“Jesus e eu não somos mais dois. Somos um: somente Jesus. Ele
faz uso das minhas faculdades, dos meus sentidos, dos meus membros. É Ele quem
pensa, age, reza, olha, fala, anda, escreve, ensina: numa palavra é Ele quem
vive…”.
A tal ponto a Beata se tornou uma com Cristo, que Ele
próprio, a chamou afetuosamente de “Meu pequeno Eu mesmo”.
Os
primeiros anos de Dina se desenrolaram na atmosfera tranquila de uma família
franco-canadense de muita fé. Nasceu no distrito de Saint-Roch, da cidade de
Quebec, e foi batizada no próprio dia de seu nascimento, a 30 de abril de 1897,
com o nome de Maria Margarida Dina Adelaide.
Seu
único irmão morreu aos três meses de idade. A partir desse momento, seus pais
concentraram nela todo o seu afeto e cuidados. Sobre esse período de sua vida,
Dina escreveu: “O que teria sido de
mim se tivesse sido deixada à mercê do meu orgulho, minha obstinação, meus
caprichos e minhas traquinagens injustificáveis?”.
Serafina,
sua mãe, levava-a sempre à igreja e em suas visitas aos pobres. Ela gostava
muito de cantar para a filha, o que levou a menina, naturalmente dotada de
senso artístico, a ter paixão pela música.
O
pai, Otávio, era contabilista. Talvez tenha sido dele que Dina herdou sua
precisão ao expressar-se e a forma metódica de cumprir seus deveres.
Ao longo de sua vida, Dina tomou numerosas resoluções e as
cumpriu de maneira exemplar. Quando era estudante, proclamou: “Prefiro a morte a corromper- me”. No postulado, sua meta foi: “Se começar, comece com perfeição“. E na vida religiosa visava “amar e
sofrer”. Como fizera Teresa de Lisieux, poucos anos antes, ela tomou a firme
resolução de ser “uma
santa”. E,
para guiar-se nesse caminho, adaptou o princípio de Santo Agostinho ama et quod vis fac (ama e faze o que queres),
transformando- o no lema que caracterizou toda a sua espiritualidade: “Amar e deixar- se conduzir por Jesus e
Maria”.
Com
efeito, foi pelas mãos da Virgem Santíssima que aos 13 anos consagrou-se a
Jesus Cristo como escrava de amor, segundo o método ensinado por São Luís Maria
Grignion de Montfort.
Na
oração inicial de sua Autobiografia, ela agradece a Nosso Senhor tudo quanto Ele lhe
concedeu por meio de Sua Mãe Santíssima: “Sem exceção alguma, Vós me concedestes vossas graças por
meio de Maria, Vossa e minha bondosa Mãe, a quem quero tanto! E é meu desejo
constante deixá-La agir livremente em minha vida, para promover Vossa obra em
mim”.
Quando
chegou o tempo dos estudos, Dina entrou para o Colégio Bellevue, um internato
religioso dirigido pelas irmãs de Notre Dame, no qual sua primeira oração a
Jesus foi: “Que eu nunca Vos
ofenda nem com o menor pecado venial voluntário, durante minha permanência
aqui”. Lá começaram as lutas
que, devido à sua índole tímida e reservada, teria de travar durante toda sua
vida. “Eu procurava sorrir para
todo mundo, mas quanto preferiria estar sozinha!” Por ocasião de uma visita da mãe, ela lhe confidenciou
essa dificuldade: “Mamãe, não é
brincadeira viver com outras pessoas!”.
Dina
conta com toda simplicidade que na primeira sexta-feira do mês de outubro de
1911, enquanto as estudantes se dirigiam à capela para fazer uma visita ao
Santíssimo Sacramento, ela consagrou sua virgindade a Nosso Senhor. Foi também
por essa época que se ofereceu como vítima de amor: “Mal ouvira falar dessa doação de si mesmo, conhecida
como o oferecimento heroico, eu já me ofereci; abandonei-me inteiramente à
vontade de Jesus, como sua vítima”. Inflamada pelo desejo de entregar a vida,
estava certa de que lhe seria dada a graça do martírio do amor.
Assim
que soube do início da 1ª Guerra Mundial, em 1914, ofereceu-se uma vez mais a
Nosso Senhor, de corpo e alma, em espírito de reparação e de amor: “Fiquei aflita, sobretudo, pelo perigo moral que ameaçava
o mundo”.
Depois
de ter terminado os estudos no internato, já com 16 anos, voltou a viver em sua
casa. Seus pais decidiram que deveria continuar com o estudo da música, que
iniciara em pequena.
Alguns
meses mais tarde, pediu ao diretor espiritual para entrar no convento das Irmãs
de Notre Dame, de Villa-Maria, mas foi aconselhada a adiar sua decisão pela
negativa dos pais. Cumpria as obrigações sociais com dignidade, dava concertos,
apesar destes lhe custarem um esforço enorme, e chegou a ser uma pianista de
certo renome. Sempre teve um verdadeiro amor ao próximo, sendo muito sensível à
cortesia e ao bom trato. Mas no fundo sempre pensava em seu desejo de ser
religiosa. Surgiu- lhe, então, uma boa oportunidade de aperfeiçoar, num
Conservatório de Nova York, seus estudos de piano, harmonia e composição. A
oferta era tentadora:”Gostei do plano,
pois apreciava apaixonadamente a arte e a beleza. E sempre almejei a
perfeição.”
Seus
pais duvidaram, mas aconselhados pelo pároco que insistia nisso consentiram, pensando
que seria uma boa experiência para sua formação e, de 1916 a 1918, ela estudou
nos Estados Unidos. Ao término dessa experiência em Nova York, seu relacionamento
com Nosso Senhor tinha-se aprofundado e sua consciência permanecia sem mancha
alguma: “Tive de seguir a moda e
seus caprichos no que dizia respeito às cores e tecidos, mas evitei
vigorosamente as suas exigências extravagantes e culposas”.
Quando
Dina retornou de Nova York, contava com 21 anos. Nos quatro anos que
transcorreram até sua entrada na vida religiosa, em 1921, os quais passou na
casa de seus pais, rezou muito e passou por tremenda aridez de alma.
Gostava
muito da música. Mas a vida contemplativa lhe encantava e esse contraste da
vida do mundo com suas aspirações lhe provavam a alma. Às vezes podia ouvir a
voz de Cristo no fundo do seu coração, mas ficava incerta, com receio de estar
sendo vítima de alguma ilusão; depois, porém, se tranquilizava: “Eu notava que Jesus só me falava ao coração quando tudo
estava absolutamente calmo”. Em
uma ocasião, Nosso Senhor mostrou-lhe um caminho cheio de espinhos pelo qual
Ele tinha passado, manifestando o desejo de que ela O seguisse. Para ajudá-la,
deu-lhe Sua Mãe Santíssima.
Diante
da dúvida sobre qual comunidade religiosa deveria escolher, o próprio Jesus lhe
comunicou: “Quero que você entre
na Congregação das Religiosas de Jesus e Maria”. Tinha sido fundada na França, em 1818, por Santa Claudine
Thévenet, dedicada à educação das jovens. Ali foi recebida como noviça em 15 de
fevereiro de 1922, adotando o nome de Maria Santa Cecília de Roma. Em 15 de
agosto de 1923 fez a profissão religiosa, recebendo a incumbência de ensinar a
arte musical para as alunas da Congregação.
Nos
primeiros tempos de sua vida de religiosa, Dina recebeu por duas vezes uma
singular graça de amor: numa experiência mística, ela “viu” Jesus levar seu
coração e deixar o dEle em seu lugar. Depois, já professa, ela “viu” mais uma
vez Jesus mostrar-lhe seu coração, que Ele havia levado para Si, queimá-lo todo
no altar de Seu amor, bem como ela mesma, e soprar sobre as cinzas, fazendo- as
desaparecer, e ficando Ele próprio em seu lugar.
Jesus
avisou-lhe ainda que ela morreria em 15 de agosto de 1924, exatamente um ano
depois de sua profissão. Quando chegou esse dia, ela não morreu fisicamente,
mas Ele deu- lhe a entender que misticamente havia morrido para este mundo e
sua união eterna com Ele tinha começado.
Em
3 de outubro desse mesmo ano, foi-lhe permitido fazer o tão almejado voto de
perfeição. Numa linda formulação, prometeu a Jesus fazer, em qualquer
circunstância, tudo do modo mais perfeito, nos pensamentos, desejos, palavras e
ações. Ela se entregou a Deus com confiança e com plena consciência de sua
própria fragilidade.
Depois
dessa data, tendo Dina “desaparecido”, é somente a voz de Cristo que domina sua
autobiografia. Ele lhe fala com uma ternura tocante e nela encontra a maior
receptividade possível.
Certo
dia, na festa do Nome de Jesus – que ela considerava a sua festa, uma vez que
tinha sido substituída por Cristo – escrevia: “Desde o meio-dia, o meu doce Mestre me tem atraído a Si
com uma ternura inefável… Depois do meu exame de consciência, notei que estava
gozando da presença sensível de Jesus. E Ele me disse delicadamente: ‘Em honra
da minha festa!’ Oh! Quanto eu gostaria poder pôr em palavras a doçura de
Jesus!”.
Dina
faleceu no dia 4 de setembro de 1929, apenas sete meses antes de completar 33 anos. Nos
sofrimentos da enfermidade que a levou à morte – a tuberculose -, Jesus aceitou
seu oferecimento como vítima, colhendo- a em tão jovem idade.
Em
seus últimos escritos, de julho de 1929, num “cântico de amor”, Nosso Senhor
abraça, por meio dela, a humanidade inteira:
“Nenhuma
invocação responde melhor do que esta ao imenso desejo de meu Coração
Eucarístico de reinar nas almas: ‘Coração Eucarístico de Jesus, venha o Vosso
reino, pelo Imaculado Coração de Maria’. E ao meu infinito desejo de comunicar
minhas graças às almas, nenhuma invocação responde melhor do que esta: ‘Coração
Eucarístico de Jesus, abrasado de amor por nós, abrasai nossos corações de amor
a Vós'”.
A
Irmã Maria Santa Cecília de Roma foi beatificada em 20 de março de 1993, por
João Paulo II, que na sua homilia nos diz:
"Na
verdade, ela só queria ver Jesus viver nela para que todo o seu ser
desaparecesse nela. Dina Bélanger se aproximou do ideal em que São Paulo nos faz
meditar quando exclama: "Já não vivo, mas Cristo vive em mim" (Gal
2:20).
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