"Ele destruirá a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces" (Is 25, 8). Estas palavras do profeta Isaías contêm a promessa que sustentou Afonsa da Imaculada Conceição durante uma vida de extremo sofrimento físico e espiritual.
Esta mulher extraordinária, que no dia
de hoje é oferecida ao povo da Índia como a sua primeira Santa canonizada,
estava persuadida de que a sua cruz constituía o instrumento apropriado para
participar no banquete celestial que lhe tinha sido preparado pelo Pai.
Aceitando o convite à festa nupcial e adornando-se com a veste da graça de Deus
através da oração e da penitência, ela conformou a sua existência à vida de
Cristo e hoje delicia-se com as "carnes suculentas e os vinhos refinados"
do Reino celeste (cf. Is 25,
6). Escrevia: "Considero um dia sem
sofrimento como um dia perdido". Possamos imitá-la, carregando a nossa
cruz para nos unirmos a ela um dia no Paraíso.”
Papa
Bento XVI- Homilia de Canonização – 12 de outubro de 2008
Annakutty (diminutivo de Ana) Muttathupadathu nasceu em uma aldeia de Kudamalur, na
Índia, a 19 de agosto de 1910. Seu batismo foi feito no rito católico
siro-malabar.
Desde o nascimento, a sua vida foi marcada pela
cruz, que gradualmente se revelará a ela como a maneira real de se conformar a
Cristo. Sua mãe, Maria Puthukari, deu à luz prematuramente, enquanto ela
estava no oitavo mês de gravidez, após o susto causado por uma cobra que,
enquanto dormia, se apegara à sua cintura. Oito dias depois, em 28 de agosto,
o bebê foi batizado pelo padre Giuseppe Chakalayil, de acordo com o rito
siro-Malabar. Foi a
última dos cinco filhos.
Contudo,
foi a avó materna que a fez descobrir a fé e o amor pela oração já em tenra
idade: aos 5 anos guiava a oração noturna da família, costume do rito oriental
ao qual a família pertencia. Em 11 de novembro de 1917, Annakutty recebeu
pão eucarístico pela primeira vez. Ela disse aos amigos: "Vocês
sabem por que estou particularmente feliz hoje? Porque eu tenho Jesus no
meu coração!”
E em uma carta a seu diretor espiritual, datada
de 30 de novembro de 1943, ela mais tarde confidenciava: “Desde os sete
anos de idade, não sou mais minha. Eu me dediquei inteiramente ao meu
divino Noivo. Vossa Reverência conhece bem”.
Na
época em que frequentou a escola primária, iniciou uma relação de amizade com
as crianças hindus, nas quais encontrou com frequência conforto na sua
juventude, marcada por graves e difíceis doenças e pelas opressões da tia à
qual tinha sido confiada. Mulher muito autoritária, a tia queria que ela
casasse, aos 13 anos, com um tabelião. Contudo, Ana já tinha aderido no seu
coração ao projeto da Providência em relação a ela. Chegou a pôr o pé sobre
brasas incandescentes (queimando-se gravemente) ao concluir que tornando-se
parcialmente desfigurada o nenhum homem se interessaria por ela. O incidente
teve o resultado esperado: sua tia desistiu da intenção de casá-la. “O meu compromisso foi resolvido aos
treze anos. O que devo fazer para evitá-lo? Rezei a noite toda ...
então tive uma ideia. Se meu corpo estivesse um pouco desfigurado, ninguém
iria me querer! ... Quanto sofri! E ofereci tudo por minha grande intenção”.
O
encontro com o Pe. Muricken mudou a sua vida. Em 24 de maio de 1927, Annakutty ingressou em
Bharananganam, no atual território da diocese de Palai, para frequentar a
sétima turma como estudante interna. No ano seguinte, em 2 de agosto de
1928, Annakutty iniciou o postulado, assumindo o nome de Alfonsa da
Imaculada Conceição, em homenagem a Santo Afonso Maria de Ligório,
comemorado naquele dia. Em 19 de maio de 1930, ela vestiu o hábito
religioso durante a primeira visita pastoral a Bharananganam pelo bispo Mar
Giacomo Kalacherry.
Em Agosto de 1936, festa
de Santa Clara, emitiu a profissão perpétua. De físico frágil, continuou a
sofrer ulteriores enfermidades. Aceitou-as por amor ao Senhor. Um dos calvários
pelos quais passou foi o desejo de suas superioras para que ela voltasse para
casa, já que sua delicada saúde era considerada um obstáculo para a vida
religiosa, mas com a ajuda celeste esse problema foi superado. “Ó vocação que aceitei! Presente do
meu bom Deus! .... Deus viu a dor da minha alma naqueles dias. Deus
removeu as dificuldades e me levou a esse estado religioso”.
A
despeito de suas limitações físicas, a penitência era-lhe motivo de admiração: “para
cada pequena falta pedirei perdão ao Senhor e a expiarei com uma penitência;
sejam quais forem os meus sofrimentos, não me lamentarei jamais, e quando tiver
de enfrentar qualquer humilhação procurarei refúgio no Sagrado Coração de
Jesus”, registrou Afonsa em seus escritos. A pequena via de Santa
Teresinha do Menino Jesus foi o caminho que seguiu, porém em meio a grandes
sofrimentos orgânicos que se abateram sobre sua frágil saúde.
Faleceu
a 28 de Julho de 1946 no convento das Clarissas Franciscanas em Bharananganam.
O
Papa João Paulo II elevou-a às honras dos altares, proclamando-a beata em
Kottayam, durante a sua viagem à Índia e o papa Bento XVI a proclamou santa em
12 de outubro de 2008, tornando-se a primeira santa indiana.
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