Clotário I, rei de França, e
de uma parte da Alemanha, com sua morte deixou quatro filhos que lançaram a
sorte sobre o reino. Gontrão recebeu Orleans, a Borgonha e estabeleceu a
capital em Châlon-sobre-o-Saône.
Era uma época de revoluções
e de assassínios políticos. Seus irmãos guerrearam entre si e acabaram mortos.
Gontrão serviu de pai aos dois sobrinhos.
No começo de seu reinado,
sua conduta não foi exemplar: repudiou a primeira esposa – culpada de ter-lhe
dado apenas um filho natimorto.
A segunda esposa não teve
melhor sorte. Nem a terceira, que caiu em desgraça quando os dois filhos
morreram ainda pequenos.
Pensou em casar-se novamente
mas, convencido de que a morte dos filhos era por culpa dos seus pecados, mudou
radicalmente de conduta.
Um dia, quando se dirigia
para fazer orações, às diversas igrejas de Orleans, o rei Gontrão rumou para a
residência de São Gregório de Tours, que morava na igreja de Santo Avito.
Gregório levantou-se cheio de alegria ao reconhecê-lo e, depois de lhe ter dado
a benção, o convidou para jantar. O que ele fazia por Gregório de Tours,
fazia-o por todos os cidadãos de Orleans. Aceitava o convite, comparecia ao
jantar e encantava a todos com sua bondade. Chamavam-no geralmente o bom rei.
O zelo de Gontrão sustinha e
animava a todos de seu reino. Perdendo os dois filhos que deviam suceder-lhe,
aplicou-se mais do que nunca a toda sorte de boas obras. Os exemplos de um rei
tão bom santificaram a família. As duas princesas, suas filhas, Clodoberge e
Clotilde, renunciaram às grandezas e aos prazeres do mundo, para se consagrarem
a Deus, na sua virgindade.
Gontrão distinguiu-se
especialmente pala magnificência com que fundava e dotava as igrejas. Deu
diversas terras ao mosteiro de São Sinfrônio de Autun e ao de São Benigno de
Dijon. Neste último estabeleceu os salmos perpétuos, a exemplo do mosteiro de
Agaune, onde os monges, divididos em vários grupos, se revezavam dia e noite,
para cantarem, sem interrupção, os louvores de Deus.
Mandou construir uma igreja
magnífica e um mosteiro nos arredores de Châlon-sobre-o-Saône, em honra de São
Marcelo, mártir, e instituiu também um coro contínuo querendo com isso que a
ordem dos salmos fosse a mesma a ser observada na igreja de Tours.
O rei Gontrão reuniu vários
concílios, não somente para regular os negócios da Igreja, como
também para tratar dos bens temporais dos povos, para conciliar as diferenças
do reino a outro, e prevenir, dessa forma, as guerras civis entre os francos.
Para ele, os concílios eram ainda conselhos de Estado.
Um navio que chegara da
Espanha, espalhara em Marselha a peste, enquanto Teodoro, bispo dessa cidade se
encontrava fora da cidade. O santo bispo retornou imediatamente para consolar o
povo, e aliviar-lhe o sofrimento. Não omitiu nenhum dos socorros espirituais e
temporais que podia dar. E quando a doença e a deserção reduziram os habitantes
da grande cidade a um pequeno número, encerrou-se no recinto da igreja de São
Vítor, com os que restavam, passando os dias e as noites em orações, para
acalmar a cólera divina. O mal contagioso passou de Marselha para Lião.
Gontrão desempenhou, ao
mesmo tempo, as funções de um bom rei e de um piedoso bispo. Ordenou que fossem
celebradas as rogações e que, durante três dias, tempo que deviam durar, se
jejuasse, comendo pão de cevada e bebendo água. Foi o primeiro a dar exemplo,
redobrando as austeridades, as orações e as esmolas costumeiras. Seus súditos o
olhavam com veneração e respeitavam nele mais a qualidade de santo do que a de
rei. Arrancavam-lhe pedaços das vestes para aplicá-los aos doentes.
Uma mulher curou dessa
forma, seu filho de uma febre. Levavam-lhe até os possessos, e Gregório de
Tours disse que fora testemunha do poder que tinha sobre eles.
Enfim, o bom rei Gontrão –
assim chamavam os contemporâneos – morreu em 28 de março de 593, em
Châlon-sobre-o-Saône, onde foi sepultado na igreja de São Marcelo, que ele
mesmo havia fundado.
Com sua morte, o sobrinho
Childeberto, rei da Austrásia, herdou-lhe o reino da Borgonha. A igreja colocou
o nome do rei Gontrão entre os santos e celebra-lhe a memória no dia 28 de
Março.
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