sexta-feira, 1 de julho de 2016

São Junípero Serra



“Hoje encontramo-nos aqui, podemos estar aqui, porque houve muitos que tiveram a coragem de responder a este chamamento; muitos que acreditaram que «na doação a vida fortalece, e enfraquece no comodismo e no isolamento». Somos filhos da ousadia missionária de muitos que preferiram não se fechar «nas estruturas que nos dão uma falsa proteção (...), nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta». Somos devedores duma Tradição, duma cadeia de testemunhas que tornaram possível que a Boa Nova do Evangelho continue a ser, de geração em geração, Nova e Boa.”
O Padre Junipero Serra “soube deixar a sua terra, os seus costumes, teve a coragem de abrir sendas, soube ir ao encontro de muitos aprendendo a respeitar os seus costumes e as suas características” – referiu o Papa realçando que este novo santo “aprendeu a gerar e acompanhar a vida de Deus nos rostos daqueles que encontrava, tornando-os seus irmãos. Junípero procurou defender a dignidade da comunidade nativa, protegendo-a de todos aqueles que abusaram dela; abusos que hoje continuam a encher-nos de pesar, especialmente pela dor que provocam na vida de tantas pessoas.” São Junipero Serra escolheu um lema – disse o Papa na conclusão da sua homilia: “Sempre avante”:
“Teve um lema que inspirou os seus passos e plasmou a sua vida: Soube-o dizer mas sobretudo viver: “Sempre avante”. Esta foi a maneira que Junípero encontrou para viver a alegria do Evangelho, para que não se anestesiasse o seu coração. Foi sempre avante, porque o Senhor espera; sempre avante, porque o irmão espera; sempre avante por tudo aquilo que ainda tinha para viver; foi sempre avante. Como ele então, possamos também nós hoje dizer: sempre avante.”
Papa Francisco – homilia de canonização – 23 de setembro de 2015


Conhecido como o Apóstolo da Califórnia, nasceu em Petra, na ilha de Maiorca, a 24 de novembro de 1713, de Antônio Serra e Margarida Ferrer, pais exemplares pelos costumes e piedade, embora pessoas de pouca instrução. A criança foi batizada com o nome de Miguel José e foi crismado com a idade de apenas dois anos, por ocasião da visita do bispo de Maiorca, Atanasio Esterripa. Ajudava os pais nos trabalhos do campo e frequentou a escola anexa ao convento franciscano de São Bernardino, dando provas de inteligência viva e aberta e desta forma pôde ser encaminhado para fazer estudos superiores.

Depois de um ano de estudos filosóficos no convento de São Francisco de Palma, com 17 anos, vestiu o hábito franciscano no convento Santa Maria de Jesus. A 15 de setembro de 1731 emitiu os votos religiosos mudando o nome de batismo para o de Junípero, devido à grande admiração que tinha para com Frei Junípero, um dos primeiros companheiros de São Francisco.
Aos 35 anos de idade, não obstante a fecundidade de seu apostolado na Europa, Frei Junípero, obedecendo a um chamado interior, partiu rumo às Missões da América junto com um seu discípulo, Frei Francisco Palòu. Os dois permanecerão juntos por toda a vida. Partiram no dia 13 de abril de 1749, de Málaga. Depois de dramática travessia chegaram a São João de Porto Rico no dia 18 de outubro e a 7 de dezembro alcançaram Vera Cruz, na costa sul do México. A pé prosseguiram até a cidade do México. Passou a exercer apostolado junto aos indígenas falando em sua língua.

O futuro santo fez um catecismo na língua do povo e ensinava ciência e técnicas a respeito do trabalho da terra. Graças à ajuda dos que eram missionados, Junípero e seu colega puderam construir em Santiago de Jalpán uma igreja de pedra, de estilo barroco ainda hoje tido como monumento de interesse histórico e tomado, posteriormente, como modelo para a realização de quatro outras igrejas na missão. 
Em junho de 1767, depois da expulsão dos jesuítas das possessões do vice-reino de Espanha por decisão de Carlos III, as missões da Baixa Califórnia foram confiadas aos Franciscanos e Frei Junípero foi nomeado seu superior. Em 1º de abril de 1768, junto com 14 companheiros, empreendeu a corajosa e extenuante viagem rumo à península da Baixa Califórnia.
Depois de dois anos, devido também às condições econômicas favoráveis, pôde fundar a primeira missão californiana de San Diego de Alcalà. Deslocou-se na direção da Alta Califórnia e fundou as Missões de São Carlos Borromeu, de Santo Antônio de Pádua, São Gabriel e de São Luis Bispo e muitas outras. Segue-se um período de incompreensão com um comandante militar da Nova Espanha, José de Galvez. Por este motivo, o bem-aventurado retirou-se a pé para o México permanecendo no Colégio de São Ferdinando até 13 de março de 1774. No final da vida, retirou-se com seu confrade fiel para Monterey, na Califórnia, que escreveu a biografia do bem-aventurado como testemunha ocular.

Durante dezessete anos, precisamente de 1767 a 1784 percorreu, apenas na Califórnia, perto de 9.900km a pé, 5.400 em embarcação, não obstante a idade e as enfermidades. Fundou 9 missões, das quais derivam os nomes franciscanos de cidades californianas muito importantes, como São Francisco, São Diego, Los Angeles, e muitas outras. “Sempre em frente e nunca para trás”, dizia.
Carregava uma ferida na perna que formou-se quando de sua chegada ao México, provavelmente causada por uma picada de inseto. Levou a uma infecção e ele levou pacientemente esta ferida pelos 35 anos em que foi missionário. Viajou sempre de pé: somente em uma circunstância foi usada uma padiola, justamente nos últimos anos, quando sofria, mas caminhou sempre com a dor e isto certamente por um desejo de conformidade a Cristo, por uma oferta mais autêntica da própria vida e justamente porque se considerava um nada.
Frei Junípero, fortemente debilitado em sua saúde, pela asma e gangrena numa perna, morreu a 28 de agosto de 1784 no retiro do Carmelo de Monterrey na Califórnia com 71 anos de idade, sendo que 36 deles foram dedicados à missão.

Tinha com os índios como numa relação entre pai e filhos. Padre Junípero tinha a consciência de ter gerado à fé em Cristo estes povos e, portanto, desejava administrar pessoalmente o Batismo quase que assumindo em relação a eles uma responsabilidade, uma responsabilidade de pai, mostrando que os Sacramentos criam um vínculo com o Senhor, mas também entre os homens. Quando consegue a autorização para administrar o Crisma – é um feito totalmente excepcional, como se poderia pensar – embora já estivesse cansado pelos anos e sofrendo, Padre Junípero viajou para ministrar este Sacramento às populações da Califórnia e se calcula que o número das Crismas chegaram a 5.309. Assim, em síntese, os índios constituíram o coração de seu apostolado: nos limites da obediência aos superiores, não teve respeito humano por quem ousava atacar, aproveitar ou subjugar os índios. Por este amor visceral e inteligente, Padre Junípero não teve medo de enfrentar abertamente as autoridades políticas e militares que queriam tirar da Igreja a missão de evangelizar, a missão primária para estes missionários, que com tanta generosidade, com tanto zelo, enfrentavam viagens, desconfortos, sofrimentos para levar Cristo aos povos.

Considerado o pai dos índios, foi honrado como herói nacional. Desde 1º de março de 1931, a sua estátua representando o Estado da Califórnia, está entre as outras dos Pais fundadores dos Estados Unidos na Sala do Congresso de Washington, estátua única de um religioso no Santuário dos americanos ilustres. O ponto mais alto da cordilheira de montanhas de Santa Lucia na Califórnia tem o seu nome.

O Papa João Paulo II o beatificou a 25 de setembro de 1988 e o Papa Francisco o canonizou no dia 23 de setembro de 2015.

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