segunda-feira, 4 de setembro de 2017

04 de setembro - Beata Maria Dina Bélanger (Irmã Maria Santa Cecília de Roma)

“Jesus e eu não somos mais dois. Somos um: somente Jesus. Ele faz uso das minhas faculdades, dos meus sentidos, dos meus membros. É Ele quem pensa, age, reza, olha, fala, anda, escreve, ensina: numa palavra é Ele quem vive…”.

A tal ponto a Beata se tornou uma com Cristo, que Ele próprio, a chamou afetuosamente de “Meu pequeno Eu mesmo”.

Os primeiros anos de Dina se desenrolaram na atmosfera tranquila de uma família franco-canadense de muita fé. Nasceu no distrito de Saint-Roch, da cidade de Quebec, e foi batizada no próprio dia de seu nascimento, a 30 de abril de 1897, com o nome de Maria Margarida Dina Adelaide.
Seu único irmão morreu aos três meses de idade. A partir desse momento, seus pais concentraram nela todo o seu afeto e cuidados. Sobre esse período de sua vida, Dina escreveu: “O que teria sido de mim se tivesse sido deixada à mercê do meu orgulho, minha obstinação, meus caprichos e minhas traquinagens injustificáveis?”.

Serafina, sua mãe, levava-a sempre à igreja e em suas visitas aos pobres. Ela gostava muito de cantar para a filha, o que levou a menina, naturalmente dotada de senso artístico, a ter paixão pela música.
O pai, Otávio, era contabilista. Talvez tenha sido dele que Dina herdou sua precisão ao expressar-se e a forma metódica de cumprir seus deveres.

Ao longo de sua vida, Dina tomou numerosas resoluções e as cumpriu de maneira exemplar. Quando era estudante, proclamou: “Prefiro a morte a corromper- me”. No postulado, sua meta foi: “Se começar, comece com perfeição“. E na vida religiosa visava “amar e sofrer”. Como fizera Teresa de Lisieux, poucos anos antes, ela tomou a firme resolução de ser “uma santa”. E, para guiar-se nesse caminho, adaptou o princípio de Santo Agostinho ama et quod vis fac (ama e faze o que queres), transformando- o no lema que caracterizou toda a sua espiritualidade: “Amar e deixar- se conduzir por Jesus e Maria”.

Com efeito, foi pelas mãos da Virgem Santíssima que aos 13 anos consagrou-se a Jesus Cristo como escrava de amor, segundo o método ensinado por São Luís Maria Grignion de Montfort.
Na oração inicial de sua Autobiografia, ela agradece a Nosso Senhor tudo quanto Ele lhe concedeu por meio de Sua Mãe Santíssima: “Sem exceção alguma, Vós me concedestes vossas graças por meio de Maria, Vossa e minha bondosa Mãe, a quem quero tanto! E é meu desejo constante deixá-La agir livremente em minha vida, para promover Vossa obra em mim”.

Quando chegou o tempo dos estudos, Dina entrou para o Colégio Bellevue, um internato religioso dirigido pelas irmãs de Notre Dame, no qual sua primeira oração a Jesus foi: “Que eu nunca Vos ofenda nem com o menor pecado venial voluntário, durante minha permanência aqui”. Lá começaram as lutas que, devido à sua índole tímida e reservada, teria de travar durante toda sua vida. “Eu procurava sorrir para todo mundo, mas quanto preferiria estar sozinha!Por ocasião de uma visita da mãe, ela lhe confidenciou essa dificuldade: “Mamãe, não é brincadeira viver com outras pessoas!”.

Dina conta com toda simplicidade que na primeira sexta-feira do mês de outubro de 1911, enquanto as estudantes se dirigiam à capela para fazer uma visita ao Santíssimo Sacramento, ela consagrou sua virgindade a Nosso Senhor. Foi também por essa época que se ofereceu como vítima de amor: “Mal ouvira falar dessa doação de si mesmo, conhecida como o oferecimento heroico, eu já me ofereci; abandonei-me inteiramente à vontade de Jesus, como sua vítima”. Inflamada pelo desejo de entregar a vida, estava certa de que lhe seria dada a graça do martírio do amor.

Assim que soube do início da 1ª Guerra Mundial, em 1914, ofereceu-se uma vez mais a Nosso Senhor, de corpo e alma, em espírito de reparação e de amor: Fiquei aflita, sobretudo, pelo perigo moral que ameaçava o mundo”.

Depois de ter terminado os estudos no internato, já com 16 anos, voltou a viver em sua casa. Seus pais decidiram que deveria continuar com o estudo da música, que iniciara em pequena.
Alguns meses mais tarde, pediu ao diretor espiritual para entrar no convento das Irmãs de Notre Dame, de Villa-Maria, mas foi aconselhada a adiar sua decisão pela negativa dos pais. Cumpria as obrigações sociais com dignidade, dava concertos, apesar destes lhe custarem um esforço enorme, e chegou a ser uma pianista de certo renome. Sempre teve um verdadeiro amor ao próximo, sendo muito sensível à cortesia e ao bom trato. Mas no fundo sempre pensava em seu desejo de ser religiosa. Surgiu- lhe, então, uma boa oportunidade de aperfeiçoar, num Conservatório de Nova York, seus estudos de piano, harmonia e composição. A oferta era tentadora:”Gostei do plano, pois apreciava apaixonadamente a arte e a beleza. E sempre almejei a perfeição.”

Seus pais duvidaram, mas aconselhados pelo pároco que insistia nisso consentiram, pensando que seria uma boa experiência para sua formação e, de 1916 a 1918, ela estudou nos Estados Unidos. Ao término dessa experiência em Nova York, seu relacionamento com Nosso Senhor tinha-se aprofundado e sua consciência permanecia sem mancha alguma: “Tive de seguir a moda e seus caprichos no que dizia respeito às cores e tecidos, mas evitei vigorosamente as suas exigências extravagantes e culposas”.

Quando Dina retornou de Nova York, contava com 21 anos. Nos quatro anos que transcorreram até sua entrada na vida religiosa, em 1921, os quais passou na casa de seus pais, rezou muito e passou por tremenda aridez de alma.
Gostava muito da música. Mas a vida contemplativa lhe encantava e esse contraste da vida do mundo com suas aspirações lhe provavam a alma. Às vezes podia ouvir a voz de Cristo no fundo do seu coração, mas ficava incerta, com receio de estar sendo vítima de alguma ilusão; depois, porém, se tranquilizava: “Eu notava que Jesus só me falava ao coração quando tudo estava absolutamente calmo”. Em uma ocasião, Nosso Senhor mostrou-lhe um caminho cheio de espinhos pelo qual Ele tinha passado, manifestando o desejo de que ela O seguisse. Para ajudá-la, deu-lhe Sua Mãe Santíssima.

Diante da dúvida sobre qual comunidade religiosa deveria escolher, o próprio Jesus lhe comunicou: “Quero que você entre na Congregação das Religiosas de Jesus e Maria”. Tinha sido fundada na França, em 1818, por Santa Claudine Thévenet, dedicada à educação das jovens. Ali foi recebida como noviça em 15 de fevereiro de 1922, adotando o nome de Maria Santa Cecília de Roma. Em 15 de agosto de 1923 fez a profissão religiosa, recebendo a incumbência de ensinar a arte musical para as alunas da Congregação.

Nos primeiros tempos de sua vida de religiosa, Dina recebeu por duas vezes uma singular graça de amor: numa experiência mística, ela “viu” Jesus levar seu coração e deixar o dEle em seu lugar. Depois, já professa, ela “viu” mais uma vez Jesus mostrar-lhe seu coração, que Ele havia levado para Si, queimá-lo todo no altar de Seu amor, bem como ela mesma, e soprar sobre as cinzas, fazendo- as desaparecer, e ficando Ele próprio em seu lugar.

Jesus avisou-lhe ainda que ela morreria em 15 de agosto de 1924, exatamente um ano depois de sua profissão. Quando chegou esse dia, ela não morreu fisicamente, mas Ele deu- lhe a entender que misticamente havia morrido para este mundo e sua união eterna com Ele tinha começado.
Em 3 de outubro desse mesmo ano, foi-lhe permitido fazer o tão almejado voto de perfeição. Numa linda formulação, prometeu a Jesus fazer, em qualquer circunstância, tudo do modo mais perfeito, nos pensamentos, desejos, palavras e ações. Ela se entregou a Deus com confiança e com plena consciência de sua própria fragilidade.

Depois dessa data, tendo Dina “desaparecido”, é somente a voz de Cristo que domina sua autobiografia. Ele lhe fala com uma ternura tocante e nela encontra a maior receptividade possível.
Certo dia, na festa do Nome de Jesus – que ela considerava a sua festa, uma vez que tinha sido substituída por Cristo – escrevia: “Desde o meio-dia, o meu doce Mestre me tem atraído a Si com uma ternura inefável… Depois do meu exame de consciência, notei que estava gozando da presença sensível de Jesus. E Ele me disse delicadamente: ‘Em honra da minha festa!’ Oh! Quanto eu gostaria poder pôr em palavras a doçura de Jesus!”.

Dina faleceu no dia 4 de setembro de 1929, apenas sete meses antes de completar  33 anos. Nos sofrimentos da enfermidade que a levou à morte – a tuberculose -, Jesus aceitou seu oferecimento como vítima, colhendo- a em tão jovem idade.
Em seus últimos escritos, de julho de 1929, num “cântico de amor”, Nosso Senhor abraça, por meio dela, a humanidade inteira:

“Nenhuma invocação responde melhor do que esta ao imenso desejo de meu Coração Eucarístico de reinar nas almas: ‘Coração Eucarístico de Jesus, venha o Vosso reino, pelo Imaculado Coração de Maria’. E ao meu infinito desejo de comunicar minhas graças às almas, nenhuma invocação responde melhor do que esta: ‘Coração Eucarístico de Jesus, abrasado de amor por nós, abrasai nossos corações de amor a Vós'”.

A Irmã Maria Santa Cecília de Roma foi beatificada em 20 de março de 1993, por João Paulo II, que na sua homilia nos diz:
"Na verdade, ela só queria ver Jesus viver nela para que todo o seu ser desaparecesse nela. Dina Bélanger se aproximou do ideal em que São Paulo nos faz meditar quando exclama: "Já não vivo, mas Cristo vive em mim" (Gal 2:20).


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