sexta-feira, 1 de abril de 2016

Santa Maria do Egito

De uma grande pecadora, a santa Maria se transformou, com a ajuda de Deus, numa grande justa, numa das maiores santas e nos deixou um grande exemplo de penitencia.

Santa Maria do Egito viveu em meados do V século e começo do VI. A sua juventude não foi nada promissora: ela tinha somente 12 anos, quando saiu de sua casa em Alexandria, e ficando livre do controle dos pais, jovem e inexperiente como era se envolveu com a vida devassa. 
Não havia ninguém quem podia detê-la e tinha muitos sedutores e muitas tentações em volta dela. Assim, ela passou 17 anos nesta vida de luxúria e prostituição, até que Deus misericordioso providenciou a sua penitencia.
Aconteceu isto assim: Por força curiosidade, Maria se juntou a um grupo de peregrinos, que estavam se dirigindo para a Terra Santa. Durante a viagem no navio, a Maria não parava de seduzir os romeiros e a pecar.

Ela mesma narra sua experiência:
O dia sagrado da Exaltação da Cruz despontou, enquanto eu ainda estava à caça de jovens. Ao amanhecer, vi que todos corriam para a igreja então, corri com o resto deles. Quando a hora da sagrada elevação se aproximou eu estava tentando abrir caminho entre a multidão, que lutava para chegar às escadarias. Finalmente, com grande dificuldade, consegui ir me espremendo quase até às portas da igreja, de onde a Vivificante Árvore da Cruz estava sendo mostrada ao povo. Mas quando eu pisei no limiar da porta, por onde todos entraram, fui impedida por uma força que não me deixou entrar. Entretanto, completamente ignorada pela multidão me encontrei sozinha no pórtico da igreja. Pensando que isto tivesse acontecido devido à minha fraqueza de mulher, comecei novamente a abrir caminho com os cotovelos no meio da multidão. Mas era em vão meu esforço. Novamente meus pés pisaram no limiar onde outros iam entrando na igreja, sem encontrar nenhum obstáculo. Eu somente parecia não ser aceita na igreja. Era como se um destacamento de soldados estivesse lá de pé, se opondo à minha entrada. Mais uma vez fui excluída pela mesma força poderosa e novamente fiquei no limiar.

Havendo tentado por três ou quatro vezes, finalmente me senti esgotada e não tendo mais forças para empurrar e ser empurrada, fui para o lado e permaneci num canto do pórtico. E então, com grande dificuldade, começou a despontar algo em mim e comecei a perceber a razão pela qual eu estava sendo impedida de ver a Cruz Vivificante. A palavra da salvação gentilmente tocou os olhos do meu coração e revelou-me que era minha vida impura que fechava a entrada para mim. Comecei a chorar e lamentar e bater no meu peito e a suspirar das profundezas do meu coração. E assim permaneci chorando, quando vi acima, um ícone da Santíssima Mãe de Deus. E voltando para ela meus olhos do corpo e da alma eu disse:

“Ó Senhora, Mãe de Deus, que deste à luz na carne a Deus, a Palavra; eu sei, ó quão bem eu sei, que não há nenhuma honra ou louvor para vós quando alguém tão impura e depravada como eu, olha para teu ícone, ó sempre Virgem, que mantiveste vosso corpo e alma na pureza. Certamente inspiro desprezo e desgosto ante vossa pureza virginal. Mas já ouvi que Deus, que nasceu de vós, se tornou homem para chamar pecadores à conversão. Então, ajude-me, pois não tenho outro auxílio. Ordene que os portais da igreja se abram para mim. Permita-me ver a venerável Árvore na qual Ele que nasceu de vós, sofreu na carne e na qual Ele derramou seu preciosíssimo Sangue pela redenção dos pecadores e para mim, indigna como sou. Seja minha testemunha fiel diante de Teu Filho que eu nunca mais corromperei meu corpo na impureza da fornicação, mas tão logo eu veja a Árvore da Cruz, renunciarei ao mundo e às suas tentações e irei onde quer que me conduzas.”

Assim falei e como se recobrasse nova esperança, com fé firme e sentindo alguma confiança na misericórdia da Mãe de Deus, deixei o lugar onde tinha ficado rezando. E fui novamente, misturada à multidão que fazia seu caminho dentro do templo. E ninguém parecia impedir-me, ninguém estorvou minha entrada na igreja. Fiquei possuída de tremor e estava quase à beira do delírio. Tendo chegado tão próximo das portas, o que eu não conseguira antes, como se a mesma força que me impedira agora abrisse caminho para mim, eu agora entrava sem dificuldade e me encontrei no lugar santo. E então vi a Cruz Vivificante. Vi também os Mistérios de Deus e como o Senhor aceita o arrependimento. Jogando-me ao chão, adorei aquela terra santa e tremendo, beijei-a. Então saí da igreja e fui àquela que prometeu ser minha segurança, ao lugar onde eu selei meu voto. E dobrando meus joelhos diante da Virgem Mãe de Deus dirigi a ela estas palavras:
“Ó Amável Senhora, vós mostrastes-me vosso grande amor por todos os homens. Glória a Deus, que aceita o arrependimento de pecadores através de vós. O que mais posso lembrar ou dizer, eu que sou tão pecadora? É hora para mim, ó Senhora, de cumprir meu voto, de acordo com o vosso testemunho. Agora, conduza-me pela mão pelo caminho do arrependimento!'

E ao dizer estas palavras ouvi uma voz do alto:
'Se tu atravessares o Jordão irás encontrar glorioso repouso'.

Maria cumpriu a sua promessa de mudar a sua vida. Ela se retirou de Jerusalém para o deserto de Jordão e lá viveu quase meio século em solidão, rezando e jejuando. Assim, com estes atos de penitencia ela se livrou completamente de todo desejo pecaminoso e purificou o seu coração para que este se transformasse num templo do Espírito Santo. O ancião Zózimo, no mosteiro do Profeta João o Precursor, por providência de Deus, encontrou a santa Maria no deserto, quando esta já era uma anciã.

Ele foi maravilhado com sua santidade e seu dom de prever as coisas. Uma vez ele viu Maria quando durante a oração ela se levantou acima da terra, levitando e, outra vez, quando ela atravessava o rio Jordão como uma terra firme. Na despedida do velho Zózimo, Maria pediu-lhe que ele voltasse dentro de um ano, para dar-lhe a comunhão. Zózimo voltou para o deserto conforme combinado e lhe deu a Santa Comunhão. Depois, após um ano voltando mais uma vez ele a encontrou morta. O velho Zózimo enterrou as santas relíquias lá mesmo no deserto e na sua tarefa lhe ajudou um leão, que com as suas garras cavou a cova para o sepultamento do corpo da justa.


Santa Maria faleceu em 521.

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