O que devo fazer da minha vida?
Deus sempre responde a quem lhe faz esta pergunta
Chamava-se João de Fidanza.
Um episódio que teve lugar quando ainda era jovem marcou profundamente a sua
vida, como ele mesmo narra. Tinha sido atingido por uma grave doença e nem
sequer o seu pai, que era médico, esperava salvá-lo da morte. Então, sua mãe
recorreu à intercessão de São Francisco de Assis, que tinha sido canonizado há
pouco tempo. E João ficou curado.
A figura do Pobrezinho de
Assis tornou-se-lhe ainda mais familiar alguns anos mais tarde, quando se
encontrava em Paris, aonde tinha ido para estudar. Obtivera o diploma de Mestre
de Artes, que poderíamos comparar com o de um Liceu prestigioso dos nossos
tempos. Nesta altura, como muitos jovens de ontem e também de hoje, João
formulou uma pergunta crucial:
"O que devo fazer da
minha vida?".
Fascinado pelo testemunho de
fervor e de radicalidade evangélica dos Frades Menores, que tinham chegado a
Paris em 1219, João bateu à porta do Convento franciscano daquela cidade, e
pediu para ser acolhido na grande família dos discípulos de São Francisco. Muitos
anos depois, ele explicou as razões da sua escolha: em São Francisco e no
movimento por ele iniciado, entrevia a ação de Cristo.
Assim escrevia numa carta
endereçada a outro frade:
"Confesso diante de Deus que a razão que me fez amar mais a
vida do Beato Francisco é que ela se assemelha aos inícios e ao crescimento da
Igreja. A Igreja começou com simples pescadores e em seguida enriqueceu-se de
doutores muito ilustres e sábios; a religião do Beato Francisco não foi
estabelecida pela prudência dos homens, mas de Cristo"
Portanto, por volta do ano
de 1243 João vestiu o hábito franciscano e adquiriu o nome de Boaventura. Foi
imediatamente destinado aos estudos e frequentou a Faculdade de Teologia da
Universidade de Paris, seguindo uma série de cursos muitos exigentes. Obteve os
vários títulos requeridos pela carreira acadêmica.
Naqueles anos em Paris, a
cidade de adoção de Boaventura, desencadeava-se uma polêmica violenta contra os
Frades Menores de São Francisco de Assis e contra os Padres Pregadores de São
Domingos de Guzman. Contestava-se o seu direito de ensinar na Universidade e
chegava-se até a pôr em dúvida a autenticidade da sua vida consagrada.
Certamente, as mudanças introduzidas pelas Ordens Mendicantes no modo de
entender a vida religiosa, eram tão inovadoras que nem todos conseguiam
compreendê-las. Além disso acrescentavam-se, como às vezes acontece também
entre pessoas sinceramente religiosas, motivos de debilidade humana, como a
inveja e o ciúme.
Embora estivesse circundado
pela oposição dos outros mestres universitários, Boaventura já tinha começado a
ensinar na cátedra de teologia dos Franciscanos e, para responder àqueles que
contestavam as Ordens Mendicantes, compôs um escrito intitulado A
perfeição evangélica. Neste escrito, ele demonstra que as Ordens
Mendicantes, de modo especial os Frades Menores, praticando os votos de
pobreza, de castidade e de obediência, seguiam os conselhos do próprio
Evangelho.
Para além destas
circunstâncias históricas, o ensinamento oferecido por Boaventura nesta sua
obra e na sua vida permanece sempre atual:
a Igreja tornou-se mais
luminosa e bonita pela fidelidade à vocação da parte daqueles seus filhos e
filhas que não só põem em prática os preceitos evangélicos mas, pela graça de
Deus, são chamados a observar os seus conselhos e assim, através do seu estilo
de vida pobre, casto e obediente, são testemunho de que o Evangelho é nascente
de alegria e de perfeição.
O conflito foi pacificado,
pelo menos por um certo período e, mediante a intervenção pessoal do Papa
Alexandre IV em 1257, Boaventura foi reconhecido oficialmente doutor e mestre
da Universidade parisiense. Todavia, ele teve que renunciar a este cargo
prestigioso, porque naquele mesmo ano o Capítulo geral da Ordem o elegeu
Ministro-Geral.
Desempenhou tal encargo
durante 17 anos com sabedoria e dedicação, visitando as províncias, escrevendo
aos irmãos e intervindo por vezes com uma certa severidade para eliminar
abusos.
Quando Boaventura deu início
a este serviço, a Ordem dos Frades Menores desenvolveu-se de modo
prodigioso: contavam-se mais de 30.000 frades espalhados por todo o
Ocidente, com presenças missionárias no norte da África, no Médio Oriente e até
em Pequim. Era necessário consolidar esta expansão e, sobretudo conferir-lhe,
em plena fidelidade ao carisma de Francisco, unidade de ação e de espírito. Com
efeito, entre os seguidores do Santo de Assis havia vários modos de interpretar
a sua mensagem e existia realmente o risco de uma ruptura interna. Para evitar
este perigo, o Capítulo geral da Ordem em Narbona, em 1260, aceitou e retificou
um texto proposto por Boaventura, em que se reuniam e unificavam as normas que
regulavam a vida diária dos Frades Menores.
Reuniu, então, com grande
zelo documentos relativos ao Pobrezinho e ouviu com atenção as recordações
daqueles que tinham conhecido Francisco diretamente. Daqui nasceu uma biografia
do Santo de Assis, bem fundamentada sob o ponto de vista histórico, intitulada Legenda
maior.
Com efeito, o Capítulo geral
dos Frades Menores de 1263, reunindo-se em Pisa, reconheceu na biografia de São
Boaventura o retrato mais fiel do Fundador e deste modo ela tornou-se a
biografia oficial do Santo.
Qual é a imagem de São
Francisco que sobressai do coração e da pena do seu filho devoto e sucessor,
São Boaventura?
O ponto essencial:
Francisco é um alter Christus, um homem que procurou Cristo apaixonadamente. No amor que impele à
imitação, conformou-se de modo total com Ele.
Boaventura indicava este
ideal vivo a todos os seguidores de Francisco. Este ideal, válido para cada
cristão ontem, hoje e sempre, foi apontado como programa também para a Igreja
do Terceiro Milênio pelo Papa João Paulo II.
Em 1273, a vida de São
Boaventura conheceu outra mudança. O Papa Gregório x quis consagrá-lo Bispo e
nomeá-lo Cardeal. Pediu-lhe também que preparasse um importantíssimo evento
eclesial: o II Concílio Ecumênico de Lião, que tinha como finalidade o
restabelecimento da comunhão entre as Igrejas latina e grega. Ele dedicou-se a
esta tarefa com diligência, mas não conseguiu ver a conclusão daquela assembleia ecumênica, porque faleceu durante a sua realização.
Um notário pontifício
anônimo compôs um elogio de Boaventura, que nos oferece um retrato conclusivo
deste grande santo e excelente teólogo:
"Homem bom, afável, piedoso
e misericordioso, repleto de virtudes, amado por Deus e pelos homens... Com
efeito, Deus concedeu-lhe tal graça, que todos aqueles que o viam permaneciam
imbuídos de um amor que o coração não podia ocultar"
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