quarta-feira, 13 de setembro de 2017

13 de setembro - Beata Maria de Jesus Lopes de Rivas

A Reforma Teresiana do Carmelo se difundiu da Espanha para toda a Europa e depois para o mundo todo, graças a numerosas personalidades, algumas injustamente pouco conhecidas. É o caso da Beata Maria de Jesus, que Santa Teresa definiu como o seu "pequeno teólogo".

Durante oitenta anos de sua longa vida, a Espanha conheceu poder e esplendor, mas também a decadência. Maria, do convento de Toledo, do qual não se afastou, viveu os vários acontecimentos à luz da Fé, que olha além da realidade terrena. Algumas autobiografias falam dela, bem como seus escritos e o testemunho de contemporâneos e de santos que mantiveram com ela relacionamento, bem como a própria Santa Teresa de Jesus.

Maria López de Rivas nasceu numa nobre família de Tartanedo (Guadalajara) no dia 18 de agosto de 1560. Seu pai morreu quando ela tinha somente quatro anos e como era a única filha, herdou um patrimônio considerável. A mãe muito jovem tornou a se casar e a pequena ficou com os avós e tios paternos em Molina de Argon, onde foi educada nos princípios católicos.

De "rara beleza", dos catorze aos dezessete anos travou uma luta consigo mesma e com os familiares por causa do desejo que sentia de consagrar-se ao Senhor na Ordem Carmelita, há pouco reformada.

Deixando bem-estar e riqueza, entrou no convento de Toledo, introduzida pelo jesuíta Padre Castro, em 12 de agosto de 1577. Ela foi recebida por Santa Teresa, que nove anos antes havia fundado aquele convento. A Madre prognosticou a futura santidade da postulante e às hesitações em aceitá-la devido à saúde precária respondeu: "Deixemo-la professar, ainda que tivesse que ficar de cama todos os dias da sua vida. Esta é a vontade de Deus".
Santa Teresa propunha uma doação total de si ao Senhor o que correspondia ao desejo de Maria, apesar de sua timidez se manifestar às vezes de modo "sanguíneo e colérico".
Professou dia 8 de setembro de 1578. Os primeiros anos foram dedicados principalmente à oração, começando a se manifestar os dons místicos como os estigmas nas mãos, nos pés e na cabeça.

Com 24 anos foi nomeada mestra de noviças, cargo que ocupou por oito vezes, alternado com o de sacristã, enfermeira e sub-priora. Ausentou-se de Toledo por cinco meses em 1585, para a fundação de um novo convento em Cuerva. Pela primeira vez, aos 31 anos, foi nomeada priora.

Em 1600, quando faltava um ano para o término do segundo triênio de priorado, durante uma visita canônica, o superior, dando crédito às acusações infundadas de uma religiosa, depôs a Beata do cargo. Irmã Maria aceitou a prova sem ressentimento, conservando o bom humor inalterado. Por 20 anos suportou humildemente as calúnias, algumas doenças e aflições espirituais com as quais o Senhor provou a sua santidade.

Um ano depois da morte da acusadora, pela qual Maria rezou intensamente para obter uma morte serena, foi publicamente reabilitada pelo mesmo superior, que diante da comunidade lhe pediu perdão. Foi unanimemente reeleita priora em 25 de junho de 1624. Por causa da saúde ruim, pede e obtém autorização para ser apenas conselheira e mestra de noviças, cargo que exerceu até a morte.

No dia da Epifania de 1629, o Senhor lhe disse: "Maria, tu me pedes para ser libertada da prisão do corpo; saibas que ainda não é hora, porque se até agora tu viveste para ti, agora deves viver para outros; para o teu repouso uma eternidade se espera". E ela verdadeiramente se deu toda para o bem da comunidade e do próximo.

Naqueles anos a nova capela do convento estava sendo construída e ela se dedicou ao bom êxito da obra, valendo-se até das boas amizades para recolher os fundos necessários. Apesar de muito idosa e com diversas enfermidades causadas em parte pelas penitências, participava da vida de oração da comunidade, causando admiração dos fieis que frequentavam a igreja aos quais ela acolhia no parlatório.

No dia 13 de setembro de 1640, no extremo das forças, pediu à superiora a permissão para morrer. Após ter recebido Jesus Eucarístico, expirou. Eram as 10 h da manhã; tinha oitenta anos, dos quais sessenta e três consagrados ao Senhor.

Circundava-a uma aura de santidade. Irmã Maria tinha respondido plenamente ao que o Senhor havia pedido: "Filha, o teu amor é tão veemente, que ninguém o merece além de Mim".
O melhor elogio é dado a ela pela Santa Madre Teresa, que a teve por colaboradora também na feitura dos seus escritos. Maria, por sua vez, foi uma importante testemunha no processo de canonização de Teresa, que aconteceu em 1622.

A Beata conheceu São João da Cruz (o primeiro encontro foi em 17 de agosto de 1578) e quando o Santo escapou da prisão e se refugiou no convento de Toledo, Maria foi um das suas mais atentas ouvintes. A confiança entre os dois durou muitos anos e o místico doutor teve sempre por ela uma grande consideração
O primeiro Provincial do Carmelo Reformado, Padre Jerônimo Gracian da Mãe de Deus, refere haver constatado os estigmas da Paixão do Senhor em Maria, misticamente impressos em seu corpo. 

Manteve relacionamento com a Beata Ana de São Bartolomeu e com o Venerável Domingos de Jesus e encontrou o Rei da Espanha, Felipe III, que lhe pediu orações. Como todas as grandes místicas, Maria tinha os pés no chão. Compreendia bem as necessidades do próximo sofredor e eram muitas as pessoas que a procuravam para serem confortadas, tanto no parlatório como por meio de carta.

Suas grandes devoções eram:
- o Menino Jesus, que definia "doutor da enfermidade de amor";
- o Sagrado Coração,
- Maria,
- a Eucaristia.
Repetia as Irmãs: "Só aquele que tem a grande sorte de tornar Cristo senhor do seu próprio ser sabe conhecer a Deus Divino e Humano; só ele envereda por caminho seguro".

Às suas religiosas repetia com um tom que tocava o coração: "Filhas, sabem que somos de casa com o Santíssimo Sacramento, que vivemos com sua Majestade sob o mesmo teto? Se os religiosos fossem conscientes de tal privilégio, nenhum julgaria adquiri-lo a preço demasiado caro, ainda que fosse à custa de lágrimas e de sangue".

Foi beatificada no dia 14 de novembro de 1976 pelo Papa Paulo VI.



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