“Tereis sempre pobres entre
vós” (Mt 26, 11)... São José Cottolengo abraçou avidamente
essa preciosa herança deixada por Jesus à sua Igreja e a eles dedicou toda
a sua existência.
José Cottolengo sentiu-se
atraído pela bondade e compaixão de Jesus em relação aos pequeninos, aos pobres
e doentes. Compreendeu, em profundidade, as riquezas de amor do Coração de um
Deus por aqueles a quem denominou como os “menores de meus irmãos” (Mt 25, 40).
José Benedito Cottolengo
nasceu em Bra, no Piemonte, em maio de 1786. Desde a infância deu provas de sua vocação, sendo encontrado um dia medindo
um dos quartos de sua casa com o objetivo de saber quantas camas caberiam ali
para receber doentes.
Terminados os estudos, dos
quais saiu-se brilhantemente graças à intercessão de São Tomás de Aquino, foi
ordenado sacerdote e mais tarde, em 1818, eleito cônego do cabido de Corpus
Domini em Turim.
Em 1827 deu início à sua
obra, fundando a “Pequena Casa da Divina Providência”, onde acolheu inúmeros
enfermos e abandonados. Para o cuidado destes, criou primeiro um instituto de
religiosas chamado “Filhas de São Vicente” e, alguns anos depois, outro,
denominado “Irmãos de São Vicente de Paulo”.
As dificuldades para a
realização de seus desígnios não foram pequenas. Muitos outros dotados de uma
fé robusta, mas não cega como a sua, teriam desanimado na metade do caminho.
Continuamente achava-se sem recursos e acossado por credores incompreensivos exigindo
o pagamento das dívidas. Por outro lado, via crescer todo dia o número de seus
protegidos que acorriam à “Pequena Casa”, atraídos, não só pelas necessidades
de saúde, mas, sobretudo, pela fama de sua bondade sem limites.
São José Benedito era um homem
essencialmente contemplativo e desapegado das coisas terrenas. A característica
preponderante de sua santidade e de sua missão era a inteira confiança na
Divina Providência. Poder-se-ia dizer
que toda a sua espiritualidade sintetizava-se nesta frase do Evangelho: “Buscai
em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos
serão dadas por acréscimo” (Mt 6, 33).
Com frequência costumava
dizer aos seus: “Estai certos de que a Divina Providência nunca falta; poderão faltar
as famílias, os homens, mas a Providência não nos faltará. Isso é de fé.
Portanto, se em alguma ocasião faltar algo, isso só poderá ser atribuído à
nossa falta de confiança. É necessário confiar sempre em Deus; e, se Deus
responde com sua Divina Providência à confiança ordinária, proverá extraordinariamente
a quem extraordinariamente confiar”.
Uma fé assim levada a grau
tão heroico só poderia obter resultados miraculosos, e estes foram abundantes
ao longo da existência de nosso santo. Em certa ocasião, a religiosa encarregada
da cozinha veio anunciar-lhe:
— Nada resta de farinha na
casa… Amanhã não haverá pão para alimentar os indigentes!
— Por que vos inquietais por
tão pouco? Bem vedes como a chuva cai às torrentes e é impossível mandar alguém
sair neste momento — respondeu ele.
A boa irmã, que não atingira
na perfeição aquele santo abandono de seu Fundador, retirou-se muito
descontente com a resposta. Alguns instantes depois, Cottolengo entrou no
refeitório e — imaginando-se só, sem desconfiar que outra irmã o espiava pelo
buraco da fechadura — ajoelhou-se diante da imagem da Santíssima Virgem e orou
fervorosamente com os braços em cruz.
Passaram-se apenas alguns
minutos e um homem, conduzindo uma carroça, apresentou-se à porta do
estabelecimento. Sem querer informar de onde vinha nem por quem fora enviado,
declarou ter o encargo de depositar na “Pequena Casa” toda a farinha que trazia
em seu veículo. As freiras logo acorreram, alvoroçadas, para contar tudo ao
santo cônego. Este acolheu a notícia sem manifestar a menor surpresa e tranquilamente
lhes deu ordem de fazer o pão.
Em outra ocasião, São José
Benedito viu-se diante de uma situação ainda mais apertada. Um de seus credores
chegou a ameaçá-lo de morte caso não lhe pagasse a dívida naquele mesmo
instante. Ele desculpou-se, pediu-lhe para ter um pouco mais de paciência,
prometendo fazê-lo tão logo fosse possível. Mas o homem mostrou-se inflexível
e, sem mais, tirou de dentro de sua vestimenta uma arma com a qual se dispunha
a acabar com a vida do santo. Num gesto maquinal, este levou a mão ao bolso e,
para sua grande surpresa, encontrou um rolo contendo exatamente a soma
reclamada. Entregou-a logo ao credor e este partiu dali confuso por sua atitude
violenta, e impressionado diante do milagre e do exemplo de serena confiança
que acabava de presenciar.
Seu desejo de fazer o bem a
todos quantos dele se aproximavam não conhecia restrições nem obstáculos:
chegava ao extremo de prodigalizar os cuidados mais humildes aos doentes e de
entrar nos jogos dos débeis mentais, com o intuito de distraí-los. Não
considerava isto uma humilhação, pois analisava tudo com vistas sobrenaturais,
sabendo que o importante não está em fazer grandes obras ou realizar prodígios
estupendos, mas sim em ser aos olhos de Deus aquilo que Ele quer de nós. Dessa
elevada concepção da vida, que impregnava todos os seus atos, decorria o alegre
desprendimento com o qual se abandonava à vontade de Deus, repetindo
sempre: “Por que ficais angustiados pelo dia de amanhã? A Providência não
pensará nisso, pois já pensastes vós. Não arruineis, portanto a sua obra e
deixai-a agir. Embora nos seja permitido pedir um bem temporal determinado,
entretanto, quanto ao que a mim se refere, temeria cometer uma falta se pedisse
algo nesse sentido”.
Em 1842 faleceu José
Benedito Cottolengo. Durante sua permanência neste mundo, os anseios de seu
coração e a vida de sua alma estiveram voltados unicamente para a glória de
Deus. Por isso deixou atrás de si uma obra monumental de Caridade para com
próximo, que hoje está presente em quatro continentes, como prova irrefutável
da veracidade da promessa de Jesus Cristo. Ele só procurara o Reino de Deus e
sua justiça, Nosso Senhor lhe concedera tudo por acréscimo.
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