quarta-feira, 17 de abril de 2019

Christus vivit - Jesus Cristo sempre jovem: Uma Igreja atenta aos sinais dos tempos


Nºs 39 a 42

Enquanto Deus, a religião e a Igreja não passam de palavras vazias para numerosos jovens, os mesmos mostram-se sensíveis à pessoa de Jesus, quando ele é apresentado de modo atraente e eficaz. Por isso é necessário que a Igreja não esteja demasiado debruçada sobre si mesma, mas procure sobretudo refletir Jesus Cristo. Isto implica reconhecer humildemente que algumas coisas concretas devem mudar e, para isso, precisa de recolher também a visão e mesmo as críticas dos jovens.

Um número consistente de jovens, pelos motivos mais variados, nada pede à Igreja, porque não a consideram significativa para a sua existência. Aliás, alguns pedem-lhe expressamente para ser deixados em paz, uma vez que sentem a sua presença como importuna e até mesmo irritante. Muitas vezes este pedido não nasce dum desprezo acrítico e impulsivo, mas mergulha as raízes mesmo em razões sérias e respeitáveis: os escândalos sexuais e econômicos; a falta de preparação dos ministros ordenados, que não sabem reconhecer de maneira adequada a sensibilidade dos jovens; pouco cuidado na preparação da homilia e na apresentação da Palavra de Deus; o papel passivo atribuído aos jovens no seio da comunidade cristã; a dificuldade da Igreja dar razão das suas posições doutrinais e éticas perante a sociedade atual.

Embora haja jovens a quem agrada ver uma Igreja que se manifesta humildemente segura dos seus dons e também capaz de exercer uma crítica leal e fraterna, outros jovens reclamam uma Igreja que escute mais, que não passe o tempo a condenar o mundo. Não querem ver uma Igreja calada e tímida, mas tampouco desejam que esteja sempre em guerra por dois ou três assuntos que a obcecam. Para ser credível aos olhos dos jovens, precisa às vezes de recuperar a humildade e simplesmente ouvir, reconhecer, no que os outros dizem, alguma luz que a pode ajudar a descobrir melhor o Evangelho.
Uma Igreja na defensiva, que perde a humildade, que deixa de escutar, que não permite ser questionada, perde a juventude e transforma-se num museu.
Embora possua a verdade do Evangelho, isto não significa que a tenha compreendido plenamente; antes, deve crescer sempre na compreensão deste tesouro inesgotável.

Por exemplo, uma Igreja demasiado temerosa e estruturada pode ser constantemente crítica de todos os discursos sobre a defesa dos direitos das mulheres, e apontar constantemente os riscos e os possíveis erros dessas reclamações. Ao passo que uma Igreja viva pode reagir prestando atenção às legítimas reivindicações das mulheres, que pedem maior justiça e igualdade; pode repassar a história e reconhecer uma longa trama de autoritarismo por parte dos homens, de sujeição, de várias formas de escravidão, abusos e violência machista.
Com este olhar, poderá fazer suas aquelas reclamações de direitos e dará, convictamente, a sua contribuição para uma maior reciprocidade entre homens e mulheres, embora não concorde com tudo o que propõem alguns grupos feministas. Nesta linha, renovamos o empenho da Igreja contra toda a discriminação e violência com base no sexo. Esta é a reação duma Igreja que se mantém jovem e se deixa interpelar e estimular pela sensibilidade dos jovens.


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