Nºs 39 a 42
Enquanto Deus, a
religião e a Igreja não passam de palavras vazias para numerosos jovens, os
mesmos mostram-se sensíveis à pessoa de Jesus, quando ele é apresentado de modo
atraente e eficaz. Por isso é necessário que a Igreja não esteja demasiado
debruçada sobre si mesma, mas procure
sobretudo refletir Jesus Cristo.
Isto implica reconhecer humildemente que algumas coisas concretas devem mudar
e, para isso, precisa de recolher também a visão e mesmo as críticas dos
jovens.
Um número consistente
de jovens, pelos motivos mais variados, nada pede à Igreja, porque não a
consideram significativa para a sua existência. Aliás, alguns pedem-lhe
expressamente para ser deixados em paz, uma vez que sentem a sua presença como
importuna e até mesmo irritante. Muitas vezes este pedido não nasce dum
desprezo acrítico e impulsivo, mas mergulha as raízes mesmo em razões sérias e
respeitáveis: os escândalos sexuais e econômicos; a falta de preparação dos
ministros ordenados, que não sabem reconhecer de maneira adequada a
sensibilidade dos jovens; pouco cuidado na preparação da homilia e na
apresentação da Palavra de Deus; o papel passivo atribuído aos jovens no seio
da comunidade cristã; a dificuldade da Igreja dar razão das suas posições
doutrinais e éticas perante a sociedade atual.
Embora haja jovens a
quem agrada ver uma Igreja que se manifesta humildemente segura dos seus dons e
também capaz de exercer uma crítica leal e fraterna, outros jovens reclamam uma
Igreja que escute mais, que não passe o tempo a condenar o mundo. Não querem
ver uma Igreja calada e tímida, mas tampouco desejam que esteja sempre em
guerra por dois ou três assuntos que a obcecam. Para ser credível aos olhos dos jovens, precisa às vezes de recuperar a
humildade e simplesmente ouvir, reconhecer, no que os outros dizem, alguma luz
que a pode ajudar a descobrir melhor o Evangelho.
Uma Igreja na
defensiva, que perde a humildade, que deixa de escutar, que não permite ser
questionada, perde a juventude e transforma-se num museu.
Embora possua a
verdade do Evangelho, isto não significa que a tenha compreendido plenamente;
antes, deve crescer sempre na compreensão deste tesouro inesgotável.
Por exemplo, uma Igreja
demasiado temerosa e estruturada pode ser constantemente crítica de todos os
discursos sobre a defesa dos direitos das mulheres, e apontar constantemente os
riscos e os possíveis erros dessas reclamações. Ao passo que uma Igreja viva
pode reagir prestando atenção às legítimas reivindicações das mulheres, que
pedem maior justiça e igualdade; pode repassar a história e reconhecer uma
longa trama de autoritarismo por parte dos homens, de sujeição, de várias
formas de escravidão, abusos e violência machista.
Com este olhar,
poderá fazer suas aquelas reclamações de direitos e dará, convictamente, a sua
contribuição para uma maior reciprocidade entre homens e mulheres, embora não
concorde com tudo o que propõem alguns grupos feministas. Nesta linha, renovamos o empenho da Igreja contra toda a discriminação
e violência com base no sexo. Esta é a reação duma Igreja que se mantém
jovem e se deixa interpelar e estimular pela sensibilidade dos jovens.
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