram tristes e simples,
cheia de sacrifícios e pesares.
Quando pequena, Chiquinha
(como era conhecida) gostava de brincar de barquinhos e de colher violetas.
Quando adolescente, era franzina e muito tímida.
Mais tarde disse: "
Quem diria que eu fui por tanto tempo tão tímida? Não ousava levantar os olhos,
por medo de faltar de modéstia. - Chegou o dia, porém em que compreendi que ,
na verdade, devia tê-los bem aberto para o bem do Instituto. E nada mais pôde
me intimidar."
Francisca, porém, gostava
tanto de ler e se aplicava de tal forma nos estudos que seus pais fizeram o
possível para que ela pudesse tornar-se professora.
Mal se viu formada, porém,
encontrou-se órfã. No prazo de um ano perdeu o pai e a mãe. Enquanto lecionava
e atuava em obras de caridade em sua cidade, acalentava o sonho de entregar-se
de vez à vida religiosa. Aos poucos, foi criando coragem e, por fim, pediu
admissão em dois conventos, mas não foi aceita em nenhum. A causa era a sua
fragilidade física. Mas também influiu a displicência e o egoísmo do padre da
paróquia, que a queria trabalhando junto dele nas obras de caridade da
comunidade.
Francisca, embora
decepcionada, nunca desistiu do sonho. Passado o tempo, quando já tinha trinta
anos de idade, desabafou com um bispo o quanto desejava abraçar uma obra
missionária e esse a aconselhou: “Quer ser missionária? Pois se não existe
ainda um instituto feminino para esse fim, funde um”.
Foi, exatamente, o que ela
fez.
Com o auxílio do vigário, em
1877 fundou o Instituto das Irmãs Missionárias do Sagrado Coração de Jesus, que
colocou sob a proteção de São Francisco Xavier. Ainda: obteve o apoio do papa
Leão XIII, que apontou o alvo para as missões de Francisca:
“O Ocidente, não o
Oriente, como fez são Francisco”.
Era o período das grandes
migrações rumo às Américas por causa das guerras que assolavam a Itália. As
pessoas chegavam aos cais do Novo Mundo desorientadas, necessitadas de apoio,
solidariedade e, sobretudo, orientação espiritual. Francisca preparou
missionárias dispostas e plenas de fé, como ela, para acompanhar os imigrantes
em sua nova jornada.
Tinham o objetivo de fundar,
nas terras aonde chegavam, hospitais, asilos e escolas que lhes possibilitassem
calor humano, amparo e conforto.
Como uma pessoa que pensava
muito nas crianças ela já pensava em montar um orfanato. Em março de 1889 ela
já tinha o terreno que queria. Apesar de toda fragilidade e saúde precária, nos
próximos 30 anos ela viajou pelos Estados Unidos fundando escolas, orfanatos e
hospitais. Nada a fazia parar.
Em trinta anos de intensa
atividade, Francisca Cabrini fundou sessenta e sete Casas na Itália, França e
nas Américas, no Brasil inclusive. No dia 11 de junho de 1894, numa audiência
com o Papa ela recebeu a aprovação para uma expedição que desejava fazer para o
Brasil. Em 1896 ela montou um colégio em Lima (no Peru). Na mesma ocasião
esteve no Equador e na Argentina.
Mais de trinta vezes cruzou
os oceanos aquela “pequena e fraca professora lombarda”, que enfrentava,
destemida, as autoridades políticas em defesa dos direitos de seus imigrantes
nos novos lares.
Madre Cabrini com 57 anos e
com a saúde debilitada não se deu por vencida e voltou a viajar. Ao invés de
ficar na Itália, resolveu vir ao Brasil. Aqui já havia uma casa que tinha sido
aberta por um grupo de irmãs da Argentina.
No ano de 1908 ela
enfrentava uma epidemia e uma perseguição no Rio de Janeiro. Não se deixou
abater e ainda teve forças para procurar um terreno na Tijuca para abrir o Colégio
Regina Coeli, onde hoje funciona o Centro de Formação e Espiritualidade Cabriniano.
Depois de um ano no Rio de
Janeiro, Madre Cabrini volta aos Estados Unidos para percorrer suas
obras. Vai para a Itália e o Papa Pio X, com um decreto de 16 de julho de 1910,
confirma Madre Cabrini como Superiora Geral vitalícia.
Em dezembro de 1911, com as
poucas forças que lhe restam, resolve voltar aos Estados Unidos, onde ainda tem
forças para reerguer o Hospital Columbus de Nova Iorque. Amplia e constrói
escolas e orfanatos.
Madre Cabrini, como era
popularmente chamada, morreu em Chicago, Estados Unidos, em 22 de dezembro de
1917. Solenemente, seu corpo foi transportado para Nova York, onde o sepultaram
na capela anexa à Escola Madre Cabrini, para ficar mais próxima dos imigrantes.
Canonizada
em 1946, santa Francisca Xavier Cabrini é festejada no mundo todo, no dia de
sua morte, como padroeira dos imigrantes.
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