A vida de São João da Cruz
não foi um "voar sobre nuvens místicas", mas foi uma vida muito dura,
muito prática e concreta, seja como reformador da ordem, onde encontrou tantas
oposições, seja como superior provincial, seja no cárcere de seus coirmãos,
onde era exposto a insultos inacreditáveis e a mal tratos físicos. Foi uma vida
dura, mas exatamente nos meses passados nos cárceres ele escreveu uma das suas
obras mais bonitas.
E, assim, podemos
compreender que o caminho com Cristo, o andar com Cristo, "a Via", não é um
peso a mais ao já suficientemente duro fardo da nossa vida, não é algo que
tornaria mais pesado esse fardo, mas é algo completamente diferente, é uma luz,
uma força, que nos ajuda a levar esse fardo.
Se um homem carrega consigo um grande amor,
esse amor lhe dá quase asas, e suporta mais facilmente todas as moléstias da
vida, porque leva em si essa grande luz; isso é a fé: ser amado por Deus e
deixar-se amar por Deus em Cristo Jesus. Esse deixar-se amar é a luz que nos
ajuda a levar o fardo todo o dia. E a santidade não é uma obra nossa, muito
difícil, mas é exatamente essa "abertura": abrir as janelas da nossa
alma para que a luz de Deus possa entrar, não esquecer a Deus, porque
exatamente na abertura à sua luz se encontra a força, se encontra a alegria dos
remidos.
Peçamos ao Senhor para que nos ajude a
encontrar essa santidade, deixemo-nos amar por Deus, que é a vocação de nós
todos e a verdadeira redenção.
Papa Bento XVI – 16 de fevereiro de 2011
Seu nome de batismo era Juan
de Yepes. Nasceu em Fontivaros, na província de Ávila, Espanha, em 1542, talvez
em 24 de junho. Seus pais se chamavam Gonzalo de Yepes e Catalina Alvarez.
Gonzalo pertencia a uma família de posses da cidade de Toledo. Por ter-se
casado com uma jovem de classe “inferior” foi deserdado por seus pais e
tornou-se tecelão de seda.
Em 1548, a família muda-se
para Arévalo, tendo seu pai morrido quando ele era ainda uma criança. Em 1551
transfere-se para Medina del Campo, onde o futuro reformador do Carmelo estuda
numa escola destinada a crianças pobres. Por suas aptidões, torna-se empregado
do diretor do Hospital de Medina del Campo.
Entre 1559 a 1563 estuda
Humanidades com os Jesuítas. Ingressou na Ordem dos Carmelitas aos vinte e um
anos de idade, em 1563, quando recebe o nome de Frei João de São Matias, em
Medina del Campo. Pensa em tornar-se irmão leigo, mas seus superiores não o
permitiram. Entre 1564 e 1568 faz sua profissão religiosa e estuda em
Salamanca. Tendo concluído com êxito seus estudos teológicos, em 1567 ordena-se
sacerdote e celebra sua Primeira Missa.
Infelizmente, ficou muito
desiludido pelo relaxamento da vida monástica em que viviam os conventos
carmelitas. Decepcionado, tenta passar para a Ordem dos Cartuxos, ordem muito
austera, na qual poderia viver a severidade de vida religiosa à que se sentia
chamado.
Em setembro de 1567
encontra-se com Santa Teresa, que lhe fala sobre o projeto de estender a
Reforma da Ordem Carmelita também aos padres. O jovem de apenas vinte e cinco
anos de idade aceitou o desafio. Trocou o nome para João da Cruz. No dia 28 de
novembro de 1568, juntamente com Frei Antônio de Jesús Heredia, inicia a
Reforma. O desejo de voltar à mística religiosidade do deserto custou ao santo
fundador maus tratos físicos e difamações.
Em 1577, os Carmelitas
Calçados de Ávila, que não estavam nada contentes com a boa fama e o apreço que
o povo tinha por Frei João da Cruz e pelos frades da nova família de
Carmelitas, chamada dos Descalços, por ele fundada. Decidiram, por fim à situação.
E a melhor forma que encontraram foi a de prender a alma do Carmo Descalço,
Frei João da Cruz.
Assim o pensaram e assim o
fizeram uma noite, saltaram silenciosamente o muro da casa onde vivia,
arrombaram as portas e prenderam Frei João. Levaram-no em segredo para o
convento de Toledo. Ninguém teve tempo para reagir, tudo foi feito em grande
sigilo e com tanta rapidez e discrição que ninguém pôde intervir. Santa Teresa
escreveu ao rei Filipe II, mas como ninguém sabia de nada, Frei João continuara
na prisão. Os Calçados tentaram fazer por todos os meios, lícitos e ilícitos,
que Frei João abandonasse a obra começada. Torturas físicas e psicológicas,
belas ofertas, de poder e de riqueza, até mesmo uma cruz de ouro cravejada de
pedras preciosas!
Ao que Frei João respondeu: «Quem procura
seguir a Cristo pobre, não precisa de jóias nem de ouro».
Durante nove meses, de Dezembro a Agosto, Frei
João permaneceu no cárcere, onde quase morrendo de frio no Inverno, quase
asfixiado de calor no Verão, para comer davam-lhe pão, água e algumas
sardinhas. Martirizaram o seu corpo com duras disciplinas. Durante mais de meio
ano não lhe permitiram mudar ou lavar o hábito. O cárcere consiste num cubículo
tão minúsculo que até mesmo Frei João, sendo pequeno de corpo, mal cabia. A 15
de Agosto Frei João pede que lhe deixem celebrar Missa por ser a Festa de Nossa
Senhora. Indelicada e brutalmente o Prior recusa o pedido. É então que Frei
João da Cruz aproveitando a liberdade que o novo carcereiro concede, Frei João
de S. Maria, decide fugir, antes, porém, oferece ao seu carcereiro uma cruz de
madeira feita por si, pedindo-lhe perdão de todos os trabalhos que lhe causou.
Numa noite de Agosto, correndo os maiores perigos, desconhecendo em absoluto a
cidade de Toledo e sem a ajuda de ninguém, muito debilitado fisicamente, no
limite das suas forças, tão magro que as apodrecidas tiras de roupa de que se
serviu para saltar da janela não rebentaram e assim conseguirá fugir da prisão!
Acolheu-se no convento das Carmelitas Descalças que se assustaram e se
alvoroçam ao vê-lo, pois mais parecia um morto do que um vivo!
A doutrina de João da Cruz é
plenamente fiel à antiga tradição: o objetivo do homem na terra é alcançar
“Perfeição da Caridade e elevar-se à dignidade de filho de Deus pelo amor”; a
contemplação não é um fim em si mesma, mas deve conduzir ao amor e à união com
Deus pelo amor e, por último, deve levar à experiência dessa união à qual tudo
se ordena”. “Não há trabalho melhor nem mais necessário que o amor”, disse o
Santo. “Fomos feitos para o amor”. “O único instrumento do qual Deus se serve é
o amor”. “Assim como o Pai e o Filho estão unidos pelo amor, assim o amor é o
laço da união da alma com Deus”.
O amor leva às alturas da
contemplação, mas como o amor é produto da fé, que é a única ponte que pode
salvar o abismo que separa a nossa inteligência do infinito de Deus, a fé
ardente e vívida é o princípio da experiência mística. João da Cruz costuma
pedir a Deus três coisas: que não deixasse passar um só dia de sua vida sem
enviar-lhe sofrimentos, que não o deixasse morrer ocupando o cargo de superior
e que lhe permitisse morrer humilhado e desprezado.
Conta-se que ele pedia,
insistentemente, três coisas a Deus. Primeiro, dar-lhe forças para trabalhar e
sofrer muito. Segundo, não deixá-lo sair desse mundo como superior de uma Ordem
ou comunidade. Terceiro, e mais surpreendente, que o deixasse morrer desprezado
e humilhado pelos seres humanos. Para ele, fazia parte de sua religiosidade
mística enfrentar os sofrimentos da Paixão de Jesus, pois lhe proporcionava
êxtases e visões. Seu misticismo era a inspiração para seus escritos, que foram
muitos e o colocam ao lado de santa Tereza de Ávila, outra grande mística do
seu tempo. Assim, foi atendido nos três pedidos.
Pouco antes de sua morte, João da Cruz teve graves dissabores por causa das
incompreensões e calúnias. Foi exonerado de todos os cargos da comunidade,
passando os últimos meses na solidão e no abandono.
Faleceu no convento de
Ubeda, aos quarenta e nove anos, à meia-noite do dia 14 de dezembro de 1591,
após três meses de sofrimentos atrozes. Seu corpo foi trasladado para
Segovia em maio de 1593.
A primeira edição de suas
obras deu-se em Alcalá, em 1618.
No dia 25 de janeiro de 1675
foi beatificado por Clemente X. Foi canonizado em 27 de dezembro de 1726 e
declarado Doutor da Igreja em 1926 por Pio XI . Em 1952 foi proclamado
"Patrono dos Poetas Espanhóis".
Algumas frases de São João da Cruz clique aqui
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