Dentro da oitava
de Natal e vivendo as alegrias da festa do Mistério da Encarnação de Jesus
Cristo, a Igreja celebra a festa da
Sagrada Família, apresentando-nos Jesus, Maria e José, a família de Nazaré,
como inspiradora e modelo para todas as outras.
Todos nós conhecemos os nomes e santidade de seus
membros: Jesus – Deus entre nós, que nos salva; Maria – a cheia de graça; José
– o homem justo. Uma família sagrada!
A celebração nos
convida a refletir sobre a família hoje, seus problemas, desafios e esperanças.
Somos convidados
pela Igreja a debruçar nosso olhar sobre esta realidade tão próxima de nossa
vida cotidiana como uma chamada de atenção acerca dos rumos que o secularismo
leva a dilapidar a entidade familiar, do casamento de um homem com uma mulher.
Se nunca olharmos reflexivamente as realidades cotidianas mais próximas, elas
perderão sua evidência vital e decairão inexoravelmente. Refletir como cristãos
sobre a família hoje é uma necessidade, pois estamos sujeitos a uma pressão
contrária constante, e não é cristã, que imperceptivelmente, sem que o
percebamos, transforma nosso pensar, e o transforma para pior. Na
"pregação" de revistas, novelas, filmes, livros e romances, o amor
esponsal não é mais entendido como uma entrega da vida ao cônjuge num decidido
amor oblativo que, passando pelas crises do convívio de individualidades
diferentes, sempre ressurge, renasce, renova-se, cresce e amadurece. Para eles
é entendido como busca da "minha" felicidade, isto é, como busca de
si, tornando o amor esponsal superficial e frágil, em que a emotividade
subjetiva toma lugar da decisão vital e, com isso, não há capacidade de
resistir às inevitáveis tempestades da vida.
O amor esponsal
cristão como "decisão de toda uma vida" tem como referencial o amor
com que o Senhor nos amou. É um amor que exige busca e luta, sim, mas que dá
profunda realização ao viver conjugal, tornando-o elo conquistado de vigor
indissolúvel, aliança eterna de duas existências.
É este o amor que
tem a capacidade de criar os filhos, educá-los e torná-los aptos para uma vida
de bem. Edificados em cima de um fundamento como este, eles não cairão
facilmente nos desvios que a face decadente de nossa sociedade ostensivamente
lhes oferece, como drogas, sexo, alienação das questões sociais e políticas,
exasperada afirmação de si, na indiferença e, muitas vezes, na exclusão e na
exploração do outro.
Contemplando a
Sagrada Família, somos convidados a olhar para as nossas, que estão expostas a
tantas dificuldades. E somos interpelados pelo Evangelho de Jesus Cristo para
que façamos delas verdadeiras comunidades de fé e de amor, promotoras e
defensoras da vida em todas as dimensões, alicerçadas nos valores da fidelidade
e da indissolubilidade.
Ao celebrarmos a
festa da Sagrada Família, somos convidados a viver os valores que as leituras
bíblicas dessa celebração nos apresentam. O livro do Eclesiástico nos propõe
amar e respeitar nossos pais: "Quem honra seu pai alcança o perdão dos
pecados, quem respeita sua mãe é como alguém que ajunta tesouros."
E o apóstolo Paulo, na Carta aos Colossenses, exorta-nos
a revestirmos de misericórdia, bondade, humildade e mansidão, e insiste para
que saibamos amar e perdoar. São os caminhos para se construir uma verdadeira
família.
Busquemos a inspiração familiar na contemplação da Sagrada Família de Nazaré. Neste dia seguinte ao santo Natal dirijamos o nosso olhar ao Menino Jesus que, na casa de Maria e de José, cresceu em sabedoria e conhecimento, até o dia em que deu início ao seu ministério público.
O Concílio Vaticano
II ensina-nos que as crianças desempenham um papel especial, fazendo crescer os
seus pais em santidade (cf. Gaudium et spes, 48). Convido os jovens para que
reflitam sobre isso, permitindo que o exemplo de Jesus vos oriente não apenas
na manifestação do respeito aos vossos pais, mas também os ajudando a descobrir
mais plenamente o amor, que confere à vossa vida o sentido mais completo. Na
Sagrada Família de Nazaré, Jesus ensinou a Maria e José um pouco da grandeza do
amor de Deus, seu Pai celeste, nascente última de cada amor, o Pai de quem toda
a paternidade no céu e na terra adquire o seu nome (cf. Ef 3, 14-15).
Que Jesus, Maria e
José abençoem e encorajem nossas famílias para que elas sejam fiéis à missão
que Deus lhes confiou, sendo verdadeiras "Igrejas domésticas" a
testemunhar para o mundo os valores evangélicos, a exemplo da família santa de
Nazaré.
Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
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