Durante
toda a noite, Jesus fica trancado no calabouço da casa do sumo sacerdote. Pela
manhã, Ele é levado até a presença de Pilatos, o governador romano, que repassa
o caso para o rei Herodes. Herodes o manda de volta para Pilatos, que, em algum
momento no meio da manhã, cede à pressão das autoridades do templo e das
multidões e condena Jesus à morte cruel por crucificação.
No final da manhã,
Jesus é levado pelos soldados através da cidade até a colina do Gólgota. Ali,
ao meio-dia, Ele é pregado na cruz e agoniza durante cerca de três horas. Por
volta das três da tarde, Jesus entrega o Espírito ao Pai e morre. Descido da
cruz, é colocado apressadamente no sepulcro antes do anoitecer.
Este é um dia
de oração, jejum e abstinência. Sempre que possível, os cristãos são chamados a
se abster do trabalho, de compromissos sociais e de entretenimento, a fim de se
dedicarem à oração e à adoração em comunidade.
De manhã ou ao meio-dia, muitas
paróquias realizam a última via-crúcis e uma palestra espiritual sobre as sete
palavras finais de Jesus.
Outras paróquias oferecem a via-crúcis e as “Sete
Palavras” às 3h da tarde, no momento da morte de Jesus. À tarde ou à noite, nos
reunimos silenciosamente em nossas igrejas para refletir sobre a morte de Jesus
na cruz e rezar pelas necessidades do mundo.
Também veneramos a redenção de
Cristo na cruz com um beijo sobre o crucifixo. Nossa fome, neste dia de jejum,
é satisfeita com a Sagrada Comunhão, consagrada na véspera e distribuída no
final desta liturgia.
Refletimos também sobre os apóstolos, que podem ter se
reunido com medo na noite anterior e refletido sobre tudo o que havia
acontecido.
Meditando
sobre a Paixão, o filósofo Blaise Pascal escreveu certa vez estas palavras:
“Cristo está em agonia até o fim do mundo: não podemos dormir durante este
tempo”. Há um sentido em que estas palavras se aplicam à pessoa de Jesus mesmo,
ou seja, à cabeça do corpo místico e não apenas aos membros. Não apesar de Ele
ter ressuscitado e estar vivo, mas justamente porque Ele ressuscitou e está
vivo. Deixemos de lado, no entanto, este significado misterioso demais para nós
e falemos do sentido mais claro daquelas palavras. Jesus está em agonia até o
fim do mundo em cada homem ou mulher submetidos aos mesmos tormentos. “Vós o
fizestes a mim” (Mt 25, 40): Ele não disse esta frase apenas sobre quem
acredita nele; ele a disse sobre cada homem e cada mulher famintos, nus,
maltratados, presos.
Ao menos
por uma vez, não pensemos nos males sociais, coletivos: a fome, a pobreza, a
injustiça, a exploração dos fracos. Desses males já se fala muitas vezes,
embora nunca o suficiente, e há o risco de se tornarem abstrações. Categorias,
não pessoas. Pensemos agora no sofrimento dos indivíduos, das pessoas com nome
e identidade concreta; nas torturas decididas a sangue frio e infligidas
voluntariamente, neste exato momento, por seres humanos contra outros seres
humanos, inclusive crianças.
Quantos
“Ecce homo” no mundo! Meu Deus, quantos “Ecce homo”! Quantos prisioneiros na
mesma condição de Jesus no pretório de Pilatos: sozinhos, algemados,
torturados, à mercê de soldados ásperos e cheios de ódio, que se entregam a
todo tipo de crueldade física e psicológica, divertindo-se em ver sofrer. “Não
podemos dormir, não podemos deixá-los sós!”.
A
exclamação “Ecce homo!” não se aplica somente às vítimas, mas também aos
carnífices. Ela quer dizer: eis aqui do que o homem é capaz! Com temor e
tremor, digamos ainda: eis do que somos capazes nós, homens! Muito distante da
marcha inexorável do Homo sapiens, o homem que, segundo alguns, nasceria da
morte de Deus e tomaria o seu lugar.
Papa
Francisco – 03 de abril de 2015
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