Começa
o Tríduo Pascal, os três dias que culminarão na Ressurreição de Jesus! O Cristo
instrui seus discípulos a se prepararem para a Última Ceia. Durante o dia, eles
fazem os preparativos (cf. Mt 26,17).
Na Missa da Ceia do Senhor que celebramos
em nossas paróquias, recordamos e tornamos presente hoje a Última Ceia que Jesus
compartilhou com seus apóstolos. Estamos no andar superior, com Jesus e os
doze, e fazemos o que eles fizeram. Por meio do ritual de lavar os pés (Jo 13,
1) de doze paroquianos, todos nós nos unimos no serviço de uns aos outros. Por
meio da celebração desta primeira Missa e da instituição da Sagrada Eucaristia
(Mt 26,26), unimo-nos a Jesus e recebemos o Seu Corpo e o Seu Sangue como se
fosse a primeira vez.
Nesta Eucaristia, damos especiais graças a Deus pelo dom
do sacerdócio ministerial: foi nesta noite que Ele ordenou os seus doze
apóstolos a “fazerem isto em memória de mim”. Após a Última Ceia, que foi a
Primeira Missa, os apóstolos e Jesus se dirigem pelo Vale do Cedron até o Horto
das Oliveiras, onde o Cristo lhes pede que orem e vigiem, enquanto Ele
experimenta a sua agonia (cf. Mt 26,30). Nós também iremos em procissão, com
Jesus vivo no Santíssimo Sacramento, até o altar de repouso, previamente
preparado na paróquia, e que representa o Horto.
A liturgia de hoje termina em
silêncio. É antigo o costume de passar uma hora em adoração diante do
Santíssimo Sacramento nesta noite.
Permanecemos, assim, ao lado de Jesus no
Horto das Oliveiras e oramos enquanto Ele enfrenta a sua terrível agonia. Perto
da meia-noite, Jesus será traído por Judas. O Cristo será preso e levado para a
casa do sumo sacerdote (cf. Mt 26,47).
Hoje,
nesta Quinta-feira, gostaria de falar de dois âmbitos onde
o Senhor Se excede na sua misericórdia. E, uma vez que é Ele quem dá o exemplo,
não devemos ter medo de nos excedermos nós também: um âmbito é o do encontro; o
outro, o do seu perdão que nos faz envergonhar e nos dá dignidade.
O
primeiro âmbito onde vemos que Deus Se excede numa Misericórdia cada vez maior, é o
do encontro. Ele dá-Se totalmente e de um modo tal
que, em cada encontro, passa diretamente à celebração duma festa. Na parábola
do Pai Misericordioso, ficamos estupefatos ao ver aquele homem que corre,
comovido, a lançar-se ao pescoço de seu filho; vendo como o abraça e beija e se
preocupa por lhe pôr o anel que o faz sentir-se igual, e as sandálias próprias
de quem é filho e não um assalariado; e como, em seguida, põe tudo em
movimento, mandando que se organize uma festa. Ao contemplarmos, sempre
maravilhados, esta superabundância de alegria do Pai, a quem o regresso do
filho consente de expressar livremente o seu amor, sem hesitações nem
distâncias, não devemos ter medo de exagerar no nosso agradecimento. A justa
atitude, podemos apreendê-la daquele pobre leproso que, vendo-se curado, deixa
os seus nove companheiros que vão cumprir o que ordenou Jesus e regressa para
se ajoelhar aos pés do Senhor, glorificando e dando graças a Deus em alta voz.
A misericórdia restaura
tudo e restitui as pessoas à sua dignidade originária. Por isso, a justa
resposta é uma efusiva gratidão: é preciso iniciar imediatamente a festa,
vestir o traje, eliminar os ressentimentos do filho mais velho, alegrar-se e
festejar… Porque só assim, participando plenamente naquele clima festivo, será possível
depois pensar bem, pedir perdão e ver mais claramente como se pode reparar o
mal cometido. Pode fazer-nos bem questionarmo-nos: depois de me ter confessado,
festejo? Ou passo rapidamente para outra coisa, como quando, depois de ter ido
ao médico, vemos que as análises não deram um resultado assim tão ruim e
fechamo-las de novo no envelope, e passamos a outra coisa. E, quando dou
esmola, deixo tempo a quem a recebe para expressar o seu agradecimento, festejo
o seu sorriso e aquelas bênçãos que nos dão os pobres, ou continuo apressado
com as minhas coisas depois de «ter deixado cair a moeda»?
O
outro âmbito onde vemos que Deus excede numa Misericórdia cada vez maior, é o
próprio perdão.
Não só perdoa dívidas incalculáveis, como fez com o servo que lhe suplica e, em
seguida, se mostra mesquinho com o seu companheiro, mas faz-nos passar
diretamente da vergonha mais envergonhada para a dignidade mais alta, sem
qualquer etapa intermédia. O Senhor deixa que a pecadora perdoada Lhe lave,
familiarmente, os pés com as suas lágrimas. Logo que Simão Pedro se confessa
pecador pedindo-Lhe para Se afastar dele, Jesus eleva-o à dignidade de pescador
de homens. Nós, ao contrário, tendemos a separar as duas atitudes: quando nos
envergonhamos do pecado, escondemo-nos e caminhamos com os olhos em terra, como
Adão e Eva, e, quando somos elevados a qualquer dignidade, procuramos cobrir os
pecados e gostamos de nos mostrar, de quase nos pavonearmos.
A nossa resposta ao perdão
superabundante do Senhor deveria consistir em manter-nos sempre naquela
saudável tensão entre uma vergonha dignificante e uma dignidade que sabe
envergonhar-se: atitude de quem procura, por si mesmo, humilhar-se e
abaixar-se, mas é capaz de aceitar que o Senhor o eleve para benefício da
missão, sem se comprazer. O modelo que o Evangelho consagra e nos pode ser útil
quando nos confessamos é o de Pedro, que se deixa interrogar longamente sobre o
seu amor e, ao mesmo tempo, renova a sua aceitação do ministério de apascentar
as ovelhas que o Senhor lhe confia.
Papa
Francisco – 24 de março de 2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário