Contemplando Cristo presente na Eucaristia e na Paixão
salvífica, o Padre Pedro Vigne foi levado a tornar-se um discípulo autêntico e
um missionário fiel à Igreja. Que o seu exemplo incuta nos fiéis o desejo de
haurir do amor pela Eucaristia e da adoração do Santíssimo Sacramento a audácia
pela missão! Peçamos-lhe que sensibilize o coração dos jovens, para que eles
aceitem, se forem chamados por Deus, consagrar-se totalmente a Ele no
sacerdócio ou na vida religiosa. Que a Igreja na França encontre no Padre Pedro
um modelo, para que sejam suscitados novos semeadores do Evangelho.
Homilia de Beatificação – Papa João Paulo II – 3 de outubro
de 2004
Pedro
Vigne nasceu em 20 de agosto de 1670 em Privas (França), uma pequena cidade
ainda muito marcada pelas sequelas de guerras de religião do século precedente,
entre católicos e protestantes. Seu pai, Pierre Vigne, honesto comerciante de
têxteis, e sua mãe, Françoise Gautier, casados na Igreja católica, batizaram
seus cinco filhos na paróquia católica Saint Thomas de Privas. Duas meninas
morreram cedo. Pedro e seus dois irmãos mais velhos, Jean François e Eleonore,
vivem com seus pais em uma relativa abundância.
Aos
onze anos, Pedro é observado pelo padre da paróquia que o faz assinar como
testemunha, nos registros paroquiais, as atas de batismo, casamento ou
sepultura.
Após haver recebido uma
educação e uma instrução de bom nível, no fim da adolescência, sua vida é
repentinamente transformada pela tomada de consciência da presença de Jesus
Cristo na Eucaristia.
Esta experiência o orienta definitivamente para Jesus que entrega sua vida na
cruz, por amor a nós, e que, pela Eucaristia, não cessa de se dar a todos os
homens. Ele entra no seminárioe, ordenado sacerdote, no dia 18 de setembro de
1694, é enviado, como vigário, a Saint-Agrève, onde exerce, durante seis anos
seu ministério sacerdotal, em amizade com seu pároco e em proximidade com seus
paroquianos.
Sempre
atento em discernir, através dos acontecimentos, a vontade do Senhor sobre sua
vida, sente-se chamado a outro lugar. Seu itinerário espiritual segue um
caminho aparentemente um pouco hesitante no início, depois, cada vez mais
seguro. Seu desejo de ser missionário no
meio do povo simples o impulsiona a entrar, em 1700 nos Lazaristas em Lyon.
Recebe uma sólida formação à pobreza e para as «missões populares» e começa a
percorrer cidades e aldeias com os confrades, para evangelizar o povo cristão.
Em
1706, ele deixa «em plena liberdade», os Lazaristas. Mais do que nunca, ele
sente paixão pela salvação das almas, sobretudo das pessoas simples do campo. Após
um breve período de busca, sua vocação se delineia claramente. Torna-se «missionário itinerante» aplicando
seu próprio método pastoral, submetendo, todavia, seu ministério à autorização
de seus superiores hierárquicos.
Durante
mais de trinta anos, incansavelmente, ele percorre, a pé ou a cavalo, os
caminhos do Vivarais e do Dauphiné e bem mais longe. Para tornar Jesus Cristo conhecido, amado e servido, ele enfrenta a
fadiga dos deslocamentos, os rigores do clima. Prega, visita os doentes,
catequiza as crianças, administra os sacramentos, chegando até transportar em
suas costas «seu» confessionário para estar sempre pronto a oferecer a
misericórdia de Deus. Celebra a Missa, expõe o SS. Sacramento, ensina os fiéis
a adorá-lo. Maria «Belo Tabernáculo
de Deus entre os homens» tem também um lugar de predileção em sua oração e em
seu ensinamento.
Ao
longo de uma de suas missões, ele chega, em 1712 em Boucieu le Roi cuja
paisagem lhe permite erigir uma Via-Sacra. Com a ajuda dos paroquianos das
vizinhanças, ele constrói 39 estações, que através da aldeia e do campo,
ensinam aos cristãos seguirem Jesus da Ceia à Páscoa e a Pentecostes.
Boucieu
se torna sua residência entre as missões. Ele aí reúne algumas mulheres e as
encarrega de «acompanhar os peregrinos» da Via-Sacra para ajudá-los a meditar e
rezar.
É
aí que ele funda a Congregação das Irmãs do SS. Sacramento. No dia 30 de novembro de 1715, na Igreja de Boucieu, ele lhes dá a
cruz e o hábito religioso. Convida-as a se sucederem para adorar Jesus presente
na Eucaristia e a viverem juntas fraternalmente. Confia-lhes a tarefa de
ensinar a juventude. Preocupado em instruir as crianças, para permitir-lhes
aceder à fé e adotar os comportamentos cristãos, Pedro Vigne abre escolas e
cria um «seminário de Regentes» como se chamavam então, as mestras de classe.
Uma
vida assim intensa tem necessidade de alguns suportes. Também Pedro Vigne não
deixa nunca, quando vai a Lyon fazer compras, de ir à casa de seus antigos
mestres de São Sulpício a fim de encontrar seu confessor e seu diretor
espiritual. Atraído pela espiritualidade eucarística dos Padres do SS.
Sacramento, é admitido como associado nesta sociedade sacerdotal em 25 de
janeiro de 1724, em Valence e se beneficia de sua ajuda espiritual e temporal.
Assegurando
o acompanhamento de sua jovem Congregação, Pedro Vigne continua suas viagens
apostólicas e encontra a possibilidade de prolongar os frutos da missão, de
escrever livros: regulamentos de vida, obras de espiritualidade e, sobretudo, «as meditações sobre o mais belo livro que
é Jesus Cristo sofrendo e morrendo na Cruz».
O
vigor deste caminheiro de Deus, a intensidade de sua atividade apostólica, suas
longas horas de adoração, sua vida de pobreza, testemunham não somente uma
robusta constituição física, mas acima de tudo, um amor apaixonado por Jesus
Cristo que amou os seus até o fim (Jo, 13, 1).
Aos
70 anos, entretanto, ele ressente os efeitos da fadiga. Durante uma missão em
Rencurel nas montanhas do Vercors, acometido por um mal-estar, é obrigado a
interromper sua pregação. Apesar de todos os seus esforços para celebrar ainda
a Eucaristia e exortar os fieis ao amor de Jesus, ele sente seu fim se
aproximar, exprime ainda seu imenso ardor missionário, depois se recolhe na oração.
Um padre, depois duas Irmãs vindas sem demora, acompanham seus últimos
momentos.
No
dia 8 de julho de 1740, ele vai ao encontro Daquele que ele tanto amou, adorou
e serviu. Seu corpo é transportado para Boucieu onde ainda repousa na
Igrejinha.
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