Em 24 de novembro de 2008, em Nagasaki, foi
celebrada a primeira beatificação em terras japonesas, na qual, não obstante o
clima severo, tomaram parte 30.000 fiéis. Como delegado do Papa estava o
cardeal José Saraiva Martins, prefeito emérito da Congregação para as Causas
dos Santos.
Apesar do mau tempo, um dia belíssimo para a
Igreja no Japão naquele 24 de novembro de 2008, no qual 188 mártires japoneses
juntaram-se aos 395 Beatos e 42 Santos com os quais a Igreja local já podia se
orgulhar. Mas desta vez a emoção era ainda mais forte porque, pela primeira vez
a cerimônia era celebrada no Japão e precisamente em Nagasaki, uma cidade no
arquipélago onde vivem dois terços da comunidade católica local.
Há muito havia terminada a era dos "kakure
kirisitan", os "cristãos escondidos" de um dos países onde os
fiéis pagaram um dos mais altos preços em sangue da história recente e não só,
como no caso dos 188, todos martirizados entre 1603 e 1639, em diferentes
cidades.
Entre eles, o padre jesuíta Pedro Kasui Kibe,
outros dois sacerdotes da Companhia de Jesus, um agostiniano e muitos, muitos
leigos, incluindo nobres, camponeses, mulheres, até crianças muito pequenas, e
mesmo famílias inteiras das quais as dioceses do país fazem memória litúrgica
em 1º de julho de cada ano.
O futuro padre Pedro nasceu em Urube apenas 38
anos após o desembarque de São Francisco Xavier no Japão em 1549: seus pais
eram convertidos de primeira geração. Inscrito no Seminário com seu irmão, após
seis anos de estudos pediu para entrar na Companhia de Jesus, mas lhe foi
negado. No entanto, em 1614, o Shogun Tokugawa emitiu um decreto com o
qual foram expulsos todos os sacerdotes e religiosos do país. Assim, foi
forçado a buscar refúgio em Macau.
Quando também lá foi fechado o Seminário
jesuíta, Pedro empreendeu uma viagem aventureira que o levou primeiro a Goa, na
Índia, e dali, a pé pela antiga Rota da Seda, chegou à Terra Santa. Depois de
ter visitado os lugares onde Jesus viveu, chegou a Roma para pedir, finalmente,
sua ordenação ao Padre Geral, padre Claudio Aquaviva que, impressionado, o
acolhe no Seminário diocesano. Uma semana mais tarde, é ordenado na Basílica
São João de Latrão.
Em 1623 partiu novamente, ansioso para levar a
Palavra do Senhor aos irmãos japoneses. Sete anos depois, junto com outros dois
companheiros, conseguiu retornar clandestinamente ao país, vindo a se
estabelecer perto de Osaka. Em 1639 foi preso em Honshu e de lá transportado
para Edo - a atual capital Tóquio - onde, tendo se recusado a abjurar de sua
fé, foi morto com horríveis torturas em uma fossa de esgoto.
A mesma sorte do padre Kasui estava reservada a
outros dois jesuítas: Giuliano Nakaura, que por 19 anos trabalhou como
missionário escondido no Japão e Diogo Yuri Ryosetsu, membro da antiga família
do Shogun Ashikaga, que viajou por todo o país para encorajar os cristãos e
converter os outros, entrando até mesmo em prisões para levar os Sacramentos
aos prisioneiros.
Há também um agostiniano, Thomas Jihyoe, nome
de batalha "Kintsuba", que secretamente evangelizou no vale com o
mesmo nome.
Todos testemunhas da Igreja “ide e anunciai”,
da realidade da Igreja missionária, que às vezes também é a Igreja de sangue,
como recordou 10 anos atrás, aos microfones da Rádio Vaticano, o prefeito
emérito da Congregação para as Causas dos Santos, cardeal José Saraiva Martins:
"É interessante recordar que entre esses mártires japoneses há
famílias inteiras - observou ele -, portanto, é uma mensagem para
a família de hoje que é obrigada a testemunhar a fé, a vivê-la em profundidade,
pais e filhos, como uma verdadeira Igreja doméstica".
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