Hoje,
a Igreja nos convida para a mesa da Palavra de Deus, para reler, à sua luz, a
maior e última vocação de cada um de nós. Em particular, cada um de vós,
queridos irmãos e irmãs, que ao longo dos últimos dias e semanas têm sido, em
certo sentido, protagonistas do grande trabalho do Sínodo Mundial dos Bispos
referente aos leigos.
A
Igreja coloca diante de seus olhos a figura de um homem, que elevado à glória
dos altares nesta canonização solene, diz a todos os leigos na Igreja:
"Considere.
. . tua vocação "(1 Cor 1, 26)!
O
homem que agora invocamos como um santo da Igreja universal, é-nos apresentado
como uma implementação concreta do ideal do leigo cristão.
José
Moscati, médico, pesquisador distinto, professor universitário da fisiologia
humana e química fisiológica, viveu suas múltiplas tarefas com todo o empenho e
seriedade que o exercício destas profissões leigas delicados requer.
Deste
ponto de vista, Moscati é um exemplo não só para admirar, mas para imitar,
especialmente por parte dos profissionais de saúde: médicos, enfermeiras e
enfermeiros, voluntários, e aqueles que, direta ou indiretamente, estão
empenhados em cuidar dos doentes no vasto mundo da saúde e cuidados de saúde.
Ele também se destaca como um exemplo para aqueles que não compartilham sua fé.
No
entanto, foi esta fé que concedeu seu tamanho comprometimento e qualidade, o
leigo típico e autenticamente cristão. Graças a ela os aspectos profissionais
em sua vida, harmoniosamente complementada, apoiaram-se mutuamente, para serem
vividos como uma resposta a uma vocação, e, portanto, como uma parceria planejada
pelo criador e redentor.
Por
natureza e por vocação, Moscati era antes de tudo um médico que trata de: responder
às necessidades dos homens e seu sofrimento era para ele uma necessidade
indispensável e urgente. A dor do doente veio a ele como o grito de um irmão
que, um outro irmão, o médico, teve que acorrer com o ardor do amor. O motivo
de sua atividade como médico, portanto, não foi o único dever profissional, mas
a consciência de ter sido colocado por Deus no mundo a operar de acordo com o
plano, para levar, em seguida, com o amor, o alívio que a ciência médica
oferece para diminuir a dor e restaurar a saúde.
Papa João Paulo II –
Homilia de Canonização – 25 de outubro de 1987
José Moscati foi um leigo, médico, professor universitário, pesquisador, que se tornou santo através do exercício da sua profissão. Via os pacientes como irmãos que dele esperavam não somente o alívio do corpo, mas também o incentivo espiritual. Nos Hospitais e em seu consultório, procurava estar sempre em dia com a ciência a fim de melhor servir aos enfermos.
Quando julgava o valor da
consulta elevado demais, restituía a metade, ou mais do que isto, aos seus
pacientes. Do mais necessitados não cobrava honorários, dizendo que o
importante era curá-los. Na sala de espera do seu consultório havia um cesto
onde os clientes podiam depositar o preço da consulta. Certo dia, pouco após a
guerra, apareceu-lhe um homem que estivera na frente de batalha. Após o
atendimento, perguntou o paciente ao médico:
“Quanto lhe devo,
professor?”
O doutor sorriu:
“Pensa, antes do mais, em
ficar bom. Se podes, coloca no cesto o que queres, mas, se precisas, tira
aquilo que te é necessário”.
Não raro era Moscati quem
pagava aos seus doentes: alguns destes encontravam uma quantia em notas debaixo
do travesseiro; outros, dentro do envelope portador da receita… Eram
proverbiais as suas iniciativas neste particular, de modo que Moscati morreu
pobre.
Beatificado por Paulo VI em 1975,
foi canonizado em 1987, por ocasião do Sínodo Mundial dos Bispos referente aos
Leigos. São José Moscati é um testemunho de como, no mundo de hoje e no exercício
de uma profissão, pode o cristão santificar-se, tornando-se herói de
virtudes, que em vida valeram a Moscati o título de “Médico santo”.
José Moscati, nasceu aos
1880 em Benevento (Itália), de família verdadeiramente cristã.
Desde 1884 a família morou
em Nápoles, onde também Giuseppe viveu e morreu. Fez os estudos de Humanidades
em Nápoles, onde entrou para a Faculdade de Medicina em outubro de 1897, com
dezessete anos de idade.
Dedicou-se ardorosamente
ao estudo e à prática da Medicina, procurando sempre atualizar os seus
conhecimentos. Conseguiu o Doutorado em Medicina aos 23 anos. Poucos meses
depois, prestou concurso para trabalhar nos Hospitais de Nápoles; já o seu
saber científico surpreendia os examinadores.
A convite do Governo
italiano, viajou para diversos países da Europa a fim de participar de
Congressos. Morreu com a fama de sábio e santo aos 12/041927. Com efeito; aos
12 de abril de 1927, após a Santa Missa e a Comunhão, o Professor Moscati
voltou à casa e preparou-se para seguir para o Hospital. Depois de fatigosa
manhã de trabalho, dispôs-se a enfrentar a habitual fila de clientes
em seu ambulatório. Mas às 15 horas retirou-se para um quarto, dizendo:
Estou-me sentindo mal”.
Sentou-se numa poltrona,
cruzou os braços sobre o peito, reclinou a cabeça, e, sem uma palavra, expirou.
Tinha 47 anos de idade.
Verificou-se a profecia de
sua mãe quando ele lhe comunicou que queria ser médico:
“Para aliviar os
sofrimentos dos outros, José se tornará mártir.
Algumas palavra de
José Moscati:
Em suas notas pessoais,
encontra-se o seguinte depoimento:
“Quando rapaz, eu olhava com
interesse para o Hospital dos Incuráveis, que meu pai apontava à distância, ou
seja, do terraço de casa; isto me inspirava sentimentos de compaixão pela indizível
dor dos enfermos, que naquele recinto procuravam alívio. Uma salutar perturbação
me acometia e eu começava a pensar na caducidade de todas as coisas e as
ilusões se dissipavam, como caíam as flores dos laranjais que me cercavam”.
O papel do médico, Moscati o
descreveu em carta dirigida a um seu aluno recém-formado:
“Lembra-te de que, segundo a
Medicina, assumiste a responsabilidade de uma sublime missão. Persevera, com
Deus no coração…, com amor e compaixão para com os que são abandonados, com fé
e entusiasmo, surdo aos louvores e às críticas, insensíveis à inveja, disposto
unicamente à prática do bem”.
Assim escreveu ele num pedaço
de papel encontrado entre outros documentos:
“Seja a dor
considerada não como uma oscilação ou uma contração muscular, e sim como o
grito de uma alma, de um irmão, ao qual outro irmão, o médico acode com o
calor do amor ou a caridade”.
Em carta escrita a um médico, seu ex-aluno, pode-se ler:
“Recorda-te de que te deves
ocupar não apenas com o corpo, mas também com as almas”.
Outro escrito de Moscati:
“O médico acha-se em posição
privilegiada, pois freqüentemente está diante de pessoas que, apesar dos seus
erros passados, estão dispostos a voltar aos bons princípios
herdados de seus antepassados; estão ansiosas por encontrar apoio premidas pela
dor. Feliz o médico que sabe compreender o mistério desses corações e inflamá-los
novamente!”
“Felizes nós, médicos,
muitas vezes incapazes de debelar uma doença! Felizes nós, se nos lembramos de
que, além dos corpos, temos diante de nós almas imortais,… em relação às
quais urge o preceito evangélico de amá-las como a nós mesmos”.
“Os doentes são a imagem de
Jesus Cristo e aos atribulados são os diletos e preferidos de Deus”.
O homem de Deus
Os seus costumes irrepreensíveis
e a sua piedade valiam-lhe zombarias de muitos, que o acusavam de louco de “maníaco
religioso”, pois não o podiam atacar no plano científico e profissional.
Moscati não fazia caso disso. Encontra-se mesmo em suas Notas particulares a
seguinte norma:
“Ama a Verdade. Mostra-te
como és, sem disfarces e sem fingimento. E, se a Verdade te custar a perseguição,
aceita-a; e, se te acarretar tormentos suporta-os. E, se por causa da
Verdade tivesses que sacrificar a ti e a tua vida, sê forte no sacrifício”.
O segredo dessa nobreza de
caráter era a vida interior, a união com Deus cultivadas por Moscati. Começava
o dia dirigindo-se, muito cedo, à igreja de Gesù Nuovo, onde recebia a Santa
Eucaristia. As suas Notas pessoais revelam que ele sabia falar a Cristo com a
simplicidade de uma criança, exprimindo-lhe quanto experimentava em sua alma.
Quando tinha um pouco de lazer, passava muito tempo na igreja em oração e adoração.
José Moscati
abraçou, à luz da fé, “a sublime profissão de médico”, que ele considerava um
serviço de amor apostólico e um culto prestado a Deus na pessoa dos irmãos
sofredores. Durante a sua breve existência terrestre, cuidou de milhares de
pessoas, para as quais foi instrumento de recuperação da saúde; os seus
contemporâneos pareciam entrever em sua pessoa e em seu modo de agir um aceno à
bondade do próprio Deus.
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